Visitantes Inesperados





A luz pálida da lua incidia sobre as várias casinhas quadradas e enfileiradas uma ao lado da outra da Rua dos Alfeneiros. O tempo era quente e seco, como nos últimos verões, e não havia sinal de viva alma. A não ser uma.

Harry Potter contemplava a lua em sua janela, a mão sobre a cicatriz ardente em sua testa, refletindo. Acabara de se levantar, pois sentira uma dor alucinante na cicatriz que o fez saltar da cama. Agora tentava descobrir qual fora o motivo de tal dor repentina. Sabia que, neste momento, Lord Voldemort deveria estar ou muito feliz, ou muito triste, mas não conseguia distinguir qual dos dois.

Sentou-se em sua cama. Horas se passaram enquanto ele não chegava à conclusão alguma. Mal esperava para logo completar dezessete anos e sair em busca das Horcrux de Voldemort e destruí-las. Mas ainda faltavam quatro dias para que ele os completasse, então, teria que ficar ali tentando descobrir às cegas o que estaria acontecendo no mundo bruxo no momento. O seu único guia para saber para onde os ventos estavam soprando era o jornal Profeta Diário.

Os primeiros raios de Sol coloriram o céu com um laranja-rosado, penetrando nas nuvens. Algumas horas depois, o céu estava num tom muito alaranjado, mas inclinando para o azul celeste, um ponto negro surgiu. Vinha rápido sob os raios do sol, e logo Harry pôde perceber que era uma coruja.

A coruja entrou pela janela aberta e posou na desarrumada escrivaninha. Trazia consigo um exemplar do Profeta e uma bolsinha de couro, amarrada à perna. Harry colocou os nuques na bolsinha de couro da coruja e esta disparou pela janela, aparentemente irritada, talvez pelo cansaço. Ele abriu o exemplar e sentou-se na cama para ler.

MAIS ATAQUES E MORTES
Diana Diggory e família Mockridge assassinados e Comensal morto.

Ontem à noite, aconteceram mais dois ataques de Comensais da Morte, em lugares diferentes, mas em tempo quase simultâneo.

Em Chelsea, um grupo de lobisomens comandados pelo Comensal da Morte Fenrir Lobo Greyback invadiu a casa de Cutberto Mockridge, chefe da Seção de Ligação com os Duendes, enquanto este se encontrava fora de casa. O grupo assassinou todos os presentes, ou seja, os dois filhos e a esposa de Mockridge.

O Ministério supõe que o objetivo não era matar Cutberto, e sim assustá-lo. “Achamos que Aquele-Que-Não-Se-Deve-Nomear está querendo se aliar aos duendes e, para isso, quis dar um susto em Cutberto para que ele desista do cargo no Ministério. Ainda não sabemos se ele desistirá, apesar de aconselharmos que ele deixe o cargo para não correr mais perigo” declarou Rufo Scrimgeour, o Ministro.

Nesta mesma noite, em Leeds, houve outro ataque, desta vez aos Diggory. Estes que já perderam um filho nas mãos de Você-Sabe-Quem, estavam desconfiados de que alguém os seguia até que Amos Diggory deparou com o Comensal Amico Graham, escondido no jardim, à espreita.

Amos e a esposa lutaram com o Comensal, mas este matou Diana Diggory com a maldição da Morte. Furioso, Amos contra-atacou e deixou o Comensal da Morte desacordado, apanhado depois uma faca e cravando-a em seu coração. O Ministério preferiu deixar o bruxo em liberdade pois, apesar de ter cometido um crime, já foi castigado duplamente com a morte do filho e da esposa por pessoas do mesmo grupo.


Harry olhou incrédulo para o jornal. Sentia-se enojado. Como Voldemort ainda voltara para perseguir a família Diggory, mesmo depois de ter matado o membro mais jovem? O que tinha na família Diggory que ele tanto queria?

Ele passou a página do jornal. Não encontrou nada de importante além do noticiado na primeira página. Havia uma notícia sobre alguns Comensais vistos em Londres, outra de um ataque de dementadores a um bar de Hogsmeade que Harry não chegou a ver qual era, o desabamento de um edifício trouxa, entre outras notícias que já viraram rotina no jornal.

Quando o relógio marcou as oito horas, Harry desceu as escadas e encontrou seus tios sentados no sofá muito limpo da sala. Os dois assistiam a televisão e se viraram quando Harry desceu.

- Por que acordou tão tarde? - perguntou o tio, desconfiado.

- Eu acordei cedo, só não desci...

- Não minta para nós.

- É verdade!

- E por que não ouvimos barulho no seu quarto? - quis saber tia Petúnia, astutamente.

- Bom, porque eu não fico pulando pelo meu quarto na hora que acordo. - retrucou ele, fulminante.

- Mais gente morreu ontem de noite. Apareceram no jornal: são da sua gente?

- Sim. - respondeu ele, mas sua voz saiu rouca. Ele pigarreou - São sim.

- Esse seu pessoal é muito incompetente! - enraiveceu-se tio Válter - Como podem ter varinhas mágicas e não conseguirem o que querem? E ainda pôr nossa gente normal em perigo: eles destruíram a Catedral Llandaff!

- Simplesmente porque o outro lado também tem varinhas. - respondeu, amargurado. Sentia que o tio Válter, pela primeira vez na vida, tinha uma certa razão: Voldemort não tinha nada que atacar os trouxas ou destruir monumentos construídos por eles.

Harry virou as costas para os tios e entrou na cozinha. Lá, Duda, seu primo, se empanturrava com fatias de torrada com bacon e ovos. Sua antiga dieta fora abandonada, pois era infrutífera e deixava a todos da casa com o estômago vazio. Harry foi até o fogão e tirou alguns pedaços do bacon e um ovo frito pequeno. Sentou-se e começou a comer.

