Apenas um momento



"Ilusão sem verdade, sem sinceridade
Apenas um momento sem eternidade…"



Apenas um momento



Era uma situação estranha, nova para mim. Eu decididamente não sou o tipo de garota que fica deslumbrada por um garoto qualquer, não costumo alimentar ilusões em minha vida. Na verdade eu sou a pessoa mais realista que já conheci. Ou era, porque tudo o que está acontecendo ultimamente, simplesmente não consigo controlar.

Ele era a criatura mais nojenta de toda a escola, um sonserino nojento, idiota, metido, e que deixava claro para meio mundo que me desprezava.

E esse sentimento era recíproco, ou pelo menos foi até o sexto ano.

Bom é óbvio que eu estou falando de Draco Malfoy.

De tudo o que Harry acusava-o, mesmo sabendo que tinha uma boa possibilidade de ser verdade, eu simplesmente relutava em acreditar, me apoiando na idéia de que, ele sendo jovem ainda, não iria alistar-se aos comensais da morte. Afinal, talvez ele não tivesse coragem, como bom covarde que sempre provara ser.

Era minha ultima esperança, a ilusão mais forte que me permitia.

Lembro que aconteceu no sexto ano.

Foi a coisa mais ridícula, idiota que eu fiz em minha vida impecável. E ousada.

Nesse dia ultrapassei limites impostos desde o dia em que tínhamos nos conhecido, limites naturais entre um Malfoy e uma Granger, entre um puro-sangue e alguém nascida trouxa, entre um sonserino e alguém da Grifinória, um laço de rivalidade há muito considerado intransponível.

Ele estava sentado no gramado do jardim da escola, o corpo relaxado, os cabelos mais loiros que nunca a luz do sol. Fiquei um bom tempo contemplando-o. Fazia isso com certa freqüência naquela época, mas nesse dia, por algum motivo, não resisti e me aproximei. Aquela atração ilógica, a última pessoa no mundo que você deveria desejar.

Devo ter começado a notar sua beleza no quarto ano, no entanto naquela época eu era indiferente ao fato dele ter essa beleza tão óbvia que naturalmente atraía praticamente todas as garotas da escola. Mas isso mudou. De repente cada detalhe novo eu percebia, como ele tinha amadurecido, a tristeza em seus olhos, e algo novo: responsabilidade que devia ser o que estava deixando-o com aquele ar preocupado no rosto antes sempre impassível.

E como ele era bonito... Devastadoramente bonito! Isso nunca me atingiu tanto como no sexto ano, e era irritante o fato de não ser mais indiferente ao fato.

Talvez naquela época em que ele era apenas o garoto mimadinho da escola, eu, de certa forma, conhecia-o. Suas atitudes óbvias. Mas não mais!

Para onde você vai? Quando fica assim com o olhar distante? – falei baixinho ao me aproximar dele o suficiente.

Ao me ouvir ele se voltou, os olhos cinza muito abertos, e eu soube que aquele era o dia em que Draco Malfoy mais se surpreendera na vida.

Fico pensando se minha vida poderia ser diferente – sua voz era apenas um sussurro.

Pisquei surpreendida. Óbvio, esperava tudo menos uma resposta. Confesso que levei um susto e tanto ao ouvi-lo responder, mas de qualquer maneira foi um susto muito bom.

O que faz aqui Granger? - ele perguntou após alguns minutos, observando minha expressão aturdida.

Acho que foi o fato dele não ter me ofendido, ou puxado à varinha e me estuporado, como seria de se esperar, que me fez aproximar dele espontaneamente, como se tivéssemos algum tipo de relacionamento íntimo.

Eu só... - tentei obrigar meu cérebro a inventar uma resposta, mas simplesmente não me ocorria nada.

Por um momento ele ficou me encarando, o cenho franzido. Não parecia aborrecido, mas simplesmente interessado.

Por observá-lo somente de longe, não tendo coragem suficiente para chegar perto, quando de praxe deveria tratá-lo mal, me dava uma sensação de insegurança surpreendente para uma pessoa tão segura quanto eu. E agora, com ele somente a alguns passos de distancia, foi dando um arrepio gostoso vê-lo com toda a atenção voltada para mim. Meu coração estava disparado, minhas mãos suavam e tremiam tanto que, em pensamento, implorei que ele não notasse. Esse era o momento, eu poderia descobrir porque reagia assim cada vez que ele se encontrava em meu campo de visão. Quis muito explorar essa idéia.

De repente ele se levantou e aproximou-se de mim. Meu coração foi a boca!

Responda-me uma coisa Granger! Porque você deu para me secar ultimamente? - perguntou novamente sussurrando, o olhar frio e intenso.

Gelei ao ouvi-lo dizer isso, tão diretamente, sem subterfúgios. Nunca percebi que ele me notava nos longos minutos que me perdia observando-o.

Está louco Malfoy? Está falando de que? - respondi nervosa, tentando retroceder alguns passos. Perigo. Era a sensação que ele me transmitia.

Nem pense - ele disse rápido, segurando meus braços com firmeza e trazendo-me para mais perto. - Agora eu quero esclarecer essa historia. Você tem me enlouquecido com essa mania ultimamente, e agora que está aqui quero saber até onde é capaz de ir. - ele disse com a voz rouca, descendo o olhar vagarosamente por meu corpo.

