Papà



Era o último dia de Laura em Hogwarts antes das férias. Depois daquele dia em Hogsmead, ela não tinha encontrado Snape em lugar algum do castelo. Já havia se despedido de todos e prometido mandar cartas. Entrou no trem e quanto mais ele se afastava, sentia seu coração se partindo. Era como se uma parte de si ficasse no castelo e foi com grande tristeza que viu o último vestígio de Hogwarts desaparecer de sua vista. Todos na cabine estavam animados e Laura era a única que parecia não estar feliz com a volta para casa. Tirou o livro de poesia de dentro da capa e abriu na página onde jazia a rosa que ele lhe dera, junto com seu soneto favorito. Tomou a rosa em suas mãos e a levou ao seu coração. A música ainda ressonava em sua cabeça quando seus olhos caíram sobre a poesia.

"De almas sinceras a união sincera.
Nada há que impeça: amor não é amor,
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora,
Seu alfanje não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou."

Shakespeare fora um gênio. Como poderia descrever com tamanha exatidão o que era o amor? Ela não sabia. Não sabia explicar porque, mas sentia que a partir de agora, nada mais seria como antes. Chegou na estação e se despediu de Vic, Carrie, Juliet, Meg, Simon e Eryck. Seguiu para o Caldeirão Furado, disse olá ao dono, diminuiu sua bagagem e entrou na lareira. Quando deu por si, já estava em casa. Estava tudo escuro e não havia nem sinal de vida ali. Ascendeu a luz e olhou a sua volta. Em cima da TV, tinha um bilhete.

“Laura,
Fomos buscar o Bruno em San Pietro.
Voltamos logo.
Mamãe.”

Pelo menos uma boa notícia: Paz! Ficaria sozinha e finalmente teria sossego. Subiu as escadas e entrou no quarto. Transfigurou suas malas em tamanho normal e com um movimento da varinha, as coisas estavam indo em direção ao seu armário.
Depois que tudo já estava arrumado, pegou seu livro e guardou atrás do piano. Tomou um banho bem demorado, vestiu-se e ficou na janela. Sentia falta de observar a cidade de sua janela. Eram tantas cores... Deitou-se na cama e adormeceu.
Já era manhã quando Laura acordou com uma batida na porta.
-Pode entrar.- Um menino loiro de olhos verdes, que aparentava ter 4 anos adentrou o quarto e pulou na cama de Laura.- Brenno!-Exclamou ao ver o primo pulando em cima dela.
-Laura!- Ele pulava na cama de um lado para outro.-O Bruno chegou!
-Ah...pode parando por ai, mocinho. Eu achei que você tinha vindo aqui por causa de mim.- Fez cara de magoada. Ele parou de pular e sentou.
-Ah...-Se fez de bobo.-...Também...-Ela riu e começou a fazer cócegas no menino. Depois de brincar mais com ele, ela pôs um robe e desceu para tomar café. Quando chegou à cozinha, encontrou seu meio irmão tomando café calmamente. Quando ele a viu, levantou-se e a abraçou:
-Laura! Quanto tempo!-O rapaz era muito bonito. Tinha 20 anos e era filho de seu padrasto.
-Verdade. O que me conta de novidades?-Conversaram um pouco, mas logo depois, Sarah entrou na cozinha. Cumprimentou a filha e se sentou.
-Laura, você vai tocar no recital da Fiamma hoje?-Perguntou a mãe.
-Vou. Combinei com a tia Louise que eu vou tocar às 20:00hs.
-Hum...seu pai veio te procurar. Pediu pra você ir na casa dele.
-Hum...lá vem bomba!-Bruno riu do comentário da irmã. Depois de tomar café, ela foi para o quarto e resolveu relaxar um pouco. Sentou-se ao piano e começou a tocar:

“Close your eyes and say good night (Feche seus olhos e diga boa noite)
and hold me till the morning light (E me segure até o amanhecer)
when the sun comes shinning through(Quando o Sol brilhar completamente)
I'll kiss you one last time(Eu vou te beijar uma última vez)
and I'll begin to live my life without you(E eu começarei a viver minha vida sem você)
wish that I could make you stay(Queria poder fazer você ficar)
but I know I have no power to persuade(Mas eu sei, eu não tenho poder para persuadir)
the heart will do what it must do(O coração vai fazer o que tem que ser feito)
So kiss me one last time(Então me beije uma última vez)
and tell me how to live my life without you(E me diga como viver minha vida sem você)
Cause I love you without and ending(Porque eu te amo sem fim)
cause I need you to be my everything(Porque eu preciso de você para ser tudo pra mim)
tell me the meaning of a life without you with me(Me diga o que significa a vida sem você comigo)
when the night falls I'll still be standing(Quando a noite cair eu estarei esperando)
cause you'll always be right here in my heart(Porque você sempre estará em meu coração)
and in my deepest memories(E em minhas memórias mais profundas)
I will never have to be without you(Eu nunca terei que estar sem você)
love is like a work of art(O amor é como um trabalho de arte)
once you feel it you hold it in your heart(Uma vez que você sente, o prende em seu coração)
you know forever that its true (Você sabe que pra sempre essa é a verdade)
so kiss me for always(Então me beije para sempre)
even if I live my life without you(Mesmo se eu vivo minha vida sem você)
Cause I love you without and ending(Porque eu te amo sem fim)
cause I need you to be my everything(Porque eu preciso de você para ser tudo pra mim)
tell me the meaning of a life without you with me(Me diga o que significa a vida sem você comigo)
when the night falls I'll still be standing(Quando a noite cair eu estarei esperando)
cause you'll always be right here in my heart(Porque você sempre estará em meu coração)
and in my deepest memories(E em minhas memórias mais profundas)
I will never have to be without you(Eu nunca terei que estar sem você)”