- Por que esse seu povo agora está atacando a nós? – quis saber Duda, enquanto entupia a boca com um poderoso pedaço de bacon. Harry refletiu um pouco e decidiu responder explicando:

- Não é exatamente nosso povo – começou – É que nem todos os bruxos...

Ao falar isso, ouviu-se o barulho de algo se espatifando no chão, seguido pelo berro de tio Válter, que chegou à cozinha com o rosto tão vermelho que Harry se admirava que não explodisse.

- Já combinamos que você jamais falaria essa e outras palavras nesta casa! – sussurrou entre os dentes: era mais um dia quente de verão e a janela estava aberta.

- Quando vão se acostumar? Até na TV já estão aparecendo! A guerra começou! Todos estão envolvidos, tio Válter!

- Guerra? Guerra? Que guerra? – balbuciou ele, ridicularizando. Harry teve uma lembrança vaga de alguém próximo – Não vejo nenhuma guerra!

- Se você prefere ignorar tudo o que tem acontecido, então se iluda! – retrucou Harry, irritado com a incapacidade de tio Válter de aceitar os fatos. Então, se percebeu de quem era a lembrança que teve há pouco: era de Fudge.

Tio Válter olhou para o garoto, desconfiado. Depois segurou seu ombro e o conduziu à cadeira, fazendo-o sentar com brutalidade. Sentou-se também, com um certo esforço (sua barriga aumentara alguns centímetros sem a dieta de Duda) e meteu a mão na mesa, fazendo todos os pratos saltarem de leve. Duda olhou para o seu próprio prato, para garantir que nenhum pedaço de bacon ou de ovo tenha escapado.

- Então?! Conte! Se está havendo uma guerra, por que não há frotas de pessoas lutando entre si? Só mortes misteriosas e destruição de alguns monumentos?

- Está só começando. Mas, se o senhor não percebeu, as mortes têm sido quase contínuas.

- Então, é como uma Guerra Fria?

- Quase. O problema é que o vilão, Lord Voldemort – mais uma vez ele notou que ninguém se assustara com a pronuncia de tal nome, algo incomum -, está escondido e ninguém consegue achá-lo. O senhor viu a notícia da morte de Dumbledore?

- O velhote?

- Este.

- Ele morreu? – perguntou ele, sua cor tornando-se repentinamente muito pálida.

- Morreu. Dias antes de eu voltar, por isso voltei mais cedo que o normal.

- E como ele morreu?

- Um servo – Harry enfatizou a palavra “servo” – de Voldemort o assassinou.

- Mas... Se ele era tão inteligente, tão poderoso quanto dizia você e aquele gigante, como um servo desse tal Lord pode tê-lo matado?

- Planos. – pensou Harry, com ódio. – Mas este não é o assunto de nossa conversa. Voldemort reuniu um exército de bruxos malignos para destruir os trouxas, ou seja, os que não são bruxos, e os bruxos filhos de trouxas para extirpar o mundo de gente desse tipo. Além de tomar o poder, é claro.

E Harry contou toda a história para os três presentes (Tia Petúnia aparecera um minuto depois de ouvir a conversa atrás da porta da cozinha). Era interessante ver as reações nos rostos de três trouxas que odiavam bruxos ao ouvir a história. Quando terminou, os três pareciam perplexos.

- Então estamos todos em perigo? – exclamou tio Válter, temeroso, se apoiando na mesa para se levantar.

- Exatamente.

- E por que ninguém tenta impedir esse monstro de dominar o mundo?

- Claro que tentam! Mas... Eu já disse, ele é muito poderoso. Se não quiser ser achado, ele não será, lhe garanto.

E então sua cicatriz doeu de novo. Parecia que um ferro derretido escorria em sua testa, ele sentia uma dor de rasgar a testa, de rachar o crânio... E então, com a mesma velocidade que chegara, a dor se foi.

- QUE ESTÁ ACONTECENDO? – berrou tio Válter, agarrando o menino pelos braços, erguendo-o.

- Nada... – respondeu o garoto, esfregando a cicatriz com a mão direita. O que mais poderia ter acontecido? Mais alguma morte?

Enquanto ele ainda refletia sobre o assunto, a campainha tocou. Todos se assustaram e viraram para a porta. Tio Válter parecia receoso de ir atender, talvez pensasse que o motivo pelo qual Harry gritara estivesse atrás da porta. Harry chegou a cogitar a mesma idéia.

A porta foi aberta pelo tio e todos ficaram olhando, tentando ver. Válter falava com alguém, de vez em quando olhava de esguelha para Harry, até que saiu do caminho.

- Olá, Harry.

Um homem magro, de aparência esfarrapada, cabelos castanhos cheios de fios brancos da velhice, sorriu para Harry do lado de fora. Remo Lupin entrou na casa, admirando a limpeza hospitalar do local, e se dirigiu a Harry. Tia Petúnia o olhava com o maior desprezo que Harry já a vira olhar em toda a sua vida, exceto quando Monstro visitara a casa.

- Professor...?

- Decidimos que viríamos buscar você antes do seu aniversário. Sabemos que você deve permanecer aqui até completar os dezessete anos, mas, visto que amanhã você o completará, viemos tirá-lo daqui antes que Voldemort o faça.

- Mas... minhas coisas...

- Temos o resto do dia para que você fique pronto. Tonks está a caminho, ainda está de serviço.

Os Dursley pareciam estar assistindo a um jogo de futebol: seus olhos e cabeças viravam de um para o outro, para tentar compreender sobre o que falavam.

- Esse Voltomorg virá aqui? Na nossa casa?

- Não se tirarmos Harry daqui antes da meia-noite. E fizermos com que ele saiba, é claro.

- Mas por que...? – balbuciava tio Válter.

