Capítulo IX



Por mais que tentasse, Hermione não conseguia evitar a depressão. Pronunciar o nome de Harry ou tocar neste assunto, era uma coisa tacitamente proibida. Contudo, não era suficiente para evitar que pensasse nele e em tudo que tinha acontecido.

Seis semanas já haviam se passado desde a separação dos dois, seis semanas desde que Harry decidira acabar com aquele casamento. Entretanto, Hermione ainda não tinha recebido nenhuma notícia de nenhum advogado, que seria quem a procuraria para o divórcio, nem mesmo de Rony, o qual recebera noticia, vindo de Harry, que entregaria os papéis que daria ínicio a separação.

Toda semana, sem falta, ela recebia um cheque de Harry, que sempre rasgava em pedaços e jogava no lixo. Havia aceitado o carro como uma única concessão, para satisfazê-lo, mas estava disposta a não aceitar mais nada da parte dele.

Devagar, muito devagar, sua vida começou a ganhar uma rotina, voltar à normalidade. Durante o dia ela se ocupava escrevendo novas histórias e isto fazia o tempo passar. As noites, contudo, eram uma verdadeira tortura. Será que ele estava com Cho? Será que estavam fazendo amor? Hermione preferia não pensar nestas coisas, mas era algo que se impunha a ela, impossível de ser controlado.

Gostaria de se mudar para um outro lugar, recomeçar sua vida sozinha, porém Gina e Draco nem queriam ouvir falar nisso. Disseram que concordariam que ela mudasse só quando tivessem plena certeza de que estava bem e forte o suficiente para cuidar-se. Antes disso, não permitiriam que ela fosse embora.

Um mês depois, Hermione enviou duas novas histórias para a editora que publicava seus contos para crianças. Precisava ganhar algum dinheiro e agora já sentia-se um pouco mais tranquila e produtiva, conseguia pensar e sentir de novo. Certa tarde, quando estava tomando chá com Gina, tocou no assunto da mudança, sugerindo que estava na hora de começar a procurar um apartamento na cidade.

- Nem pense nisso — Gina replicou com voz firme — Você ainda vai ficar conosco por um bom tempo.

- Gina, tente compreender.

- Draco e eu gostamos muito que você more conosco. Tente pensar nesta casa como sendo a sua casa, Hermione.

Ela engoliu em seco, sentindo um nó na garganta. Ultimamente, as lágrimas brotavam com facilidade e ela chorava com muita frequência.

- Eu adoro vocês dois mas têm que compreender que, mais cedo ou mais tarde, preciso assumir minha vida e ser independente.

- Bem, você poderia ficar aqui pelo menos até que o divórcio esteja consumado. — Gina sabia que era doloroso para Hermione ouvir aquilo, mas era a realidade e tinha que ser enfrentada. — Falando nisso, não acha estranho que o advogado de Harry não a tenha procurado até agora?

Hermione deu de ombros, tentando demonstrar que não dava muita importância àquilo.

- Não sei quanto tempo essas coisas demoram.

- Eu penso que depois de três meses já era hora de você ter recebido alguma notícia de que o processo de divórcio já se iniciou.

- Suponho que em pouco tempo devo ficar sabendo de alguma coisa. — Era claro que Hermione não gostava de falar sobre aquilo.

- Hermione... com relação a Harry...

- Não quero discutir este assunto — Ela colocou a xícara sobre o pires com certa violência, produzindo um agudo som de porcelana que se chocava.

- Você o odeia tanto assim?

Hermione olhou pela janela, para o jardim lá fora. Era difícil dizer o que sentia por Harry. Com certeza, deveria desprezá-lo por tudo que fizera mas... ela não conseguia. Era duro admitir isto, porém, no fundo, sentia saudade de Harry. De noite, quando se deitava, seus braços procuravam inutilmente a companhia dele, seu corpo desejava o calor do corpo de Harry, e só aquele vazio existia, aquela solidão que fazia as lágrimas saltarem dos seus olhos.

- Eu não o odeio — Hermione afinal murmurou, olhando as mãos que repousavam sobre o próprio colo. — Bem que tentei, mas não consegui.

