História para dormir.






- Paaaai! Papaai! - uma voz infantil e doce de menina encheu os ouvidos de Ron, que saía do banheiro após ter tomado banho, os cabelos molhados e usando um pijama azul de listras brancas. Carregava a toalha ensopada na mão.
- Rosie? - ele gritou de volta, jogando a toalha molhada na cama e caminhando pelo corredor até o quarto que ela e Hugo dividiam. Hermione já estava lá, colocando os dois para dormir, vestindo uma comprida camisola preta.
- Rosie quer que conte uma história para dormir, querido. - ela sorriu quando ele entrou, deitando ao lado do filho Hugo, que tinha os olhos castanhos idênticos aos da mãe bem abertos.
- Papá! - ele exclamou, esticando a mão na direção de Ron que se inclinou e beijou a testa dele.
- E aí, campeão... Sem sono? - ele sentou-se na beirada da cama da filha e acariciou os cabelos castanhos e lisos dela, que se esparramavam pelo travesseiro. - Certo. Que história você quer ouvir hoje, princesinha?
- Quero ouvir a sua história e a da mamãe. - ela piscou os olhos azuis e sorriu, um dente faltando. Seu nariz era como o de Hermione, exceto que coberto de pequenas sardas.
- Papai e mamãe tem um monte de histórias, meu bem. - Hermione disse, passando os dedos pelos cabelos ruivos e cheios de Hugo e sorrindo para o marido. - Tem disposição para ouvir a noite toda, querida?
Rosie assentiu com a cabeça animadamente, ao que Ron e Mione caíram na risada. Hugo os acompanhou, vacilante. Era quase como se risse porque os pais haviam rido.
- Não duvido nada que você tenha disposição, princesinha, mas o papai trabalhou o dia todo no Ministério e está meio cansado, sabe. - Ron sorriu para a filha que retribuiu meigamente.
- Eu sei, papai.
- E então, querida? Vai querer ouvir o que?
- Ahn... Conta a de quando você e a mamãe se conheceram.
- De novo, filha? - Ron coçou a cabeça, parecendo cansado.
- Ah, papai... Então conta de quando você salvou a mamãe de um Trasgo Montanhês.
- Seu pai teve muita ajuda do titio Harry nisso. - Hermione sorriu, ainda acariciando os cabelos do filho.
- Mas, princesinha, o papai já contou todas essas histórias pra vocês...
- Eu sei. Mas é que eu gosto muito delas. - Rosie sorriu. Então olhou para Ron e Mione e abriu mais o sorriso. - Já sei. Conta como você e a mamãe começaram a se gostar.
Hermione e Ron se entreolharam por um momento, meio abismados e depois caíram na risada de novo.
- Puxa, Rosie. Você anda crescendo, princesinha. - Ron riu, fazendo cócegas na menina que se encolheu. - O problema é que...
- ... o papai e eu éramos melhores amigos, Rosie. - Hermione continuou por ele, uma expressão doce no rosto. - Nos víamos todos os dias, nos falávamos todos os dias, estávamos juntos o tempo todo. Não tem como saber quando foi que começamos a nos gostar.
- È, filha, é meio complicado. Você é muito nova para entender.
Rosie cruzou os braços forte no peito e respondeu, com a voz vários tons acima, muito parecida com a da mãe quando contrariada.
- Eu posso entender sim. Eu li em um livro de contos-de-fadas trouxa. O moço e a moça se conheciam desde pequenos e eram amigos. Daí um dia, uma bruxa muito má... - Ron e Mione se entreolharam. - rapta a moça e prende ela. Daí o moço percebe que gostava dela e vai...
- Não sei porque você deixa ela ler essas coisas, Mione! Ela está virando a sua cópia exata...
- Ora, francamente, Ronald. Rosie tem todo o direito de saber, não é querida? - Hermione levantou-se da cama de Hugo, que já piscava os olhos, sonolento. - Papai e mamãe passaram por muitas coisas juntos... Mas eu acho que... Eu comecei a gostar do seu pai, sem saber é claro, desde que o conheci.