- Porque Harry possui uma proteção, como Dumbledore já explicou em carta para Petúnia Dursley, que faz com que Voldemort não o possa machucar enquanto ele puder chamar esta casa como dele até seus dezessete anos. Então, visto que ele completará dezessete amanhã, viemos tirá-lo daqui para que Voldemort não venha e não machuque ninguém.

A campainha tocou novamente e tio Válter foi até a porta.

- E aí, beleza? – uma voz feminina veio do portal.

- Quem é você? – quis saber tio Válter, rabugento.

- Sou Tonks, vim ajudar o Harry e o Lupin a remover ele daqui. – informou ela.

Tio Válter olhou para trás em dúvida, mas Lupin e Harry confirmaram com a cabeça. Ele saiu do caminho e uma bela moça de cabelos vermelho-berrantes e na cintura, olhos escuros como besouros, magra e da mesma altura que Remo Lupin atravessou o portal. Vestia uma jaqueta jeans por cima de uma camisa lilás e uma calça jeans escura.
- E aí, Harry!? Tudo bem? – cumprimentou ela, animada.

- Ah... Tudo, Tonks...

- Então, Harry, vamos começar a arrumar as coisas? – anunciou Lupin, apontando com a mão direita para a escada.

- Certo, certo. – confirmou Harry. – Não querem... sentar? – perguntou, apontando com a cabeça para o sofá da sala.

- Oh, não, não queremos incomodar, vamos ajudar você na arrumação!

- É! Vamos, então? – disse Tonks e se dirigiu à escada.

Os três subiram sobre o olhar venenoso dos três Dursley e entraram no quarto de Harry. Lupin e Tonks se sentaram na cama desforrada em que Harry acordara momentos antes com sua cicatriz doendo e se viraram para Harry.

- Escutem... – começou Harry. – Hoje de manhã, acordei com uma dor alucinante na cicatriz...

- É, nós pensamos que isso poderia acontecer. Você leu o Profeta...?

- Sim, sim, eu vi o motivo. Mas não foi essa dor que quero questionar. Segundos antes de você chegar, professor, ela ardeu de novo, com mais intensidade do que quando acordei. O que isso poderia significar?

- Muitas coisas, não? Espero que ele tenha descoberto que já removemos você daqui.

- Pode ter sido... Mas será que alguém mais morreu?

- Sinceramente, Harry, acho que não. E agora não temos mais Snape conosco, não é?

Um assomo de ódio tomou conta da cabeça de Harry, uma vontade alucinante de acabar com tudo que estava ao redor, de explodir tudo, ao ouvir aquele maldito nome. Snape. O assassino de Dumbledore... E ainda continuava vivo, aquele traidor...

- Agora, escute, Harry. Sabemos que Dumbledore o encarregou de uma missão antes de morrer.

- De ser assassinado – interrompeu Harry.

- É, de ser assassinado. E sabemos que ele pediu sigilo absoluto. Não queremos que você nos conte qual é essa missão, mas queremos dizer primeiro para que se centre totalmente nessa missão, porque pelo que Dumbledore me contou, é a coisa mais importante do mundo que você a conclua. Não deixe que nada o desconcentre da missão, nem mesmo a vingança por Snape. E mais, que pode contar conosco para ajudar na missão. Sempre que precisar de ajuda.

- Certo. – agradeceu Harry, e um frio na barriga chegou repentinamente. – Obrigado, vocês...

- Então... Vamos? Fazer Malas! – pronunciou Tonks e as coisas se amontoaram no centro do quarto. Lupin se levantou e repetiu o encantamento, que arrumou todas as coisas dentro de uma mala de Harry.

- Harry... – começou Lupin.

- Hã? – respondeu Harry.

- Bom, Harry… É que… Bem, que você não deve mais voltar a esta casa. Voltará? – quis saber ele mansamente.

- Ahn... Suponho que não... Só se precisar, acho...

- Então, para onde você irá?

Era algo que Harry ainda não tivera tempo, ou tivera e esquecera, para pensar. Sempre tivera convicção de que assim que se tornasse maior de idade, sairia da casa dos Dursley. Mas nunca pensara no assunto com afinco, nunca se dera conta de onde iria morar...

- Eu sei que em mente você deveria sempre ter a Toca como segunda casa, ou ir morar com Sirius. Tenho certeza de que Molly o receberia com maior prazer em sua casa, mas, Harry... Você não acha que, indo para lá, seria um pouco incômodo? Não que ela vá se incomodar, mas eles já têm filhos demais, não?

- Eu entendo o que você quer dizer... – respondeu Harry, mergulhado em pensamentos próprios. – Professor... É que... eu penso agora... e se eu não sobreviver?

- Não sobreviver? – assustou-se Tonks.

- Sim... À batalha final, quando terei que lutar contra Voldemort... E se eu não suportar?

- Harry, é claro que vencerá. Sei que o que Dumbledore lhe disse é definitivo nessa batalha, e ela pode demorar ainda!

- Mas ele... O Voldemort... Ele conhece mais feitiços que eu, mais sobre qualquer coisa do que eu... Minha missão não é diretamente com ele, só deixará ele fraco! Na batalha final...

- Você terá ajuda de todos nós, Harry. Ou você acha que deixaríamos você no meio de inúmeros Comensais e seus companheiros e Voldemort? Claro que não! Estaremos lá, junto a você! – encorajou Lupin, levantando-se e segurando os dois ombros de Harry, olhando diretamente em seus olhos. Harry sentiu seus olhos marejarem e abraçou ele. Tonks veio também e se juntou aos dois.

- Obrigado, a todos vocês. Eu sinceramente não sei como agradecer...

- Destrua Voldemort e será uma ótima maneira – brincou Tonks e Harry soltou uma risada rouca.

- Então, por enquanto, deixaremos suas coisas na Toca, está bem, Harry? Quando você voltar triunfante junto a nós, você poderá levantar uma casa e morar com o Rony, a Hermione, a Gina, com que você quiser. Está bem? – sorriu Lupin.

