Capítulo 20



Capítulo 20:

O seu martírio já durava duas semanas.

Ele estava tão pálido. As sardas na maior parte do tempo eram imperceptíveis, mas agora contrastavam com um fundo branco. O único movimento de Matt era o de subir e descer que seu peito fazia acompanhando a respiração. Era desesperador ver essa quietude nele, ele sempre teve o sono agitado.

Hermione e os outros curandeiros lhe disseram que ele estar respirando por si só era uma coisa boa. Mas sempre que eram questionados sobre um possível melhora, eles diziam que o quadro de Mathew era estável. Ginny sinceramente não concordava. Para ela quadro estável seria ter ele correndo pela Toca, indo recebê-la com um beijo quando ela chegasse do trabalho, ajudando sua mãe na cozinha ou o pai naquele galpão velho. Ele era tão prestativo, tão carinhoso.

Ginny acariciava os cabelos bastos e revoltos do filho. Não resistiu e se levantou da cadeira para poder sentir o cheiro dele. Ela adorava tudo nele, mas o cheiro que ele emanava era tão bom, tão único. Sempre teve uma idéia na cabeça, se um dia ele se perdesse ela achava que seria capaz de encontrá-lo só usando seu olfato.

Encostou a testa na dele e deu um beijo terno nos seus lábios. Em seguida ainda mantendo contato com a tez dele, direcionou a boca para o seu ouvido.

- Acorde, Matt! – o tom era carinhoso – acorde, meu amor. Estão todos esperando você.

Estamos todos morrendo de saudade. Seus primos querem brincar, seu padrinho não encontra nenhum adversário tão bom no xadrez, a vovó e o vovô não encontram um ajudante a sua altura e eu.. – o choro começou a tomar conta dela - ...eu estou com saudade do seu sorriso.

Ela tentava não chorar. Pensava que se Matt realmente pudesse ouvir ou sentir alguma coisa, não queria que fossem emoções tristes, mas era impossível. O contraste do atual estado do filho com o de antes do início deste pesadelo era grande demais. Ginny passava os dias lembrando a sua vida ao lado dele.

A descoberta...

Ginny não agüentava mais a sua nova rotina. Enjôos matinais, sono e lamentação.

Tinha que encarar a verdade.

Durante um tempo achou que tudo isso podia ser fruto do seu estado psicológico. Afinal, não adiantava repetir, seja em pensamento ou em voz alta, que “ele” não merecia aquilo. Harry tinha ido embora e com ele tinha levado toda a sua força. Ginny queria simplesmente odiá-lo, mas não conseguia. Tinha que admitir que apesar do que o moreno fez, ela continuava o amando.

Ela queria tanto saber o porquê. Seria mentira dizer que o relacionamento andava as mil maravilhas. Harry estava diferente desde o fim da guerra e isso vinha trazendo problemas ao namoro. Acontece que Ginny era romântica demais, sempre pensou que iam enfrentar tudo juntos. Harry aparentemente pensava diferente.

Há três meses o rapaz tinha ido embora, depois de tê-la usado mais uma vez. Ela foi deixada sozinha na cama, satisfeita com a noite que tiveram, sonhando com a vida dos dois juntos, enquanto ele a deixava.

Meu Deus! Ela não teve direito a um bilhete sequer.

Inquiriu Ron e Mione exaustivamente, afinal eles eram os melhores amigos de Harry. Porém, assim como ela os dois foram deixados no escuro. A resposta do destino do moreno foi dada pelo Professor – ela ainda o chamava assim – Lupin. Harry tinha ganhado uma bolsa em uma Academia, estaria fora por tempo indeterminado e estaria incomunicável.

Ginny não entendia como um bruxo com acesso a tantas possibilidades podia ficar incomunicável, mas também não ia correr atrás de Harry, ainda lhe restava alguma dignidade. Mas bem que ele podia...

- Chega! – falou em voz alta enquanto balançava a cabeça como se assim pudesse espantar tais pensamentos.

Ginny sabia que essa era a causa da sua depressão. Ficar especulando hipóteses. Tinha que se concentrar na sua mais preeminente preocupação.

Além dos enjôos e do sono excessivo, tinha se dado conta de que um determinado evento mensal, não acontecia há... – refez as contas – ...três meses. Coincidência? Certamente que não. Depois que ela se atentou para a ausência do fenômeno mensal, lembrou que naquela noite não houve tempo para um “contraceptus”. Harry foi tão... arrebatador. Além disso, seu corpo tinha mudado, os seios estavam inchados e doloridos.

