Brigas, Beco Diagonal e dilema



Hermione abriu os olhos devagar com alguém batendo na porta. A semana se passara rápido, mesmo que Gina estivesse um pouco chateada com ela, o que passou rápido, e por mais que ela se sentisse ainda inconveniente. A casa esteve vazia a maior parte da semana, aparentemente todos estavam muito ocupados com alguma missão, e o único que aparecia de vez em quando era Mundungus.

Se levantou devagar gritando um já vou e foi acordar Gina. A ruiva fingiu que não ouvia mas mesmo assim acordou mal humorada. As duas desceram após trocar de roupa, para tomar o café e encontraram a senhora Weasley já entregando as cartas de Hogwarts.

Ela abriu a sua. Dizia como sempre que deveria mandar a coruja, mas dessa vez ela deveria escolher o curso. O material necessário seria enviado assim que as escolhas fossem confirmadas. Olhou para os amigos, Rony parecia extremamente decepcionado com alguma coisa, mas Harry parecia ler e reler a carta sabe-se lá quantas vezes.

- Achei que fosse me tornar capitão do time da Grifinória... – Rony resmungou batendo na mesa. Era por isso que ele estivera tão ansioso pelas cartas. Hermione revirou os olhos e voltou a observar Harry. O garoto parecia perder e ganhar cor em intervalos regulares e aparentemente ela era a única que percebeu.

- Isso por que o capitão sou eu! – Harry pareceu finalmente vibrar com a notícia.

- Você? Mas... quero dizer... Não te escolheram para Monitor escolheram? – Desta vez Harry pareceu ficar realmente zangado.

- COMO MEU AMIGO, EU SUPUNHA QUE VOCÊ FOSSE FICAR FELIZ COM A NOTÍCIA! – ele se irritou. – SABE RONY, SE TEM UMA COISA EM QUE EU SOU MELHOR QUE VOCÊ É EM QUADRIBOL! VOCÊ ESTÁ É QUERENDO APARECER! POR DEUS, EU NÃO ACREDITO NISSO...– O garoto se levantou sem nem ao menos comer alguma coisa direito e saiu marchando para o andar de cima.

Todos se entreolharam, Rony tinha as orelhas vermelhas e seu rosto se contorcia numa careta que não era identificável.

- Ele ainda está bem estressadinho né? – o ruivo tentou se defender. Hermione revirou os olhos em reprovação. A atitude de Rony fora tão infantil quanto a reação de Harry, mas ela não iria dizer isso a ele na frente de todos. Resolveu ir falar com Harry primeiro.

- Com licença. – Ela se levantou e viu que Rony iria falar algo, mas o repreendeu com o olhar e ele engoliu em seco. Se virou para subir para o segundo andar.

O Amigo estava em seu quarto assentado na cama emburrado, e fazia pequenas bolinhas com pedaços que arrancava da carta, jogando-as no alto do armário ou pela janela. Ela entrou cautelosamente e se assentou ao lado dele, que fingiu não ligar para a presença da garota em seu quarto. Os dois permaneceram em silêncio, até que Harry se cansou de esperar que ela falasse.

- O que foi? Veio me pedir para ser mais calmo? – Ele disse irônico.

- O Rony realmente foi um babaca quando disse aquilo, daquela forma. Mas você realmente exagerou um pouco, Harry. Olha, eu tenho certeza que ele disse aquilo sem pensar.

- Bem, então nesse caso se foi isso, ele que venha me pedir desculpas. Sabe, Mione, se por tudo que acontece comigo o Rony queira minha popularidade, eu troco dele lugar com ele com muito prazer. Parece que mesmo depois de tantos anos ele ainda não sabe o que é ser Harry Potter. – dessa vez o garoto amassou todo o pergaminho e atirou em cima do armário, de onde Pichitinho saiu voando assustada.

- Tenho certeza que ele vai te pedir desculpas. – ela pôs a mão na dele. Mas ele não pareceu convencido.
- Se ele vier me pedir desculpas eu aceito. Mas não venha me pedir pra ir falar com ele. – Ela realmente tinha pensado em sugerir isso.

- Ah, não seja tão cabeça dura. Eu sei como você se sente quando vocês estão brigados. Foi a mesma coisa quando você foi escolhido como quarto campeão do torneio tribruxo. – Ele parecia ainda bastante irritado com isso.

