Capítulo II



Como era possível haver tanta gente, a ir para o mesmo sítio que ela? Tinha escolhido em primeiro ir para Veneza, mas os bilhetes tinham se esgotado no dia anterior, por isso, decidiu-se a embarcar até Miami.
Ao chegar, ficou deslumbrada com a paisagem. Não tinha nada a ver com Londres, e a chuva que caía na sua cidade não tinha chegado nem perto daquele paraíso. O céu límpido e o mar azul deslumbravam qualquer pessoa.
Apanhou um táxi e dirigiu-se ao hotel onde ficaria instalada. Estava tudo impecavelmente limpo, e o seu quarto estava maravilhosamente decorado. Este era de um leve tom de azul claro, e o soalho de um mármore cuidado. Uma grande janela permitia a vista directa da praia, onde várias pessoas passeavam alegremente.
Havia uma secretária de madeira clara, estava a um canto do quarto, e do lado oposto uma cama de solteiro, com colcha bege. A porta que dava acesso à casa de banho estava ao lado da secretária, dando, assim, o toque final à suite.
Desfez as malas com um sorriso esboçado nos lábios. Aquele lugar dava-lhe uma paz indescritível, e era exactamente disso que ela precisava. Antes de jantar, decidiu fazer uma pequena corrida ao longo da praia para poder desfrutar do pôr-do-sol, que acontecia naquele instante. Vestiu umas jeans e uma blusa branca e desceu as escadas apressadamente.
Ao chegar à praia, deparou-se com o momento que desde pequena a fazia sorrir sem motivo algum. Era a união perfeita entre a Natureza. O Sol descia cada vez mais em direcção ao mar, e, timidamente se tocavam. Pouco a pouco o Sol penetrava na imensidade do Oceano, fazendo surgir um arco-íris de cor, e provocando uma sensação de união total. Quando finalmente, se tornavam um só, uma leve brisa percorria o ar, e o som das ondas, tornava-se cada vez mais baixo, até não passar apenas de um pequeno murmurar, que enfeitiçava quem estivesse a assistir.
O que ela não dava para se unir daquela forma a alguém. Poder sentir que tudo podia terminar naquele instante, que mesmo assim ela estaria em paz e se sentiria segura. Os seus devaneios foram interrompidos, graças a um pequeno objecto que flutuava na água. Movida pela curiosidade, dirigiu-se até a beira-mar, onde as ondas lhe tocavam nos pés, fazendo com que ela se arrepiasse. Para seu espanto, apanhou uma garrafa de vidro transparente, que parecia ter qualquer coisa no interior.
Abriu-a, e viu uma folha de papel escrita com letra cuidada, aquilo que parecia uma carta. Pegou no que acabara de achar e correu até ao hotel, sem que a sua mente pensasse que em outro lugar no mundo alguém lançava outra garrafa para o meio do oceano…

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O pôr-do-sol tinha terminado, e ele, mais uma vez, se via perdido em pensamentos. Era assim desde há dois anos, e ele sabia que seria assim, para o resto da vida. Não podia fazer nada para impedi-lo. Aquela dor dentro do seu peito jamais seria curada, tal como o mar nunca seria domado. A única pessoa que poderia curá-la, partira, e para seu desespero, não voltaria.
Como a poderia ter perdido? Como podia ter sido tão estúpido, ao ponto de a ter deixado desistir?
Este ódio por si próprio consumia-o cada vez mais, e cada vez se sentia mais vazio. Tinha encontrado o seu destino, e deixara-o escapar das suas mãos. Uma garrafa de vidro transparente igual a tantas outras boiava na água, mas aquela, tal como todas as que ele mandava, continham os sentimentos mais profundos que possuía. Era a única forma de continuar ligado a ela. Dirigiu-se à beira-mar, pedindo silenciosamente, que aquela garrafa permitisse que a sua amada, algum dia, lesse aquelas palavras…
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Entrou no quarto, ainda ofegante por causa da correria, mas depressa se recompôs e se dirigiu para a secretária. Pousou a garrafa, e cuidadosamente esticou a folha antes enrolada.

18 de Junho de 1993
Meu Amor
É inacreditável como o tempo passa, mas para minha tristeza, não diminui a dor que sinto pela tua ausência. Todos os dias parecem infindáveis, tal como é o tamanho do Universo.
Sei que é egoísmo da minha parte, querer-te ao meu lado, pois sei que estás feliz, o que para mim é o mais importante. Partiste sem te despedires, sem me levares contigo, e graças a isso, todos os dias eu me vejo a decidir se devo cumprir a promessa que te fiz, ou de ir finalmente para o teu lado.
Nos meus sonhos consigo ver-te. Os teus cabelos castanhos a esvoaçarem em sintonia com o vento, os teus olhos brilhantes, a reflectirem a luz do sol, e o teu sorriso que me apaixonou perdidamente. Caminho decididamente até ti, enquanto tu me estendes a mão. Quando finalmente te toco, sinto que qualquer coisa te puxa de volta ao mar, para longe de mim, e por um impulso, seguro-te com todas as minhas forças, e peço desesperadamente para ir contigo. Mas tu apenas me sorris.
Inutilmente tento que fiques a meu lado, mas quem te arranca dos meus braços, tem mais força que eu. Em momentos, tu desapareces mais uma vez, e lágrimas de dor e saudade percorrem silenciosamente o meu rosto.
O que eu não dava para poder ter-te novamente aqui. Quando partiste a minha vida deixou de ter sentido. Desde então, limito-me a sobreviver, pois a minha razão de viver está longe de mim. Tu eras a razão para eu seguir em frente, mas até isso perdi.
Continuarei aqui, rodeado daquilo que penso ser, o inferno, esperando que tu me venhas finalmente buscar, para aí, poder finalmente ser feliz a teu lado.
Com amor
Harry

Por momentos esqueceu-se do lugar onde estava, pois a sua mente estava bem longe dali. A sua cabeça depressa começou a exigir respostas para aquele mistério. Quem mandara aquela mensagem? Quem era aquela mulher que ele amava com tanta intensidade? Quem era aquele homem, que era capaz de passar a palavras, a voz do coração?
Por momentos teve inveja daquela mulher. Da forma que mesmo depois de partir, continuava a ser amada. Sabia que tinha de descobrir quem ele era, pois sentia que ele fazia parte do seu destino.

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