- Certo.

- Então... Fazer Malas! – pronunciou Lupin e as coisas de Harry, inclusive as que estavam na escrivaninha, armário, debaixo da cama, foram para dentro da mala.

- Olhe! Já está quase na hora do almoço, vamos logo, aposto que Molly deve ter preparado um prato e tanto para sua chegada.

- Ok...

Os três desceram as escadas, Tonks levitando o malão de Harry, e pararam ao pé da escada. Os três Dursley encontravam-se ainda na cozinha.

- Vá se despedir, Harry.

Harry entrou na cozinha. Os Dursley pai, mãe e filho viraram seus rostos para ele na mesma hora, como se ele fosse uma espécie de superestrela que está em um desfile.

- Adeus. – disse ele. – Bom... Eu vou viajar agora e suponho que não voltarei mais. Então...

- Você não volta mais? – espantou-se tio Válter, entre o feliz e o assustado.

- Não... Eu... – e pela primeira vez sentiu pena dos Dursley. Apesar de todo o ódio que sentira, toda a aversão que tinha àquela família, era estranho abandoná-los assim.

- Bom, Harry... – começou tia Petúnia. Fazia tempo que não o chamava pelo nome, e sim de moleque. – Salve-nos.

- Como? – confundiu-se Harry.

- Bom, apesar de todo o ódio que sentia pela Lílian – continuou ela – Ahn... Bom, não queremos tomar o mesmo destino que ela, nem que você o mereça. Sei que você é o Menino-Que-Sobreviveu, então... imagino que seja uma peça importante nessa luta... Salve-nos.

Era estranho ver tia Petúnia falar daquela maneira com ele, de um certo modo maternal e suplicante. Parecia que ela era a única na cozinha que compreendia o terror que Voldemort poderia causar ao mundo inteiro, tanto ao dos bruxos quanto ao dos trouxas.

- Ahn... Certo. Obrigado, vocês. Pela moradia, pois mesmo que de má vontade vocês me deram. Pela proteção que me concederam. Adeus, então. – e se virou.

- No mistério do departamento – chamou a voz de tia Petúnia – o amor pode abrir portas. O amor verdadeiro, o mais forte desejo, serão a fonte da vitória.

Todos permaneceram calados quando ela proferiu aquelas palavras. Ela mesma parecia assustada consigo mesma.

- Que você disse? – perguntou Harry, virando-se.

- É algo que sua mãe me disse... É algo assim... No mistério do departamento, o amor vai poder abrir algumas portas. Mas só o amor verdadeiro, só o desejo mais profundo, esses serão a fonte da vitória.

- E o que significa?

- Não sei... nem ela sabia... Disse a nós que era uma inscrição que encontrara no lugar onde trabalhava. Pediu ao papai que investigasse nos nossos livros... Papai era professor de história.

- Tia Petúnia... Você pode anotar isso pra mim, por favor? Pode ajudar, sabe.

- Claro, claro... – respondeu ela, indo em busca de um pedaço de papel e apanhando uma caneta, registrando o enigma no pedacinho. – Tome...

- Obrigado... Adeus, então, vocês... Obrigado mesmo, tia Petúnia... Mesmo que você tenha demorado tanto a me dizer isso, mas agora é a hora em que mais preciso, então...

- Adeus, Harry. – disseram os três, ao mesmo tempo.

Harry saiu da cozinha e foi para a sala de visitas, onde Lupin e Tonks admiravam a televisão ligada.

- Sabe, acho que Arthur tem certa razão por ter tanto prazer em estudar os trouxas... Colocar imagens dentro de uma caixa sem usar magia! – comentou Tonks, sorrindo.

- Vamos, Tonks, Harry está aqui. – anunciou Lupin.

- Certo, Remo. – ela deu a mão a ele e se dirigiram a Harry, Tonks com a varinha na mão, levitando o malão de Harry. Os três abriram a porta da casa e saíram, deixando-a aberta. Quando viraram de costas, avistaram os três Dursley observando-os de dentro da casa. Acenaram e logo depois Tonks e Lupin seguraram Harry pelo ombro e desaparataram do lugar.


Um vasto território muito verde se estendeu na frente de Harry e um cheiro conhecido de interior invadiu seus pulmões. Os três caminharam pela estrada de terra, outrora úmida, que levava à Toca. Passaram por um chiqueiro e finalmente chegaram à porta.

- Devem ser eles! – uma voz feminina se fez ouvir lá de dentro e a porta se abriu. Uma mulher baixinha e gorda, muito ruiva e com aparência cansada apareceu por trás da porta e abriu os braços em um gesto acolhedor. – Harry, querido! Como é bom vê-lo!
- Oi, sra. Weasley – cumprimentou Harry e abraçou-a; ela o apertou, como se esse abraço a livrasse de todas as preocupações que tivera ultimamente.

- Entrem, entrem... Vamos, os outros estavam ansiosos esperando por você, Harry. – ela o empurrou com a mão direita para dentro e cumprimentou Lupin e Tonks, que entraram também.

- Harry! – exclamou uma voz conhecida e, de repente, uma juba de cabelos crespos estavam em seu rosto: Hermione deu-lhe um abraço ainda mais apertado que o da sra. Weasley.

- Harry! – Hermione deu espaço para Rony o abraçar também. Mais atrás, estava Gina Weasley, que olhou significativamente para ele e também o abraçou. Ele a sentiu por alguns momentos, seus cabelos ruivos fazendo cócegas em seu rosto. Quando se soltaram, Gina olhou tristemente para ele e se dirigiu à escada, subindo-a. Lá de cima ouviu-se uma porta se fechando.

- Sabe, Harry... – começou Hermione.

- Eu sei o que eu estou fazendo, está bem? Eu sinto tanto quanto ela, mas, Hermione, se ele a usar para me acovardar, eu não vou suportar!