É, definitivamente ela sabia a causa da sua rotina. Mas tinha que confirmar e por isso tinha combinado algo com Hermione. A cunhada viria à Toca ao final das aulas e antes passaria em uma fa... falácia..., não, não, farm... – ah não lembrava o nome do lugar - ... para comprar um teste trouxa de gravidez.

Ouviu leves batidas na porta. Hermione. Ginny levantou da cama.

- Pode entrar!

A porta foi aberta.

- Claro Sra. Weasley. Daqui a pouco vamos descer para o jantar – Hermione disse com metade do corpo para fora do quarto.

A garota terminou de entrar no quarto, encostou a porta e em seguida murmurou um “colloportus” e um “abaffiato”. Finalmente, a amiga se dirigiu a Ginny.

- Olá! – até que Hermione tentou usar um tom animado.

- Oi – ao contrário de Ginny.

- Nervosa? – ao olhar a expressão que a ruiva fez, Hermione soltou – Ok! Pergunta idiota.

Viu quando a cunhada começou a vasculhar a bolsa, instantes depois ela tinha três caixas na mão.

- Trouxe três testes diferentes, para gente tirar a prova dos nove – Ginny fez uma cara de confusão – O que eu quero dizer é que é pra gente ter certeza.

- Tudo bem.

Hermione entregou as caixas para Ginny.

- Você pode fazer todos agora ou esperar o resultado de um para depois fazer o outro.

Ginny acenou com a cabeça e se encaminhou para o banheiro, a amiga já havia lhe explicado como fazer o teste. Pensou ter ouvido Hermione murmurar “boa sorte” antes de fechar a porta. Instantes depois ela saiu do banheiro. Hermione que apertava as mãos no colo levantou da cama de um pulo.

- E então? – perguntou apreensiva.

- Demora um pouco pra sair o resultado. Eu não quis ficar lá esperando.

Passados alguns minutos, Ginny ia se encaminhando para o banheiro, mas parou e se virou para a amiga.

- Será que.. – Hermione a olhava apreensiva - ... Você poderia ir lá olhar para mim? – perguntou nervosa.

- E..Eu? – a morena arregalou os olhos, enquanto se apontava com o dedo.

- É... – Ginny reparou que o rosto da cunhada tinha perdido um pouco de cor - ... Mas... se...

- Não, não. Tudo bem. Eu... vou lá olhar.

A ruiva deu um sorriso tímido em agradecimento. É claro que não ia fazer diferença ela ou Hermione olharem o resultado, afinal ela teria que encará-lo em algum momento, mas mesmo assim...

Hermione voltava para o quarto e pela expressão desnorteada que trazia no rosto, Ginny não precisava ler os kits para saber o resultado. A ruiva se dirigiu para sua cama aonde caiu sentada, abaixou a cabeça, enfiou o rosto nas mãos e chorou. Sentiu quando a amiga sentou ao seu lado. Hermione a abraçou pelos ombros e fez com que ela encostasse a cabeça em seu peito.

- Não se preocupe vai ficar tudo bem.

Ginny se afastou bruscamente de Hermione.

- Não Mione, não vai ficar tudo bem – levantou-se da cama e se pôs a andar de um lado para o outro – Eu estou grávida! Eu não fui responsável comigo mesma, como eu vou cuidar de uma criança?!

- Eu vou te ajudar! Seus irmãos e seus pais também.

Ao ouvir Hermione falar de sua família, Ginny entrou em desespero.

- Ah meu Merlin como eu vou poder encará-los?! – voltou a se sentar na cama e enterrar o rosto nas mãos.

- Você não tem que se preocupar com isso, ninguém jamais lhe virará as costas.

- Eu sei Mione, mas isso não vai impedir que eles se sintam decepcionados. Não se pode dizer que eles ficarão satisfeitos de ter uma filha grávida de um filho sem pai.

- Ginny! – Hermione parecia escandalizada – É lógico que há um pai...

- Ah é?! – Ginny levantou numa postura belicosa, dramaticamente olhou de um lado para o outro – Pois eu não vejo nem sinal de um pai aqui.

- Har... – ela não deixou a amiga terminar.

- Harry foi embora Hermione! E pelo que o professor Lupin disse foi sem pensar em voltar...

- Mas... – tentou a morena mais uma vez.

