Se não acredita em mim...



Mary ainda permaneceu encolhida no chão por um tempo depois dos alunos se afastarem satisfeitos e voltarem para as suas aulas. Ela verificou os ferimentos visíveis: esfolados, arranhões, hematomas... Sentia que algo no osso da sua perna não estava certo e o seu nariz sangrava. No geral, ela precisa de uma visita emergencial à enfermaria.
- Mary? – Sarah se aproximou cautelosamente dela, como se tivesse receio que somente a sua respiração muito próxima fizesse com que os machucados da amiga piorassem.
- Que bom que saiu da enfermaria, Sarah. – disse Mary tentando sorrir e meio que ofegando pela dor – Pena que agora eu vou ter que ficar por lá um tempo.
- Como você pode brincar?! Olha o estado que eles a deixaram! Como puderam fazer isso?!
- Esses arranhões não são nada. – ela tentou se levantar, para confirmar o que dissera, mas desabou novamente no chão. – ...O que aconteceu com ele? Aquele tipo de expressão... – ela olhou para Sarah, procurando uma resposta, como se estivesse preste a desabar no choro – Porque Doumajyd não acreditou em mim?
Sarah pensou em algo para lhe dizer e então seu rosto se iluminou com uma idéia:
- Vamos falar com ele!
- Falar?
- Havia muita pressão aqui, Mary. Acho que Doumajyd não poderia deixar a sua pose na frente dos outros alunos para que você explicasse o que realmente aconteceu. Afinal, ele ainda é o líder do D4... Se você explicar agora, falando diretamente, ele irá entender. Diga que você não é esse tipo de pessoa que faz essas coisas!
Mary analisou a sua situação. O que Sarah falava tinha fundamentos. Doumajyd ficara chocado com aquelas fotos e precisava de um tempo para pensar, por isso saiu sem dizer nada. Mas agora, talvez agora, fosse o melhor momento de falar com ele e explicar o que realmente havia acontecido.
- Mas antes, eu preciso que a enfermeira dê uma olhada na minha perna.
- Vamos, eu a levo.
Sarah a ajudou a ficar de pé e as duas saíram do Salão Principal. Mary mancava em um estado de derrota total.


***


- Isso é incrível! – exclamou MacGilleain vendo as fotos.
- O que é incrível na aparência totalmente insatisfatória da Mary? – perguntou Nissenson rindo.
- O que esse cara estava pensando?! Logo a sem graça da Mary?
- Ele fez tudo pelo ‘desafio’. – explicou Nissenson, se divertindo mais do que o amigo – É como comer cogumelos que ainda não foram listados em uma enciclopédia!
- Que história é essa de cogumelo? – sussurrou entre os dentes Mary, bem atrás do dragão, o fazendo se sobressaltar e deixar as fotos caírem espalhadas pela mesa.
- O que está fazendo aqui? – perguntou MacGilleain surpreso.
- Não é com vocês que eu preciso falar!... Larguem essas fotos! Onde está o Doumajyd?
Os dois apontaram para o final da ala do D4, onde Doumajyd estava escorado na parede fria, olhando pela janela e não dando atenção alguma para o que acontecia a sua volta. Mary foi até ele, ainda mancando, mas decidida, sendo seguida de perto por Sarah.
O líder dos Dragões demorou em notar a presença dela, mas assim que a encarou, reparou em cada um dos seus hematomas, ataduras e esfolados, incluindo o nariz inchado.
- Eu não fiz nada com aquele cara! – declarou ela de uma vez, reunindo toda a sua coragem – Acredite em mim!
- Com essas fotos, no que eu deveria acreditar? – retrucou Doumajyd com desprezo.
- Eu mesma não sei de onde surgiram essas fotos!
- Não sabe? – ele deu um sorrisinho de sarcasmo – Elas vieram do lugar que você esteve com... com esse sujeito!
- Mas, se eu fui... Eu só percebi depois que eu já estava lá!... Ah, não é isso. – ela balançou a cabeça tentando ordenar seus pensamentos – Eu quero dizer que-
- Doumajyd. – Sarah não deixou com que a amiga terminasse o que iria falar e entrou na frente dela, como se procurasse a defender corajosamente. – Por favor, acredite na Mary!... Bom, é fato que ela e aquele cara estavam em um hotel juntos, afinal há as fotos.
- Sarah. – murmurou Mary em tom de protesto.
- Mas é óbvio que há uma explicação! – acrescentou a garota rapidamente para tentar consertar a situação.
- Cala a boca! – Doumajyd a cortou sem paciência – Com quem você acha que está falando, garota?!
- Ei! Não permito que fale assim com ela! Sarah é minha amiga e está tentando me ajudar!
- Não, Mary! – disse Sarah, não deixando com que ela tomasse a frente de novo.
- O quê? – perguntou Mary confusa com a reação dela.
- Doumajyd também está magoado, Mary! – disse dignamente Sarah – Eu só queria que vocês fizessem as pazes.
A frase dela ficou voando pelo ambiente enquanto os outros dois a encaravam com expressões de ‘de que lado você está afinal?’.
- Havendo explicação ou não, essas fotos dizem claramente que você me traiu, Weed!
- Eu já disse que não é verdade! – Mary queria pegar algo para jogar na cabeça dele e fazê-lo entender tudo de uma vez, mas seus machucados não permitiam movimentos bruscos – E o que você quer dizer com ‘trair’?! Não temos nenhum tipo de relacionamento para que qualquer um traia o outro! Eu só queria que você não entendesse errado as coisas!... Afff, porque eu tenho que ouvir isso?!
- É assim que você pensa? – perguntou friamente Doumajyd a encarando, com o mesmo olhar desapontado de antes, agora misturado com o de fúria – Então você não deveria ter vindo aqui em primeiro lugar! – e ele saiu derrubando o que quer que estivesse no seu caminho.
Mary respirou profundamente e rosnou para as costas dele:
- Você está certo! Não tem nenhuma razão para eu ficar me explicando! Desculpe o incômodo! – e seguiu para as escadas contrárias as que ele descera, tão furiosa quanto o dragão.
Sarah pareceu indecisa por um tempo, olhando para os dois irem embora, e então seguiu apressada Mary.
- ...Sentiu uma intensidade quase elétrica nessa discussão? – perguntou Nissenson para o amigo.
Os dois ainda permaneciam estáticos no mesmo lugar em que Mary os encontrara, apenas assistindo a cena.
- Ah, que pena... Apesar de tudo, eu achava que os dois formavam um casal divertido. – comentou MacGilleain, voltando a analisar as fotos.
- Mas não foi melhor assim? Ela deixou claro que não tem interesse algum no Chris.
MacGilleain encolheu os ombros, como se dissesse que não conseguia imaginar nenhum desfecho possível para aquilo. Então ele notou algo no chão perto da mesa e o pegou perguntando:
- Isso é seu?
- O que? – o outro olhou para o lenço dobrado que o amigo segurava – Não... a Weed ou aquela menina indecisa deve ter deixado cair...