- Como assim, sem saber, mamãe? - Rosie perguntou, empolgada. Ron achava a garota um tanto precoce para a idade. Sempre querendo saber de tudo, perguntando de tudo, lendo tudo o que podia desde que aprendera. Era a cópia exata de como Hermione deveria ter sido aos 7 anos.
- Ahn, bem... - Hermione olhou para o teto, pensando no que responder. - Quando se é criança e se passa tanto tempo com uma pessoa só, não se percebe o que se sente até que tenha atingido uma certa idade. Digamos que eu comecei a gostar de seu pai aos pouquinhos.
- E você, papai? Também gostou da mamãe assim que a conheceu? - Rosie virou-se para o pai, totalmente acesa. Ron pensou quanto tempo levaria para que ela finalmente os deixasse dormir.
- Ahn... não. Entenda Rosie, sua mãe era uma intragável sabe-tudo...
- Ron! - Hermione exclamou, arregalando os olhos em uma expressão claramente ofendida. - Eu NÂO era uma intragável sabe-tudo! Você sim era um garoto intolerante e difícil de lidar.
- Eu não ERA um garoto intolerante e difícil de lidar! Ainda sou. - Ron respondeu, rindo. Rosie olhava os dois dando risadinhas. Adorava ver os dois discutirem sobre coisas bobas como as que haviam discutido agora. Hermione deu um sorrisinho derrotado e revirou os olhos quando ele continuou. - Você era, querida, você era uma garotinha insuportável. No começo você era.
- È verdade, papai. Você contou mesmo. Que depois que vocês enfrentaram o Trasgo, mamãe ficou muito mais legal. Não é, mamãe?
Hugo tinha adormecido, a franja levemente crespa cobrindo os olhos.
- Não. Eu não era uma intragável sabe-tudo!
- Vai deixar eu terminar ou não? - Ron perguntou, virando-se para ela. - Sua filha tem o direito de saber toda a verdade! - Hermione riu.
- Você fala como se fosse contar que ela é adotada.
- Esperemos que ela não pergunte logo como foi que foi feita.
- Ronald!
- Está bem, vou continuar... - ele virou-se para a filha, que parecia sonolenta. - A questão é filha, que depois que mamãe deixou de ser uma intragável sabe-tudo - Hermione o fuzilou com os olhos. - e virou uma "tragável" sabe-tudo, papai começou a gostar mais dela. Ainda não gostava "daquele" jeito, ou talvez gostasse, mas só percebeu isso de verdade quando sua mãe foi no Baile de Inverno com outro garoto.
- Ah, o Baile. - Hermione piscou os olhos. - Você ficou realmente irritado, não foi?
- Irritado? Por Merlin, eu nunca senti tanta vontade de desintegrar tanto alguém como aquele Viktor Krum.
- Viktor Krum? O amigo da tia Fleur?
- Nunca mais diga esse nome sob meu teto!
- Ron!
- Estou brincando, Rosie, minha princesinha... Mas acontece que a mamãe preferiu ir ao Baile que tivemos na escola com aquele narigudo carrancudo do Krum ao invés do papai...
- Eu não preferia nada, Ron... Você nem ao menos me convidou! - Hermione parecia indignada. - Fiquei esperando durante semanas e nada!
- Mas isso não quer dizer que eu não iria convidar depois que todas as meninas bonitas tivessem me recusado... - Ron brincou, piscando um olho para a filha quando a esposa bufou.
- ... como segunda opção, claro! Sempre como segunda opção!
- Não seja boba, querida. - ele virou-se para a filha. - Aquele Krum-bobão não é horroroso perto do papai-lindão?
- Horroroso? - Hermione deu uma gargalhada. - Perto de Lavander Brown, Krum era um modelo trouxa!
- Quem era Lavender Brown, papai?
- A moça que seu pai namorou só pra me provocar! Eu tinha chamado ele para uma festa de natal na sala de um professor e ele tinha aceitado, mas de repente teve um ataque surpreendente de imaturidade e resolveu que era melhor beijar outra garota na minha frente!