- Então, por que se nega a conversar sobre ele?

- Porque dói, Gina, porque ainda dói e muito.

Toda a agonia e desespero que Hermione sentia estavam estampados em seus olhos e na expressão de seu rosto. Gina levantou-se e aproximou-se dela, colocando o braço sobre seus ombros, numa atitude fraternal e carinhosa.

- Hermione, gostaria de poder fazer algo por você, ajudá-la de alguma maneira.

- Não há nada que possa fazer por mim, Gina — Hermione replicou, fazendo um esforço enorme para manter o autocontrole. — Tenho que aprender a conviver com esta situação, é um fato consumado.

Mas como poderia conviver com tamanha amargura no coração? Como conviver com a necessidade de ter alguém que não a queria? Será que chegaria o dia em que ela esqueceria Harry? Uma noite em que não mais sentiria aquela falta imensa dele? Gostaria de poder olhar o futuro em vez de se perder nas lembranças... Porém tudo que importava em sua vida estava nelas e apartar-se delas era como destruir um pouco de si mesma.

Não havia futuro para ela sem Harry. Nunca tinha existido outro homem em sua vida. Nem jamais existiria. Ninguém poderia substituí-lo.

Duas semanas depois, Hermione descansava à tarde em seu quarto, quando Gina veio anunciar que havia uma visita para ela.

- Um senhor chamado Ronald está lá embaixo, e quer conversar com você.

- Ronald? — Hermione levantou de imediato, surpresa. — Ronald Weasley?

- Sim, foi este o nome que ele me deu.

- Diga-lhe que não quero vê-lo! — Hermione decidiu, sentindo-se perturbada e confusa. — Se há alguma coisa que deseje que eu assine de Harry, fale para deixar os papéis aqui e depois eu os mando pelo correio.

- Ele não falou nada sobre divórcio, Hermione — Gina assegurou. — A única coisa que disse é que tinha um assunto importante para tratar com você.

- O que poderia haver de importante além do divórcio?

- Não sei. Ele não falou nada. Só disse que era um assunto particular e urgente.

Harry! Devia haver algo errado com Harry, que mais poderia ser? Hermione sentiu-se meio ridícula... Por que ele não procurara Cho? Apesar de tudo, ela estava muito curiosa e ansiosa para saber do que se tratava.

- Diga-lhe que descerei num minuto — Hermione respondeu. Quando Gina saiu, sentiu que seu coração batia como louco.

Ter notícias de Harry seria algo bom, afinal de contas, por mais que ela desejasse negar isto. Penteou os cabelos, retocou a maquilagem e arrumou-se defronte ao espelho. Tinha emagrecido um pouco e os olhos fundos pelas noites insones davam-lhe um ar meio triste e amargurado. Mas seu rosto era agora o de uma mulher mais madura, que já conhecera o amor e a dor. O ar esperançoso e rebelde próprio dos jovens tinha desaparecido. Ela não esperava por mais nada, nem alimentava expectativas a respeito do futuro.

Desceu a escada rezando para parecer mais calma do que realmente estava. Tinha a impressão de que muitos anos haviam se passado desde aquela noite em que Rony a levou para jantar, aquela noite em que a avisara que Cho estava de volta. Tanta coisa acontecera desde então, tantas lágrimas haviam sido derramadas.

Quando entrou na sala de estar, Rony levantou-se imediatamente e veio apertar-lhe a mão.

- Fico feliz em vê-la de novo — ele disse sorrindo, mas seu rosto logo ganhou uma expressão pesarosa. — Fiquei sabendo que você perdeu a criança e... sinto muito, Hermione.

- Suponho que Gina lhe contou.

Rony hesitou um momento, então soltou sua mão e apontou o sofá.

- Sente-se, Hermione, por favor. O que tenho para falar diz respeito a Harry.

- Não tenho muita vontade de conversar a respeito dele — Hermione falou com voz firme, olhando Rony de frente.

- Tudo que lhe peço é que escute o que tenho a dizer. Se depois de ouvir ainda não quiser discutir o assunto, então eu não insistirei mais. Por ora, só lhe peço que me ouça. — Havia uma certa urgência na voz de Rony que foi o suficiente para convencê-la.

