Investida



Harry estava sentado no sofá da sala, seus olhos fixos na lareira a sua frente, mas sua mente estava perdida em pensamentos, revisando as conclusões da ordem e as suas próprias. Contudo, um cheiro familiar lhe buscou e o trouxe a realidade, a tempo de sentir algo quente se aproximar, seguido de um toque suave em seu pescoço.

-Bom dia! –Hermione fala dando a volta no sofá e sentando em seu colo.

-Bom dia. –Responde um pouco sem jeito, mas se apressando em beijar-lhe o rosto. –Dormiu bem? –Ela responde com um “hunrum” antes de tocar-lhe os lábios suavemente, beijando-o sem pressa. –Desculpe, eu ainda estou me acostumando com isso tudo.

-Não tem que se desculpar, muitos casais não ficam o tempo todo se beijando. Eu é que gosto de beijar você. –Confessa com um sussurro, seu rosto adquirindo um tom róseo, que a deixou ainda mais bela a sua visão.

-Eu também gosto muito de beijar você. –Apesar de se sentir nervoso, responde sorrindo e depois retribuindo o beijo.

-Você parece preocupado, como se uma parte de você não estivesse aqui. –Ela fala olhando-o nos olhos, seu indicador passando pela cicatriz em forma de raio.

-Tenho pensado em algo, mas não sei se é uma boa idéia. –Responde incerto, novamente ganhando um ar distante.

-Me conta. Quem sabe eu não possa te ajudar. –Ela tinha um tom compreensivo e confortável que ele adorava e que o faria dizer qualquer coisa.

-Eu, em comparação com bruxos, sou muito habilidoso mentalmente. Pensei então em aproveitar minha ligação com Voldemort para poder entrar na mente dele. –O rosto dela mostrava que ela entendera bem o quão perigoso aquilo seria.

-Quais seriam os riscos? –A pergunta era exatamente o que ele tentava mensurar.

-Ele não deve estar esperando um ataque, então as defesas não devem estar muito altas. Eu teria, portanto, uma chance. Teria que ser uma investida muito forte, além de muito precisa. Eu apenas veria uma ou duas coisas, antes de ter que sair.

-E neste processo suas defesas ficariam baixas? –Não era tanto uma pergunta, era mais um pedido de confirmação.

-Eu não posso manter defesas, quando tenho que estar tão concentrado no que quero ver. –Aquilo era um problema, pois Voldemort poderia ver coisas altamente secretas como a localização da sede da ordem ou mesmo detalhes sobre sua família.

-E se você treinar esse tipo de ofensiva? Poderia usar Rony e eu como cobaias. –Hermione sugere, mas Harry ri de sua inocência.

-Se eu os atacasse tão fortemente, suas mentes poderiam sofrer lesões permanentes, além disto, preciso guardar minhas forças para o ataque, não poderia estar minimamente cansado. –Agora ela parecia entender o porquê daquela decisão ser tão difícil.

-Rony e eu poderíamos ficar por perto, te protegendo, despertando-o quando não estivesse seguro. –Ela arrisca, assim como ele percebendo o quanto a chance era boa, apesar dos riscos.

-Poderia ser, temos que falar com ele. Aliás, você tem que comer. –Lembra que ela havia acabado de acordar.

-Você me faz companhia? –Pergunta parecendo incerta sobre se afastar dele.

-Sempre. –Fora uma resposta simples, mas que havia dito tudo.

Ambos se levantam e seguem de mãos dadas até a cozinha, onde os Weasley tomavam café e conversavam animados sobre os presentes de natal e como os usariam naquele dia.

-Mãos dadas? –Gina pergunta com malícia ao vê-los e fazendo os outros também pararem para olhá-los.

-Estamos namorando. –Hermione responde muito concentrada nas torradas.

-Você trocou Vitor Krum, por ele? –Algo na voz de Rony fazia parecer que aquilo fora uma grande burrice da parte dela.

-Rony, tudo bem você ser fã do Krum, qualquer amante de quadribol é. Porém, sejamos realistas, mesmo que Harry não fosse famoso e rico, ainda sim seria uma ótima troca, ou você não se lembra de quando ele entrou seminu no salão principal? –Gina fala como se aquela fosse a coisa mais óbvia do mundo, deixando o jovem casal sem jeito.

-Seminu no salão principal? –A Sra. Weasley parecia chocada com aquela afirmação e olhava para Harry desaprovadora.

