TB, 2ª etapa



Diretamente de Paris

- Não há motivos para trazê-lo agora aqui, mãe! – esbravejava Christinne no escritório da senhora Doumajyd – Ele deve estar assistindo ao Totalmente Bruxa e torcendo pela Mary! Não vai querer vir!
- Para que assistir se ela não vai ganhar mesmo. – retrucou calmamente a bruxa, sentada em sua escrivaninha lendo o Profeta Diário.
- A única pessoa que acredita nisso é você! – acusou Christinne.
Em resposta, a senhora Doumajyd apenas riu, sem tirar os olhos do jornal. Mas Christinne não desistiu em sua defesa a Mary e continuou:
- Após conhecer ela, o Chris mudou muito! Ele agora é alguém que você nunca conseguiu fazê-lo ser!
Isso definitivamente irritou a bruxa, que desistiu de ler o jornal e o largou de qualquer maneira em cima da mesa:
- O que você quer dizer?
- Chris finalmente está deixando de ser aquele menino convencido e mimado que sempre foi! Aquele que pensava que poderia mandar no mundo inteiro! Assim como você! Ele realmente gosta da Mary e esse sentimento o fez passar a ver o mundo de um jeito diferente! O Dragão que não via nada de mais em machucar os outros ganhou uma alma mais humana e está finalmente se livrando das escamas que você colocou nele!
A senhora Doumajyd ajeitou a sua posição na cadeira, demonstrando-se incomodada com aquele discurso.
- Só você não percebe como a Mary é uma pessoa maravilhosa, mãe! – concluiu Christinne.
- Você deveria sabe o seu lugar! – disse a bruxa se levantando e rindo, tentando demonstrar que não adiantaria nada a filha falar e falar, ela não mudaria de idéia – Não pode vir aqui e ficar me culpando pela maneira como eduquei meu filho! Apenas tentei concertar nele os erros que cometi com você!... Aquela garotinha sangue-ruim não irá ganhar!
As portas do escritório se abriram e Richardson entrou dizendo:
- O trouxemos, senhora.
E com um sinal dele, dois seguranças entraram trazendo Doumajyd. Ele ainda estava amarrado, porém com mais cordas para que os movimentos fossem totalmente anulados, e agora também havia sido amordaçado.
- Chris! O que fizeram com ele?! – indignada, Christinne correu em socorro do irmão, mas paralisou no meio do caminho.
- Saia, Christinne! – ordenou sua mãe, retirando o feitiço de congelamento que havia acabado de lançar nela para que não libertasse o irmão. – Saia ou a forçarei a sair com um encantamento!
Christinne estreitou os olhos, furiosa, e então obedeceu, sussurrando para o irmão que estaria ali fora caso precisasse. Depois dela, Richardson e os outros também saíram.
Rindo da atitude da filha, a senhora Doumajyd se aproximou do filho, que procurava lhe lançar o olhar mais mortal possível, já que essa era a única maneira de demonstrar o que ele pensava de tudo aquilo.
- Não me olhe assim, Christopher. Se eu não fizesse isso, você nunca ouviria o que eu tenho para lhe dizer, não é?... Promete que irá me ouvir?
Ao exemplo da irmã, ele não teve como negar, e concordou. Então com um aceno de varinha, a bruxa fez com que as cordas e mordaça sumissem instantaneamente.
- Eu quero ir assistir a Mary! – exigiu ele assim que pôde falar novamente.
- Sua noiva também está participando. – lembrou-lhe gentilmente sua mãe – Não tem como a sangue-ruim ganhar.
- Mary é o tipo de garota que agüenta qualquer dificuldade! – afirmou Doumajyd – Ela já chegou até aqui e você não conseguiu impedi-la!
- Então... – a senhora Doumajyd voltou a sua escrivaninha e sentou, como quem estava para começar uma negociação – Se ela não ganhar... você irá me ouvir?
- Como assim? – perguntou ele desconfiado.
- Se ela ganhar, eu vou concordar com qualquer coisa que você disser. – propôs a senhora Doumajyd – Porém, se ela não ganhar, você deverá me obedecer... Concorda com isso?
Doumajyd avaliou a situação por um tempo e então concordou com um aceno de cabeça. A bruxa sorriu de uma maneira que sugeria uma vitória sem dificuldades e então acrescentou:
- Um bruxo sabe que as suas palavras têm poder, e por isso honra o que promete.
- O mesmo vale para você! – ele retrucou e saiu, sem dizer mais nada, para voltar o Totalmente Bruxa.