- Está bem — ela suspirou — pode falar, Rony

- Harry está completamente transtornado. — Ele foi direto ao assunto. — Não descansa, não dorme e está bebendo muito! Tudo começou logo depois que você partiu. Nos últimos tempos seu comportamento ainda tem piorado. Mesmo seu trabalho, ao qual devotava tanta importância, já não o interessa mais. Quase não vai ao consultório e passou a maioria de seus clientes para Alan Bishop. Além disso, nunca mais apareceu no hospital. Não gosto de pensar no que poderá acontecer se ele continuar se comportando desta maneira.

Hermione olhava fixamente para as próprias mãos, tentando não deixar aquelas notícias a perturbarem.

- O que você espera que eu faça, Rony?

- Fale com ele, Hermione. Tente fazê-lo recobrar o bom senso!

- Você está batendo na porta errada. É para Cho que devia pedir isto. Ela é quem tem influência sobre Harry agora.

- Cho? — Ele franziu a testa. — E o que ela tem a ver com isto?

- Você devia saber, Rony. Estou certa de que Harry comentou a respeito do divórcio, não é?

- Divórcio? Do que você está falando?

- Não tente fingir para mim, por favor — Hermione suspirou, irritada. Em seguida levantou-se e caminhou até a janela. O jardim estava repleto de flores que chegavam junto com a primavera. Havia vida nova lá fora, mas em seu coração seria sempre inverno, ela pensou com amargor. Sem virar-se para Rony, Hermione continuou. — Você sabe tão bem quanto eu que deixei Harry para que ele pudesse morar com Cho.

- Hermione, não sei nada destas coisas que você está me dizendo — Rony levantou-se e se aproximou dela. — Já fazem mais de três meses que Cho voltou para Paris e Harry nunca me disse nada a respeito de divórcio.

Hermione sentiu o coração acelerando rapidamente e respirou fundo para tentar acalmar-se um pouco.

- Eu não compreendo.

- Então somos dois que não estão entendendo nada. — Rony estava sinceramente surpreso. — Talvez se eu lhe disser tudo que sei, então quem sabe poderemos chegar a alguma conclusão.

- Sim. Eu gostaria de ouvir, tudo isto me deixou completamente confusa.

- Bem, estive com Harry há algum tempo atrás, e o encontrei num estado verdadeiramente lastimável. Consegui persuadi-lo a me dizer o que estava acontecendo. Ele não falou com muita coerência, mas disse algo a respeito de você ter ido embora e falou também que se sentia culpado pelo aborto. Eu presumi, naturalmente, que vocês tiveram um desentendimento muito sério e você decidiu abandoná-lo — Rony fitava Hermione com curiosidade, percebendo que ela estava pálida e atônita.

- Eu nunca contei para Harry que estava grávida. Como ele ficou sabendo disto?

- Não posso responder, também não faço a mínima idéia. De qualquer maneira, posso garantir que sente-se terrivelmente culpado e o remorso o está deixando quase louco.

Nada daquilo fazia muito sentido, e Hermione não sabia até onde acreditar nas coisas que Rony acabava de dizer.

- E o que você quer que eu faça? Que procure Harry, passe a mão sobre sua cabeça e lhe diga que não precisa mais se sentir culpado pelas coisas que me fez?

- Ele ama você, Hermione.

Aquelas palavras caíam como sementes num solo duro e seco, mas Hermione replicou com voz fria e ríspida.

- Harry nunca me amou, nem nunca me amará. Ele me desejava, só isso, e eu fui útil enquanto ele precisava de alguém a seu lado para ajudá-lo a reconstruir a própria vida. É Cho quem ele ama. Sempre foi Cho!

- Talvez tenha sido, mas já não é mais — Rony insistiu e Hermione não tinha energia para discutir aquele assunto.

- Foi Harry quem lhe disse onde poderia me encontrar?