- A questão é exatamente essa. O Rony não me apoiou o tempo todo... pelo contrário, ele ficou com inveja disso, brigou comigo e só acreditou em mim sabe-se lá porque. E quando vocês foram para o lago na segunda tarefa, ele ficou se exibindo durante umas boas semanas. E ainda, na final da Copa ele ficou todo exibido só porque teve um único jogo bom na temporada. Eu não entendo... ele parece que tem necessidade de atenção, e é por isso mesmo que eu não vou dar atenção à ele. – Harry pareceu tirar um peso de dentro de si.

- Você está absolutamente certo quanto à isso. Mas você tem que ver o lado dele, Harry. Ele sempre foi o caçula de seis homens em que os mais velhos sempre se destacavam em relação à ele. A mais nova era a única mulher, portanto superprotegida. Quando alguém dá atenção à ele, ele se sente equivalente aos irmãos. – ela respirou fundo antes de continuar. – E você por outro lado, todos no mundo bruxo te admiram. Eu sou a melhor aluna do ano. Até entre os melhores amigo dele ele se sente inferior. Quando escolheram ele para monitor ano passado ele se sentiu finalmente tão bom quanto nós. Acho que foi por isso que ele esperava tanto ser o capitão. Acho que mesmo com essa atenção que ele ganha, o sentimento de poder ser igual aos outro não fica, então ele queria algo mais durável. Um capitão de time de quadribol com certeza faz mais sucesso que um monitor ou que uma pessoa que é apenas integrante da equipe.

Quando ela acabou de falar o amigo estava boquiaberto, as sobrancelhas elevadas. Ele se recompôs e virou o rosto, ainda parecendo incomodado com a história. Depois de um tempo ele se virou para falar com ela.

- Eu não acho ele inferior a ninguém.

- Mas ele se acha. – ela pôs a outra mão no ombro dele. – Você precisa compreender isso. Olha, vamos fazer um trato. Não precisa falar com ele, mas se ele tentar falar com você não seja rude, ouça o que ele tem a dizer e por favor, aceite as desculpas. Vocês dois são como irmãos, não é certo ficarem brigados por besteiras.

- Está certo. Mas eu só volto a falar com ele quando aquele cabeça dura pedir desculpas. – Ela sorriu e o abraçou.

- Está certo. E não fique emburrado pelos cantos. – Ela sentiu que ele a abraçou de volta meio sem jeito, e isso a pegou de surpresa.

- Certo. Acho que já vou mandar minha resposta à Hogwarts. – Ele disse se afastando. – Quer que eu peça Edwiges para levar a sua também?

- Ah... bem... acho que tudo bem. Quando eu tiver tempo pra escrever eu te entrego. – ela se afastou meio sem jeito. E se levantou rapidamente.

- Tempo? O que você vai fazer hoje? – ele perguntou curioso.

- Nada, mas eu tenho que ir até o meu quarto escrever, mas ainda tenho que conversar com Rony. Não faça essa careta. – ela revirou os olhos e ele riu.

Ela saiu do quarto dele apressada e trombou com Gina que estava atravessando o corredor. A ruiva olhou séria para ela e fez um sinal para que entrasse no quarto, ao que ela obedeceu prontamente.

- Ele está irritado? – Hermione soube que era sobre Harry que Gina falava. Quem mais poderia ser.

- Acho que acalmei ele um pouco. Mas ele está realmente chateado com seu irmão.

- E quem pode culpá-lo. Mamãe ainda está dando um sermão em Rony sobre isso.

- Nesse caso é bom ele se preparar, por que eu quero falar com ele também.

- É isso que eu queria te falar. – Gina estava nervosa com o que iria dizer e mordia o lábio inferior. – Não fale nada com o Rony. Ele tem estado, bem, digamos que quando mamãe tentou defender Harry ele ficou muito nervoso. Acho que não é bom que você fale com ele, ou... ele vai acabar dizendo coisas demais.

- Como o quê? Que eu sou uma metida a sabe tudo? Por Deus, ele me diz isso pelo menos uma vez por dia, e isso quando ele está de bom humor.

- Não é bem isso. Quando mamãe foi tentar dizer que ele estava errado, ele acabou dizendo uma coisa do gênero “Você iria adorar se o Harry fosse seu filho ao invés de mim, não é?” Claro que ele não estava pensando quando disse isso, mas... Acho que ele acha que as pessoas que ele gosta e que gostam dele estão sempre o trocando pelo Harry. E quero dizer, você sabe como o Rony gosta de você certo? – Aquilo foi como um tapa na cara de Hermione.

