A Grande Perda



O dia de inverno mais quente dos últimos 50 anos, na Irlanda, estava chegando ao fim. E Joe Armstrong - um garoto baixinho, bem magro, e com um longo cabelo loiro, que já estava chegando aos ombros – estava indo se deitar.
Não era uma noite qualquer.
Joe não sabia ao certo o porque mas, estava com a impressão de que o dia seguinte mudaria sua vida. Talvez porque fosse finalmente completar seus 11 anos, mas parecia que não seria somente isso. Sentia como se fosse mudar para um novo mundo, onde poderia mandar e desmandar, um mundo onde seria rei.

O sol começava a nascer no sábado irlandês, quando Joe acordou. Era seu aniversário, finalmente havia completado seus 11 anos.
O aniversariante levantou-se de sua cama em um pulo, e em poucos minutos já estava na escada em direção à sala. Ele estava achando tudo muito estranho... A casa estava em pleno silêncio, não ouvia um ruído sequer. “Eles devem está-me preparando uma festa surpresa! ” pensou. Mas, seu pensamento logo foi ofuscado pelo ringar do telefone. Olhou para o relógio que estava em uma mesinha no lado oposto,e que marcava seis horas da manhã. “ Quem será a essa hora? ”.

— Bom dia, poderia falar com o senhor Joe Billie Armstorng? – indagava uma voz feminina.
— Sou eu. – respondeu o garoto,não reconhecendo a voz da mulher.
— Desculpe senhor Joe,por estar ligando a essa hora, mas sua mãe passou mal a noite,e está aqui no Health’s Hospital. – explicou.
— Minha mãe? Não acredito...estou indo ‘praí. – disse Joe no momento que desligava o telefone e corria em direção à porta.

Joe estava aturdido. Saiu correndo à garagem para pegar sua bicicleta,mas a mesma não estava lá. “ Malditos ladrõezinhos! ” pensou. O menino resolveu que o melhor era ir a pé mesmo, pois já tinha perdido muito tempo. Não conseguia imaginar o que sua mãe tinha sentido, se ela estava tão bem nos últimos dias.
No meio do caminho, ele percebeu que a Igreja que ficava na principal rua da cidade,estava com as porta fechadas. Ele morava em uma cidadezinha no interior da Irlanda, cuja não possui mais de 2000 habitantes, e encontrar as portas da Igreja fechadas,era um mal presságio.Toda vez que isso acontecia, era porque alguém havia morrido, ou se não tivesse ,estava prestes. Joe já estava zonzo,com uma forte dor de cabeça. Era seu aniversário, não havia ninguém em sua casa,sua mãe no hospital, as portas da igreja fechadas... “ Tomara que nada de ruim tenha acontecido.” pensava nervoso.

Passado alguns metros da igreja, Joe finalmente havia chegado no Health’s Hospital. Era um hospital público, de paredes cinzentas, e que parecia prestes a cair a qualquer momento, porém era o único em um raio de 4 quilometros. Ele entrou no hospital, e parou a primeira enfermeira que passou.

— Qual o quarto da minha mãe? – perguntou com pressa.
— Desculpe menino, mas quem é sua mãe? – respondeu a jovem enfermeira.
— Ah, Janis Armstrong.
— Hmm...por aqui por favor. – e Joe seguiu a enfermeira,não deixando de reparar em como a jovem era bonita.

A enfermeira levou Joe a um corredor que não tinha janela, nem portas - sem contar uma que havia em seu fim – e cheirava a mofo. Logo o garoto descobriu que a única porta que havia no fédido corredor era a porta de um elevador. Subiram cerca de quatro andares, até chegarem em um outro corredor, esse mais limpo, com as paredes brancas, muitas janelas abertas...parecia que estava em outro hospital.

— É aquela porta. – apontou a jovem, para a última porta do corredor, a porta do quarto 401.

Joe foi até o quarto sozinho,pois a enfermeira já havia voltado.Meio ansioso por ver sua mãe, ele empurrou a porta com grande dificuldade,sem saber se a porta que era pesada,ou se ele que estava fraco de tão nervoso.
O garoto nunca havia avistado sua mãe assim; estava pálida, com o rosto ossudo, parecia que havia perdido uns 10 quilos em apenas um noite.
Ele se encaminhou a uma cadeira que estava pousada próxima a cama em que sua mãe estava e sentou.

— Que bom que você veio,filho. – disse com grande dificuldade a mulher.
— Que que houve com a senhora mãe?
— Antes de lhe disser,preciso lhe contar uma coisa... – começou a mãe no instante que tentava sentar na cama,sendo impedida pelo filho - ... deixei-me sentar filho, por favor. – mas seu pedido foi negado. – Tudo bem...filho,lembra que você tinha me perguntado sobre o seu pai, e eu havia lhe dito que morreu em um acidente de avião? – Joe não entendia porque sua mãe tocara nesse assunto,mas concordou com a cabeça. – Pois então,eu menti. Seu pai foi morto pelo irmão dele...
— Mas ele era filho único... – falou o garoto, meio duvidoso da sanidade de sua mãe.
— Não,não era...presta a atenção nisso meu filho... – e entregou um bilhete ao garoto. – procure esse homem, nesse endereço...é o único que pode te ajudar... – e Joe percebeu que sua mãe estava morrendo.
— Não mãe...não morre,vou chamar ajuda...
—Não...não vá,fique comigo por favor... – e Joe percebeu que sua mãe não estava mais presente,havia apenas seu corpo com ele...