-Ele havia acabado de nadar e não conhecia bem nossos costumes, mas estava apenas sem camisa. –Hermione tenta minimizar e explicar um pouco a situação.

-Eu não entendo o porquê vocês são tão obsessivos com roupas. Em Almarém nadávamos nus no rio e andávamos sem camisa nos dias de sol forte. –Harry fala em tom normal, sem realmente entender o porquê do tom reprovador da matriarca Weasley.

-Eu concordo com você, não vejo porque toda essa ditadura de roupas. –Gina fala com um sorriso maroto, olhando para Harry, pelo menos até que seu copo de suco caiu sobre si. –Oh, droga...

-Melhor tirar a camisa e lavar antes que manche. –Hermione fala em tom forçadamente normal, ao que Gina sai rapidamente em direção ao quarto.

-Acho que as meninas vão ter muitos problemas com manchas de suco de abóbora esse ano! –Fred fala olhando para Hermione, que sorri de canto.

-Onde está a monitora certinha e contra violência? –Rony provoca encarando Hermione, que ergue a sobrancelha enquanto termina de engolir a torrada.

-Eu estou simplesmente comendo, Ronald, coisa que eu espero que você faça para que iniciemos nosso treino, ou já se esqueceu dele? –Hermione responde tranquilamente, fazendo Harry esconder um sorriso diante da expressão frustrada do amigo, que odiava perder para Hermione nos treinos.

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Naquele dia em especial, havia membros da ordem sentados em cadeiras a beira da sala de treino, eles veriam o treinamento dado por Harry e avaliariam o potencial do rapaz. Era para Sirius estar entre eles, mas Harry acara de ser avisado de que o padrinho fora ferido em uma ação da ordem e que estava no St. Mungus, o estado não era grave, mas requeria cuidados e, por isso, só poderia receber visitas no dia seguinte.

Jorge, Fred, Rony e Gina estavam sentados junto a eles e, no centro da sala, onde o chão não tinha piso, estavam Harry e Hermione, um de frente para o outro.

-Hoje não vamos dividir o treino em elementos, então pode vir com tudo. –Harry fala a Hermione, que faz um gesto antes de assumir posição de ataque.

Ela deu um passo atrás, fez um movimento forte com o braço esquerdo para trás e então bateu o pé direito fortemente, fazendo uma esfera rochosa subir e depois a fazendo partir na direção de Harry com força, como se empurrada com o braço recuado.

Harry fez um movimento como se socasse a rocha, mas deixando-a em centenas de pedaços antes de tocá-la, logo depois fazendo os pedaços partirem como uma rajada de metralhadora na direção de Hermione, que com um movimento amplo fez um escudo de fogo, o qual repeliu as pedras.

-Muito bom, quase derreteu as rochas. –Harry elogia, mas faz um sinal para que ela o ataque.

Hermione não questionou, deu três passos rápidos para frente e saltou, fazendo um veloz movimento com as mãos, que lançou uma pequena onda de fogo na direção de Harry. Este girou em torno de si mesmo, fazendo um globo de vento a sua volta, que fez as chamas se voltarem contra Hermione. Antes mesmo de tocar o chão, Hermione ergueu uma parede de pedra e se protegeu do fogo, porém Harry gira e atinge a parede de pedra com as duas mãos espalmadas, fazendo estacas pontiagudas de rocha jogarem Hermione para trás.

-Ela está sangrando? –Gina pergunta assustada, assim que viu a parede ser desfeita.

-Acho que está. –Responde um dos homens ao seu lado, hipnotizado pela luta.

Agora Harry lançava diversos feitiços em Hermione, que tentava se manter protegida com um escudo mágico. Porém um jato roxo explodiu o escudo e lançou Hermione para trás.

-Melhor pegar sua varinha, senão vou acabar com você em um segundo. –Harry avisa-a seriamente.

-Eu ainda posso lutar. –Hermione se levanta um pouco arfante, havia sangue em seu ombro, mais um pouco acima da cintura e um filete espesso escorria de seu supercílio direito.

Ela faz um movimento brusco com a mão direita, então outro com a esquerda atraindo ele para si, acertando-lhe uma joelhada na altura do rim, depois acertando-o com um soco na face. A seqüência não durou nem um minuto e fora o suficiente para deixar ao menos uma marca roxa no olho de Harry.

-Me distraiu bem, mas devia ter seguido meu conselho. –Harry fala enquanto se defende de um chute na altura do tronco, empurrando a perna dela para cima e passando o pé pela outra.