- Não Hermione! – voltou a sentar na cama com os braços cruzados sobre a barriga - Como eu o odeio!

- Ginny! – a amiga parecia escandalizada de novo – Ele não tem culpa, é só um bebê.

Agora a escandalizada era ela.

- NÃO! Ele não! – os braços antes tensos passaram a acariciar o seu ventre. Ela olhou naquela direção – Não o meu filho.

Continuou tocando seu abdômen carinhosamente. Seu filho. Agora ele crescia dentro dela e mais tarde, quando nascesse, precisaria de toda sua atenção e amor para continuar crescendo aqui fora. E mesmo quando essa criança fosse um adulto e já não dependesse dela, eles estariam ligados para sempre. Não importa o que acontecesse, eles seriam para sempre mãe e filho.

Uma onda de calor a invadiu e algo mágico aconteceu.

Ginny sorriu.


O nascimento...

Fleur foi bem incisiva ao dizer que doía, mas, sinceramente, no dia em que conversavam Ginny achou que a cunhada estava exagerando...

Ah Merlin! Lá vinha outra daquelas. Respirou fundo e apertou os lençóis que cobriam a maca onde estava instalada. Ela não ia agüentar outra. Quem diria que as dores que ela sofreu durante a guerra poderiam ser suplantadas.

Tudo bem, tudo bem, ela estava exagerando. Mas todo mundo sabe que a dor maior é aquela que você esta sentindo agor... Mais uma! Ela não conseguia nem completar um pensamento. Sua mãe estava ao seu lado.

- Mamãe, pelo amor de Merlin, eu preciso de alguma coisa – olhando ao seu redor não avistou quem procurava – Mamãe, cadê o
malditocurandeiro?

- Minha filha se acalme, ainda não é o momento certo – ao contrário dela a Sra. Weasley estava muito tranqüila. Claro, não era ela que estava morrendo de dor!

- Não é o momento certo?! Não é o momento certo?! – houve um aumento gradativo no volume da sua voz – Quem disse isso?!

- Minha querida... – a mãe secava o suor que brotava em seu rosto - ...o curandeiro disse que você ainda não tem a dilatação adequada.

- Eu não tenho a dilatação adequada?! – segurou a mão da mãe, com certeza o seu maior problema não era o suor – Pois ele que se vire para adequ... – outra maldita contração. Apertou a mão da Sra. Weasley – Meu Merlin! Ele que se vire para adequá-la. Afinal ele tem que fazer alguma coisa, não é?! Por que até agora, a única que está fazendo algum trabalho aqui sou EU.

Ela pensou que não havia nome mais adequado que “trabalho de parto”.

E lá vinha mais uma.

Apertou a mão da mãe. A força era tanta que ela achou que ao final daquilo – e ela rezava que o fim estive próximo – os ossos da ruiva mais velha estariam esmigalhados.

E era tudo culpa DELE. Ela passou a gravidez toda evitando sequer pensar em Harry. Agora era impossível não lembrar. Ele só tinha ficado com a parte boa – fazer o bebê – e para ela tinham sobrado enjôos, inchaço, fome e dores.

- CANALHA! – ela só tinha pensado, mas como naquele momento ocorreu uma contração o pensamento se transformou em grito.

- Ginevra, tenha modos.

Aquilo a enfureceu. Começou num sussurro.


- Mamãe, não sei se a senhora percebeu... – mas terminou com ela vociferando - ...EU ESTOU CONCENTRADA DEMAIS NA MINHA DOR PARA ME PREOCUPAR COM OS MEUS MOOOODOOOSS!!!

E mais uma.

- PELO AMOR DE MERLIN! QUANTO MAIS EU VOU TER QUE AGUENTAR!

Com seu último acesso o vaso de flores que ficava no criado mudo explodiu. A Sra. Weasley já não mostrava tanta tranqüilidade, sua expressão era de medo. Ginny tinha consciência que sua imagem e seu comportamento deviam estar assustando a tão experiente senhora.

Outra.

A Sra. Weasley largou sua mão e se encaminhou para a porta do quarto. Graças a Deus ela ia chamar alguém. Antes, porém, que a mulher atravessasse o portal, um homem com aproximadamente um metro e meio de altura entrou no quarto acompanhado por uma senhora de mais ou menos dois metros. Onde ela tinha ido parar, num circo?!

E mais uma.

- Como estamos?! – perguntou o homenzinho num tom jovial.

Humf! Ele tinha a audácia de estar sorrindo?! Ela não ia agüentar aquilo.