- Você tinha dado uns amassos no Viktor Krum! - exclamou Ron em sua defesa. - Ginny me disse que você tinha dado uns amassos nele naquele ridículo Baile de Inverno!
- Dois anos antes! Fazia dois anos desde o Baile e você resolveu se vingar justamente quando eu decidira tomar uma iniciativa com relação á nós dois? E não fale a palavra "amasso" na frente da nossa filha!
- Nada perdoa você ter dado uns ama... saído com o Krum!
- Francamente, Ron... E o que perdoa você ter beijado Lavender Brown na minha frente depois de ter aceitado sair comigo?
- Só paguei na mesma moeda, só isso. - Hermione levantou-se da cama, á beira de um ataque.
- Oh, Merlin, me casei com um eterno adolescente! Pensei que depois de tanto tempo você iria amadurecer quanto a isso!
Ele e Rosie estavam rindo. Hermione cruzou os braços e resmungou:
- Continue.
- Bom, depois que o papai se vingou da mamãe... - Hermione fechou os olhos com força. - Ele resolveu que era hora de fazer as pazes com ela.
- È... E aí sabe o que ele fez? Fugiu quando seu tio e eu mais precisávamos dele.
- Eu não fugi! - Ron pareceu ficar indignado. - Eu fui embora. Eu estava muito afetado pelo medalhão, Hermione... Eu, eu imaginava coisas! Era como se você e Harry estivessem apaixonados e eu fosse só um peso morto na...
- Eu sei, meu bem. - Hermione se aproximou, visivelmente arrependida de ter tocado nesse assunto que eles já haviam conversado (e discutido) milhares de vezes. - Você tentou voltar no exato minuto em que partiu.
- Isso mesmo, Rosie. E depois que eu voltei para a sua mãe e o seu tio, nós nos acertamos.
- E como foi? - Rosie tinha os olhos pesados de sono, mas lutava para continuar acordada e ouvir o resto da história.
- Bom, primeiro ela me espancou...
- Você mereceu.
- ... e então ela me beijou, algum tempo depois. Só porque eu defendi alguns elfos-domésticos...
- Foi mais porque estávamos á um passo de morrer. Você já tinha dito coisas muito mais perfeitas antes... Mas eu senti que aquela podia ser a única vez, sabe? - Hermione tinha o olhar distante, claramente relembrando aquele momento em seus mínimos detalhes.
- È, foi como me senti também. - Ron ficou em silêncio, os olhos fora de foco. Então ele retomou a história de onde tinha parado. - Então querida, daí mamãe eu começamos a namorar... casamos depois de um tempo... E você e Hugo nasceram. Fim.
Ele se inclinou e deu um beijou na testa dela, Hermione fez o mesmo. Rosie já tinha os olhos fechados, mas abriu-os um pouco depois que eles se afastaram e murmurou:
- E então, como nos contos-de-fadas trouxas, vocês viveram felizes para sempre?
Hermione sentiu os olhos rasos de lágrimas quando respondeu:
- È sim, querida. E então vivemos felizes para sempre.
Rosie sorriu levemente, e adormeceu. Ron e Mione apagaram as luzes e saíram do quarto, abraçados.
- Eu realmente serei feliz para sempre com você, Ron... - disse Hermione assim que eles entraram no quarto deles e ele fechou a porta.
- Eu também, meu bem. - Ron abraçou-a para beijá-la, mas ela afastou-se.
- ... contanto que você tire essa toalha molhada de cima da cama! - a toalha que usara no banho jazia esparramada no meio da cama do casal.
- Hermione, não estrague o momento! O que vem em seguida, abaixar a tampa da privada?
- È, sim senhor... Ou passaremos o resto de nossas vidas discutindo por isso. - Ron jogou a toalha longe e deitou-se, puxando Hermione para cima dele.
- Uma vida discutindo com você? - ele sorriu. - Foi exatamente como imaginei meu final feliz. - terminou ele, beijando-a docemente nos lábios.












FIM S2

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