- É eu sei... mas acho que ele sabe que eu não gosto dele dessa mesma forma. Já conversei com ele sobre isso e...

- Esse é o problema. Você foi correndo atrás do Harry e se você for ficar defendendo ele também, o Rony vai achar que você não gosta dele por que gosta do Harry. – O que foi um segundo tapa na cara da garota.

- Que besteira. – ela disse tentando não gaguejar sem saber exatamente porque. Gina deve ter percebido pois levantou uma sobrancelha.

- Você não gosta do Harry, gosta?

- Eu não! – ela se apressou em dizer. – Quero dizer, gosto, mas é amizade. – ela se corrigiu. – Eu preciso falar com o Rony, Gina. Ele que pense o que quiser. – Ela pegou uma pena e um pergaminho na mochila, iria aproveitar para escrever a resposta de uma vez. Gina suspirou e saiu.

Hermione suspirou uma vez antes de se virar para o pergaminho e escrever que curso iria querer. Escreveu vários cursos antes de se decidir por um e jogou os outros fora. Colocou seu nome e foi para o quarto de Harry ver se ele estava lá para enviar a carta, mas quem estava lá era Rony. Ele a olhou com despeito.

- O que foi? – ele perguntou e ela hesitou antes de responder.

- Você viu o Harry? – esperou receosa pela resposta.

- Ele desceu assim que eu entrei. – fez uma careta. – Acho que foi lá pra baixo, terminar de comer eu deduzo.

- Ah... Obrigada. Hm... Rony... eu queria conversar com você depois, será que dava? – ela não esperava que o amigo tivesse a reação que teve. Rony se levantou em um pulo e falou irritado.

- Você também? Se for pra falar que eu tive uma atitude infantil é melhor nem tentar falar. – Ela suspirou.

- Está certo. – ela se virou e saiu. Se ele não agüentava ouvir que era infantil com certeza não iria aceitar pedir desculpas.

Rony estava certo, Harry estava na cozinha comendo, acompanhado apensa pela senhora Weasley que desfiava um longo pedido de desculpas pelo comportamento de Rony, o qual o garoto parecia não ouvir. Ela entrou timidamente e pediu licença à senhora Weasley. Os dois olharam para ela.

- Eu trouxe a resposta. Você já escreveu a sua? – ela perguntou a Harry, que balançou afirmativamente a cabeça. – Você envia pra mim depois? Acho que podia mandar a do Rony junto também. – ele deu de ombros.

- Se ele vier pedir. Além do mais ele pode pedir à Pichi pra enviar.

- Mas a Pichi é muito pequena. Vamos, eu pego a resposta com ele e tudo que você tem a fazer é entregar os pergaminhos para a Edwiges.

- Está certo Hermione. Daqui a pouco eu mando. Peça a resposta dele logo.

- Já volto.

Ela saiu correndo da cozinha e falou para Rony, mas foi muito mais difícil convencer ele a escrever do que convencer Harry a enviar, e ela acabou falando demais, sem querer, coisa que não era comum.

- Por Deus Rony. Deixa eu seu orgulho e esse seu estúpido complexo de inferioridade de lado, só um minuto e escreve logo a resposta. – Ela tampou a boca na hora e Rony ficou com as orelhas vermelhas. Porém não falou nada, apenas se virou para pegar um pergaminho. Rabiscou qualquer coisa e estendeu para ela.

- Aí está. Agora volta correndo pro Harry. Aliás, por que diabos ninguém me avisou que vocês estiveram usando aquele pergaminho que você inventou?

- Você estava dormindo. A gente não tinha como te acordar tinha? – ele olhou para ela com raiva mas se calou. Ela se virou e bateu a porta com raiva ao sair.

Entregou a resposta a Harry que enviou as três sem dizer uma palavra. Os dois ficaram o resto do dia olhando para o teto da cozinha, apenas ocasionalmente interrompidos por alguém que ia fazer alguma coisa. A última interrupção foi Rony. O garoto entrou com passos firmes e os dois se viraram para olhar o que ele iria fazer. Ele jogou uns pedaços de papel numa lixeira e saiu sem olhar para os dois, deixando um último pedaço cair no chão e quando Hermione se virou para olhar fez um muxoxo. Ele havia rasgado e jogado fora o pergaminho que ela enviara, ela pôde reconhecer sua letra e a de Harry no pedaço caído. Aquilo era ridículo demais, ela iria desistir de tentar conversar com Rony como estivera pensando em fazer.