- ESCUTA AQUI SEU... SEU... PEDAÇO DE GENTE, TIRE ESSE SORRISO DO ROSTO! E VENHA JÁ FAZER O SEU SERVIÇO!!!!!!

O curandeiro deu uma risadinha de satisfação e ao mesmo tempo outra pontada de dor atingiu Ginny.

- PELO AMOR DE MERLIN! O QUE HÁ DE TÃO ENGRAÇADO?!

- Ginevra, minha filha, gritar não vai resolver nada.

- MAMÃE TENHA UM POUCO DE SENSIBILIDADE, EU ESTOU SOFRENDO AQUI PERCEBE?!

O pequeno homem retirou uma varinha das suas vestes. Conjurou um banquinho – ao fim do feitiço ele deu um sorriso sem graça – e tomou posição em frente às pernas de Ginny. Fez um encantamento para limpeza das mãos e em seguida examinou a ruiva. Soltou uma risadinha irritante.

- Ora, ora. Em instantes teremos mais um bruxinho no mundo. Vamos lá mocinha é hora de começar a trabalhar.

COMEÇAR a trabalhar?! Ele só podia estar brincando.

Mais uma contração.

Ginny viu que a ajudante do curandeiro arrumava alguns objetos em cima de uma mesinha. Sua mãe se pôs ao seu lado e segurou a sua mão. A Sra. tinha os olhos rasos de água. A ajudante veio até Ginny e arrumou os travesseiros nas suas costas de modo que a ruiva ficasse quase sentada. Sua mãe mais uma vez secou seu rosto e molhou seus lábios com uma pedra de gelo.

- Vamos lá menina – se pronunciou o homem – Faça força... Assim.

Ele continuou mandando Ginny empurrar e respirar, empurrar e respirar. As forças dela estavam acabando, e ainda tinha a dor. Quando é que ia parar de doer? Os outros três presentes a incentivavam. A ruiva não sabia até quando ia agüentar. Percebia que ela também falava alguma coisa, provavelmente alguma coisa nada agradável sobre Harry. Era culpa dele ela estar ali.

De repente veio o alívio. Antes ela tinha levantado mais o tronco para poder fazer força, mas agora tinha se jogado contra os travesseiros. Cansaço. Ginny sentia muito cansaço. Ela estava ouvindo alguma coisa diferente.

Um choro.

Então...

Juntando toda sua força de vontade ela levantou a cabeça. Ao seu lado sua mãe se debulhava em lágrimas. Conseguiu localizar de onde o choro vinha, ele se originava na direção em que o curandeiro e sua assistente estavam. Em seguida a mulher se virou para ela, um sorriso estampado no rosto e nas mãos uma trouxinha de pano azul.

Era... Era ele.

Ginny começou a rir e chorar ao mesmo tempo. A Sra. Weasley ajudou a filha para que ela pudesse levantar mais e colocou mais um travesseiro as suas costas. A assistente se aproximou. Ginny esticou o braço para recebê-lo, o menino ainda chorava.

- Tome minha querida – disse a ajudante entregando a criança – Ele é perfeito, principalmente os pulmões.

Assim que o bebê se acomodou nos seus braços ele parou de chorar.

Oh! Como ele era pequeno. Ginny tocou na penugem escura e densa que cobria a cabeça pequenina. O nenê soltava pequenos murmúrios que pareciam de satisfação. Assim que pegou nas mãos diminutas um de seus dedos foi agarrado. Ela riu mais uma vez. A ruiva estava encantada. É claro que ela já sentia uma conexão com o filho. Desde o momento que soube da sua existência, ela tinha sentido ligação com o ser que crescia dentro dela. Mas tê-lo assim, nos seus braços, com suas mãozinhas se agarrando ao seu dedo era... mágico.

- Oh minha filha... – a Sra. Weasley estava extremamente emocionada - ...ele é tão lindo!

A ruiva concordou. Ele era mesmo lindo.

- Eu vou sair uns instantes para poder avisar ao seu pai e ao seu irmão.

Ginny, ouviu a mãe, mas estava ocupada demais admirando o seu filho para poder responder alguma coisa. Depois de um tempo olhando para ele, Ginny concluiu que estava errada. Não era Harry que tinha ficado com a parte boa.

Riu mais uma vez.

- Bem vindo Mathew James Weasley.