Encarei-o assustada ao sentir suas mãos descendo lentamente para a minha cintura. Aquele era o momento de sair dali correndo e acabar com aquela loucura, mas simplesmente não conseguia me mover. Onde está a Granger fria, controlada, realista, tudo o que eu proclamo ser, quando mais se precisa?

Seu olhar passeava por cada curva de meu corpo, atendo a cada detalhe com evidente apreciação masculina, em seguida voltando lentamente ao meu rosto. Senti que era avaliada, e o nervosismo que me fez passar a língua sobre meus lábios e baixar o olhar devagar, constrangida, e nesse momento ele estreitou os olhos e me encarou, perigoso. Inconscientemente talvez, eu estivesse provocando-o. Minha pequena experiência nesse assunto não me permite fazer algo assim deliberadamente, muito menos para com Draco Malfoy, no entanto ele me encarava como se eu tivesse feito exatamente isso.

Aquele olhar intenso me causou certa fraqueza, ele me encarando como se desejasse enxergar minha alma. Merlin, eu tremia ao perceber seus lábios tão perto do meu, e seu hálito em meu rosto que em vez de quente, era gelado. Ou talvez o problema fosse minha sensibilidade extremamente abalada por sua proximidade, seu contato.

Sabe com certeza meu dia hoje esta sendo diferente... totalmente.

Ao ouvi-lo levantei o olhar novamente, e flagrei o tom levemente distante com que ele me encarava agora, e isso me incomodou um pouco.

É engraçado... O fato de me incomodar tanto você ficar me secando, me fez jurar fazer você pagar, mas nunca pensei que fosse assim...

Ele murmurou isso antes de me puxar firmemente pela cintura e colar seus lábios no meu com violência.

Foi tudo muito de repente, e para minha surpresa, me vi abraçando-o sem oferecer qualquer resistência. Na verdade, eu sonhava com isso há algum tempo. E nossa, a realidade era mil vezes melhor.

Ele usava os lábios e a língua com audácia, suas mãos deslizando por meu corpo com ousadia, acariciando, explorando. Foi a primeira vez que me senti perdida. Correspondi com tanta paixão como o recebia.

É isso que acontece quando uma garota observa, provoca – ele deu ênfase à palavra- com tanta insistência um homem, Granger. - Ele murmurou afastando–se de mim, muito tempo depois.

Ofegante, murmurei um protesto, ao perceber ele recuar alguns passos. O sorriso de desdém sempre presente quando ele me olhava voltou aos seus lábios, mas não me importei, pela primeira vez, pois ele também parecia abalado.

Eu não te provoco. – murmurei com dificuldade, tentando recuperar meu raciocínio rápido que voltava a me abandonar.

Ele sorriu e voltou a se aproximar de mim. Seus olhos estavam fixos em meus lábios, e quase que sem perceber, entreabri-os num convite.

Então ainda diz que não me provoca Hermione? – ele sussurrou acariciando meu rosto.

Ele estava diferente, carinhoso, um Draco que definitivamente eu nunca suspeitaria que existisse, e foi por esse Draco que naquele exato instante eu me apaixonei.

Eu noto Hermione, cada momento que você perde me observando, e vou confessar que me odeio por desejá-la tanto cada vez que me olha intensamente, como se eu fosse seu mais secreto desejo. Isso está me deixando louco... - ele murmurou antes de voltar me beijar com desespero.

Passaram-se vários minutos, tanto eu quanto ele lutando entre a razão, o certo a fazer, e o desejo de abandonar-se a aquele momento, mas novamente ele se afastou e me fitou extremamente confuso, tão chocado quanto eu quanto à urgência do desejo evidenciado pelo beijo.

Por um longo momento simplesmente ficamos assim, olhando-nos, com ele segurando meu rosto entra suas mãos. Devagar ele voltou a aproximar o rosto do meu e me beijou levemente nos lábios. Entendi que era o adeus, e como em câmera lenta, observei-o sacudir a cabeça como que para espantar um pensamento inconveniente. Devia ser o mesmo que dominava todos os meus sentidos. “Fique”.

Observei-o dar as costas e voltar para o castelo. Nem gosto de lembrar o tempo que fiquei estática, onde ele tinha me beijado com a mão sobre os lábios. Oh, que atitude ridícula!

Parece que realmente demorou horas para eu voltar à realidade.

Sabia que algo tinha mudado. Não nessa realidade, eu continuava apenas admirando-o de longe, continuávamos para todos na escola, inimigos.

Nem ele, tampouco eu, demos alguma indicação de que nos lembrávamos daquele beijo.

Uma ou duas vezes flagrei-o olhando-me também. Poderia ser um olhar casual se não fosse o desejo em seus olhos. E como eu, inocente, considerava meu dia ganho por isso.

Por isso digo que algo havia mudado.

Um dia eu encontrei-o no mesmo lugar em que nos beijamos. Eu ia sempre lá, no entanto ele não mais. Não tive coragem de me aproximar novamente. Algum instinto mais realista que havia sobrevivido alertou-me que eu não seria bem recebida novamente.

Não se vive uma ilusão por mais de um momento, e esse momento fora naquele dia!

No fim do ano vieram mais surpresas. A morte de Dumbledore, seu envolvimento claro com os comensais da morte, e a guerra.

Alguns anos depois, vencemos a guerra e Lord Voldemort. Meu grande amigo Harry Potter venceu.

É besteira dizer isso, mas eu nunca o esqueci, nunca quis isso na verdade.

Completa idiotice considerando o fato de ele ser quem era.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.