Gina chegou logo depois, olhando os dois com um olhar curioso.

- Alguém sabe por que o Rony quase quebrou a porta do quarto? – perguntou se servindo de um copo d’água.

- É porque ele é um imbecil. – Harry respondeu ainda olhando para cima. – E nós não ligamos pras imbecilidades dele. – Gina revirou os olhos e se assentou ao lado de Hermione, para se juntar ao estado de tédio coletivo.

***

Ele, Hermione e Gina passaram a semana praticamente toda morrendo de tédio e conversando na cozinha, enquanto Rony permaneceu trancado no quarto, do qual Harry saía cedo e só entrava quando o outro fingia estar dormindo. A lista com os materiais necessários chegaram uma semana depois. Harry pegou a sua com curiosidade, eram livros com títulos extremamente sugestivos como “Transfiguração Humana: Como se tornar outra pessoa e ser você mesmo.” Ou “Defesa Aplicada: Teorias e Táticas para se defender das trevas.”. A senhora Weasley já estava preparando a ida deles ao beco diagonal. Aparentemente eles iriam via flu, já que era seguro usar a lareira no Grimmauld Place nº12.

- Hm... “História da Magia Avançada para iniciantes.” Já não leu esse Mione? – Gina perguntava olhando a lista da amiga. – Acho que pra você deveria ser “História da Magia Hiper Avançada Para quem não tem medo de ler uma bíblia.” – Hermione fingiu rir da piada.

- Honestamente Gina? É assim que você pretende ter bons NOM’s?

- Deixa eu te contar uma coisa. – a ruiva olhou para os lados e se certificou que a mãe estava longe. – Eu pretendo fugir na metade do sétimo ano e me tornar sócia na loja dos gêmeos. – Hermione fez uma careta, mas foi interrompida por dois craques e duas pessoas falando.

- Por isso você é nossa única irmã que nos orgulha, Gina.

- Você não foi nomeada Monitora foi? – Os gêmeos disseram isso apertando a irmã que iria responder mas foi interrompida pela mãe.

- Infelizmente não. – A senhora Weasley parecia irritada. – Que idéias vocês estão enfiando na cabeça da sua irmã?

- Nenhuma mamãe. – Jorge respondeu inocentemente.

- Absolutamente nada. – Fred completou. – Vamos então? Trouxemos o flu. – ele sacudiu um saquinho e couro.

- Cadê o Rony? – Jorge perguntou e um clima ruim pairou na sala.

- Ele está indisposto, pediu pra eu ir comprar o material dele. – a senhora Weasley sacudiu um pergaminho no ar. – É melhor irmos crianças. – ela os empurrou para a lareira no escritório, aonde a arvora genealógica dos Black permanecia intacta

Harry encarou o nome das duas irmãs Black e sentiu um nojo imenso daquela arvora à sua frente, mas foi interrompido pela senhora Weasley que o empurrava para a lareira dizendo que ele deveria ir ao caldeirão furado, o que ele obedeceu.

Caiu de cara no chão frio do bar-hotel e Hermione e Gina o ajudaram a se levantar. A senhora Weasley e os gêmeos aparataram ao lado deles e logo estavam pegando dinheiro em Gringotes.

- Bem, eu vou comprar o material do Rony. Vocês cuidem do de vocês, certo? Nos encontramos n’O Caldeirão em três horas. – ela disse e se virou para o boticário, deixando os três sozinhos.

- Vamos na Floreios e Borrões primeiro? A maior parte do material é de lá. – Hermione disse e os outros dois concordaram.

Estavam pegando livros na seção de Magia Avançada. Haviam livros de todos o nomes imagináveis, e um pior que o outro. Harry estava nas mãos com um de sua lista que se chamava “Magia Para Aplicar no Dia a Dia vol.2: Um guia prático de feitiços avançados para bruxos treinantes.” E Hermione pegava o mesmo, o que indicava que teriam a mesma matéria.

Gina permaneceu naquela seção quando os outros dois passaram para a seção de poções deram de cara com Neville e a avó que escolhiam livros para o curso. O garoto pareceu bastante contente em ver os amigos.

- Consegui um Admirável em poções! – ele disse alegremente as bochechas bastante rosadas.

- Parabéns, Neville. – Os dois parecia sinceramente felizes. – Vai fazer que curso? – Hermione perguntou.

- Preparatório para Universidade de Curandeiros. Eu mal acredito que consegui. E vocês?