- Não — Rony meneou a cabeça. — Eu bem que lhe pedi o seu endereço, mas tudo que Harry disse foi para eu me manter afastado de seus assuntos particulares. Pouco tempo depois, lembrei-me de que você tinha falado que o marido de sua melhor amiga possuía uma oficina mecânica em Pietersburg. Peguei a lista telefônica e comecei a ligar para todas as oficinas desta cidade até que, afinal, Draco Malfoy me deu a resposta que eu procurava. — Ele se aproximou de Hermione, uma expressão consternada no rosto. — Hermione, você tem que ajudar Harry.

- E o que o faz pensar que ele aceitará minha ajuda?

- Ele precisa de você Hermione, e sabe disso. Só que Harry é muito orgulhoso e teimoso para admitir este fato. Ele deve achar que a tratou muito mal e que, com certeza, você o odeia tanto quanto ele tem odiado a si mesmo ultimamente.

- Eu cheguei a odiá-lo por algum tempo, mas foi um sentimento que logo desapareceu. — Hermione tinha os olhos baixos, sabendo que uma luz de esperança se acendia dentro dela, uma luz perigosa e para a qual ela não desejava dar nenhum alento. — O que faz você pensar que ele me ama?

- Por qual outra razão estaria se destruindo dessa maneira, senão por causa da sua falta?

Harry se destruindo? Por causa dela? Não, aquilo era impossível. Certamente era a ausência de Cho que o deixava neste estado.

- Só pode ser por causa de Cho, Rony, você está enganado!

- Eu penso que não, mas, mesmo que fosse por isso, você seria capaz de ficar sentada sem fazer nada, sabendo que Harry está cavando a própria sepultura?

- Mas o que posso fazer?

- Vá conversar com ele, é tudo que lhe peço.

Hermione se retraiu ante aquela idéia. A casa dos espelhos era o último lugar onde gostaria de encontrar Harry, se é que isto fosse acontecer algum dia. Aquela casa guardava as memórias mais tristes de sua vida e, mais uma vez, ela se sentiria entrando nos domínios de Cho.

- Eu tenho uma idéia melhor. — Uma idéia estúpida e louca, Hermione poderia ter acrescentado. — Você acha que seria capaz de convencê-lo a vir passar alguns dias na fazenda?

- Eu poderia tentar, pelo menos. — Ele olhou-a com um ar pensativo. — O que você tem em mente?

- Ainda não pensei direito, mas se conseguir convencê-lo a vir passar uns dias em High Ridges, talvez então eu pudesse estar lá quando Harry chegasse — Se aquilo não era procurar problemas, então nada mais no mundo seria, ela pensou.

- Você não quer que eu lhe diga nada? Pretende fazer uma surpresa?

- Bem, a surpresa, às vezes, pode nos ajudar a obter certas coisas. — Hermione sentiu que a cumplicidade se instalava entre ela e Rony, e isto os aproximava. — Você viajou até aqui só para me falar a respeito de Harry?

- Nós não poderíamos ter esta conversa por telefone, não é?

- Vai passar a noite aqui na cidade?

- Sim, já me hospedei num hotel e pretendo ir embora amanhã bem cedo.

- Então fique para jantar conosco esta noite.

- Bem, eu...

- Por favor, Rony. Eu ficaria muito contente se você aceitasse.

Rony aceitou o convite e tiveram um jantar animado. Draco e Gina o aceitaram como amigo de Hermione e o interesse que Rony tinha por carros em geral deu oportunidade para Draco falar sobre o assunto que mais lhe interessava na vida.

Já passava das dez horas quando Hermione acompanhou-o até o carro para se despedir.

- Assim que eu tiver acertado a viagem de Harry, eu lhe telefono, está bem?

- Mas e se estiver enganado? E se Harry não desejar me encontrar?

- Então, eu espero que você me deixe visitá-la sempre — Rony replicou prontamente. Fitando-o no escuro, Hermione não soube dizer se estava brincando ou não. — A maioria dos homens não reconhece o valor do que possui até que o perde. Pense nisso, Hermione, e tenho certeza de que tudo vai dar certo.

Rony saiu antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa. Parada em frente a casa, vendo o carro se afastar, Hermione sentiu que aquele brilho de esperança novamente se insinuava em sua alma. Mas sabia que era necessário não lhe dar alento.