A escolha do nome não foi um processo complicado como tinha professado Fleur. Descobriu o sexo do bebê de manhã e a tarde enquanto assistia a um filme na televisão o nome foi escolhido. Um dos personagens se chamava Mathew, e ao ouvir o nome ela simplesmente se encantou por ele. Mais tarde quando viu o significado, “dádiva de Deus”, achou que veio bem a calhar, afinal foi o serzinho que crescia dentro dela que a tinha salvado da depressão que sentiu após o abandono de Harry.

Foram tantas as alegrias que sua “dádiva” lhe proporcionou. A primeira vez que ele a chamou de mamãe, a primeira vez que manifestou magia, quando deu seus primeiros passos. Lembrou como o filho se mostrou obstinado quando estava aprendendo a andar. Não importava quantas vezes ele caísse, ele sempre se levantava e tentava de novo. Adorava pensar que naquilo ele tinha puxado a ela.

Riu.

Pensando bem, não havia como o menino escapar disso, o pai também era tão obstinado quanto a mãe.

Contudo a persistência de Harry tinha caído no conceito de Ginny. Nessas duas semanas ele não tinha aparecido nenhuma vez no hospital. Tudo bem, ela tinha dito todas aquelas coisas, mas foi no calor do momento. Harry sabia disso não é? Ele não se gabava que a conhecia bem?

- Francamente – Ginny disse em voz alta – Seu pai é muito mais divertido quando não faz o que lhe mandam fazer.

Vieram a sua mente alguns momentos de diversão que Harry lhe proporcionou e a ruiva deu um sorriso maroto.

- Ele podia muito bem ter aparecido aqui no outro dia, não podia? Você é filho dele não é? Quem sou eu pra dizer se ele vai ou não poder ficar perto de você? Ok, eu sou sua mãe, mas ele é seu pai. Isso é alguma coisa, não é?
Meio sem graça a ruiva continuou.

- Eu sei que eu posso ser intragável, Matt. Mas o seu pai tinha que entender que eu estava nervosa, ele tinha que saber que mais tarde eu entenderia que foi um acidente.

Agora ela estava um pouco irritada.

- Ele está muito sensível para o meu gosto. Humf... Imagine deixar de estar ao seu lado por uma coisinha ou outra que eu disse.

- Bom, eu tenho que concordar quando a sua vó diz que eu sei ser cruel – o tom era de desculpa – eu admito, foi meio ridículo o que eu fiz com o seu pai.

- Eu não diria que foi ridículo...

Ao escutar aquilo Ginny quase caiu da cadeira.

- HARRY?!

Harry se revelou ao tirar a capa da invisibilidade. Não pode deixar de sorrir ao assistir a reação da ruiva, que assim que se recuperou do susto, colocou as mãos na cintura, enquanto as pontas das orelhas ficavam vermelhas.

- O que você está fazendo aqui? – disse entre os dentes.

- Ora foi você mesma quem disse que era onde eu devia estar, ao lado de Matt.

Ginny pareceu um pouco desconcertada. E agora era o seu rosto que adquiria uma coloração vermelha na região abaixo dos olhos, o que era sinal de vergonha.

- Você... você estava... Desde quando você esta aqui?

O moreno dobrou sua capa e a colocou em cima do sofá onde ele estava sentado antes. Encarando a ruiva, foi se aproximando.

- Há tempo suficiente para ouvir seu interessante monólogo.

Assim que Harry se aproximou da parte inferior da maca, Ginny recuou um passo, provavelmente pensando que ele ia até ela. O moreno, porém, foi se colocar do outro lado de Matt. Encarou o filho e passou a mão em seus cabelos.

- Ele assim é a imagem da serenidade, não é? – viu que a ruiva acenou com a cabeça – Sabe do que eu sinto falta? – não esperou por uma resposta – Do abraço dele, do calor que ele me passava.

Ouviu um soluço de Ginny e voltou a encarar a mulher. Ela tinha a face banhada por lágrimas. Notou a umidade no próprio rosto. Não conseguiu se conter.

- Me desculpe... Eu sei que parece vazio – sua voz estava embargada – Eu venho procurando algo diferente pra te dizer, mas não há nada que... Você não sabe o quanto eu me arrependo. São tantos “se” que me passam pela cabeça... – o nó na sua garganta estava tornando a sua fala difícil - ...Mas o que eu sei é que não há nada que eu faça, vai poder trazer o nosso garoto de volta.