- Relações Bruxas. – Hermione respondeu sem hesitar e Harry percebeu que não havia perguntado à ela que curso iria escolher.

- Essa é a carreira mais complicada, Mione. Mas claro, estamos falando de você. E você Harry? – Neville perguntou interessado.

- Auror. – ele respondeu.

- Bem, minha avó está me chamando. Vou comprar outra varinha... Encontro vocês mais tarde então. Até. – Neville disse correndo até a avó que acenou gentilmente para os dois.

- Eu não sabia que você havia escolhido Relações Bruxas, Mione. – ele falou sinceramente interessado.

- Você não perguntou. Mas eu também não te perguntei. – ela deu de ombros analisando a lombada dos livros nas estantes.


- Mas a minha escolha era óbvia. Eu deveria ter te perguntado. Me desculpe. – ele também olhava as lombadas dos livros e nesse momento suas mãos se encontraram, o que fez Harry ficar extremamente embaraçado. Estivera sentindo coisas estranhas pela a amiga nessa última semana. Várias vezes se pegara olhando para ela sem piscar enquanto a garota olhava para o teto.

- Bem... – Hermione disse tirando a mão rapidamente e olhando para o outro lado. – Acho que já acabamos por aqui. – ela puxou dois exemplares de um livros e estendeu um para ele. Agora só falta transfiguração. – ela se dirigiu para outra seção, mas ele a segurou num impulso. – Que foi? – ela perguntou com os olhos arregalados.

Nem mesmo ele sabia direito o que era. Ficou olhando para ela por um tempo antes de largá-la e pedir desculpas. Foram em silêncio até a seção de transfiguração. Não se falaram até sair da loja com pacotes cheios de livros. Harry queria evitar olhar para ela e aparentemente ela também queria evitar de olhara para ele. Compraram o que precisavam na bótica e depois foram para a Madame Malkins roupas para todas as ocasiões. Como haviam constatado, havia crescido nas férias.

Enquanto a bruxa fazia as medições, eles olhavam para os pés ou pareciam extremamente interessados no coque da mulher. Teve um momento, quando ficaram apenas os dois em cima dos banquinhos, que já não pareciam mais firmes, em que ele tivera a impressão de que ela iria dizer algo, mas aparentemente desistira.

Saíram da loja ainda em silêncio, e ele não agüentava mais isso. Abriu a boca para falar ao mesmo tempo que ela.

- Mione, eu...

- Harry.

Eles se olharam por uns instantes e ela o encorajou a falar com o olhar.

- É que... aqui não é o melhor lugar pra conversar. Quer ir até a Florean Fortescue? – era realmente estranho perguntar aquilo à amiga. Mas eles já haviam ido à vários lugares juntos antes e nunca havia sido tão estranho, nem mesmo quando ela o convidara para ir ao Três Vassouras enquanto ele saía com Cho.

- Tudo bem. – eles se viraram para ir à sorveteria.

***

Gina que estivera concentrada nos livros da Seção de Magia avançada de repente percebeu que estava sozinha, praguejando contra os amigos que saíram sem avisa-la. Aparentemente ficara tempo demais na livraria, pois não havia nem sinal dos dois e quando se encontrou com Neville em outra seção ele disse que os dois já haviam saído. Pegou o dinheiro que sua mãe lhe dera e os livros de sua lista e foi até o caixa.

Estava esperando na fila quando uma voz arrastada disse bem no ouvido dela.

- Eu não sabia que Weasley’s podiam comprar aqui. Sempre achei que iam na loja de livros de segunda mão. – ela se virou irritada.

- E eu achei que Malfoy’s não podiam mais sair nas ruas sem serem alvos de xingamentos sobre serem uns imbecis. Sabe, eu ainda não me esqueci que há alguns meses eu te estuporei. Você não deveria ter esquecido também. – E se virou para entregar os livros ao homem no caixa que estivera esperando.

- Eu não me esqueci. Foi muito corajoso da sua parte me atacar daquele jeito, na frente de todas aquelas pessoas...

- Não ligo de fazer isso de novo no meio do beco diagonal. Não modificaria meus planos em nada ser expulsa de Hogwarts, e só me traria alegria te ver humilhado na frente de tantas pessoas que morrem de medo desse seu nomezinho ridículo. – Ele pareceu surpreso com o que ela disse, mas continuou sorrindo.

