Lua cheia de solidão



Essa fic foi escrita para o concurso de fanfics da convenção Hogfest. Eu infelizmente não ganhei, mas talvez eu não tenha nascido pra escrever fics, ou pelo menos não pra participar de concursos... Brincadeirinha, espero que vocês gostem da fic. Eu escrevi ela com muito carinho

Harry Potter, personagens, nomes e qualquer material relacionado são marcas registradas da Warner Bros Entertaiment Inc. Direitos de publicação de Harry Potter J.K. Rowling.
Harry Potter (infelizmente) não me pertence.

Lua cheia de solidão

Escuro, frio, medo. A lua brilhava no céu com tanta intensidade que trazia um misto de pânico e admiração para um pequeno garotinho sozinho no meio de um campo vazio. Não sabia o motivo de estar ali. Não fazia idéia do perigo que se aproximava. Só queria voltar para casa. Só queria estar em sua cama naquele momento com sua mãe afagando seus cabelos, e caindo em um sono profundo onde teria belos sonhos. Uma figura escura e sombria se aproximava, não podia ver direito. Estava com medo e não tinha para onde correr. A criatura correu em sua direção e ele viu a monstruosidade que possuía aquele corpo por breves instantes, depois não viu mais nada. Desse dia em diante, não haveria mais sonhos, somente pesadelos...

- NÃO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! – Um homem acorda gritando após outra noite tendo o mesmo pesadelo. Ele já não era mais o menininho de antes, mas os mesmos fantasmas que outrora lhe deixavam em pânico, continuavam a atormentar sua vida. Todas as vezes que tinha esses pesadelos, ele lembrava-se com muita nitidez que acontecera aquele dia e nós outros que vieram a seguir.

“A lua estava cheia e brilhante aquele dia. Eu era apenas um menino, mas me lembro de cada detalhe daquela noite trágica. Minha vida nunca mais foi a mesma, se eu posso realmente chamar isso de vida. Estou a anos enclausurado em uma maldição que ninguém pode quebrar. Sou refém de mim mesmo. Sou refém do monstro que vive dentro de mim esperando a hora de acordar e machucar quem estiver por perto. É terrivelmente doloroso, mas eu sei que não posso dividir isso com ninguém, tenho que enfrentar todas as minhas dores sozinho. Houve um tempo em que minhas transformações não eram tão dolorosas nem tão terríveis. Eu podia dividir minhas dores e minhas angustias com pessoas que faziam questão de me apoiar e de me incentivar em todos os aspectos da minha vida, mas agora todos eles foram embora e eu estou novamente sozinho.

Fazem mais de 40 anos desde aquela noite que assombra meus sonhos e torna meus dias um pesadelo. Eu tinha apenas três anos e não devia estar fora de casa aquela hora da noite. Nem sei o que fazia ali aquela hora ou o que me aconteceu depois, só me lembro do terror do momento, do medo que eu senti ao ter a visão mais horrenda que eu já tinha visto e depois, a dor mais dilacerante que eu achava que alguém já poderia ter sentido. Depois, não tardaria muito, eu descobriria que minhas transformações seriam infinitamente piores, nada que um garotinho de apenas três anos devesse suportar. Foi nessa época que eu descobri o quanto eu era forte. O quanto eu deveria ser forte. Minha mãe chorava todas as noites e meu pai se sentia culpado pelo o que me aconteceu. Apesar de ter eles ao meu lado, me sentia tremendamente sozinho. Sentia que era uma ameaçava para eles e para todos a minha volta, não podia conviver com pessoas ou poderia machucá-las. Mas quando eu fiz 11 anos, tive que tomar uma decisão que mudaria toda minha vida.

A principio não queriam me aceitar em Hogwarts. Eu não os culpava. Quem poderia se sentir seguro com um monstro dentro de sua escola? Mas então um novo diretor apareceu e me convidou para aprender a ser um grande bruxo. Tive muito medo a principio, não por mim, mas por todos aqueles que estariam a minha volta. Mas Dumbledore me convenceu que aquilo era o certo e que tudo ficaria bem. E não foi tão difícil quanto eu imaginava. Eu poderia ser como qualquer outro estudante, e uma vez por mês me separava de meus colegas para passar por minhas transformações sozinho. Nessas horas eu me lembrava do que eu realmente era. Da fera que estava presa dentro de mim, mas estava convencido de que era seguro, de que nunca machucaria ninguém, mas um aluno que some uma vez por mês começa a ser muito suspeito, principalmente se você esconde a verdade de seus próprios amigos. Eles eram muito espertos. Minhas desculpas podiam convencer os outros, mas em pouco tempo não eram o bastante para eles, eu sabia que logo descobririam a verdade. Isso me deixou em pânico. Eu nunca tinha tido amigos, e não sabia mais como viveria sem eles. Então no dia que eles descobriram meu segredo, quem fez a maior descoberta fui eu.