Harry secou o rosto com as costas da mão. Ginny tinha voltado a sentar, sua cabeça estava baixa e seus ombros sacudiam muito, acompanhando seu choro desesperado. O moreno pensou que talvez fosse melhor ele ir embora, não era bom que a ruiva ficasse agitada.

A sua desconfiança sobre a gravidez tinha se confirmado.

Diferentemente do que Ginny pensava, ele passou todos os dias ao lado de Matt. Com a ajuda da capa da invisibilidade e de Ron e Mione, ele tinha conseguido se manter junto ao filho. Não era a primeira vez que a ruiva “conversava” com Matt e foi durante uma dessas conversas que sua suspeita foi confirmada. Ginny tinha dito que Mathew precisava acordar para conhecer seu irmãzinho.

Quanto a paternidade ele não precisou que ela falasse nada. Harry simplesmente sabia que aquela outra criança que crescia no ventre de Ginny era dele. Deu um beijo no filho e foi até o sofá para recolher seus pertences. Encaminhou-se para a porta e assim que pôs a mão na maçaneta, ouviu a voz de Ginny.

- O que você está fazendo? – a voz dela ainda estava um pouco alterada pelo choro.

- Acho melhor eu ir, não quero que você fique nervosa.

Harry girou a maçaneta.

- Então é assim?! – o moreno voltou sua atenção para ela. A ruiva parecia irritada – Você despeja um monte de coisa em cima de mim e simplesmente vai embora?

O moreno ficou confuso.

- Como eu disse, eu só não quero que você fique nervosa... assim como está agora. Eu acho que é melhor eu ir.

Ele estava abrindo a porta, mas antes que esta estivesse completamente aberta a ruiva voltou a fechá-la. Ela se movimentou tão rápido que Harry nem percebeu sua aproximação. Em outro movimento ágil, Ginny empurrou o rapaz e se postou em frente a saída.

- Esqueça o que você acha melhor Harry Potter. Da última vez não deu muito certo, não é?

- Mas Gin...

- Nada de mas, Harry, dessa vez vai ser diferente.

Harry se exasperou.

- Eu não te entendo! Você quer que eu fique?

- Lento, muito lento – disse a ruiva balançando a cabeça. Ginny, pegou seu rosto entre as mãos, fez com que ele abaixasse um pouco a cabeça e o encarou – Você não disse que ouviu o meu interessante monólogo? Então...

- Então o que? – Harry estava confuso.

A ruiva deu um bufo de impaciência.

- Vamos nos concentrar no que você quer, não no que eu quero e muito menos no que você acha que seja o melhor, Merlin sabe quantos problemas isso nos trouxe.

O bruxo olhou para a mulher a sua frente e deslocando um pouco a cabeça, de modo que o contato com Ginny permanecesse, olhou para o filho. Os olhos verdes voltaram a se fixar nos olhos castanhos. Harry colocou suas mãos sobre as de Ginny.

- O que eu quero é ficar com vocês. Quero que nós sejamos uma família. Eu, você... – pegou as mãos da ruiva, levou aos seus lábios e depositou um beijo em cada uma das palmas -... Matt e ele... ou ela – depositou uma das mãos sobre o abdômen de Ginny que lhe olhou um pouco assustada –Se a única coisa que podemos fazer por Matt é esperar, que seja. Quero ficar e enfrentar o que for com você, agora e sempre.

A ruiva chorava emocionada. Harry aproximou seus lábios dos dela e lhe deu um beijo terno. Ginny cruzou os braços atrás de seu pescoço e aprofundou o ato. Harry enlaçou a cintura da ruiva e a suspendeu do chão. Sentiu os dedos da ruiva penetrarem em seu cabelo e se agarrarem aos fios negros, em resposta ele apertou mais o abraço. O beijo então se tornou mais intenso, não por desejo, mas por necessidade.

Quando os pulmões imploraram por ar, eles se afastaram, mas apenas o suficiente para poderem respirar. Com a testa encostada na dela e ainda com os olhos fechados, Harry promoveu um breve encontro entre os lábios.

- Eu te amo! – disseram os dois ao mesmo tempo. Harry voltou a encostar seus lábios nos dela, percebeu que a ruiva sorria. Já se preparavam para aprofundar o beijo quando foram interrompidos.

- Mamãe?!

***

- Quando eu vou poder ir pra casa, dindinha? – o menino estava impaciente.

- Logo, logo Matt – respondeu Hermione enquanto fazia algumas medições no menino com a sua varinha.