- Você é mais corajosa do que eu pensei. – ele deu um longo suspiro. – É melhor eu ir, se minha mãe me ver com você eu estou morto. – ele se virou para sair da loja e ela foi quem ficou surpresa, o jeito que ele falara era como se não se importasse de estar com ela se não fosse pela mãe, mas ainda teve tempo de gritar antes que ele saísse.

- A vergonha é maior pra mim! – ele apenas ergueu a mão, ainda de costas num gesto que pareceu um aceno de despedida.

Gina ficou resmungando enquanto pagava e pegava seus livros que já estavam empacotados. Resolveu ir até a loja dos gêmeos antes de comprar ervas na bótica, era só o que faltava, suas vestes ainda serviam bem, ela não havia crescido no verão. A loja das Gemialidades Weasley estava cheia de alunos entre os quais Gina reconheceu Colin e Denis Crevey, Simas Finnigan, um quintanista da Lufa-Lufa chamado Joe Peterson, duas quintanistas da Corvinal que ela não se lembrava bem quem eram, mas tinha quase certeza eram Samantha Lancaster e Sonya Abramovich, além de Luna Lovegood.

- Hei Luna! – ela se aproximou da amiga que olhou para ela com aqueles olhares vagos de sempre.

- Gina. Sabia que os donos dessa loja têm o mesmo sobrenome que você? – ela perguntou e Gina se segurou para não rir.

- São os gêmeos, meu irmãos. Se lembra que todos sempre me parabenizavam pelos meus irmãos quando eles fugiram ano passado?

- Esses são os gêmeos? E um é ruivo e outro é negro? – Gina olhou para o balcão, Fred estava lá com Lino Jordan.

- Não. O Lino é um amigo dos gêmeos. – ela disse se aproximando do balcão. – Guarda isso aí pra mim, Fred? – ela colocou os livros à frente do irmão.

- Aí tem mais livros que o necessário. – Ele disse.

- É que meu irmão me deu um presentinho por que eu não fui escolhida monitora. – ela deu um sorriso maroto.

- O Jorge? – Fred disse com um ar incrivelmente inocente, pois sabia que o outro gêmeo não gostaria desse gasto extra. – E você gastou com livros? Estou desapontado. Que tipos de livros são.

- Não é da sua conta. Olha, tem um cliente logo ali. Agora com licença eu tenho que ir na bótica. – ela ia se virar quando lembrou. – Harry e Hermione passaram por aqui? – O gêmeo balançou a cabeça negativamente e ela deu de ombros. – Vamos Luna? – se virou para a amiga que prontamente a acompanhou.

As duas andavam tranqüilamente e Gina passou pela mãe que a chamou para conversar, ela também iria para a bótica. Pediu a Luna que a esperasse e foi com a mãe. Quando entraram na bótica, a senhora Weasley foi abrindo a boca enquanto pegava o kit básico.

- Sabe Gina... acho que você precisa de uma coruja. Não que você mereça uma, mas logo você não vai mais poder pegar a Edwiges emprestada e nem a Pichi. E as corujas de Hogwarts não são de total confiança, no caso de querermos nos comunicar. – Gina ficou boquiaberta.

- Mas corujas podem ser interceptadas. – ela falou depois de algum tempo.

- Mas se tiver sua própria coruja, ela jamais entregará um pacote ou carta que não tenha sido escrito por você ou por alguém autorizado, logo, se interceptarem sua coruja, ela irá primeiro para você. E se alguém que você não conhece te enviar algo ela não entrega. Mesmo que alguém leia o que você escreveu ou recebeu, fica fácil de mudar os planos. Uma coruja de Hogwarts iria para a cabana de Hagrid. – Aquilo era muito estranho, para Gina. Por que sua mãe se preocupava que ela recebesse pacotes e soubesse que teve cartas interceptadas, nunca havia nada de mais em suas cartas...

- Não vejo por que. Só porque papai recebeu um aumento, não vejo necessidade de gastar dinheiro com corujas.

- Por Deus, Gina. Até os gêmeos têm uma coruja. E é necessário. Achei que você fosse gostar.

- Eu gosto, mas não entendo a necessidade. Nunca falamos nada de importante em nossas cartas.

- Mas é que esse ano eu gostaria que... – ela parecia hesitante em dizer. - ...que você me avisasse o que seu irmão e os amigos andam fazendo. Não podemos nos dar ao luxo de eles irem parar novamente no ministério.

Gina abriu a boca. Ela mesma havia ido ao ministério com os outros e sua mãe estava lhe pedindo isso. Era como alta traição, ela não queria fazer isso. Desviou o olhar da mãe e saiu andando pela bótica.