- Eu entendo, Harry, mas... Você não acha que o que Dumbledore mais queria era que as pessoas se unissem? Com amor? – falou ela, mansamente.

- Mas e se ele fizer o que eu disse?

- Hm... Mas ela está bem protegida, não? Com a Ordem e tudo?

- Ninguém está seguro, Hermione. Nem que ela estivesse lá dentro do Largo Grimmauld, 12, ela estaria segura.

Hermione fez um rosto triste. Rony contemplava o teto.

- Arry! – uma voz gutural entrou pela cozinha e algo tão branco que mais parecia um fantasma saltou em um abraço em Harry.

- Fleur! – cumprimentou ele, desvencilhando-se.

- Vieste par-r-ra o cas-ment, nam?

- Sim, eu...

- Gui está bem melhor-r! Nam quer-r-res vê-lo?

- Claro! – agora uma dúvida entrara na cabeça de Harry. Era algo que ele esquecera de pensar durante sua estadia na Rua dos Alfeneiros: Gui virara lobisomem ou não? – Ele... Bem, virou lobisomem?

- Não completamente – informou Rony. – Os curandeiros do St. Mungus dizem que ele deve adquirir hábitos lupinos, como grande desejo por carne vermelha, e na lua cheia ele pode ganhar alguns cabelos a mais. Mas eles deram certeza de que ele não sairá atacando a ninguém.

- Isse mesmo! Venha, Arry, vamos vê-lo! – continuou Fleur, puxando Harry pelo braço para as escadas tortas da Toca. Eles subiram, a escada rangendo às suas pisadas, e entraram no quarto que Harry ocupara da última vez que visitara a Toca.

- Harry! – um rapaz alto de cabelos longos e ruivos se levantara da cama e abria os braços para cumprimentar Harry com um abraço, que retribuiu.

- Gui! – eles se largaram e Harry viu o vestígio de duas cicatrizes que cortavam o rosto de Gui de um lado ao outro.

- Veio para nosso casamento? – quis saber ele, sorrindo e passando o braço esquerdo por cima da noiva, Fleur, que segurou sua mão sorrindo e voltou-se para Harry.

- Claro, eu... Tinha que presenciar vocês, não? – sorriu ele.

- Será daqui a três dias. Estamos tão entusiasmados, não é, amor? – disse ele, virando-se para Fleur e beijando-a. Harry aproveitou a deixa e saiu do quarto, acompanhado por Rony e Hermione.

- Vamos para meu quarto? – perguntou Rony.

- Certo – confirmaram os dois em uníssono.

Eles foram para o quarto de Rony, um quarto apertado e entupido de coisas dele. Continuava exatamente como Harry o vira da última vez, cheio de pôsteres do Chudley Cannons, uma colcha do mesmo time na cama, os livros da escola jogados no fundo do quarto por cima de um malão aberto. Rony e Hermione sentaram na cama dele e Harry no chão, encostado à parede, com os braços cruzados e apoiados nos joelhos.

- E então, cara? – começou Rony – Decidiu se vai ou não voltar para Hogwarts?

- Não, Rony. Vou buscar as Horcruxes! Daqui irei direto para Godric Hollow...

- E nós iremos com você! – interrompeu Hermione.

- Escute, Hermione... Estive pensando durante esse tempo... Acho melhor...

- Que nós vamos juntos a você, porque três é muito melhor que um.

- Hermione, falo sério! Não quero meter vocês em perigo e...

- Harry – interrompeu novamente ela, já se irritando – quem esteve com você quando fomos salvar a Pedra Filosofal?

- E quem foi com você até o túnel na Câmara Secreta? – disse Rony.

- E quem estava com você no Ministério da Magia para ajudar a salvar Sirius? – lembrou Hermione.

- E ainda quem ficou vigiando os corredores de Hogwarts enquanto você esteve fora com o Dumbledore?

Harry já esperava por um protesto, mas não um daquele tamanho. Parecia até que eles tinham ensaiado, que já previram que ele falaria isso. Sentira seus olhos se encherem de lágrimas e as conteve, virando-se para eles.

- Está bem. Vocês podem vir. Mas por favor, não falem com a Gina sobre isso, ok?

- Certo. – concordaram os dois. Parecendo que tinham adivinhado, segundos depois, a porta se abriu.

- Mamãe está chamando para o almoço. – disse ela, com a voz vacilante. Só então Harry olhou no rosto dela e viu os sinais de lágrimas recentes.

- Escute, Gina...

- Harry: o que Dumbledore mais queria antes de morrer era que as pessoas fortalecessem seus laços amorosos! Por que você faz exatamente o contrário? Veja Fleur e Gui! Vão se casar! Papai e mamãe: se casaram durante a Primeira Guerra! E lembra do que o Dumbledore disse? Sobre o poder que o V-Voldemort tinha para disseminar a desunião entre as pessoas?

Ela está falando certo, sabe, disse uma voz na cabeça de Harry. Mas você não pode colocar mais uma em perigo... Você vai ser culpado se ela for capturada por Voldemort...

- Gina... Você sabe muito bem que também quero estar com você... Mas, Gina... Voldemort fez aquilo com você no segundo ano e você era apenas minha amiga! Imagine agora, como namorada? Eu não queria ser o culpado por sua morte, Gina!

- Harry, eu não sou mais aquela garotinha do primeiro ano! Tenho a mesma idade que você tinha quando foi ao Ministério, lutou contra comensais e Voldemort. Se você realmente gostar de mim, você iria querer ficar junto de mim. Mas talvez você não goste realmente de mim...

- Nem comece! Claro que eu gosto, eu amo você! Está bem... Eu me rendo. Mas não sei como vou viver se ele fizer isso com você!

- Bem, temos uma Ordem inteira, temos você, Rony, Hermione, Hogwarts e o Ministério contra Voldemort e os Comensais, não?

