Momento de Reflexão



Vira a cabeça de um lado, vira de outro, troca de posição, vai pro outro lado da cama. Três horas da manhã. Nada. Eu não consigo dormir. Essa droga de remédio ainda não fez efeito! Acho que sou tão azarada, que nem um remédio para dormir funciona comigo. Acho que é nessas horas que você reflete toda a sua vida. Tudo o que você fez, deixou de fazer, ou que ainda vai fazer. Assuntos irritantes como esse faz com que, em um piscar de olhos, você durma e nem perceba.

Na minha mente crio meu próprio filme. Criado, editado e estrelado por mim. Um filme com todas as categorias: romance, comédia, drama e até mesmo um suspense. Se as pessoas passassem a enumerar a quantidade de vezes que a vida lhes pregou uma peça, todos deixariam de viver.

Nymphadora Tonks. Isso parece um palavrão, não é? Mas acho que 50% dos meus problemas são por função desse terrível nome; culpa de histórias de fadas, ou coisa parecida, que a minha mãe escutava quando criança. Tem certas coisas que é melhor não saber.

Sou engraçada, é sério. Tenho 26 anos, com cara de 15. Nunca entendi se isso era bom ou ruim. Tenho olhos azuis, mas nunca decifrei se eram claros ou escuros, todavia, na maioria das vezes, sempre estão mais claros. Meus cabelos são da cor roxa berrante. Inacreditável, não é? Cabelos lisos, caídos nos ombros e muito chamativos. Lógico que é por opção minha (falem o que quiserem!), por sinal, é o que mais me destaca. Porém, acho que muitas vezes as pessoas não me levam a sério por causa dos meus cabelos. Mas de todas as cores que já colori os meus cabelos, roxo berrante é a cor que eu mais me identifico. Talvez por ser alternativo demais, como meu estilo, ou, porque completa a minha personalidade.

Sou estilista. Bem a minha cara, não?! Desenho roupas e para uma revista adolescente bem popular. E se tudo der certo, pretendo criar a minha própria marca de roupas.

Moro sozinha. Quer dizer, não exatamente sozinha vai, Evie é quem toma conta da casa pra mim: faz faxina em casa e cozinha todos os dias. Nunca fui abençoada com dotes caseiros. E sinceramente, acho que Evie é minha melhor amiga: ela é uma das poucas pessoas que mais consegue me aturar quando, às vezes, nem eu mesma consigo.

Meus pais foram para Irlanda há seis anos atrás, junto com o restante da minha família. Eu não podia ir devido ao meu trabalho. Não podia jogar tudo pra cima. Além do mais, eu não queria ficar longe “dele”. É nessas horas que eu tenho raiva de mim! Se eu tivesse ido, nada disso teria acontecido! Muitos dizem que amor é para os fracos. Eu sou uma delas: fraca, chorona e dependente, sobretudo, dependente de amor; dependente do amor “dele”.

Eu não estou sozinha, tenho outra família aqui, a “dele”. Sirius Black, meu primo. Talvez primo de primeiro ou segundo grau. Um grau meio distante que sempre tive ódio! Se não fôssemos parentes, acho que eu não estaria aqui acordada, quase quatro horas da manhã.

Minha família é a mesma que a dele. Os Weasleys que são amigos de muito tempo da nossa família, cujo os filhos são amigos de Harry, afilhado de Sirius, filho de um dos tais “Marotos”, que morreram assassinados quando Harry era apenas um bebê. Sirius ficou com a guarda dele, tornando-se definitivamente um pai. Em meus pensamentos, sonho em ser a mãe. Enfim, minha família definitivamente é essa e em todas as datas comemorativas, todos estamos lá.