Draco estava sentado em sua poltrona favorita e Gina arrumava as xícaras de café sobre a bandeja para levá-las para a cozinha. Havia algo em que Hermione vinha pensando há algum tempo, e ela decidiu perguntar.

- Gina, você contou para Harry sobre meu aborto?

Gina fitou-a com ar inocente, enquanto Malfoy a reeprendeu.

- Foi melhor contar para ele. Afinal, não vai esconder a verdade para o resto da vida, não é?

- Você ligou para ele, mesmo eu tendo pedido para não fazer isto? — Um brilho de raiva começou a despontar nos olhos Hermione.

- Não foi exatamente assim, Hermione — Gina começou a explicar. — Harry telefonou justamente naquela manhã em que você estava no hospital, quando tinha acabado de... de perder o nenê. Eu estava tão chocada com tudo aquilo que, sem querer, acabei contando o que tinha acontecido.

- Você contou tudo?

- Falei o que havia para ser dito.

- E o que foi que Harry disse?

- Nada. — Gina fez um gesto de impotência com as mãos. — Ficou em silêncio um longo tempo e afinal perguntou se poderia vir até aqui para vê-la. Eu respondi que não, que ele já lhe tinha feito mal o suficiente e que você deixara bem claro que não desejava encontrá-lo nunca mais.

Hermione sentou-se no sofá, sem saber direito como reagir àquelas notícias inesperadas.

- Ele comentou alguma coisa a respeito de Cho?

- Não, não me disse nada. Por quê?

- Acho que ela voltou para Paris logo depois que eu vim para cá.

- Ele não chegou a me dizer nada. Você acha que...

- Eu não acho nada — Hermione interrompeu-a. — Pelo menos, por enquanto.

Não queria se deixar dominar por nenhuma esperança infundada, principalmente agora que as coisas pareciam tão confusas. Cho estava tão decidida a ter Harry de volta e, no entanto, tinha abandonado seus planos logo depois? Aquilo não fazia muito sentido.

- Você ainda não contou tudo. Gina! — Draco falava em tom reprovador e Hermione fitou a amiga interrogativamente.

- Harry telefonou de novo há cerca de um mês, perguntando se eu achava que poderia se encontrar com você. Respondi que não. — Gina tinha um ar de culpa. — Mas o que eu podia ter dito, Hermione? Naquela época você nem deixava que tocasse no nome dele.

- Não estou acusando você de nada, Gina. Fez exatamente aquilo que eu tinha lhe pedido.

- A razão pela qual nunca lhe contei tudo era porque achava que você ia ficar desgostosa — Gina falou como se um grande peso tivesse sido retirado de suas costas. — O que era que Rony tinha para conversar com você?

Seria inútil esconder a verdade deles, mesmo porque mais cedo ou mais tarde viriam a saber de tudo. Também não seria justo deixar de lhes contar o que tinha em mente. Então, Hermione relatou minuciosamente tudo que conversara com Rony. Por algum tempo somente ela falou. Draco e Gina escutavam atentos e sem interrompê-la.

- Suponho que vocês devem me achar louca. — Hermione comentou, quando já tinha terminado; Gina e Draco a fitavam, sem nada dizer. — Mas eu nunca seria capaz de virar as costas para Harry sabendo que ele precisa desesperadamente de ajuda.

O silêncio na sala era absoluto que uma agulha caindo no chão poderia ser ouvida. Afinal, Gina falou, com incredulidade.

- Você ainda ama Harry, Hermione. Depois de tudo que ele fez?

- Acho que sempre vou amar aquele homem orgulhoso, rebelde e arrogante. Não sei por que as coisas têm que ser desta maneira, mas é algo que não posso controlar, que não posso decidir. — Sua voz vinha carregada de angústia. Logo depois se retirou para o quarto, sem nem ao menos esperar pelas outras coisas que Malfoy ou Gina tivessem para lhe dizer.

O que havia dito era a mais pura verdade e só por isso tinha concordado com aquele plano louco, que ela mesma sugeriu. Era um encontro muito arriscado e perigoso mas... e se desse certo? E se Rony realmente tivesse razão ao afirmar que Harry a amava, apesar de tudo?