- Você nos considera seus amigos?

- Claro que sim.

- Então como pode achar que seus amigos o abandonariam no momento em que você mais precisa?

- Estamos ao seu lado agora, e estaremos sempre.

Achei-me o maior idiota do mundo. Foi neste instante que eu descobri o que significa a palavra amizade. Como amigos de verdade me abandonariam? E eles se mantiveram ao meu lado. Essa era a maior prova de amizade que eu poderia esperar de alguém, mas eles não eram quaisquer amigos. Eles eram os marotos, e é claro que as coisas não iriam simplesmente continuar como estavam, eles iriam me ajudar como alguém jamais me ajudaria.

Nós estávamos no quinto ano. Tiago, Pedro e Sirius tiveram muita dificuldade para fazerem a maior das façanhas para estarem sempre ao meu lado. Agora eu percebo o quanto tudo aquilo foi perigoso, mas na época éramos apenas adolescentes imaturos e empolgados com a nossa inteligência. Pedro foi o que teve mais dificuldade, mas o nosso pequeno Rabicho conseguiria com a ajuda de toda a nossa habilidade, apesar de conseguir ser apenas um pequeno rato. Tiago havia se transformado em um belo cervo, o que lhe rendeu o apelido de Pontas e Sirius agora além de um maroto era um cachorro em todos os sentidos, ele era nosso almofadinhas. E eu me transformei em aluado. Tínhamos novos nomes, novos segredos, e eu tinha uma nova vida. Parecia que tudo tinha se transformado em um conto de fadas. Tínhamos nossas aventuras, momentos de perigo, mas no fim tudo sempre acabava bem. Ninguém mais sabia do meu segredo, até o dia que Almofadinhas resolveu fazer uma pequena brincadeira que revelaria mais do que eu escondia. Me traria lembranças a muito esquecidas. Lembranças do que eu realmente sou. Me lembraria que eu tenho a capacidade de machucar alguém. Eu não havia realmente machucado, mas isso serviu para abrir os meus olhos e encarar a realidade que estava a minha volta. E ela era muito mais cruel do que apenas o monstro que havia dentro de mim.

Hogwarts era um lugar mágico e maravilhoso, porém nos manteve seguros por tanto tempo que não nos preparou para tudo o que nós teríamos que enfrentar além daqueles portões. Eu nunca havia realmente enfrentado uma guerra. Mal sabia eu que aquela seria só a primeira, e ela me levaria muito mais do que minha inocência e meus sonhos para o futuro. Meus pais já não estavam mais comigo há algum tempo. Meus amigos eram tudo o que me restava, eles eram tudo o que eu poderia querer em uma família. Éramos mais do que só amigos, éramos irmãos e eu perdi tudo em uma só noite. Para muitas pessoas aquela foi uma noite de comemoração. A guerra havia acabado, Voldemort finalmente havia sido derrotado, levando com ele tudo o que fazia com que eu me sentisse vivo. Tínhamos um traidor entre nós. Até hoje eu não entendo como nosso pequeno Pedro pôde ter nos traído de uma maneira tão cruel, ou como eu fui capaz de acreditar que o Sirius teria coragem de matar Tiago.

Continuei minha vida após esse dia mais sozinho do que nunca. A sensação de solidão que eu sentia durante a minha infância não era nada comparada a que eu sentia agora. Talvez se eu não tivesse provado o doce sabor da felicidade eu não me sentiria tão infeliz. Não conseguia ficar mais que um mês em um emprego. Ninguém entendia porque um empregado sumia todos os meses, ou desconfiavam da verdade e entravam em pânico. Em pouco tempo eu já não tinha um lugar de verdade para morar, minhas vestes estavam sujas e rasgadas, mas eu não me importava. Era daquela maneira que as pessoas me enxergavam ao descobrirem a verdade. Eu não deveria esconder por trás de uma bela roupa o que eu realmente era. Vivi por muitos anos desta maneira. Não me importava com o que me acontecia. Não tinha mais planos nem sonhos para o futuro, até que o passado voltou como um furacão sem deixar que eu escapasse.