Desde pequenos sempre nos demos bem, praticamente fomos criados como irmãos. Ele com seus três amigos inseparáveis, os tais Marotos e eu sempre ao seu lado. Mas só fui me apaixonar por ele quando tinha uns 14 anos. Nessa época, ele já tinha minha idade de hoje, pois ele é 12 anos mais velho que eu. E posso dizer que ele é capaz de tirar o fôlego de muitas mulheres e garotas. Cabelos escuros compridos, até a metade do pescoço, creio eu. Olhos cinzas, corpo admirável e com uma cara de garoto travesso, que só ele sabe fazer. Porém, ainda acho que sua profissão não faz muito seu tipo... Veterinário. Todas as vezes que ele jogava futebol nos finais de semana com os filhos dos Weasleys (que por sinal, são seis filhos e uma garota) eu sempre delirava. Sempre não, eu ainda deliro.

Nunca me esqueço da véspera de Natal, há três anos atrás. Eu decidi que era aquele dia que Sirius precisava me ver com outros olhos. Estava com um vestido preto, elegante e sedutor. Meu cabelo roxo berrante estava em um lindo penteado com cachos. Fui aos Weasleys passar a noite de natal. Presenteei cada um deles. Contudo, quando chegou à vez de presentear o Sirius, eu passei reto. Fui até a cozinha para ver se Molly (a “chefe” dos Weasleys, que eu considero minha mãe) precisava de ajuda. Após a ceia de Natal, abrimos à bebida e Sirius exagerou um pouco. Em seguida, fui para o quintal olhar a noite estrelada. Cinco minutos depois, Sirius apareceu. Senti a sua mão em meu ombro e sua voz dizendo:

- Bela noite, não é Nympha? – disse Sirius divertido

- Não me chame assim, Sirius! – disse irritada

- Eu sei, Ton-Ton querida. Era só pra te provocar um pouquinho. Ah vamos Ton-Ton, é noite de Natal! E falando em Natal...

Observei meio sem reação Sirius procurar algo em seu bolso da calça.

- Aqui está, Ton-Ton querida. – disse Sirius divertido, me entregando uma caixinha roxa, como meu cabelo.

- O que é isso Sirius? – perguntei completamente abobada.

- Só vai saber quando abrir, não acha?

Foi o que fiz. Uma gargantilha linda, de prata, brilhava pelo efeito da luz da lua.

- Oh Sirius... Muito obrigada! Estou até sem palavras... E... Não pense que esqueci de você. Só não entrego o seu presente agora, porque ele está no carro.

- Ah Ton-Ton querida, outra hora a gente vê isso! Tenho certeza que vai ficar lindo em você!

Ele me encarava de uma forma que me deixava com arrepios. Minhas mãos estavam tão trêmulas, que eu já sentia a hora que meu presente cairia no chão. Quando ele acariciou o meu rosto, eu comecei a ficar desesperada.

- Feliz Natal, Ton-Ton. – sorriu.

- Feliz Natal, Padfoot. - o felicitei o chamando por seu apelido de infância.

A última coisa que me lembro foi ter tido uma das melhores sensações que já senti. Suas mãos massageando levemente minhas costas e uma das minhas mãos em seu pescoço, puxando-o para mais perto; e minha outra mão apertando com força a caixinha do presente.

No dia seguinte, ele foi até meu apartamento, com a maior cara de “criança desapontada”, que eu já tinha visto, principalmente da parte dele.

- Tonks, eu preciso muito falar com você.

- Oh, claro Sirius, entre.

Apontei o sofá para ele se sentar. Meu apartamento não é tão grande, é bem apropriada pra mim, aconchegante e bem decorado. Se eu tivesse um maior, tenho certeza que não saberia da metade dos lugares das coisas, e provavelmente, confundiria os cômodos.

- Tonks, o que aconteceu ontem...

Eu dei um breve sorriso quando ele citou isso, mas vi a expressão de seu rosto, e meu sorriso desapareceu. Alguma coisa cismava em me incomodar.

O presente que eu dei pra você era realmente pra você. Mas aquele beijo...

Eu não podia ser tão estúpida em não saber o que estava me incomodando! Como eu me iludia tão fácil...

- Aconteceu aquilo por fraqueza minha. Você estava deslumbrante ontem; não que você não seja todo dia, mas é que ontem a bebida ainda ajudou muito. E Tonks, nós somos primos, crescemos juntos, você me contando as coisas e eu te contando tudo, porém, eu te vejo como uma irmã pra mim, a irmã que eu nunca tive. Será que você me entende?