***


À noite, Doumajyd andava furioso de um lado para o outro na sua sala comunal, em frente à lareira acesa, até finalmente desistir de abrir um buraco no chão e se largar na poltrona mais próxima. Então sentiu algo no bolso de seu casaco e verificou o que era.
Já havia dias que ele estava tentando devolver o cachecol que Mary lhe dera quando esteve doente em Hogsmeade, mas nunca achava uma maneira de começar a falar agradecendo.
Ele encarou o cachecol mais pobre que ele já usara na vida e lembrou-se de Mary dizendo ‘Os pobres já estão acostumados com o frio’. Sentindo uma raiva imensa dele mesmo por ter sido tão estúpido em correr atrás daquela sangue-ruim, ele se levantou em um impulso para jogar o cachecol no fogo. Mas parou na metade do caminho.
Olhou mais uma vez para o cachecol e o guardou novamente no bolso, decidindo que de nada adiantaria aquilo.


***


Ao mesmo tempo, no outro lado do castelo, Mary olhava tristemente pela janela do seu quarto.
Já tinha desistido de tentar conseguir dormir. Algumas frases soltas de Doumajyd insistiam em passar pela sua mente:
‘Weed não é esse tipo de garota!’
‘Por que você é a garota que eu coloquei acima de todas as outras’
- Não diga essas coisas se você não vai acreditar em mim, droga... – murmurou ela tristemente encostando a cabeça na parede fria.
Certo, ela nunca dera a entender ao dragão que tivesse a mais remota possibilidade de os dois ficarem juntos. Mas ela não podia evitar pensar em tudo o que acontecera naqueles últimos tempos, e como ela conhecera uma parte além do lado negro do D4. De alguma forma, ela não queria que as coisas voltassem a ser como era antes dela declarar guerra contra eles, com o terror das Tarjas Vermelhas. Se Doumajyd mantivesse a promessa de abolir as Tarjas, estaria tudo bem ele ficar pensando mal dela?
Então, como se o frio fizesse com que a parte de soluções incríveis de seu cérebro fosse ativada, uma idéia lhe veio à cabeça. Ela correu para a sua cama e retirou da mochila uma das fotos que tinha sido espalhada pela escola inteira. Lá estava ela, perdida em um sono profundo, e os braços do bruxo em torno dela, mas... como a foto fora tirada?! Máquinas de fotos mágicas não eram tão fáceis de serem manuseadas quanto as trouxas, de tecnologia avançada. Com certeza precisaria de mais alguém para que aquela fosse feita!
Eis o pontapé inicial para contornar esse seu problema! E ela precisava falar o mais rápido possível com Sarah...

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.