Ginny observava o trabalho da amiga com um sorriso no rosto, ela estava feliz com a agitação do filho.

- Todos dizem isso, mas a verdade é que eu estou aqui há um tempão.

- Só há três dias Matt.

- Mas mamãe você disse que eu estou aqui há duas semanas e isso é muito mais que três dias. Vocês dizem que eu tenho que descansar, mas eu não estou cansado.

Ela sentia vontade de pular e gritar de alegria. Seu filho estava ali de olhos abertos, falando, ou melhor, reclamando. Preferia o filho como a imagem da inquietação do que da serenidade. Ouviu a voz de Hermione.

- Prometo que em dois dias você estará liberado. Não há motivos para você ficar aqui, apesar do susto que você nos deu sua saúde é de leão – a morena deu um apertão carinhoso na bochecha do menino.

- Saúde de leão – Matt repetiu meio confuso, mas depois abriu um sorriso – Como o leão da Grifinória? – perguntou empolgado.

Ginny e Hermione riram.

- Isso! Como o leão da Grifinória! – respondeu a curandeira.

- Uau! – o menino parecia maravilhado – Você ouviu isso mamãe? A minha saúde é igual a do leão da Grifinória!

- Ouvi sim, meu amor! – a ruiva se aproximou do filho e acariciou seus cabelos – A saúde, a coragem e a teimosia do leão da Grifinória – Matt pareceu desconcertado. Ginny segurou o rosto do filho entre as mãos e fixou seus olhos no dele – Nunca mais faça isso com a gente ouviu?! Eu e seu pai não vamos agüentar.

A situação agora era de felicidade total, mas Ginny jamais esqueceria o pesadelo que tinham sido as duas semanas anteriores. Retirou as mãos do rosto do menino e o abraçou. Harry estava certo, um calor bom e único emanava daquele abraço.

- Desculpe mamãe! – Matt sussurrou no seu ouvido.

- Posso me juntar a vocês? – Ginny se afastou do filho e ambos olharam na direção da porta por onde Harry entrava e Hermione saia sem disfarçar um largo sorriso no rosto.

- Pai!

Harry se aproximou do filho e bagunçou seus cabelos.

- Como esta se sentindo hoje, filho?

- Com uma saúde de leão! – respondeu Matt todo pomposo e orgulhoso.

O moreno deu uma gargalhada e olhou para Ginny que movimentou os lábios e sem emitir som disse “Hermione”.

- Como eu achei que você poderia estar muito entediado aqui – o filho deu um muxoxo concordando com o pai – Eu trouxe uma coisinha para você – enquanto isso Harry entregava um embrulho para Matt.

Discretamente Ginny beliscou Harry abaixo das costelas.

- Aaaai... O que foi isso mulher? – o moreno massageava o local dolorido.

- Eu falei para você parar de trazer presentes para Mathew! – a ruiva disse entre os dentes, não queria que o filho prestasse atenção ao diálogo dos pais – Ele pode associar que esta sendo premiado pela besteira que fez.

- Ginny você tem pensamentos muito complexos e só um passatempo.

A bruxa já ia abria a boca para retrucar quando foi interrompida pelo menino.

- O que é isso papai?

- É um jogo trouxa, um quebra-cabeça – Harry convenientemente se afastou de Ginny – O que você tem que fazer é olhar para a figura aqui na caixa e tentar encaixar as peças do jogo de modo que elas formem uma figura igual a esta daqui – disse enquanto apontava a caixa.

- Legal!

Ginny observou Harry conjurar um quadrado de madeira e espalhar as peças do jogo sobre ele. Após algumas dicas, Matt já tinha entendido o jogo e recusava a ajuda do pai. Aproveitando que o filho estava concentrado no jogo. Ginny com um puxão discreto no casaco de Harry, fez com que ele se aproximasse.

- Você entendeu Harry Potter? – deu mais um beliscão na lateral do corpo do rapaz – Nada de presentes – Harry ia abrindo a boca – e nem passatempos.

O moreno cruzou os braços e fechou a cara. Ginny não resistiu e lhe deu outro beliscão só que esse foi na bochecha e era carinhoso.

- Nada de ficar emburrado Sr. Potter! Além disso, o Sr. ainda nem nos cumprimentou direito.

Na mesma hora Harry sorriu largamente e descruzou os braços para em seguida abraçá-la e lhe dar um beijo terno na boca. Mantendo o contato entre os lábios murmurou um “oi”. Afastou-se de Ginny e agachou-se de modo que pudesse encarar a barriga da ruiva.