Hermione caiu e logo rolou, se levantando rapidamente, mas logo sendo atingida por um chute na barriga, seguido de um soco na face e então uma bola de fogo na altura do peito, mas este último fora defendido com um feitiço escudo.

Sem se render, Hermione envolveu suas mãos e pés com rocha e partiu para cima de Harry, tentando atingi-lo fisicamente e quando ele desviava tentando atingi-lo com fogo. Harry aproveitou um movimento em falso para atirá-la dois metros para trás com um forte golpe de ar, que causou um corte diagonal na barriga dela, que a seguir teve que se defender de uma forte rajada de fogo.

A pedra em suas mãos derreteu, causando-lhe queimaduras graves, mas ela contra atacou com um feitiço, acertando o ombro do Harry, que sem dar tempo para qualquer outra reação, lançou-lhe um feitiço estuporante que a arremessou contra a parede, que chegou a rachar.

-Cara, se ele fez isso com a namorada, imagine com a gente! –Fred fala abismado, suas mãos tremiam.

-Namorada? Ela é namorada dele? –Vance pergunta pasmada.

-Eles começaram a namorar ontem à noite e ele é louco por ela. –Rony responde sem mesmo pensar, enquanto via Harry erguer Hermione do chão com todo cuidado e colocá-la sobre uma maca que estava em outro canto da sala.

-Estamos mortos! –Jorge conclui em total desânimo.

-Deixem de ser frouxos! Podem vir os quatro juntos, eu não me importo. –Harry fala se voltando para eles, demonstrando que ouvira a conversa sussurrada.

-Os irmãos trocaram olhares, não poderiam ser chamados de frouxos e se estivessem em quatro poderiam ter alguma chance.

Os membros da ordem viram os quatro ficarem a norte, sul, leste e oeste de Harry, iriam atacar em conjunto e assim obrigá-lo a se defender tanto, que mal poderia atacar. Teria sido uma ótima tática, no entanto após uma seqüência de três feitiços síncronos, Harry usou um elemento em cada um para imobilizá-los e depois bateu fisicamente nos quatro, desviando de seus feitiços e imobilizando-os em cinco minutos.

-Bravo! –Moody fala empolgado, seus olhos verificavam as fraturas ósseas dos cinco desafiantes e constatava que Harry só tinha ferimentos leves. –Temos que colocar esse garoto em campo, não importa o que Dumbledore fale, ele é uma arma boa demais para se desperdiçar.

-Ele ainda é menor de idade, Sirius é seu responsável e não acredito que ele libere Harry para lutar. –Vance alerta mantendo os pés no chão e vendo que Harry não parecia feliz com aquela constatação.


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Após ser expulso do quarto pelos gêmeos e Rony, que provavelmente aprontariam algo e não queriam alguém que não mente por perto. Harry resolve procurar Hermione, encontrando sua mente na biblioteca da casa, onde estudava o dicionário com o qual a havia presenteado. Silenciosamente entrou no cômodo, observando-a fazer anotações em um pergaminho, mordia os lábios em sinal de concentração.

-O que está fazendo? –Pergunta sobressaltando-a.

-Só estudando. –Responde escondendo o pergaminho rapidamente e fechando o dicionário.

-E eu não posso ver? Quem sabe poderia te ajudar... –Tenta distraí-la enquanto se aproximava, tentando discretamente ver algo.

-Nem pense nisso, até porque é uma surpresa e você não vai estragar, não é? –Fala se colocando entre ele e a mesa, na frente do livro.

-Não mereço nem uma dica? –Pergunta fazendo uma carinha que ela dizia fofa e irresistível.

-Não! E nem tente fazer essa chantagem comigo! –O avisa com um olhar sério, mas deixando que a abraçasse, no entanto um algo luminoso passa por eles os sobressaltando.

-Fawkes! Que bom te rever, trouxe novidades? –Harry havia esticado o braço para ela pousar e agora lhe acariciava a cabeça.

-Tem uma carta com ela. –Hermione fala e Harry assente, abaixando a mão e esperando que ave lhe desse permissão para só então pegar a carta.

-Obrigada, Fawkes, você é uma grande amiga. –A ave pia longamente e depois levanta vôo, desaparecendo após dar um giro pela biblioteca. –É de Almarém, talvez tenha a resposta para o problema dos Longbottom.

-Nesse caso, melhor abrir logo. –Harry se senta em uma poltrona enquanto abria o envelope, sentindo o perfume floral que costumava preencher o castelo. –Está em élfico? –Pergunta vendo uma série de desenhos no pergaminho, que pareciam formar um texto.