O tempo passou e já eram quase 17:00hs. Laura apressou-se e foi até a casa do pai.
Quando chegou, foi recebida por ele.
-Papa.
-Figlia!
-Como o senhor está?
-Bem. E você?-Respondeu Francesco, um homem baixo, de cabelos grisalhos e olhos castanhos.
-Levando...-Desconversou.
-Venha, me conte como vão as coisas.-Eles conversaram um pouco. Laura contou a ele tudo sobre Hogwarts e ele disse tudo o que houve enquanto ela esteve fora. Contou que Camille começou a namorar e que tia Eleanor tinha caído no banheiro. Ela disse que Vic estava mais louca do que nunca e que Beauxbatons não chegava aos pés de Hogwarts, tanto no tamanho quanto no ensino. Eles sempre conversaram muito, mas ainda assim, Laura mais ouvia do que falava.-Então? Arrumou algum namorado na escola?- Laura engasgou com o suco que tomava.
-Ah, pai...Você sabe que eu não tenho namorado...-Tentou desconversar.
-Ninguém?-Ele já estava desconfiando desde quando ela havia voltado de Milão, mas preferiu ficar sem falar nada.
-Ninguém...-Levantou-se do sofá e foi até a cozinha pegar mais suco. Quando voltou, encontrou os olhos de seu pai encarando-a.
-Laura, você não me engana. Eu te conheço muito bem...-Laura sentou-se e olhou para ele.
-Tudo bem...tem alguém sim...-Ele de repente fechou a cara. Pareceu preocupado.
-Por favor, Laura. Tira isso da minha cabeça, qual é a idade dele?- Laura gelou por dentro quando ele perguntou sério.
-Eu não sei...-Não pôde terminar.
-Qual é a idade dele?-Perguntou mais sério ainda.
-Acho que 38.-Respondeu de cabeça baixa. Ele respirou fundo e ela soube que a qualquer momento, a bomba podia explodir. Ele respirou fundo novamente e tentou se acalmar.
-Tudo bem. Mas e ele?-Perguntou mais calmo.
-Pai...Olha, tudo bem. Ele sabe, mas ele nunca disse ou fez nada, ok?..-Começou.
-Não. Espera...Ele sabe? E ele quem?
-O meu professor de Poções...-Falou baixinho rezando para que ele não escutasse, mas não adiantou. Ele respirou fundo de novo.
-Então quer dizer que você está apaixonada pelo seu professor?-Ele perguntou. Ela afirmou. Lágrimas já beiravam seus olhos, mas não podia deixar que ele saísse respingado da história, então resolveu que mentiria. Ele era seu pai, mas ela estava mais preocupada em proteger a integridade de Snape.-Qual é o nome dele?
-Severus Snape.-Ainda falava baixo.- Ele levantou do sofá e começou a caminhar pela sala. Então ela decidiu que era melhor falar.-Ele é gay.-Ele parou de andar e olhou para a menina.
-Muito bem.-Ele finalmente falou depois de alguns segundos em um silêncio perturbador. Voltou a se sentar perto da filha e olhou-a. Limpou os caminhos de lágrimas do rosto dela.- Me conte tudo. Desde o início.-Ela assentiu e começou. Contou tudo, mas omitiu a parte das esperanças que ele lhe dava. Disse que haviam virado amigos e que ele não fazia a menor idéia que ela sabia sobre sua opção sexual. Contou sobre a carta e disse também que a tinha escrito na intenção de aliviar o peso que estava em seu coração e não pretendia entrega-la a seu destinatário. Mas achou que ele tinha todo o direito de saber sobre seus sentimentos, até porque, envolviam o próprio. Quando entregou a carta, não sabia que ele tinha um relacionamento, então achou que não havia mal algum. E como depois que ele soube, nada mudou, preferiu esquecer. Francesco chegou mais preto de Laura e ela pôde ver surpresa e alívio nos olhos do pai.
-Você não sabe o quanto eu estou aliviado em saber disso. Eu tenho a filha perfeita, que não gosta de funk, carnaval e que se apaixona por um homem de verdade. Por que ele sim...Ele sim é um homem de verdade. Se fosse outro, teria te usado e depois, jogado fora. Ele é gay? É! Mas é um exemplo. E Eu fico mais aliviado ainda em saber que você teve a cabeça no lugar.- Laura permitiu que mais lágrimas escorressem. Não chorava de tristeza, mas de alívio pelo pai não ter feito um escândalo.- ...Mas eu quero falar com ele.-Laura não acreditou no que ouviu. Era bom demais pra ser verdade.- Chame a Cléo.- Laura levantou e foi até o pai implorando mentalmente que fosse apenas um sonho e que logo acordaria com a mãe chamando-a.
-Pai, não...por favor não...-Estava começando a se desesperar. Ele era do tipo de homem que era considerado burro por dizer o que pensava sem medo. Arrepiou-se só de pensar nos dois tendo uma conversa amigável. “Ele nunca vai me perdoar. Laura, sua burra!” Xingava-se mentalmente.
-Eu só quero agradecer...-Mas que diabos ele achava que deveria agradecer?-Chame a Cléo.-Laura não tinha outra escolha, foi relutante até a janela e estendeu o braço, segundos depois, a coruja parda, que não era muito maior que uma palma pousou na parte superior do antebraço da menina, que não teve coragem de olhar para o pai. Ficou alguns minutos na janela e quando se virou, se deparou com ele sentado frente à escrivaninha fechando um envelope. Ele se levantou e caminhou até ela. Quando ele estendeu o envelope à coruja, Laura gelou. Ele pediu que ela mandasse que Cléo levasse a carta até o professor Snape. Ela relutou, chorou, implorou, mas o pai estava irredutível. Uma longa e silenciosa hora se passou, quando Cléo retornou, já eram 20:00hs e trazia consigo a resposta. Ele viria no dia seguinte. Seu coração disparou. E mais lágrimas caíram. Ela viu as horas e pediu para ir embora porque tinha um recital para tocar, mas tudo que o homem fez, foi trancar a porta. Ele começou dizendo que aquilo era amor de adolescência e que ia passar. Mas que droga! Ninguém acreditava nela. Ela chorava tanto, que chegava a soluçar. Seu telefone tocou e ela atendeu chorosa. Era sua mãe, assim que ia dizer que não estava chorando, o pai tomou o telefone de sua mão e o desligou. Pela primeira vez na vida, Laura teve medo do pai. Ele falava e ela já nem escutava mais. O que pareceu ser uma eternidade se passou quando uma batida na porta interrompeu o discurso do pai.
-Abre a porta!-Sarah gritava do lado de fora da casa.-Ela tem que ir se arrumar porque já está atrasada.
-Ela não vai!-Ele gritou de volta.
-Mãe!-Laura queria alguém. Porque Snape não estava ali agora?
-Francesco, se você não abrir eu vou chamar a polícia!-Sarah devolveu.
-Que chame! Ela é minha filha e eu não estou fazendo nada de mais.
-Mãe...-Laura choramingou.
-Francesco. Abra a porta!- Era Isabell, a avó e madrinha de Laura. Ele não teve escolha. A menina sabia o quanto o pai respeitava a ex-sogra. Ele abriu a porta e as duas entraram rapidamente na sala. Laura correu para a avó. Então, uma veemente briga pela razão tomou conta de Sarah e Francesco. Ele apelou:
-Laura. Fique e vamos a Hogwarts resolver isso.-Laura ponderou por um momento. Seria bom ver Snape de novo, mas e se ele a rejeitasse? De repente, a voz de Snape ecoou em sua mente: “Tudo vai ficar bem. Não se preocupe.”
-O único lugar do qual ela vai, é a apresentação de piano.-E Laura saiu de lá puxada pela mãe. Quando chegou em casa, desvencilhou-se de Sarah e correu. Trancou-se no quarto e de lá não saiu nos próximos 3 dias...

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