- Hm... Gina! – e ele correu até ela e os dois se enlaçaram. Harry percebeu um assobio de Rony e um movimento desconfortável de Hermione atrás dele.

- ALMOÇO! – berrou a voz da sra. Weasley lá de baixo. Os quatro saíram do quarto apertado e desceram as escadas tortas até a cozinha.

- Está cheirando muito bem, Molly! – suspirou Lupin.

- Verdade. – concordou Tonks, passando o braço por cima de Lupin.

- Obrigado, obrigado – sorriu a sra. Weasley, virando-se para eles. – Mas acho melhor não almoçarmos lá fora, certo? Já que teremos o casamento daqui a três dias, acho melhor não chamarmos atenção para esse lugar antes do casamento.

- Você não acha perigoso esse casamento se realizar aqui, Molly? Com Snape do lado de Voldemort? Ele pode informar onde fica este lugar... Ele sabia do casamento, sabe. – argumentou Lupin.

A sra. Weasley mordeu os lábios, em dúvida.

- Bem... eu pensei nisso também... Mas, será? Ai...Malditos sejam Voldemort e Snape! Como seres tão ruins podem existir na Terra? Impedir um casamento!

- Acho que você poderia, sim, realizar o casamento, Molly. Colocamos alguns membros da Ordem de guarda, não acha?

- É. Vamos fazer isso. Vamos fazer o casamento. – falou ela mais para si mesma do que para os outros. – Agora, vocês, sirvam-se e comam em outro cômodo para não impedir a passagem, está certo?

- Ok, mãe. – concordou Rony, apanhando um prato e servindo-se do ensopado no caldeirão mais próximo.

Quando os quatro se serviram, se dirigiram ao quarto de Rony, Hermione levitando os pratos dela e de Gina, enquanto Rony e Harry levitavam os próprios pratos.

- Hermione – chamou Harry, enquanto comia no chão do quarto.

- Eu?

- Você procurou saber quem é o tal do R.A.B.?

- Harry... Tentei muito, mas sinceramente nenhum que realmente parecesse importante. Houve um herbologista, que descobriu as plantas anti-gravitacionais, um que conseguiu um brasão em Hogwarts por muito boas notas nos N.O.M.s – ele tirou Ótimo em todas as provas – mas, quando fui procurar saber sobre ele, descobri que viajou para o interior daqui pra estudar escrofulárias e morreu por lá mesmo, parece que com intoxicação.

- Escrofulárias? – perguntou Rony.

- Plantas como a do Neville.

- Ah! Plantas nojentas, você que dizer. – desdenhou Rony.

- Se você prestasse atenção às aulas da professora Sprout, saberia que são plantas bem interessantes e raras. Tem propriedades mágicas importantíssimas!

- Não importa... Precisamos descobrir se esse R.A.B. está vivo.

- Teremos de ir ao Ministério então, não? – quis saber Hermione. – Lá deve ter uma lista com todos os nomes dos bruxos.

- Iremos primeiro a Hogwarts. – afirmou Harry.

- Mas... Você não disse que não quer mais voltar a Hogwarts? – lembrou Rony.

- Não para estudar... Mas teremos de ir lá, não? Primeiro, para pedir a Hagrid que nos leve a Godric Hollow...

- Você não vai voltar? – perguntou Gina.

- Não...

- Então também não irei.

- Gina, você precisa ir. Precisamos de alguém em Hogwarts para nos manter informados sobre o que acontece lá! E você precisa aprender feitiços não-verbais e outras coisas...

- Mas eu quero ir com você!

- Gina, é preciso que você entenda! Por favor, volte a Hogwarts.

- Mas...

- Gina, ele está certo. – interferiu Hermione. Gina pareceu escutá-la, porque se calou.

- Então, continuando. Vamos primeiro ir a Hogwarts, falar com Hagrid para que ele nos leve a Godric Hollow. – ele colocou as mãos nos bolsos e se levantou para pensar no que fazer depois – Lá nós nos decidimos aonde ir.

- E o R.A.B.? – avisou Rony.

- R.A.B... Podemos ver isto em Hogwarts também, não?

- Ou pedir ao papai para ver isso no Ministério – indicou Gina.

- É... Certo. Faremos os dois, procuraremos tanto em Hogwarts como no Ministério. – findou Harry e tirou as mãos dos bolsos.

As horas se passaram, os três discutindo como e quando se despediriam da Toca, se seria imediatamente depois do casamento ou no dia seguinte, até que anoiteceu e eles jantaram depois de tomarem banho e se trocarem. Depois do jantar, subiram novamente para o quarto e, quando o relógio bateu às duas horas da manhã, foram dormir.



O dia seguinte se passou numa velocidade inimaginável. Os garotos só acordaram ao meio-dia, e ao descerem para o almoço, encontraram Quim e Moody à mesa da cozinha, discutindo planos enquanto almoçavam. O quarteto passou o dia no jardim, discutindo sobre o que passariam na missão, enquanto Gina implorava para que deixassem-na ir com eles e eles recusavam insistentemente. Quando o Sol começou a se pôr, voltaram para dentro da casa a pedido da sra. Weasley e jantaram. Pretendiam ficar acordados até tarde novamente, mas a sra. Weasley os mandou irem para a cama às oito da noite, pois no outro dia iriam acorda muitíssimo cedo para os preparativos.

Às cinco da manhã, a porta do quarto de Rony abriu-se com estrondo. Harry apanhou o óculos na mesinha de cabeceira do lado da cama e o pôs no rosto, virando-se para ver quem entrara com tanta violência no quarto. Rony continuava profundamente adormecido, as cobertas caindo pelo lado esquerdo da cama.

- Vamos, vamos, eu falei que teriam de acordar cedo! – gritava a sra. Weasley, sacudindo violentamente o corpo de Rony, que se engasgou em meio a um ronco sonoro.