-Sim. Depois posso te ensinar se quiser. –Ela não precisaria responder, o brilho em seus olhos já dizia tudo. –Tem uma poção que deve ser feita e tomada como medicação por um tempo, se ela estiver apresentando resultado tem outra para dar a eles. Tem alguns pequenos efeitos colaterais, mas como estão em um hospital, creio que não há problemas. –Diz após vasculhar o texto em busca da informação desejada.

-E ela está otimista quanto à melhora deles? –Hermione parecia tensa e Harry rapidamente leu as linhas que seguiam a fórmula.

-Löte diz que como a lesão já tem muito tempo, pode ser complicado e a melhora dificilmente será total, mas ela acredita que possam ao menos ter uma vida normal outra vez. –Hermione soltou o ar que prendera, seus olhos estavam úmidos.

-Neville vai ficar exultante! Podemos sair amanhã para providenciar os ingredientes. –Hermione parecia subitamente animada, algo que ele também sentia. Era maravilhoso imaginar que poderia reaproximar pais e filho.

-Sim, vamos falar com a Sra. Weasley, creio que precisaremos da ajuda dela. –Hermione concordou de imediato, já se levantando para seguir com ele, certa de que a matriarca Weasley ficaria tão emocionada e empolgada quanto eles.

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À noite, como haviam combinado, Rony e Hermione estavam ao lado de Harry, que meditava em silêncio, os olhos fechados, estava se preparando para tentar invadir a mente de Voldemort, por isso buscou em sua mente as sensações de quando ele lhe “invadia” os sonhos, achando a trilha que o levaria à mente do inimigo.



O sol não raiava. O nevoeiro cerrado preenchia o ambiente possantemente. Harry não soube precisar onde estava, mas sabia que já tinha estado lá... o mesmo cheiro... o aspecto... o frio... A mansão dos Riddle...

A imagem de um rapaz delgado, assustadoramente pálido e encolhido num canto escuro dentro de um casebre assombrou-lhe a lembrança.
O espaço circundante à mansão era horrível, o envelhecimento era plenamente visível, o muro de pedra e um enorme e enferrujado portão de ferro estavam num estado lamentável. O muro encontrava-se todo rachado e coberto de plantas trepadeiras. O portão estava parcialmente derrubado, coberto de ferrugem e plantas que cresciam por todos os lados. À sua frente, estava um caminho de pedras envelhecido como tudo ali, que conduzia à mansão igualmente de paredes gastas pelo lento passar dos anos.

Harry hesitou, porém, caminhou em direcção à grandiosa porta castanha. Os passos eram acompanhados pelo barulho que o vento propiciava quando roçava nas altas sequóias de um lado e outro do caminho... Harry não sabia assinalar se era dia ou noite...

Olhou para o céu... Não havia amanhecido... Uma completa e profunda sombra imperava em todo o céu, em toda a terra... Uma sombra inexplicável, de origem absurdamente desconhecida...

Um arrepio passou pelo corpo de Harry... dominou-o... Sentiu-se oprimido por angustiante dúvida de continuar ou não.

Onde aquele caminho o iria conduzir?... Essa era a pergunta que seguramente assolava-lhe a mente. Era uma penumbra hedionda... Colocou a mão, pronto pra rodar a maçaneta coberto de camadas de poeira...

Harry fechou os olhos e concentrou-se no que queria ver...Ele...

E de um momento pra outro...estava num outro espaço.

Assemelhava-se a uma sala. Era ampla, sendo a maior parte dela coberta por uma densa escuridão, conquanto sabia que Ele estava lá, como sempre esteve, e podia-se avistar a sua figura fantasmagórica com uma débil luminosidade raquítica. As negras vestes fúnebres cobriam um corpo cadavérico, pálido e moribunda por trás de uma espessa sombra. A pouca luz penetrava através de uma grande janela cortando as partículas de poeira suspensas no ar. Os carregados cortinados proporcionavam uma vista para um cemitério...lápides e cruzes, túmulos cobertos de mato, um decrépito mausoléu rachado e igualmente coberto de plantas podia ser visto no meio do lugar, as cruzes ao invés de uma haste horizontal, possuíam duas hastes, algumas pendiam quebradas. Indivíduos encapuzados estavam na frente do velho portão de ferro, outros vultos estavam de pé junto aos túmulos.