- Olá bebê! – beijou o ventre de Ginny e depois encostou a cabeça ali.

Ginny percebeu que ele murmurava alguma coisa para o bebê e enquanto Harry se mantinha naquela posição ela acariciava os cabelos negros dele. Era tão bom ter ele ali por perto.

Depois do que aconteceu com Matt, todo o rancor e a mágoa dos últimos anos não tinham mais lugar na sua vida. Ela ficou com sede do agora e do por vir. O seu orgulho pareceu um sentimento tão mesquinho, tacanho.

É claro que Harry Potter e ela teriam uma conversa muito séria sobre a estúpida mania que ele tinha de achar que era ele quem definia o que era melhor ou não para aqueles que estavam a sua volta. Se ele queria uma família, era isso que ele ia ter. Como ele mesmo disse, eles iam enfrentar tudo juntos de agora pra frente. Voltou a olhar para Harry e depois fitou Matt. Conclui que tudo pelo que passou valeu a pena, pois agora ela tinha tudo o que sempre sonhou para ela e para Harry. Uma família.

Tudo estava em seu lugar.

****
N/A: Dessa vez vamos fazer um inversão...

Primeiro as respostas individuais...


Alessandra: E aí, este capítulo pode ser considerado gigante? As tantas coisas foram desenroladas? Responda-me você. Hehehe... Bjos e eu também lhe desejo um ano cheio magia!

Natalia Reis: Fico muitíssimo feliz que a minha fic tenha te agradado. Assim como você sou apaixonada por H/G e R/H, a ponto de achar uma blasfêmia qualquer outra variação, hehehe... Muito obrigado pelo “Fic de muito bom gosto e qualidade”, cheguei a ficar vermelha. Bjos!

Dani W. Potter: Pode ter certeza que eu também vou sentir falta. Quanto a novos projetos, eu não sei se serão possíveis, mas nunca se sabe, afinal antes de escrever essa eu não pensava em escrever fics. H/G também são o meu casal preferido. Tomara que tenha adorado o capítulo 20 também. Bjos!

Patty Black Potter: Sejamos compreensivas com a ruiva. Era o filho dela afinal de contas... mas você está certa ela foi malvada. Espero que este capítulo também tenha te agradado. Bjos!

Penny Lane: Sim, foi o Matt. Não, nada de dar adeus a reconciliação Ginny e Harry. Eu sou H/G doente mulher, meus dedos se recusam a escrever uma separação definitiva... é claro que o lado mal da escritora poderia se manifestar, mas dessa vez eu consegui contê-lo. Bjos!

Fernanda: Seja bem-vinda, espero que tenha gostado da visita. Obrigada pelos elogios. Desculpe ter lhe feito chorar, mas infelizmente a nossa Ginny é orgulhosa demais e pessoas orgulhosas têm uma certa tendência a proferir palavras cruéis. A desculpe também ter a feito perder o sono, mas infelizmente eu achei isso muito legal. Ouso me sentir lisonjeado por isso. Espero que o tamanho e o conteúdo do capítulo tenha sido satisfatório. Bjos!

Tonks & Lupin: As mães sempre esquecem! E você estava certíssima a união realmente faz a força. Bjos!

Mari Black: Cadê meu comentário decente? E o Harry nem sempre se ferra na fic, nesse capítulo ele se deu bem, né? Bjos!

Dora: Depois de seu adorável grito de protesto, seu pedido foi atendido. Bjos!

Seguida de uma mensagem da autora...

Me recuso a usar aquela palavra. Aquela com i.... eme e efe, sabe? Mas realmente o significado dela cabe aqui. Depois de tanto tempo e tantos pedidos de desculpa, eu conclui um projeto que na verdade era da minha irmã. Foi ela a autora da primeira frase da fic e a incentivadora em todas as outras. Caso tenham gostado da fic – e eu espero que assim tenha sido – agradeçam a ela.

A mim cabe a tarefa de agradecer a vocês. Muito obrigada por terem prestigiado a minha humilde estória. Vocês não sabem a alegria que eu sentia sempre que lia um comentário de vocês, principalmente depois de eu ter passado tanto tempo sem atualizar a fic.

OBRIGADA! OBRIGADA! OBRIGADA!

Espero que esse capítulo tenha agradado a todos.

Bjos!

Vou sentir saudades...


Ah! Comentem, viu?!

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