Os dois se levantaram e despiram os pijamas, colocando roupas de casa para descer. Quando chegaram ao andar térreo, a sra. Weasley já estava incrivelmente atarefada, mesmo àquela hora da manhã. Ela os mandou ajudarem Lupin e Tonks a arrumar os bancos dos convidados e o altar.

Lá, eles encontraram Gina, Hermione e Tonks decorando o altar, enquanto Lupin levitava os assentamentos. Quando ele os viu, os chamou para perto e os instruiu a fazerem o mesmo que ele, colocando os bancos sobre as linhas desenhadas por ele na grama.

Passaram a manhã arrumando o jardim para o casamento. Assim que o relógio no braço de Hermione marcou as onze horas da manhã, entraram na Toca para começarem a se arrumar.

- Hermione... – sussurrou Harry para Hermione, quando estavam no corredor, assim que Gina entrou no próprio quarto.

- Sim? – respondeu ela, e virou-se para encará-lo.

- Bem... Com que... tipo de roupa... se deve ir a um casamento bruxo? – perguntou ele, envergonhado. Hermione sorriu, caridosa.

- Vestes à rigor. Você trouxe a sua, suponho?

- Sim, sim. Trouxe tudo que é meu lá da casa dos Dursley.

- Então, ponha ela.

- Certo. – sorriu ele em troca.

Ele foi para o quarto de Rony e apanhou de dentro de sua mala as vestes. Rony também apanhara as suas e estava admirando-as no espelho: eram muito melhores que aquelas que ele usou no Baile de Inverno.

Tomaram banho e depois se trocaram no quarto de Rony, o que era bem difícil, porque o quarto era apertado. Quando terminaram de se arrumar, às doze horas, saíram para o jardim. Estava absolutamente magnífico. O altar era um estrado de madeira em forma circular com três degraus de altura e no centro dele um suporte para livros. Havia, ainda, um arco de madeira do mesmo tipo que ia de um lado ao outro do estrado, todo enlaçado por flores brancas. Os bancos foram todos decorados com pequenas fadinhas brilhantes saltitantes, que saltavam de um banco para o outro, soltando um brilhozinho perolado que permanecia nos assentos.

- Harry! – chamou a voz da sra. Weasley, fazendo Harry se virar. Foi em direção a ela, que estava na frente da Toca.

- Sim, sra. Weasley?

- Harry, preciso dar uma palavrinha com você, está certo?

- Certo... – concordou sem fazer idéia do que se tratava. Os dois foram pra perto da parede e sra. Weasley colocou a mão no ombro de Harry.

- Bem... Harry... Eu sei que o que Mundungo fez foi terrível, mas... bem, Gui é amigo dele, e não podíamos deixar de convidá-lo, até porque ele pertence à Ordem. Então, por favor, supere as desavenças pelo menos durante o dia de hoje. – suplicou ela, aos sussurros. Por essa, Harry confessava a si mesmo, ele não esperava.

- Ok... Vou me controlar. Vou tentar nem vê-lo, se possível.

- Muito obrigado, Harry, muito obrigado! Não quero estragar o dia do casamento do meu pimpolho! – e entrou pelo portal. Harry voltou para o jardim, onde já havia convidados. Avistou Fred e Jorge conversando com Rony e correu até eles.

Fred e Jorge vestiam roupas da mais bela qualidade, vestes de couro de dragão Focinho- Curto Sueco, de acordo com eles, um couro muito bonito e fino, de cor azul celeste e cintilante, que ressaltavam seus cabelos vermelho-fogo.

- Como vão os negócios na loja? – perguntou Harry.

- Ótimos! Mas, depois da morte de Dumbledore, as vendas diminuíram muito. – lamentou-se Jorge.

- Achamos que deve ser porque o número de pessoas que retornarão a Hogwarts é bem escasso esse ano, certo? – comentou Fred.

- Mas uma cliente que comprou bastantes coisas lá foi aquela Di-Lua Lovegood! – lembrou Jorge.

- Jura? – se assustaram Harry e Rony juntos. – Será que ela voltará pra Hogwarts? – questionou Rony.

- Vai, sim. – disse Fred.

- Ela falou pra nós lá na loja. – terminou Jorge. - Perguntou por vocês também.

- Legal...

- Vocês vão retornar? – quis saber Fred, olhando investigativo para Harry e o irmão.

- Não. – afirmaram os dois.

- Imaginamos. – disse Jorge.

- Sabíamos que, depois da morte de Dumbledore, você não iria ficar parado sem agir.

- Já sabem como vão começar?

- Sabemos, sim. – disse Harry, querendo mudar o rumo da conversa. Falar sobre isso durante um casamento era realmente deprimente. Foi até perto da Toca, quando avistou Hermione, com um vestido prateado com uma borboleta no lugar do laço atrás. Seu cabelo estava amarrado num elegante nó preso por uma presilha em forma de borboleta, também.

- Hermione, você viu a Gina? – quis saber Harry.

- Ela estava se trocando... Que houve?

- Nada, nada. Só queria saber. Mesmo. – acrescentou, porque Hermione olhava com um olhar investigativo.

Os dois foram até a porta da Toca e então Gina desceu as escadas. Trajava um vestido da mesma cor das roupas de Fred e Jorge, que ficava perfeito em suas curvas e combinava absolutamente com seu cabelo vermelho-berrante. Usava uma faixa da mesma cor nos cabelos, separando a franja de todo o resto. Os três saíram de dentro de casa e viram que quase todos os convidados já tinham chegado e estavam arrumando seus lugares mais perto do altar. Harry viu de relance a irmã de Fleur, Gabrielle, sentada ao lado de quem deveria ser a mãe de Fleur, que falava com a sra. Weasley, apesar de parecer que a sra. Weasley nada entendia, pois a outra só falava francês. Bem mais atrás, estava Hagrid, sentado junto de Madame Maxime. Os três foram até Hagrid falar com ele.