Um forte cheiro nauseante tomou conta da sala, causando nele ânsias de vómitos... Quem seriam aquelas pessoas? Que mau cheiro horrível era aquele? O que aquelas pessoas estavam fazendo? As perguntas foram-se alojando mais e mais na mente de Harry. O cheiro foi-se intensificando... Por momentos, Harry pensou que vinha de carnes em decomposição que estavam ali depositados naquele cemitério, exalando um cheiro de podridão insuportável... Afastou-se da janela e os olhos verdes recaíram novamente sobre o vulto que flutuava lentamente de um lado e de outro. Agora uma outra figura acompanhava-o. Era um homem baixo e corpulento. Continha uma aflição no rosto donde escorria gotas de suor que findavam nas vestes pesadas e apertadas. Movia-se rapidamente entre passos curtos atrás de Voldemort, arregalando para um canto mergulhado na sombra duas enormes e matreiras pupilas negras. Só então Harry se apercebeu da presença de uma quarta pessoa naquela sala. Alguém amarrado, pronunciava palavras sem nexo... Entre choros, de joelhos bradava lamentos e pedia compaixão àquele ser desfigurado, frio e desprovido de qualquer tipo de sentimento ou emoção. Harry sabia que Voldemort ria por dentro. Ria para que ele, Harry visse até onde a sua tamanha e devassa barbaridade alguma vez chegaria. Os olhos brilhavam perversamente...

Como um predador que anda à volta da presa já capturada, parecia não ter pressa, querendo saborear... cada fragmento... daquele instante...cada som que atravessava...que provinha daquele ser ajoelhado...curvado...fraco...a humilhar-se... perante si. Voldemort respirou profundamente, absorvendo deleitosamente o ar. Por momentos...segundos que pareciam intermináveis os longos e gélidos dedos brancos como cal levantou a varinha num gesto único e finório... Harry teve intenção de correr em socorro da pobre criatura que daí a instantes poderia estar sem vida, porém sentiu-se preso. Os pés não obedeciam ao seu comando e muito menos as mãos ou qualquer outra parte do seu corpo. Estava paralisado. Era como se todo o seu corpo tivesse sido dominado e preso naquele lugar. Então, na penumbra, Voldemort dirigiu-lhe um olhar grave...demorado. Os olhos vermelhos deleitavam-se com a crueza... na ânsia de algo... e uma certa animalidade dominou-os. A demora de tudo aquilo agonizava Harry que se sentia impotente... Tinha de fazer algo...algo...algo...O quê?...O quê?... Daí a segundos...Não poderia permitir...Não iria consentir... não debaixo dos seus olhos...não...Leu-lhe nos olhos... O que Voldemort preparava-se pra fazer era atroz e bárbaro... erguia a varinha com determinação e num gesto eficaz um feixe de luz foi projectada da varinha em direcção ao sujeito ajoelhado a um metro de distância...este gritava de dor, um grito violento que lhe irrompia da garganta...suplicando agora mais do que nunca por perdão... Perdão essa que Voldemort ponderava ironicamente...

Enquanto isso, uma poça de sangue já se formava à volta do sujeito...um membro estendia-se ali ao lado... Harry identificou-o como sendo um braço... Voldemort tinha-lhe arrancado perversamente o braço deixando parte da carne visível...

O indivíduo gordo que andava atrás de Voldemort sorriu discretamente mostrando os dentes amarelados ao mesmo tempo que sustentava um olhar de terror...

A única coisa que se passava pela cabeça de Harry era aquele novo cheiro... a sala toda tinha um cheiro impossível e forte a sangue...

Voldemort lançou um último olhar vitorioso àquele que parecia ser ali o intruso e em simultâneo o convidado... desdenhou-se-lhe um riso nos finos e secos lábios pálidos... E de novo levantou a varinha para a ‘diversão’, que jorrava sangue abundantemente...no mesmo tom grave... E mais uma vez, Harry decifrou as palavras que brevemente atravessariam aqueles lábios: Avada Kedavra... E então, Harry viu-se obrigado a reunir todas as suas forças...era uma vida que estava ali correndo perigo, aquele jogo perverso tinha de terminar...aquela distracção... passatempo...entretenimento era bárbaro... Lentamente, ainda tentando sair daquela estagnação, levou à mão ao bolso do jeans...segundos depois já estava empunhando a sua varinha, porém ainda com dificuldade... um feixe de luz atravessou a sala em direcção à Voldemort...


Nesse instante, Harry sentiu-se sugado como se Voldemort o estivesse expulsando de sua mente. Acordou estonteado. Rony lhe segurava e o mantinha sentado, enquanto Hermione lhe vazia beber um líquido quente e azedo, uma poção fortificante para que estabelecesse um pouco das forças.