***


- Para a nossa terceira fase, o tema será... – o apresentador trocou os dizeres do painel – Diretamente da França!
Instantaneamente, vários cabides com roupas surgiram pelo palco atrás das competidoras e permaneceram flutuando a poucos centímetros do chão.
- Toda essa coleção de roupas veio diretamente de Paris e estão à disposição das senhoritas para que usem sua criatividade em moda bruxa! Sintam-se a vontade para escolherem o que quiserem! Vocês têm três minutos para escolherem e voltarem aos bastidores para se trocarem. Em dez minutos começaremos a chamar as competidoras pelos números e vocês irão desfilar e receber a aprovação ou não dos nossos juízes e platéia!... Por favor escolham as roupas e boa sorte!
Todas as garotas correram para os cabides para poderem escolher algo adequado. Karina Crowley escolheu facilmente e seguiu para os bastidores. Mary, pelo contrário, estava completamente perdida. Poderia saber algo de moda trouxa, mas não estava totalmente familiarizada com o que bruxas da alta sociedade usavam, principalmente se essa moda vinha de Paris.
Ao perceber que seu tempo estava acabando, por ter sido a única que sobrara no palco, Mary apenas fechou os olhos e pegou o primeiro cabide que sua mão alcançou. Então correu para os bastidores torcendo para que fosse pelo menos algo que lhe servisse.


***


Mary olhou para a roupa que escolhera e soltou um longo suspiro.
Se parecia muito com um vestido medieval, o que era o problema, já que muitas bruxas em Hogsmeade usavam coisas semelhantes... mas a estampa sim era o problema. Ela lembrava muito um sofá antigo que sua tia que morava no interior tinha e que havia herdado de sua sogra. Tinha um fundo creme e era repleto de desenhos de florzinhas coloridas, e os babados exagerados não ajudavam em nada.
Ela estava decidindo se sairia correndo e desistiria da competição ou se arriscaria a entrar com aquilo mesmo, quando alguém chegou perto dela e a chamou:
- Mary? Posso falar com você?
Ela encarou surpresa a aluna loira da Sonserina e disse, não tendo como negar:
- Claro.
- Eu pensei e decidi que somente hoje vou ficar do seu lado. – anunciou ela.
- ...Ahm, valeu.
- Não suporto nenhuma das outras alunas de Hogwarts que estão participando desse concurso, e já que Doumajyd está torcendo por você, decidi torcer também.
Na verdade, Doumajyd não estava exatamente torcendo para ela. O banco ao lado de Hainault continuava vazio.
- Então faça o seu melhor, mesmo sendo uma sangue-ruim, e não tendo a mínima chance contra aquela nojenta da Crowley! – e ela saiu, tão sem explicação como havia chegado.
Mary tentou processar aquilo. Candalla, ou melhor, Candy deveria estar com algum tipo de febre por ter perdido logo na primeira etapa da competição ou coisa assim, por isso viera falar com ela. Porém, antes que ela conseguisse achar uma lógica em ser apoiada por alguém que a detestava, outra pessoa a chamou:
- Weed, não? – perguntou Karina Crowley se aproximando.
- Si-sim. – respondeu Mary, não conseguindo disfarçar que não se sentia muito confortável ao falar com ela.
- Desculpe por não ter me apresentado aquela hora que nos vimos antes da competição. Sou Karina Crowley.
- Mary, Mary Ann Weed... Muito prazer. – acrescentou ela tentando parecer muito bem educada.
- Me desculpe se eu parecer rude, – começou Karina parecendo preocupada com algo – mas qual é a sua relação com Christopher Doumajyd?
Pronto. Ela perguntara justo a coisa que Mary menos queria que ela perguntasse. Como ela iria falar para a noiva de Doumajyd qual era a sua relação com o dragão?
- Ela é a garota por quem o Chris está completamente apaixonado! – ajudou gentilmente Sarah Swan, se metendo na conversa sem ser chamada.
Karina parecia ter engolido um sapo, e não conseguiu falar coisa alguma diante daquilo. Apenas permaneceu olhando incrédula para Mary, como se ela fosse uma aparição de outro mundo.
- Na verdade... – Mary procurou uma maneira de consertar a situação, mas não conseguia pensar em nada, já que o que Sarah dissera era completamente verdade – Aconteceram uma série de coisas e-
- Essa é a sua roupa? – perguntou Sarah com uma careta, olhando para algo atrás dela.
- É que eu não consegui escolher... – Mary disse virando para pegar as vestes, mas ficou branca assim que as viu – Aaaahhh! O que é isso?!
Era a mesma roupa, mas estava toda rasgada como não estava até poucos segundos atrás.
- Você vai vestir isso? – perguntou Sarah rindo e saindo – Boa sorte, Mary!
- Inacreditável... – resmungou Mary horrorizada segurando as vestes na sua frente, mais perdida do que estava no momento em que teve que escolhê-las – O que faço agora?


