Começando



4. Começando

Que dia maravilhoso, que aura, que vida... Eu corria pelo campo florido, embaixo de um lindo sol e um profundo céu azul, repleto de nuvens fofas, brancas como a paz...

Mas espere! O sol... estava indo embora! O tempo começou a se fechar e alguns raios podiam ser vistos ao longe! Não! Devolva meu sol! Que coisa horrível! Tudo escurecia! Um enorme feixe de luz vinha em minha direção!! Um barulho de pancadas começou a soar alto e...

- Weasley, porra! Acorda!!!

Eu comecei a abrir os olhos... Céus, que sonho mais besta... E agora as pancadas faziam sentido. Puts! Malfoy estava fazendo o maior escândalo na porta trancada do quarto onde eu dormia!

- Estou acordada!! – gritei nervosa – Pare de bater!!!

Ele parou.

- Abre aqui essa porta! – ele pediu... pediu?! Não, não... ele mandou irritado.

Eu me levantei e abri a porta. Nunca deveria ter feito isso...

- Weasley, eu... – ele parou a frase, fez uma cara de quem ia vomitar e explodiu em risadas – HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!!!!! – o maldito apontava pra mim...

Claro! Que idéia incrivelmente TAPADA a minha! Abrir a porta para o Malfoy, quando acabei de acordar. Lógico que ele estava rindo! Nada mais óbvio! Olhando pra mim no espelho eu parecia um pouco pior do que o Frankstain... Sem contar que naquela situação, alguém menos metido que Malfoy ainda acordava com gel nos cabelos...

- Malfoy!!! – eu esbravejei. Não deu certo, ele continuava parecendo ter falta de ar de tanto rir. Que raiva! Fiquei muito vermelha, tenho certeza, e bati a porta na cara dele.

- Ei! Espera aí, Weasley! - eu ouvi ele resmungar do lado de fora. - Eu preciso falar com você! Abre essa porta!

Hah! Ele achava que eu era idiota?! Abrir de novo? Pra quê? Pra ele rir mais um pouco de mim?? Nem sonhando...

- Idiota! Espera um pouco! - respondi convencida a começar a me arrumar.

O quarto que ele tinha me cedido devia ser o menor da mansão, mas ainda assim era enorme. Na cama cabiam umas três de mim mesma e o armário ficou ridiculamente vazio com a minha pequena quantidade de coisas. Ainda tinha uma escrivaninha linda e diversas estantes que eu jurava não haver como encher, ninguém poderia ter tanta coisa assim.

Abri um pouco a janela e peguei meu relógio no criado-mudo. Bom, pelo menos ele tinha sido sensato e me deixado dormir um pouco antes do primeiro dia de trabalho, eram 9 da manhã. Enfiei a primeira roupa que vi na frente e fui me preocupar com a minha jub... digo, cabelo. Dei uma penteada rápida com dificuldade e enfiei duas presilhas que estavam por perto. Tá, eu não via muita diferença do estado anterior, mas fazer o quê? Abri a porta novamente.

- O que é? - o maldito ainda respirava fundo pra aliviar o ataque de riso... Saco.

- Como assim "O que é?"? - ele levantou uma sobrancelha me encarando - Você deveria dizer "Em que posso ajudar, Sr. Malfoy?", entendeu?!

Ha-ha-ha. Aquilo foi muito engraçado. Palhaço. Se ele achava que eu ia mesmo me referir a ele daquele jeito, ele estava redondamente enganado! Ele e aqueles 600 euros de merda... ... Ok... Não eram 600 euros de merda...

- O que você precisa, Malfoy? - Ah, poupe-me do "senhor", né? E eu ainda falei em um tom bem educado...

- Humpf, - ele ignorou o meu ato - Weasley, você sabe fazer café?

Ah não, dessa vez eu tinha que perguntar:

- Você acha que eu tenho cara de idiota? - mas eu não devia ter feito isso...

- Bem, pra falar a verdade...

- Tá bom, tá bom! Não precisa responder! - eu interrompi - É óbvio que sei fazer café! Eu moro sozinha desde que terminei a escola! Você pensa que eu sobrevivo de quê? Pão e água?! - e eu não devia ter perguntado, de novo, será que eu nunca aprendo?

- Olha, pela sua forma pré-raquítica, eu diria que andou sobrevivendo de ar... - ele deu aquela risadinha besta. Eu já mencionei o quanto odeio essa risadinha? Pois é, eu realmente a odeio.

Argh! Esse idiota!!! Calma... Calma, Gina... Você consegue ignorar...

- Eu acabo de decidir que não vou ligar para os seus comentários enquanto eu pisar nesta casa. - saí da porta do quarto e passei por ele - Onde é a cozinha mesmo?

- Quem diria, que mulher controlada, não? - ele falou sarcástico. Que ódio! Qual era a dele de me atormentar a todo segundo?! - Venha por aqui. - ele passou por mim dessa vez e foi em direção às escadas que tinham logo ao fim do corredor.