Harry abriu e fechou a boca algumas vezes, fazia um grande esforço para manter os olhos abertos e focados. Então, como se percebendo o esforço de Harry, Hermione indicou que Rony o deitasse, enquanto deixava o frasco com a poção de lado.

-Não se esforce, teremos tempo pra conversar amanhã. –Hermione se deitava ao lado dele e o abraçava protetoramente. –Apague a luz Rony, ele precisa dormir. –Rony concordou em silêncio e foi apagar a luz, ainda surpreso com o quanto o amigo havia ficado pálido e como marcas arroxeadas lhe surgiram sob os olhos.

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Harry voltou a St. Mungus. Havia o mesmo movimento desvairado da última vez que estivera lá para visitar Sr. Weasley, a mesma massa de feiticeiros impacientes ordenados numa fila, outros sentados. Os curandeiros andavam de um lado pra o outro, dando uma ou outra informação aqui e acolá a quem pedisse e logo desapareciam para dentro dos longos corredores. Harry não quis demorar-se na fila, onde já alguns feiticeiros murmuravam impacientes.

Percorreu com o olhar a sala de espera quando de repente, reconheceu num curandeiro, o rosto, o mesmo rosado e bonacheirão e os cabelos grisalhos, era o curandeiro que tratara de Sr. Weasley. Dirigiu-se à ele em passos largos, cumprimentando com um firme aperto de mão, perguntou se sabia onde se encontrava Sirius Black. Após uma breve discrição do que acontecera, Sr. William, ao que Harry passou a saber, indicou-lhe o quarto andar.

Harry seguiu os corredores estreitos, dos quais vagamente se lembrava, deixando-se guiar pelas inscrições que haviam nas paredes. Tomou as escadas até ao quarto andar e entrou por uma porta que em cima alardeava em letras grandes “Danos causados por feitiços”. O corredor esguio e comprido, tinha vários compartimentos, que eram enfermarias. Harry procurou por Enfermaria Jano Thickey, que minutos depois, ficou a saber que era a antepenúltima porta a esquerda.

A enfermaria em que Sirius estava ocupava o espaço de um pequeno quarto, suficientemente iluminado e de paredes despidas. Um cómodo, uma cama, uma cadeira e uma prateleira preenchiam o ambiente deixando alguns escassos espaços livres.

Harry pegou na única cadeira livre e sentou-se ao lado da cama. Uma compensa cobria-lhe quase toda a face direita do rosto, uma perna engessada repousava em cima de uma almofada. Observou Sirius que estava acordando. Tentou levantar-se sem sucesso e então ouviu uma voz grave ao lado. Mesmo sem se conseguir mexer, Sirius conseguia olhar de um lado e do outro. E então viu Harry sorridente como que lhe dando as boas vindas. Retribuiu um sorriso desalentado.

_Harry... – esforçou-se numa voz debilitada.

_É melhor não se movimentar, deve ter várias fracturas. Não encontrei o Dr. Jano Thickey para me explicar o que tinha...

_Sinto que é impossível me mover. Sinto o pé esquerdo imobilizado. Aliás, não sinto dor nenhuma, meu corpo todo deve estar imobilizado.

_Você nos deixou a todos preocupados. – Sirius riu ao ouvir isso.

_Não foi desta vez que vão ver Sirius Black partir desta pra a melhor...

_Quando o trouxeram pra cá, você foi levado numa maca e suspenderam as visitas desde então. Os curandeiros que te têm observado, dos quais, Dr. Jano Thickey disseram-nos que o seu estado era grave.

_Grave? Aff... – Sirius minimizou sarcasticamente.

_Uma perna partida, queimaduras no dorso e um corte que ocupa quase toda a face direito... Não te parece grave? – Harry perguntou tentando alertar sobre a seriedade dos ferimentos.

_Tirando isso tudo aí, me sinto bem, tão bem, que poderia sair hoje daqui. Isto aqui é insuportável... aborrecido, sabe. Ontem, quando acordei, tentei entender o que tinha acontecido. Colocar os pensamentos no lugar... A única coisa que passou pela minha cabeça foi sangue e feixes de luzes projectadas de varinhas, e então lembrei-me do que aconteceu. Acordei, ontem muito tarde, inúmeras vezes. Comecei a reparar que nem tinha noção das horas.

