A notícia



Era uma manhã de sábado como outra qualquer. O sol clareava a sala por completo. Não era muito grande a casa, só o suficiente para duas pessoas. Gina se mudara para lá há alguns anos.
A mesa estava posta. Edward ainda não havia acordado, mas logo o faria. Sua mãe esperava pacientemente que isto acontecesse para que pudessem tomar café juntos, fato raro, pois ela dava aulas numa escola primária para bruxos que ela mesma fundara.
Sentada à mesa, ela refletia sobre os últimos anos. Como eles haviam passado rápido! Parecia ontem o dia que se separa de Malfoy. Porém fora há muito tempo. E ela estava ciente isso. Às vezes, pegava-se pensado em como o loiro estaria. Nunca mais tivera notícias suas. Por culpa dela, tinha certeza. “Não nos procure. Isso não é um pedido. Pode ficar tranqüilo que eu não falarei mal de você, na verdade, não pretendo mais falar de você”. Ela seguira em frente, deixando-o para trás. Ou não.
Na verdade, ela levara um pedaço dele consigo. Era impossível olhar para Edward e não se lembrar de Draco. Os olhos, o sorriso, o cabelo claro... Era incrível a semelhança entre os dois. Contudo, mesmo sendo da Sonserina, o jovem Malfoy era uma pessoa dócil e fácil de se conviver, ao contrário do pai que sempre fora implicante e com o humor instável.
Gina estava envolta de lembranças antigas quando um loiro alto, quase um metro e noventa e cinco, entrou na sala e pigarreou.
- Mãe?
- Alguém me chama? – respondeu divertida.
- Por acaso, sim, o seu filho. Conhece?
- Como não? Te aturo há quase vinte e dois anos!
- É assim, é? – fingiu-se indignado.
- Claro que não... Você sabe que eu te amo.
- Não sei... Você se dedica tanto aos seus alunos...
- Ai, D... – engasgou. Ela ia dizer Draco? Momentos nostálgicos sempre a afetavam. Bastava pensar nele um segundo para isso ocorrer – Edward! Deixa de ser bobo!
Como ela podia ser tão transparente? Não era a primeira vez que acabava por se denunciar. Por sorte só estavam os dois lá. Desse modo poderia continuar fingindo. Fingindo não se importar, fingindo não se lembrar, fingindo não fingir.
Conversaram sobre trivialidades. Nada muito importante. Uma coruja adentrou a sala. Gina pagou-a e esta lhe entregou o exemplar d’O Profeta Diário.
De repente, ela ficou pálida. Seu coração disparou, parecia que queria sair de seu peito. Sua respiração pesada era o único barulho no cômodo.
Quem olhasse afirmaria que ela estava prestes a desmaiar. Seus olhos corriam desesperadamente pela primeira página. Era evidente o seu transtorno, o seu inconformismo. Por fim, dobrou o jornal ao meio e o entregou a Edward.
- Mãe, você está legal?
Não obteve resposta. Ela simplesmente fitava a janela como se houvesse algo muito interessante a ser visto. Não compreendendo direito o que acontecia, Edward abriu o jornal. O que veio a seguir foi um choque.
“Morre Draco Malfoy.
Morreu ontem em sua mansão o milionário e suposto ex–comensal da morte, Draco Malfoy. Sem aparecer em público há mais de vinte anos, ele faleceu ontem devido à pneumonia, contudo só foi encontrado por seus elfos na manhã de hoje. (...)”.
Largou O Profeta Diário na mesa. Não tinha estômago para ler o restante. Encarou Gina. Seus olhos cheios d’água brilhavam insistentemente. Ela fazia um esforço sobre-humano para não demonstrar a dor que sentia e Edward sabia disto.
A ruiva não pôde evitar que uma lágrima solitária corresse pela sua face. E, mais uma vez, Draco Malfoy a fez chorar. Talvez aquela fosse a última, talvez não.