“Não, não entendo. Será que é só você que não percebe que somos feitos um para o outro?!” - minha mente gritava, e uma lágrima teimosa pulou dos meus olhos, que nessa hora eu não saberia de que cor eles estavam.

- Eu entendo... Eu... Eu não vou dizer que eu não gostei Sirius... Eu gostei demais.

- Eu também gostei demais Tonks! Mas é como eu te disse: você é linda, porém, isso não pode acontecer. Sempre te tratei como uma irmã, e é esse o enorme carinho que eu tenho por você. Se você quer saber Tonks, eu estou me odiando nesse exato momento, estou com vergonha de mim mesmo, estou com a sensação terrível de que cometi um crime em que eu estarei eternamente condenado.

“Realmente, é realmente um crime você não perceber que você me completa e eu te completo!” - malditos pensamentos que não me deixavam raciocinar... E outra maldita lágrima pulou de meus olhos.

- Tudo bem Sirius, eu sinceramente vou ignorar o que aconteceu. Sua amizade, seu companheirismo é o que eu mais quero nesse mundo. E não se preocupe comigo, eu estou bem... Mas... Ficaria melhor, se você melhorasse essa cara.

- Tonks, é melhor eu ir embora, preciso esfriar a cabeça, me acalmar, enfim.

- Ok.

Fiquei impressionada comigo mesma. Sempre exigia que Sirius ficasse mais um pouco. Naquele dia, eu devia estar precisando mesmo estar sozinha. Abri a porta para Sirius.

- Tchau Tonks e... Saiba que eu te amo, por mais que você possa estar me odiando agora, assim como eu mesmo estou me odiando.

- Não fale isso Sirius. Também te amo. – forcei um sorriso e fechei a porta.

Era de se esperar, comecei a chorar desesperadamente. Peguei o colar que Sirius havia me dado na noite anterior, apertei com tanta força que não sei como ele não foi aos pedaços. Fui ao meu quarto, me joguei na cama e chorei durante horas. Não sabia se tinha raiva ou alegria daquele colar. O ano novo, eu passei sozinha aqui com Evie me dando apoio emocional. Disse para os Weasleys que ia passar o ano novo com uns amigos lá da revista. Eles engoliram isso, mas acho que Sirius não. Também, não procurei saber. Outra mentira.

Meu amor por Sirius começou aos 14 anos como havia mencionado anteriormente, mas nunca me prendia tanto assim por ele. Tive dois namorados que acabaram sendo perda de tempo. Perda de tempo, porque eu acabava dizendo sempre “estou apaixonada por outro”. E esse outro sempre foi ele.

Mas quando eu era menor... Quando tinha uns 9, 10 anos, eu dizia pro próprio Sirius que era apaixonada por um dos “Marotos”. Eles eram os melhores amigos de Sirius; James Potter, pai de Harry Potter; Pedro alguma coisa, porque ele foi o “duas caras” do quarteto e mais tarde acabou saindo do grupo. E o outro... Era o que eu dizia sempre que era apaixonada. Me enfeitava quando sabia que o veria. Até tinha uma foto dele que eu levava sempre comigo! Sirius ria, e sempre me prometia que nunca iria contar nada para ele. Não sei se chegou a contar, porque acho que ele acabou indo pra França, quando eu tinha uns 12 anos. Lembro de ter ficado a tarde toda chorando, dizendo que meu namorado havia me abandonado. E Sirius lá do meu lado me consolando. Acho que foi a partir daí que comecei a ver o Sirius com outros olhos... Ele sempre esteve lá quando eu precisei. Até hoje nunca entendi o porquê dele nunca ter me visto com outros olhos também. Eu sempre estive ao lado dele quando ele precisou de mim! Fiquei curiosa agora, não me lembro do nome do garoto por quem eu era apaixonada... Acho que era alguma coisa a ver com Ruben, Justin... Ou quem sabe Boris, Theo...


Tonks adormecera.



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