- E então Gina? – a garota respirou fundo e se virou.

- Não. Você está me pedindo pra dedurar meus amigos. Sinto muito mãe, mas eu não sou como o Percy. – ela sentiu que a mãe contraiu os músculos dos ombros.

- Isso não é um pedido. É uma ordem. – ela bateu umas moedas no balcão. – É para o bem de vocês e da Ordem. – ela disse num sussurro irritado. – Por favor, Gina. Você sabe o quanto eu gosto de você e dos seus irmão, do Harry e da Hermione. E é por isso que vocês precisam ficar em Hogwarts. Como vão se defender? – o tom de voz de Molly Weasley era irritado porém preocupado e Gina segurou a respiração. – Entende? Vocês não podem se dar ao luxo de serem expulsos, isso é uma coisa com que a ordem concordou na última reunião, é a única maneira que temos de controlar vocês, não estou te pedindo para dedurá-los, mas a mantê-los seguros. – a garota engoliu em seco e pagou seu material também e saiu da bótica, deixando sua mãe olhando para ela com preocupação.

Ela andava rapidamente e ignorou Luna que ia ao seu lado e só parou quando trombou em alguém e esse alguém a segurou.

- Me desc... – ela parou ao ver quem era. – Ah esquece. – ela puxou o braço de volta, das mãos de Draco Malfoy.

- Eu peço desculpas então. – Ele disse sem nenhuma ironia e ela esperou a ofensa que não veio. Isso a deixou perturbada, mais cedo ele não se importava em ficar com ela, agora pedia desculpas e não a ofendia.

- Vamos, Luna. – ela se virou para a amiga que olhava tudo interessada e as duas foram andando calmamente.

Ela sentia que ele a observava, mas desviou o pensamento disso quando viu Harry e Hermione numa mesa de Florean Fortescue. Os dois pareciam extremamente sem graça e olhavam para os sorvetes. Ela achou que seria mais interessante apenas olhar e foi com Luna até uma mesa da qual pudesse ver sem ser vista. Sempre soubera que embora Hermione negasse, ela gostava mais de Harry que de Rony e que fora por isso que não ficara com ele quando ele se declarara durante o último verão, quando Harry ainda não havia chegado.

Fora por este mesmo motivo que Gina desistira de Harry. Além claro de gostar dele mais como um irmão. E nessa semana que os três passaram juntos ela pôde perceber que mesmo que não tivesse percebido, o garoto gostava de Hermione também. E pelo jeito havia acontecido alguma coisa e de hoje não passava.

***

Hermione já estava nervosa com aquele silêncio. Ele iria dizer alguma coisa e a chamara para ir à soverteria, mas ainda não havia dito nada e parecia incrivelmente absorto no sorvete, como jamais estivera por um livro. Parecia estranhamente concentrado, os olhos verdes meio fechados e quando finalmente o sundae dele acabou, levantou os olhos para ela e desviou. Respirou fundo antes de falar.

- Olha, me desculpa o mau jeito aquela hora na livraria. – ele disse extremamente vexado.

- Não tem problema. Mas... por que foi que você fez aquilo. – ele novamente desviou o olhar com a pergunta. Respirou fundo algumas vezes e se virou para ela.

- Não sei. – ele respondeu. – Eu realmente não sei. Mas eu não queria que as coisas ficassem estranhas entre a gente, Mione. Já me basta estar brigado com o Rony, ficar sem falar com você... bem... honestamente seria mil vezes pior. Eu já fiquei sem falar com ele antes, mas você estava lá comigo. Eu não queria é que as coisas ficassem como ficaram agora há pouco. – ele disse isso olhando bem nos olhos dela e ela sentiu o coração acelerar sem saber o porquê.

- Ah... Harry... – ela não sabia o que dizer. – As coisas não vão ficar estranhas entre a gente. É sério. – ele pegou a mão dela, com a qual estivera brincando com os talheres e segurou firme entre as suas.

- Que bom por que... eu realmente não sei o que faria se você não falasse comigo. Eu acho que...

- Olha, não fale bobagens. Eu jamais deixaria de falar com você. – ela pôs a mão livre no rosto dele. – Jamais. Nunca mesmo. Eu não conseguiria.

- Eu fico feliz. – ele pegou também a mão dela que estava em seu rosto e se aproximou devagar, ele iria beijá-la e ela nunca quisera tanto uma coisa antes, mas se lembrou do que Gina havia dito sobre Rony e como sempre seu lado racional prevaleceu. Virou o rosto deixando ele confuso.