Edward teve uma necessidade quase física de conhecer um pouco mais o pai. Ele nunca pensara seriamente na hipótese, pois sabia que magoaria a mãe. Mas naquele momento era inevitável. Levantou-se com tamanha brutalidade que despertou a Gina de seus devaneios.
- Aonde você vai?
- Mansão dos Malfoy.
- Fazer...- perguntou num tom de quem exige uma explicação.
- O que eu já deveria ter feito há muito tempo. Descobrir quem era o meu pai.
- Não faz isso.
- Por quê? – uma raiva irracional tomou conta dele.
Seus olhos vermelhos, por conta das lágrimas não derramadas, faiscavam. Ela já assistira essa cena antes. Fora há vinte anos atrás quando falara, ou melhor, brigara com Draco pela última vez. A semelhança entre pai e filho ficou mais evidente ainda. Nunca vira o filho tão transtornado.
- Não vale a pena.
- Não vale a pena? – sibilou raivosamente.
- Vá, mas não diga que não avisei.
Saiu em disparada e bateu a porta com força. Em questão de minutos estava em frente à mansão. Era ali, naquele local sombrio, que descobriria o outro lado da história. Da sua história.
Mal chamara por alguém, já era enxotado para dentro por uns dois elfos que não paravam de guinchar algo do tipo: O menino Malfoy voltou!
Se não estivesse tão angustiado, acharia a cena engraçada. Perguntou às criaturas onde era o quarto de Draco e as seguiu. Logo estava num cômodo bem decorado, no entanto com uma aparência melancólica.
Observou atentamente cada detalhe. Seus olhos se demoram mais sobre o criado-mudo. Um caderno que ali estava lhe chamou a atenção. Abriu-o e teve a sensação de ser sugado para dentro do papel.
Era uma noite chuvosa, parecia que o céu ia desabar. Um homem de capa preta aparatou bem no meio da sala de estar. Encharcado era a única palavra que o definia. “Que raios de lembrança é essa?”, indagou-se Edward.
O capuz fora tirado, e o homem misterioso revelou seu rosto. Aquele era Draco Malfoy e aquela era uma das capas que os Comensais costumavam usar. Edward viu uma das suas piores suspeitas se concretizar.
Draco subiu as escadas rapidamente com Edward no seu encalço. Logo estavam em frente ao quarto que o jovem entrara um pouco antes.
- Gina? – chamou Draco enquanto abria a porta - Me desculpe. Eu não devia ter falado aquilo. Se você quiser eu deixo de ser um comensal... – seu espanto por ela não estar lá era visível.
Desesperado procurou pela esposa e pelo filho. Não os achou. O medo estava estampado em sua face. Com passos vacilantes, entrou no escritório.
Em cima da mesa de mogno meticulosamente arrumada, tinha um envelope vermelho. Com as mãos trêmulas, Draco o abriu e puxou e dentro dele um papel escrito com uma caligrafia tipicamente feminina.
Edward fora mais rápido que Draco e lera a carta antes que o pai terminasse. Sua respiração estava suspensa. Ele não fazia a menor idéia sobre qual seria a reação do outro. Temia que fosse a indiferença. Em segundos, esse seu temor mostrar-se-ia sem fundamento.
- Não! – urrou de dor. Completamente transtornado, começou a quebrar tudo que encontrava pela frente.
O jovem assistia à cena paralisado. Rapidamente o escritório encontrava-se inteiramente depredado. Draco chorava sentado no chão. Sem conseguir deter-se, Edward se acomodou ao lado do pai. Seus olhos demonstravam uma raiva descomunal. Aos poucos, sua expressão foi se suavizando até mostrar uma tristeza profunda.
- Gina...- mais lágrimas rolaram e sua mão direita sangrava devido aos cortes que obtivera quebrando um porta-retrato – Edward...
Ele desejava ardentemente amenizar o sofrimento do outro. Queria dizer que estava ali, que se importava e que apesar de tudo o amava. Mas não podia, essas palavras Draco Malfoy nunca ouviria.