O meu quarto ficava meio isolado do resto da casa, no andar mais alto de todos bem no fim de um corredor só de quartos de hóspedes, tinha uns 5 ou 6 e o meu era o último na ponta oposta às escadas. Aquele andar inteiro era só o corredor de quartos, que de um lado era formado pela parede com as portas e do outro apenas por um corrimão (continuado da escada), dando vista para o andar de baixo. O chão era todo em carpete vermelho escuro e a parede azul com detalhes em tons mais fortes não tinha janelas (se não estas dariam para dentro dos quartos!), o que fazia as luzes terem que ser acesas a qualquer hora do dia naquele espaço.

Malfoy começou a descer as escadas e eu fui logo atrás, não queria me perder ali, ou teria que ouvir pelo menos umas 50 piadinhas infames. O terceiro andar, onde tínhamos acabado de chegar era o andar dos quartos da família. Dava para notar o quão maiores aqueles quartos deviam ser por conta da distância e do tamanho das portas, sem contar que cada uma era de um jeito diferente, como se fossem personalizadas às pessoas que ali dormissem.

- Onde está o resto da sua família? – perguntei na inocência, apenas observando as portas.

Desde que tinha chegado na mansão não via mais ninguém, mas sabia que Malfoy tinha parentes, nada legais, por sinal. Na mesma hora lembrei-me de Luna dizendo que ele morava sozinho e comecei a achar que não devia ter perguntado...

- Não é da sua conta, Weasley. – ele respondeu extremamente frio de repente. É, eu realmente não estava dando uma dentro com as perguntas...

Alguma coisa ruim devia ter acontecido a... Oh, não. “Ele acabou de herdar a fortuna”. Será que...? Será que eles tinham... Céus... Pobre Malfoy... Ok, pobre não, qualquer coisa menos pobre. Mas... coitado! Nem mesmo a pior das criaturas merece a dor de perder a família... Por alguns minutos me senti incrivelmente maligna por ter dito coisas tão horríveis a ele... Eu disse “por alguns minutos”.

- É normal você parar para encarar quadros com essa cara de peixe morto ou é só porque tem a minha imagem nele? – aquela voz sarcástica me trouxe de volta à realidade e quando percebi estava parada no meio da escada, com o olhar vagando bem em direção a um quadro com um retrato pintado de Draco Malfoy.

Argh! Estúpido! Mesquinho! Nojento! Era isso sim que ele era. E eu me lembraria de nunca mais sentir nem um pingo de compaixão por nem um fio de cabelo de um Malfoy!

- Idiota. – foi só o que falei, passando por ele e descendo as outras escadas sem olhar para trás, mas ainda pude ouvir a maldita risada nasal.

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Ela perguntou da minha família. Humpf. Quem ela pensa que é pra perguntar alguma coisa da minha família?! Uma mera empregada e acha que pode se intrometer na minha vida.

- Não é da sua conta, Weasley. – respondi friamente num reflexo de defesa.

Desci mais uns dois degraus e me virei para trás. Me deparei com ela parada, tinha uma expressão estranha pensativa no rosto, não que eu ficasse reparando nisso, é claro. Mas ela estava olhando para mim fixada daquele jeito? Não, não era pra mim, na verdade não parecia ser pra nada, tinha um olhar vagante.

Reparei que na parede atrás de mim estava aquele meu antigo retrato pintado. Eu sabia que não tinha nada a ver com aquilo, mas resolvi provocá-la, mesmo porque não queria ficar ali esperando até que ela saísse do transe mental.

- É normal você parar para encarar quadros com essa cara de peixe morto ou é só porque tem a minha imagem nele?

Ela voltou à consciência e corou no rosto. No início parecia vergonha mas depois se tornou irritação.

- Idiota.

Soltei uma risada e comecei a descer as escadas de novo atrás dela. É, por incrível que pareça para uma Weasley, ela tinha acertado o caminho até a cozinha, porque quando cheguei lá ela já estava lançando olhares pros armários, aparentemente tentando descobrir onde as coisas ficavam.

- E então? – comecei – Meu café sai ainda hoje ou você está muito ocupada fazendo social com os armários primeiro?

- Malfoy, alguém, em algum momento, já te disse o quão insuportável você é? – ela se virou para mim e colocou as mãos na cintura.

- Parece que eu não sou tão ignorável afinal.

- Eu – preciso – saber – onde – ficam – as – coisas!

- Achei que já tivesse te dado permissão para mexer em tudo, desde que não mude o lugar de nada nem pegue nada para você. – eu estava calmo. Era divertido vê-la irritada, heh.

- Ótimo! – ela falou com raiva e começou a revirar tudo para achar canecas, panelas, garrafa de café e outras coisas.

- Ei, não quebre nada ou vai ter que trabalhar meses sem salário para conseguir pagar! E espere um minuto! – nesse momento ela se virou para mim – Você vai começar a trabalhar assim?

- Assim como?

