SEVERUS - CAPÍTULO ÚNICO



Severus
uma fic em um capítulo

O fragmento deste diário foi encontrado por um trouxa "funcionário do serviço de limpeza pública" há aproximadamente dez anos


Acordo, saio dos meus aposentos e dirijo-me ao pequeno banheiro no final do corredor de minha modesta casa num dos cantos mais remotos da Inglaterra. Costumava viver só aqui, mas agora tenho um hospede comigo. Não que eu o aprove – odeio-o. Na verdade, desprezo-o; o desprezível Rabicho não é bom (ou mau) o suficiente para ser odiado. Penso que o Lorde das Trevas deveria eliminá-lo de uma vez ao invés de obrigar-me a suportá-lo sob meu teto. Contudo, creio que seja proveitoso para Ele ter certos “ratos” na manga.

São duas horas da manhã. Estou de pé uma hora dessas por que os pesadelos não me permitem dormir em paz. Rolo de um lado para o outro na cama e ela me persegue. Ela sempre me perseguiu em meus pensamentos.

Existe uma passagem secreta – se preferir chamar assim – no banheiro. A passagem leva ao meu laboratório. Sei que o Lorde das Trevas possuem agentes que vigiam seus servos, mas este aposento foge completamente ao conhecimento Dele e ao de qualquer outra pessoa.

Fecho minha mente e uso magia poderosa para esconder minha presença. Então entro no meu laboratório através de uma chave de portal escondida dentro da descarga da privada. E, afinal, estou livre. Enfim, livre.

Minha penseira está pousada numa bancada logo adiante, rodeada de poções coloridas e quentes, postas ali para esfriarem.

Pego minha varinha do bolso da túnica e retiro rapidamente do cérebro aqueles pensamentos horríveis que tanto me atormentam. E logo eles desaparecem dentro de um oceano de lembranças e sonhos antigos.

Mas, é claro, ainda continuo pensando nela. Isso de remover os pesadelos mais incômodos é apenas um alívio imediato para uma dor de cabeça muito profunda. Tão profunda, que às vezes, se me concentro, posso a até mesmo sentir o perfume dela. Cheirava a lírios do campo.

Vasculho as incontáveis prateleiras que me cercam a procura de um pequeno frasco em particular. Após uma longa busca, encontro-o entre dois vidros grandes de “iodo de escaravelho”. Este pequeno frasco guarda um precioso líquido cinza sem o qual minha existência seria ainda mais amaldiçoada: as lágrimas de Morpheus. Provavelmente, a única cura conhecida em todo o mundo mágico para os sofrimentos indômitos do amor.

Um instante antes de derramar uma única e medida dose da poção na garganta, porém, deixo que a lembrança dela se instale com força na minha alma.

Ah, eu quase posso senti-la viva novamente. Seus lábios rubros combinando com o cabelo. A pele branca como uma figura de porcelana. E, como sempre acontecia no final dessas alucinações, a cor vivaz e intensa daqueles olhos.

Os olhos que também eram os olhos do menino... Quanta injustiça ele ter herdado os olhos dela!

Tomo a poção e fico bem. Só que não totalmente bem. Com a dor, esvaece também alguma coisa no meu peito, restando um frio seco, irrequieto, que me faz sentir medo e solidão. Entrementes, fortaleço-me de novo.

Agora cá estou eu escrevendo neste pedaço de pergaminho. Pergunto-me: por quê? Tremo de medo e raiva apenas por imaginar que alguém possa lê-lo e vislumbrar, nem que por infimidade de detalhes, o segredo mais profundo do meu ser. Sendo assim, por que escrevo este diário que amontoa há anos na gaveta desta escrivaninha? Por quê?

Talvez porque isto também seja uma espécie de fuga... Quando escrevo a respeito dessas coisas, elas parecem ficar mais tempo longe de mim. Fico mais tempo sóbrio e posso pensar com mais clareza nos meus planos.

Aliás, hoje, logo ao amanhecer, terei que ir ao encontro do diretor. Ele quer saber mais detalhes sobre a visita inoportuna de Narcisa. Parece que a Ordem também tem seus vigias... O que devo contar ao velho?

Ah, droga, acho que vou dormir um pouco e depois me decidir quanto a isso. O sono começa finalmente a me abater.

Sinto-me bem: a lembrança dela se foi.


Escrito e finalizado em 15 de abril de 2007.

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