- Hagrid!

- Ah, olá, vocês! Como vão? – cumprimentou ele. Seu rosto parecia mais inchado e seus olhos apresentavam sinais de lágrimas recentes. Mas ainda assim ele sorria para os três, se levantando. – Pessoal, essa é, como sabem, a Olímpia. Olímpia, esses são Harry, Hermione e Gina.

- Arry! Como vai, quer-r-rido? E voc-ês duas? Lindas, nam, Hagr-r-id?

- Sim, sim, as duas são muito bonitas. – confirmou ele, dando um sorriso para as duas, que retribuíram.

- Hagrid... – chamou Harry. Por um instante cogitou falar sobre seus planos de ir para Godric Hollow, mas considerou que estavam no meio de um casamento, então deixou que o assunto esperasse. – Já arrumaram um professor de Defesa contra as Artes das Trevas?

- Ah, sim.

- Jura? – impressionou-se Hermione

- Claro, claro! Amos Diggory!

- O pai do Cedrico? - exclamaram os três ao mesmo tempo – Mas... ele não acabou de perder a esposa...? – continuou Harry.

- Por isso mesmo! Ele quer ensinar ao máximo de pessoas que puder para combater Você-Sabe-Quem. Desistiu do seu cargo no Ministério para se vingar Dele-Que-Não-Se-Deve-Nomear.

- Entendo... – balbuciou Harry. Acabou de ver Luna Lovegood entrando com um homem de idade e cabelos muito louros e mal-cortados que iam até o ombro, uma expressão viajada no rosto. Era alto, magro e vestia elegantes vestes prateadas. Numa das orelhas, pendia um brinco em forma de lua, oscilante. Harry cutucou Hermione com o cotovelo e indicou Luna com a cabeça.

- Luna! – chamou Hermione, e a cabeça de Luna deu uma volta tão rápido que Harry se assustou que não tivesse saído voando. A menina veio dando saltinhos enquanto corria para eles. Usava um vestido dourado com uma faixa cor-de-rosa atravessando a cintura.

- Alô! – cumprimentou ela.

- Oi, Luna. – retribuiu Harry. – Verdade que você vai voltar a Hogwarts?

- Sim, é verdade. Quero aprender o que tenho de aprender este ano: feitiços não-verbais parecem ser fascinantes. E papai diz que devo voltar, então...

- Aquele é seu pai? – perguntou Gina, indicando com a cabeça o homem que acompanhava Luna há pouco.

- Sim, é ele.

- De onde ele conhece o Gui?

- Bem, papai ajudou ele a decifrar umas runas que o Gringotes precisava saber o significado.

- Hm...

Então a música começou a tocar. A noiva, Fleur estava na porta da Toca, acompanhada pelo pai, que vestia verde. Todos foram para seus lugares e os que já estavam ficaram de pé, para contemplar a noiva subindo ao altar.

Fleur veio andando graciosamente, o braço dado com o pai, a irmã, Gabrielle, segurando a aliança numa almofada na frente, e o primo, Giuseppe, segurando a outra aliança. Quando Fleur chegou ao altar, Gui tomou o braço da moça e os dois se viraram para o padre (o padre mais estranho que Harry já vira: usava roupas vermelhas e óculos que mais pareciam o de Trelawney). Então ele começou seu discurso.

Harry não conseguia de jeito algum prestar atenção no discurso do padre. Ouviu alguma coisa sobre o amor, mas depois sua atenção se desviou para alguns bruxos que se encontravam ao redor do jardim. Pareciam vigias, mas todos agora estavam com a atenção voltada ao casal.

- Você aceita Fleur Delacour como sua legítima esposa? – perguntou o padre para Gui.

- Sim. – confirmou ele.

- E você, Fleur Delacour, aceita este homem como seu legítimo esposo?

- Aceito. – sorriu ela, com lágrimas nos olhos.

- Podem beijar.

Gui levantou o véu do rosto de Fleur e beijou-a. A sra. Weasley abraçou o marido, às lágrimas. Todos bateram palmas.

Quando todos começaram a se dispersar pelo jardim, pois a festa começara, foi quando a voz de Fleur se fez ouvir.

- Vou jouga-r-r o buquê! – avisou ela.

Um aglomerado de mulheres se formou atrás de Fleur, todas malucas para apanhar o buquê. Fleur subiu num banquinho e contou: “Um! Dois! TR-R-ÊS!” E jogou o buquê para trás. Se virou para ver quem pegara o buquê e viu que Tonks saiu do alvoroço, segurando firme em sua mão direita o arranjo de flores. Muitas mulheres lamentaram, enquanto Tonks comemorava e corria para beijar Lupin.

- Eles já estão de casamento marcado? – perguntou Harry para Fred. Estavam eles dois, Gina, Hermione, Rony e Jorge conversando perto da mesa do bolo.

- Não que saibamos. – falou Fred.

- Mas deve ser em breve. – comentou Jorge.

- ESTUPEFAÇA! – dois jatos de luz vermelha atravessaram os jardins, ao mesmo tempo que alguém gritava “Petrificus Totalus” e um corpo vestido de negro desabava ao longe. Todos pararam de conversar e fez-se silêncio absoluto. Os bruxos responsáveis pelos feitiços correram em direção ao corpo desacordado, enquanto todos prendiam a respiração para saber o que houve.

- Incarcerous! – pronunciou Quim Shacklebolt, apontando a varinha para quem quer que fosse a pessoa no chão. Enormes cordas amarraram o corpo da pessoa.

Mais pessoas correram para ver quem era. Harry aproveitou a deixa e correu também. E para um enorme choque, reconheceu o corpo desacordado e amarrado: Severo Snape jazia petrificado no jardim dos Weasley.

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