- Assim, com essas roupas – eu apontei.

- O que há de errado com elas?!

- Elas não são o uniforme que meus empregados usam. – os olhos delas se arregalaram como limões e eu tive que me segurar para não ter um ataque de riso.

- Do que raios você está falando, Malfoy?! Eu sou sua primeira empregada, não existe “uniforme que seus empregados usam”!

Não agüentei, tive que soltar uma risada alta.

- HAHAHA! Weasley, Weasley... Esta não é uma casa qualquer, você já percebeu, não é mesmo? – ela fez uma cara de descrença para o tom infantil que usei na voz – Aqui você tem que seguir padrões. Padrões muito superiores aos que você jamais se submeteu, eu suponho. Siga-me. – concluí e saí em direção à lavanderia, naquele mesmo andar.

Era só alguns corredores de distância dali, mas então percebi que ela não estava me seguindo. Deixei para lá, eu não ia ficar no pé de uma mera empregada pela casa. Mas também não ia abrir mão do uniforme, então cheguei à lavanderia, abri um armário quase intocado desde que tinha começado a morar sozinho.

- Azul? Verde? Rosa? Hm... Azul. Combina com as paredes lá de cima. – decidi finalmente e peguei as vestimentas cuidadosamente dobradas.

A fumaça já saía pela porta da cozinha, trazendo um cheiro gostoso de café recém-preparado. Parei um pouco antes de entrar na cozinha e observei a Weasley em frente ao fogão. Pode ter sido um pensamento um tanto caótico, mas me veio em mente de que ela se encaixava muito bem ao que estava fazendo. Tinha uma expressão fechada no rosto. Será que eu estava exagerando com as brincadeiras? Não, não tinha nada demais, humpf. De repente ela desemburrou a cara e começou a sussurrar alguma melodia que eu não reconheci. Isso me mostrou que realmente estava tudo bem, afinal. Não que eu estivesse preocupado com isso, é claro.

- Aqui está. – finalmente entrei na cozinha.

Fui até ela e entreguei as roupas dobradas. Céus, se ela tivesse visto a cara fez ao desdobrá-las... Eu não consegui agüentar, tive que rir. Rir muito.

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Ele ria. Ria desesperadamente como o diabo foge da cruz... Aquele... MALDITO!
Não creio!! Ela esperava mesmo que eu fosse usar aquilo?? Aquilo nem mesmo podia ser chamado de roupa!! Era a coisa mais ridícula que já tinha visto em minha vida! E fiz questão de comentar isso.

- Malfoy, você só pode estar de brincadeira!!! – mas ele continuava rindo demais da minha cara para ouvir alguma coisa – Eu não vou vestir isso aqui nem dentro do caixão!!

Ele começou a se controlar um pouco, limpando as lágrimas.

- Ah, Weasley, o que é que tem de mais? Acho até que combinaria com você, a roupa, eu digo, hahaha.

- Claro! Se você quer uma palhaça trabalhando na sua casa, sim, combinaria perfeitamente!!

- Bem, não que eu já não tenha contratado uma desde o início, não é? – ele já estava recomposto, me olhando de cima daquele jeito superior, com aquele insuportável sorrisinho de lado nos lábios.

- Argh! Não importa o quanto você me insulte, Malfoy, eu não vou usar isso! – cuspi as palavras com raiva e joguei aquela coisa nojenta azul cheia de estúpidas rendinhas brancas em cima do balcão mais próximo.

- Ah, uma pena, Weasley, eu poderia considerar um pequeno aumento para você depois de um tempo, se fosse uma boa funcionária, sabe...

- Não quero saber. Diga o que quiser, eu não vou vestir essa fantasia de pré-escola. – encerrei o assunto.

- Ok, já que você não sabe jogar da minha forma, jogaremos da sua. Você deve demonstrar respeito pelo seu patrão, eu, e não deve trabalhar com as roupas imundas como bem deve estar acostumada. Dispenso o vestido, mas você terá que usar o avental. Esta não é uma opção.

Quando dei por mim eu já tinha ficado meio paralisada, encarando-o nos olhos enquanto ele fazia o discurso. Aquilo foi meio... imponente. Acabei não dizendo nada e deixei-o sair da cozinha sem o café que era o motivo inicial de tudo aquilo. Será que eu estava sendo cabeça-dura, como sempre? Bah, não... Não daquela vez.

Peguei o avental branco no meio da roupa agora embolada sobre o balcão e amarrei-o na cintura e atrás do pescoço. Eu ainda tinha muito para descobrir naquela cozinha

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N/A: Ok, esse capítulo ficou meio... Parado. Num saiu do lugar, né? Mas acho que ele só serviu mesmo pra mostrar um pouco mais do PoV (Point of View/Ponto de Vista) do Malfoy mesmo... Perdão, não acabou de um jeito legal nem emocionante, afinal XD E estou totalmente sem idéias para o que vai ocorrer daqui pra frente. Sugestões? São muito bem-vindas! ^^

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