Acordava e logo de seguida dormia. E passei está manhã toda nisso. Parece que tempo não passa nesta enfermaria. E é tudo... tão branco. Não há nenhuma luz além dessa luz artificial. - disse apontando pra o candeeiro suspenso no teto.- Dormi muito. Perdi a vontade de olhar para isto. São sempre as mesmas. A velha cómoda branca. O teto branco. A janela pequena. Não posso nem caminhar por causa desta perna enfaixada. Não me lembrei de nada quando acordava. Sentia quando os curandeiros entravam e se aproximavam de mim pra aplicar algo que não lembro o que era. Pude até mesmo ver quem eram. Tentei falar... Mas nenhuma voz saía de minha boca. Minha cabeça estava um grande vazio, portanto, comparando à isso, posso dizer que me sinto relativamente bem, para além de que você está aqui, escuso de ficar preso a divagar. Portanto, já é qualquer coisa. E você como está?

_Bem, estou bem... – Harry limitou-se a responder olhando Sirius, à procura de algo que denunciasse falta de vitalidade no corpo magro.

_Conta-me novidades. O que tem acontecido. Você parece estar cansado. Está com um ar abatido. - Sirius reparou.

_Não tem acontecido nada demais ultimamente... E quanto ao meu ar abatido... bem, não dormi lá muito bem à noite.

_Aconteceu alguma coisa? São os pesadelos com Voldemort?

_Não... descansa que não tenho tido mais pesadelos. Foi apenas uma noite mal passada. – Harry disse num tom ponderado, omitia a verdade, porém não queria que as suas tentativas de penetrar na mente de Voldemort fossem motivo de preocupação para o padrinho.

_Hum... então espero que nada te esteja a preocupar.

_Absolutamente nada, a não ser a pressa que tenho de te ver sair dessa cama.

_Ninguém deseja mais isso do que eu mesmo, acredita... – Harry riu e admirou aquela vivacidade e viçosidade de Sirius mesmo depois do que lhe aconteceu.

Ambos estiveram calados durante uns segundos. Harry olhou com franqueza para aquele homem que considerava praticamente um pai. Invejava-lhe a experiência, tudo o que já passara e agora estava ali estendido naquela cama da enfermaria, porém pronto para regressar e combater por aquilo em que acredita.

_Quero pertencer a Ordem, ir nessas missões, ajudar a combater esses comensais... impedir que inocentes sejam mortos...

_Harry. - Sirius interrompeu. – Ainda não está na altura de você interferir nessas missões. Primeiro, porque não atingiu a maioridade e em segundo lugar porque apesar de reconhecer a sua valentia física, frontalidade. Sei que é bem capaz de mandar muitos comensais desta pra melhor. Os seus pais não quereriam e nem eu mesmo te quero ver metido numa guerra. Você é novo, tem toda uma vida pela frente. Deixa a guerra por nossa conta.

_Está falando como se ela fosse só sua, como se eu fosse... Se eu posso ser útil, porque não me deixa ajudar?

_Não, Harry. - a voz de Sirius saiu numa entonação firme e rígida fazendo com que Harry olhasse pra ele.

_Em termos de idade, terei de esperar ainda mais algum tempo e enquanto isso o que acontecerá? Teremos de ver Voldemort torturando pessoas inocentes? Matando por matar? Por passatempo? - Harry dizia andando de um lado pra o outro à frente de Sirius.

_Do que está falando? - ele quis saber. Harry notou que tinha falado demais. Respirou e voltou a sentar-se.

_Desta vez foram os comensais. Das próximas vezes pode bem ser Voldemort... é preciso reforçar os membros da Ordem... fazer algo... não nos limitarmos a responder apenas quando Voldemort decide mandar os Comensais atacar alguma região...

_ As notícias do Profeta Diário?

_Hã? – Harry questionou não conseguindo perceber.

_Não tenho lido o Profeta Diário. Apesar de o considerar um jornal inútil, às vezes até traz matérias interessantes.

_Você ouviu aquilo que eu disse?

_Ouvi, não é tempo, nem lugar pra falar disso. Para além de que já te disse a minha opinião acerca disso.

Harry deixou cair os ombros e submeteu-se a mudança de assunto de Sirius, decidindo deixar aquela conversa pra uma ocasião mais propícia.