- Se é assim que você quer, Gina, assim será. – falou observando a carta agora ensangüentada em suas mãos.
Teve a sensação de ser sugado novamente. Olhou o seu redor, estava de volta ao quarto, sentado na cama e com o caderno em suas mãos. Folheou o objeto que descobriu ser o diário do pai desde aquele fatídico dia. Descobriu que mesmo sem o conhecer, ele o conhecia muito bem. Sabia de detalhes que ele próprio não lembrava mais. Ele acompanhara o seu crescimento.
Essa descoberta fez com que seu estômago pesasse de culpa, de culpa por não ter feito o mesmo. Por não ter se aproximado, por não o ter conhecido. Seus olhos, não mais vermelhos, estavam embaçados.
Por fim leu as duas últimas anotações feitas no caderno:
“Gina,
Eu não queria que este fosse o fim. Se eu pudesse, faria diferente. Mas não há mais tempo.
Eu lhe pediria perdão pelo sofrimento que a fiz passar. Mas não há mais tempo. É tarde. Muito tarde, eu diria.
Saiba que também sofri, pelo visto mais que você. Afinal, está muito feliz pelo que me parece.
Espero que você realmente seja muito feliz, ao contrário de mim que tive anos para me arrepender.
Também gostaria que soubesse que estar longe das únicas pessoas que você ama faz com que você morra cada dia um pouco. Que você morra a cada sorriso perdido, a cada pequena alegria...
Ainda bem que você não cometeu o mesmo erro que eu. Era só isso que você precisava saber.
Com amor,
Draco Malfoy ”.
Na página seguinte havia uma carta destinada a ele.
“Edward,
O que eu posso dizer? Perdoe-me é pouco. Não há palavras suficientes para o que quero expressar.
Eu gostaria que um dia você soubesse que posso ter sido um pai omisso, mas que não o fiz por opção. Não me foi dado o direito de escolha. Não culpo à sua mãe, culpo à minha. Se eu não tivesse feito tantas burradas talvez não fosse assim.
Em certas coisas nem o vira-tempo dá jeito. Não pense que eu nunca cogitei a hipótese de voltar no tempo e mudar tudo, pois cogitei. Todavia, isso poderia ter conseqüências desastrosas.
Não peço que me ame, porém imploro que não me odeie, por mais que eu mereça.
Gostaria que você soubesse que tenho muito orgulho do meu filho. Na verdade, talvez tenha sido melhor assim. Eu não sei se seria capaz de educá-lo tão bem quanto a Gina fez.
No dia em que descobri que você tinha ficado na Sonserina, estava radiante. É... eu acompanhei você mesmo que distante, aliás acompanhei vocês.
Sinto muito, mas é tarde para mim, para nós. Tarde... que palavra cruel.
Com amor eu me despeço,
Draco Malfoy.”
Um barulho vindo da porta o fez olhar para trás. E lá estava a sua mãe. Suspirou e indicou a cama com a cabeça.
Gina entrou vagarosamente e se sentou em frente a Edward.
- Lê – não disse mais nada até a ruiva terminar – Então? O que me diz?
-É uma pena que ele não tenha enviado essas cartas a tempo.
- Você voltaria atrás?
- Não sei, Edward.
E ficaram em silêncio por um bom tempo. Um silêncio pesado, formado de palavras não ditas, de sentimento não demonstrados. Ela o perdoava, mas era tarde.
Era tarde para ela o perdoar. Era tarde para eu o amar. Era tarde. Era tarde demais para o meu pai. Tarde demais...

N/A: E então? Como ficou? O que acharam do final? Na verdade não era para haver continuação, a fic acabaria ali, com a despedida de Gina, mas, quando eu a publiquei pela primeira vez, disseram que queriam saber o ponto de vista do Draco. Espero que tenha agradado. Tentei manter o mesmo tipo de narração, pois a 1ª história era contada pelo Edward, portanto, a segunda também teria de ser. Beijos. Espero ALGUM comentáriol. Fui!

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