Sirius havia fugido de Azkaban. E logo em seguida Dumbledore me chamou para dar aulas em Hogwarts. Eu não tinha mais nada para fazer e eu poderia proteger o filho daquele que realmente eu podia considerar um amigo. Eu aceitei no mesmo instante. Mas é claro que não fui aceito por todos de uma maneira amistosa. Alguns alunos e professores não me acharam, qualificado, para ensinar defesa contra as artes das trevas. Mas eu logo eu provei que poderia ser uma pessoa e um professor muito melhor do que minha aparência. Por alguns momentos quase que eu me senti como quando eu entrei pela primeira vez em Hogwarts, como uma pessoa normal, mas cada vez que surgia alguma noticia sobre Sirius eu lembrava porque estava ali e o que eu era de verdade.

Comparado a todos os anos que eu vivi após a morte de Tiago, acho que posso dizer que aquele foi o melhor ano da minha vida. Eu conheci o garoto maravilhoso que era o filho do meu amigo, descobri que Sirius era inocente e voltei a fazer parte da Ordem da Fênix. Na verdade no fundo do meu coração eu nunca havia deixado de fazer parte da Ordem, mas agora que o mal havia voltado eu também estaria de volta a ativa, com todas as minhas forças e ao lado da minha nova família. Dentro de mim, por mais que eu tentasse negar, começou a nascer uma pontinha de esperança. Talvez eu pudesse voltar a ser feliz. E apesar de tudo por algum tempo eu fui muito feliz.

Estávamos em outra batalha. Mais uma entre tantas, afinal de contas estávamos em uma guerra. O que eu não sabia era que novamente eu iria perder um grande amigo. A diferença é que desta vez não haveria volta. Harry também sentiu muito com essa perda, mas tenho certeza que ele não sentiu tanto quanto eu. Eu não consigo demonstrar meus sentimentos na frente de outras pessoas. Eu sinto que tenho que ser forte por todos, mas depois de aprender a ser feliz, perder tudo pela segunda vez era demais para qualquer um agüentar. Acho que se eu estivesse sozinho como da ultima vez, não teria tido forças para me erguer e continuar minha vida. Mas eu preciso continuar vivendo por outras pessoas que agora dependem de mim. Dumbledore também se foi e eu tenho que seguir em frente até o momento em que eu não tiver mais forças. Só espero que nesse momento a guerra tenha acabado, e quem ficar, possa desfrutar de um mundo de paz.”

Após o pesadelo e de uma enxurrada de lembranças o homem se levantou de sua cama e andou até a janela. A lua estava lá como sempre brilhando intensamente, mas não estava em todo seu esplendor, ele sabia que nunca mais veria a lua em seu total esplendor, só a fera veria.

- Remo? – Uma voz feminina invadiu seus aposentos o tirando de seus estupor e de suas tristes lembranças. – Está tudo bem?

- Tonks, está tarde, é melhor você voltar para o seu quarto. – Respondeu com seu olhar ainda fixo na janela.

- Eu ouvi um grito, está tudo bem? – Perguntou ela se aproximando.

- Está tudo bem, desculpe se eu acordei você.

- Outro pesadelo? – Ela coloca a mão em seu ombro e ele a segura.

- São só lembranças tristes da minha vida que insistem em me atormentar, mas não é nada demais, eu já estou bem.

- Sabe o que eu acho? – Ela o virou para que ele olhasse para os seus olhos. – Eu acho que você passou por muitas coisas ruins, que você não teve uma vida fácil, mas que você também tem muitas lembranças felizes na sua vida. Por que insiste tanto em só se lembrar das tristes? Por que você não quer ser feliz?

- Eu já tentei ser feliz. Mas todas as vezes que eu acho que encontrei a felicidade acontece alguma coisa e tudo acaba. Meu mundo já desmoronou tantas vezes que eu não encontro mais forças pra colocar ele novamente em pé.

- Se você não tem mais forças pra fazer isso sozinho por que você não deixa as pessoas te ajudarem?

- Todos aqueles que tentaram me ajudar não estão mais aqui. E eu sempre acabo sozinho.