- Me desculpe... eu... ah Harry. Eu não posso.

- Por quê? – ele piscou os olhos várias vezes.

- Nem você. Se nós pretendemos voltar a falar com o Rony algum dia... Não é certo.

- Por quê? Por acaso você tem algum compromisso com ele. – Estranhamente ele não estava irritado como ela acho que ficaria.

- Não. Não é isso. Mas é que... ele já acha que perde atenção pra você e...

- Ele gosta de você. – Harry completou calmamente. – Mas você não acha que é melhor nós dois fazermos tudo agora que ele já está com raiva, do que ter que ficar escondendo? Acho que de um jeito ou de outro ele vai voltar a falar com a gente, e é melhor que ele já saiba. – Foi a vez de Hermione ficar confusa. Ele tinha razão.

- Mas... Ah Harry. Eu não quero ter mais problemas… - Ele respirou fundo e suspirou.

- Nós vamos ter menos problemas se ficarmos juntos desde agora, Mione.

- Eu sei...

- Mas?

- Eu estou confusa. – ela pôs as mão nas têmporas. Realmente era confuso. Num momento via ele como um amigo e em outro queria beijá-lo como se fosse a coisa mais importante que ela pudesse fazer. Mas talvez ela sempre quisera beijá-lo. Ele pegou as mãos dela de novo.

- Se você quiser eu espero. – ele disse relutantemente.

- Não! – ela disse sem se segurar e ele olhou para ela curioso. – Ah droga. Eu gosto de você Harry... – ele sorriu brilhantemente mas foram interrompidos por uma voz arrastada.

- Nossa? Eu sempre achei que a Granger gostasse do Weasley. Mas parece que ela tinha era dó dele.

- Malfoy. – Harry se levantou. – Dá o fora.

- Ah, eu interrompi o casal... que peninha... – Harry ia dar um soco no outro quando uma outra voz veio de trás dele.

- Malfoy! – era Gina que estava com a varinha apontada para ele por cima do ombro de Harry. – Eu já te disse mais cedo que não ligo de te estuporar de novo no meio do beco diagonal! – havia um brilho intenso nos olhos dela, mas o garoto não se preocupou apenas sorriu.

- Já que você vai fazer isso aqui, pode se preparar para ser expulsa.

- Podem me expulsar. Eu já cansei de dizer que isso não interfere nos meus planos. – ela saiu de trás de Harry e ficou frente a frente com Malfoy.

- Gina! – A senhora Weasley veio correndo ao ver a movimentação. Carregava alguns pacotes, mas Hermione ficou surpresa ao constatar que havia uma coruja no meio dos pacotes. – Abaixe essa varinha! – ela parou ao lado da filha e a forçou a abaixar a varinha. – Vá embora daqui, filho. É o melhor que você faz. – ela falou com Malfoy e o garoto obedeceu e se virou com um sorriso sarcástico. – Gina... que idéia foi essa? Você poderia ter sido expulsa! – Gina revirou os olhos e ignorou a fala da mãe. – Bem... acho melhor nós irmos...

O grupo voltou ao Caldeira Furado, todos com as mãos cheias de pacotes estufados. A coruja que a senhora Weasley levava, uma comum das torres com olhos verdes, soltava pios longos e baixos, parecia conformada em ficar presa. Gina lançava olhares furiosos à mãe, mas não havia um motivo claro. Em pouco tempo todos já haviam voltado à Grimmauld Place.

Rony estivera assentado na frente da lareira e soltou um muxoxo quando Hermione apareceu primeiro. Ele se levantou irritado e foi para o quarto. Essa cena até deixou Hermione aliviada, indicava que Rony sentia falta deles. Mas ele ainda estava ressentido. Ela não esperou os outros chegarem, foi direto para seu quarto, a conversa que teve com Harry lhe voltou à mente.

- Ai... – ela gemeu e se atirou de cara na cama.

Teriam que resolver isso tudo o mais rápido possível. Não seria legal chegarem à Hogwarts com assuntos mal resolvidos. Harry estava certo, se admitissem isso logo Rony não ficaria com raiva depois, mas com certeza demorariam mais para voltar a conversar.

- O que eu faço. – ela se virou e ficou encarando o teto. Tinha quatro dias para conversar com Harry e não seria difícil, já que na maior parte do tempo eles estavam sozinhos.





N/A: e aí? O que estão achando? Ah gente... comentem por favor viu?

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