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Joe ainda não havia digerido a morte de sua mãe. Eram onze horas de domingo, e Joe estava saindo do Cemitério de Gottesacker. Agora estava sozinho no mundo...acabara de perder sua mãe, seu pai morreu quando ainda era pequeno...mas por um momento Joe ponderou a idéia de sua mãe ter lhe dito a verdade sobre a existência de um tio...mas porque o mesmo teria matado seu pai?
Foi então que se lembrou do bilhete que sua mãe havia entregado-lhe em seu leito,e que também havia-o mandando procura aquele homem...mas quem seria?
Joe pegou o bilhete em suas vestes – ficou tão tonto com a morte de sua mãe que nem trocou de roupa – e tentou ler o bilhete com um pouco de dificuldade,pois fora escrito pela mão de sua mãe,e as letras estavam meio emboladas.
No bilhete havia apenas duas linhas de palavras,que para Joe não explicava nada.

Procure Roe Brosnan
Avenida Gaslgou Houlding, lata de lixo,fim da rua.

Joe estava a se perguntar quem seria esse tal de Roe Brosnan,e o que faria em uma lata de lixo...mas realizou o último pedido de sua mãe,e foi até o endereço descrito no bilhete.
Era uma rua no surbúbio de sua cidade, bem suja, e Joe percebeu que isso acontecia,por que a população de mendigos que havia na cidade, se encontrava toda ali.
O garoto não sabia o que fazer,havia encontrado a tal lixeira,mas não havia ninguém lá... “Será que esse Roe é um mendigo? ” pensou.
Foi então que ele viu um homem que parecia não ter mais de 1m e 25cm conversando com um outro homem, esse parecendo uma girrafa, irem em direção a lata de lixo.

— Vamos,rápido...já estamos atrazados... – dizia o homem baixinho – Roe Bosnan já deve estar nos esperando...
— Com licença – interrompeu Joe – mas como faço pra falar com esse Roe Bosnan?
Os homens se entreolharam, e o baxinho voltou a falar.
— O que você quer falar com ele?
— Ah,é que minha mãe morreu ontem, e me deixou esse bilhete... – disse o garoto entregando o bilhete ao homem,que após ler o bilhete mandou o garoto acompanha-lo,com uma expressão intrigada. O homem mais alto, puxou um pedaço de madeira de suas vestes, e encostou na lata de lixo.Após dizer algumas palavras que Joe,não compreendera,ele levou um susto; a lata de lixo havia desaparecido,e em seu lugar havia surgido uma grande porta, com um brazão que Joe reconhecera vagamente; já havia visto aquele brazão,mas não sabia onde.
Joe seguiu os homens pela porta que surgiu na rua,até sairem em uma grande sala, com uma abóbada, em que se via várias estrelas,e um céu muito claro.Olhou também para as paredes, onde havia fotos de vários homens,um parecendo mais velho que o outro; e pra sua surpresa,as fotos se mexiam. Joe passou a mão pelos olhos tentando ver se estava com algum problema, mas quando voltou a olhar, seu medo foi comprovado: as fotos realmente mexiam,no momento em que um homem piscava pra ele. “ To ficando maluco ” pensou. Nesse intante ele não acreditou, via no último quadro da imensa parede,uma foto de seu pai. Fora a melhor visão de sua vida; ver uma foto em que seu pai se mexia e dava tchau pra ele,após ficar sozinho no mundo só podia ser um sonho.
No momento em que fez menção em ir em direção ao quadro,o homenzinho o levou para outro corredor.Esse corredor lembrava um pouco o corredor do Health’s Hospital, todo cinza,sem janelas, mas diferentemente ao outro,esse não cheirava a mofo, cheirava a outra coisa que Joe não conseguia distinguir. Chegando a única porta que havia no corredor, Joe viu que ela não tinha fechadura,nem maçaneta, apenas tinha um aparelho que parecia um telefone ao lado da porta.
O homem mais alto pegou o telefone e uma voz feminina falou,em um tom que todos podessem ouvir.
— Sejam bem-vindos a sala de Roe Bosnan,por favor queiram dizer seus nomes
— Kelly Byrne – falou o homenzinho.
— Liam Farrell – falou o homem mais alto.
— Joe Armstrong – falou o menino, surpreendendo-se pelo fato de os outros homens se entreolharem.
— Você...você é Joe Armstrong? – perguntou Kelly.
— Sou. – respondeu Joe,não entendendo o porque da pergunta.
— Não acredito...não acredito... – disse Liam,ao mesmo instante que apertava freneticamente a mão do garoto,cujo gesto foi repetido pelo homenzinho. Joe não entendeu o porque dos homens estarem tão felizes com sua presença.
“Será que estou em um hospício? ” pensou.

— Apenas o senhor Armstrong pode entrar – começou a mulher – aos outros, o senhor Roe Bosnan pediu desculpas,e que se possível retornassem mais tarde.
E em seguida, a porta se abriu para Joe entrar. Ao contrário do que imaginou os outros homens não ficaram com raiva de serem barrados,pareciam que tinham ganho o dia!

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