- Remo. Eu estou aqui. Eu quero te ajudar. Por que você não me deixa pelo menos tentar?

Remo se afasta dela e começa a andar pelo quarto, aparentemente pensando no que responder.

- Eu sinto muito. Eu nunca faria você feliz.

- Sabe o que não me faz feliz? – Diz ela com um pouco de desespero. – É ver você se afogando na sua tristeza. É ver que você não faz nenhum esforço. É ver que você faz de tudo pra se afastar de mim.

- Ninfadora, eu já disse, é tarde, é melhor você ir dormir.

- Não adianta você me chamar de Ninfadora. Você pode me chamar de qualquer coisa que eu vou ser a mulher mais feliz do mundo só pelo fato de você estar falando comigo.

- Você não entende. Eu não consigo. Eu não posso mais viver em um mundo de sonhos e esperança e depois ver meu castelo de areia desmoronar. Eu não tenho mais forças pra isso. – Ele senta em sua cama e esconde seu rosto entre as mãos.

Ela anda até ele e senta-se ao seu lado. Cuidadosamente ela segura suas mãos e o faz novamente olhar no fundo dos seus olhos.

- Se você não tem mais forças, eu lhe darei forças. Se você não tem mais vontade de viver, vontade de ser feliz, eu lhe darei esperança, e você sabe por quê?

Ele olha para ela hipnotizado com a beleza de seu olhar e balança levemente a cabeça.

- Porque eu te amo. Porque meu amor nos dará forças. Porque meu amor nos trará esperança e porque sem você eu não consigo mais viver.

- Você está errada. – Ele diz seriamente e a vê com lágrimas nos olhos. – Eu não acho que o seu amor me dará forças e nem esperança. O que me dará forças e esperança, o que me fará viver mais uma vez será o nosso amor.

Ela abre um grande sorriso e o abraça como se sua vida dependesse disso. Ele retribui da mesma maneira com uma nova chama de esperança crescendo em seu coração.

- Só me promete uma coisa? – Ele diz se afastando por um instante.

- Eu prometo o que você quiser.

- Prometa que você nunca vai me deixar, prometa que você não será só mais um pequeno raio de felicidade que passará pela minha vida e depois me deixara na escuridão.

- Eu prometo que vou te amar com todas as minhas forças e farei de tudo para que mesmo que um dia eu não esteja mais aqui que a escuridão nunca volte para a sua vida. Eu prometo que meu coração e meu espírito estarão sempre com você, e você nunca mais estará sozinho.

Ele acaricia sua face e seca as suas lágrimas. Daqui pra frente não haveriam mais lágrimas de tristeza, somente de felicidade. Ele se aproxima e toca os seus lábios com todo o amor que estava guardado dentro deles durante todo aquele tempo. A promessa que ela havia feito estava sendo selada naquele instante e ele sentiu que nunca mais haveria escuridão. Dessa vez ele sentia que não precisava ter medo de ser feliz. Eles se separam após algum tempo com calma ainda saboreando aquele momento tão esperado. Ela tinha um sorriso radiante e ele estava encantado com a sua beleza.

- Sabe o que eu acho? – Disse ele com ela ainda em seus braços.

- O que? – respondeu ela acariciando seu rosto.

- Eu acho que eu passei por muitas coisas ruins e que tenho muitas lembranças tristes, mas que a partir de agora irei começar a reescrever a minha história. Meus pesadelos vão ficar para traz e a partir desta noite meus dias e minhas noites serão repletos de sonhos e meu castelo desta vez vai ser construído com muito amor. Desta vez tenho certeza que ninguém vai poder derrubá-lo.

- É assim que se fala meu amor, mas já que você vai reescrever sua história a partir desta noite, tem alguma coisa em mente? – Diz ela se aproximando dele novamente.

- Bom você vai ter que ficar aqui comigo se quiser descobrir...

A guerra ainda não havia terminado, o mal ainda estava lutando para sobreviver, mas o amor tem mais força e mais vontade de lutar. E ele sempre vence. Mas essa noite, um homem começa uma nova vida. Um homem nasce para uma vida de felicidade e de esperança e só a lua é testemunha dessa maravilha que traz as pessoas de volta a vida, só a lua é testemunha desse amor. Pelo menos durante esta noite. Amanhã será um novo dia. Um dia repleto de felicidade porque muitas outras pessoas serão testemunhas desse amor.


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