***


Quando Karina Crowley desfilou, a platéia, principalmente a ala masculina, não poupou aplausos e assovios.
- Ela é um espetáculo! – MacGilleain só não ficou em pé para aplaudir em respeito à Mary, mas faltou pouco para isso.
- Tinha que ser a Karina! – concordou Nissenson.
Ao ouvirem isso, Vicky e a professora Karoline viraram para trás encarando os dragões com expressões sérias:
- Quer dizer que era mentira o fato de você gostar de mulheres mais velhas, Adam? – perguntou a professora.
- Você parece gostar dessa Karina, Simon! – acusou Vicky demonstrando não ter gostado nada do comentário dele.
Diante da reação delas, os dois pararam de bater palmas e se afundaram em seus bancos, calados.
- Então é verdade! – choramingaram as duas juntas.
- Aquela não é amiga maníaca da Mary? – perguntou Hainault, tentando salvar os amigos.
As duas voltaram a olhar para frente e acabaram se esquecendo da inquisição contra os dragões ao começarem a comentar como que Sarah era totalmente sem graça e como aquele laço rosa não combinava em nada com as vestes que ela escolhera.


***


Mary estendeu as suas vestes rasgadas em um canto vazio do camarim e as encarou por um tempo. Então pegou decidida a sua varinha, cruzou os dedos e começou a trabalhar. Se criatividade era o que eles queriam, ela iria apostar tudo nisso.


***


- A Mary não usa roupas assim. – suspirava a mãe de Mary analisando cada uma das candidatas que desfilavam – Será que ela vai saber o que usar?
- Para mim parece mais um desfile de fantasias. – comentou Charles.
- Ela deve saber o que fazer. – disse o pai de Mary segurando o pano da faixa firmemente nas mãos, tentando se acalmar por estar tão nervoso como se estivesse participando também da competição.
- Número 28: Mary Ann Weed! – anunciou o apresentador e a orquestra trocou o tom da música que tocava, como faziam com cada competidora que entrava.
- Mas o que é isso? – perguntou Nissenson assim que a viu – A roupa dela está totalmente rasgada?
Mary caminhou até a frente do palco, não muito segura do que estava fazendo, mas tentando andar como sua instrutora havia falado. Também tentou permanecer inabalável pelos comentários e risos vindos da platéia.
Ela tinha feito o melhor que podia com aqueles rasgos. Usando a varinha, ela cortara ainda mais a roupa, mas de um jeito elaborado, que faziam os buracos e cortes parecerem extremamente planejados. Do tecido cortado, ela fizera tiras e as usou nas vestes para ajeitar os babados e para criar efeitos que ela havia visto em uma revista trouxa sobre moda no último natal.
- Alguém fez isso com ela! – protestou Vicky – Garanto que foi aquela loira desclassificada!
- E agora? – perguntou a professora Karoline – Ela vai perder?
- Na verdade está bom. – disse Hainault simplesmente.
Todos o encararam, mas ele apenas sorriu calmamente, como se dissesse que não era para eles se preocuparem que iriam ver.
- TRES BIEN! – gritou um bruxo se levantando entre os juízes.
- Ah, não! – quase chorou a mãe de Mary – Estão brigando com ela! Nem mesmo em um concurso nossa Mary consegue se livrar da má sorte da nossa família!
Mas ao contrário da mãe de Mary, a maioria da platéia olhava incrédula para o juiz de pé. Este continuava falando várias coisas em francês muito rápido e parecendo extremamente empolgado.
Mary esquecera que deveria desfilar e ficou parada no meio do palco, tentando entender o que ele dizia.
- O que ele está dizendo? – perguntou Vicky curiosa, não entendendo uma única palavra.
- Ele deve estar irritado e chocado. – sugeriu a professora.
- Ele está elogiando! – explicaram Nissenson e MacGilleain ao mesmo tempo, não sabendo se riam ou se ficavam espantados.
- Ele disse coisas como belo, fantástico e perfeito. – Hainault foi mais específico em sua explicação.
- Com isso, – disse o apresentador assim que o juiz sentou fazendo um sinal de positivo para Mary e batendo palmas, seguido pelos outros juízes – A senhorita Weed passa automaticamente para a segunda etapa!
- Nãããããããõoooo! – Candalla berrou do seu lugar na platéia ao fundo, onde estava sentada com as outras duas meninas da Sonserina.
- Eu sabia que havia sido ela! – exclamou Vicky comemorando junto com a professora e os pais e irmão de Mary.
Depois de Mary, somente mais quatro garotas foram escolhidas para continuar na competição. Uma delas era Karina Crowley, e Sarah Swan não fora chamada.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.