Esqueça isso! Ele sente-se culpado, nada mais... sua mente a alertava com cinismo, mas seu coração já batia acalentado por uma nova esperança. Hermione suspirou na escuridão de seu quarto, excitada pela perspectiva de rever o marido.

- Harry... Oh, Harry, por favor, não me decepcione também desta vez. — ela implorou.

A semana se passou com torturante lentidão e outra já se aproximava do fim antes que Hermione tivesse qualquer notícia de Rony.

- Harry deverá chegar na fazenda amanhã à tarde — ele informou afinal pelo telefone. — Tivemos que armar um pequeno jogo mas, Adan Bishop e eu conseguimos convencê-lo de que um pouco de ar fresco e umas férias no campo seriam ótimos para sua saúde.

O nervosismo e a ansiedade logo fizeram o pulso de Hermione se acelerar.

- Você tem certeza de que ele não percebeu que eu tenho algo a ver com esta história?

- Não, ele não tem a menor idéia do seu plano. — Rony falou num tom de conspiração. — O que você pretende fazer?

- Acho que o melhor será estar lá quando ele chegar — Hermione replicou. — Sam Muller, o capataz da fazenda, tem a chave da casa.

- Tudo que posso lhe dizer agora é "boa sorte".

- Eu acho mesmo que vou precisar. — Hermione riu, nervosa. Quando recolocou o fone no gancho, teve que se apoiar na parede para controlar o tremor que tomava conta de suas pernas.

- Acho que Harry deve estar chegando. — Gina falou com um sorriso, quando entrou no hall e olhou Hermione.

- Ele estará em Hígh Ridges amanhã à tarde.

- E se o plano falhar? — Gina deu forma concreta aos temores de Hermione.

- Então eu pelo menos terei a satisfação de saber que tentei ajudá-lo.

- E quanto a você, Hermione? Será que não vai se machucar ainda mais?

- É um risco que tenho de correr.

Sim. De fato era um risco bastante grande, mas Hermione tinha que assumi-lo. Harry nunca a procuraria, pelo menos depois de ela ter deixado tão claro que jamais desejava vê-lo outra vez. O fato de que ele nunca tinha levado adiante o divórcio despertava suas esperanças. Afinal, quem sabe aquele casamento poderia ser salvo? Por causa desta vaga possibilidade ela se arriscaria, sabendo que teria de arcar com as consequências, fossem elas quais fossem.

Mal conseguiu dormir naquela noite, e levantou-se assim que o dia clareou. Havia muitas coisas que precisava arrumar, agora que o plano estava com fase de execução.

Tomou o café da manhã junto de Gina e Draco, porém nem percebeu o que estava comendo.

- Devemos esperá-la esta noite? — Gina quebrou o silêncio.

- Bem, isso depende. — Hermione tentou sorrir — Se eu for bem recebida, ficarei com Harry. Caso contrário, estarei de volta antes do jantar.

- Se eu fosse Harry, teria vergonha de encontrar você — Gina falou, convencida.

- É exatamente como eu acho que ele deve estar se sentindo. E, se eu estiver certa, há uma possibilidade de que tudo acabe se resolvendo da melhor maneira possível, no fim das contas.

- É melhor não se deixar dominar pelas esperanças — Draco advertiu-a. — Não queremos vê-la magoada mais uma vez, Hermione.

- Não estou esperando muita coisa, Draco. Desejo conversar com Harry, saber o que significo para ele, saber se é somente culpa que ele sente ou se é algo mais do que isso.

Hermione calou-se e terminou de beber o café. Não havia necessidade de colocar em palavras o que ela esperava e rezava para que acontecesse. Antes de o sol se pôr, naquele mesmo dia, saberia se suas esperanças eram fundadas ou se, mais uma vez, estava se perdendo em sonhos tolos e dolorosos.

Saiu pouco depois, para comprar umas coisas que queria levar para a fazenda. As compras não lhe tomaram mais que meia hora, e logo já estava indo em direção do desconhecido, de um futuro que não podia prever.




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