Após Sirius ter mostrado um igual desinteresse pela imprensa da comunidade bruxa que falava do diletantismo e coisas frívolas como as últimas festas a que Cornelius Fudge tinha ido. Sirius deu a sua opinião sobre a necessidade de renovação do país. Que era necessário abandonar esses temas banais e fazer notícia a sério, alertar a comunidade bruxa sobre a seriedade de o início de uma guerra da qual já tiveram o começo. Discutiram a largas horas a vida de desafogo económico que desviava toda a atenção de assuntos que envolvessem Voldemort. Debateram as mentalidades, a comunidade bruxa como uma comunidade fechada em si mesmo, absorvidos em fazer nada, a tranquilidade de Fudge transparecia mesmo após os avisos que Dumbledore lhe dera.

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Diante da velha porta de carvalho estava parada uma garota, dona de longos cabelos loiros e de grandes olhos azuis que percorriam toda a sala demorando-se em cada detalhe dela. Ao lado trazia duas malas. Um sorriso de admiração desdenhou-se nos lábios quando por fim pousou os olhos nos restantes presentes na sala. Gina veio correndo na sua direcção, sufocando-a num abraço. Luna murmurou um “olá” para os Weasley, Harry e Hermione. Gina explicou que há dias atrás tinha escrito uma carta em que convidava a amiga a passar o resto das férias ali.

_Pensei que já não viesse. - a ruiva disse, porém Luna já não a ouvia, concentrada a admirar o tecto e o chão da sala. Observou o espaço por um bom tempo.

_Di-Lua Lovegood... – Ron sussurrou baixo pra Harry abafando um riso com as mãos. Harry que não percebera o que ele quis dizer virou-se pra o amigo numa expressão de interpelação. Hermione fez um sinal para que Ron se calasse, obrigando-o a adiar as explicações que iria dar a Harry.

_Eu adoro esta casa. É tão grande... tem tantas coisas, tantos objectos estranhos e quando digo estranho, não quero dizer propriamente estranho, quero dizer que é...bem, não exatamente estranho de ser esquisito... Bem, tem um ar antigo e histórico, é bom.

Desceram para sala onde ficaram a conversar. Luna havia passado a maior parte das férias na redacção de Pesquim, jornal que o pai editava.

Os dias passaram rápidos. Sirius, voltara à mansão depois de obrigar os curandeiros à uma dar alta antecipada. Pouco a pouco Harry e Ron começaram a habituar-se à presença de Luna que passava o tempo a alimentar Edwige ou a conversar com Gina até às tantas da noite enquanto Hermione, ao lado, estava mergulhada em algum livro de lombada larga.

Numa dessas noites, em que estavam arrumando as malas, Luna respirou fundo e virou-se para ela com o propósito de falar da sua leitura excessiva, mas Gina aconselhou-a a nem sequer começar e falou-lhe desse gosto de Hermione, ao que a loira arregalou os olhos, surpreendida, colocando às ultimas coisas na mala para o regresso à Hogwarts na manhã seguinte.



N/A (Lílian): Oi, desculpem-nos a demora para atualizar, mas estava muito difícil de nos vermos, primeiro um problema de saúde que tive, depois o início da faculdade de Bia, então houve um atraso na postagem, mas tentaremos não demorar tanto para a próxima.

N/A² (Lílian): A fic agora está chegando a metade, no próximo cap já terminaremos a parte que segue o livro 5 e então faremos algo totalmente diferente, usando bem os elfos.

Gandalf Dumblemore: Se gostou da cena do Neville, imagine agora que o Harry vai tentar curar os pais dele, pense se Harry consegue! Bom, se as reações eram quanto ao namoro, acho que de alguma forma não surpreendeu tanto porque estava na testa do Harry o quanto ele gostava da Mione.

James V Potter: Até que não demorou tanto assim, poderia ter sido pior né rsrsrsrs. Agora resta saber como vai ser a reação dos elfos quando conhecerem a Hermione.

Angel Cullen = Srta. Cereja: Snape realmente não esperava rsrsrsrs Mas vou tentar repetir a dose quando der, afinal humilhar o Snape nunca é demais rsrsrsrsrs.

Karina Potter: Essa é de fato uma fic muito propícia para este tipo de romance fofo e prometo que teremos mais dele nos próximos caps.

Andréa Pismel da Silva: Você fez uma ótima pergunta “Será que ele está pronto para a grande batalha?” a resposta virá no próximo capítulo, afinal Harry ainda não pôde lutar com um bruxo experiente.

Adriana Paiva: Foi difícil criar esse apelido, tivemos que fazer muita pesquisa, mas creio que ele se encaixe mais perfeitamente do que foi mostrado até agora.

rosana franco: As coisas ainda não esquentaram, mas esquentarão no próximo capítulo, valerá a pena esperar.

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