Morte



Morte

Ele não tinha ninguém de quem se despedir. Simples assim. A morte viria e, sem palavras, ele deixaria acontecer.

Estava longe de ser um herói ou de realizar algum ato estúpido para ser deificado... tudo não passaria de uma mera casualidade da guerra. Mais um Comensal, mais um membro da Ordem... que diferença faria? Todos nomes sem rosto, impressos em lista diariamente no Profeta Diário.

Talvez houvesse uma música para sua morte, uma mórbida trilha sonora sendo executada, ao fundo, apenas para quebrar o silêncio; ele não saberia dizer. Não ouvia as notas agudas lamentando ou qualquer outra voz, implorando piedade, sofrendo.

Desprendeu-se de tudo mais e encarou seu carrasco. Um rosto familiar refletiu escárnio – ali, não havia necessidade de máscaras. O fetiço foi pronunciado.

Mas não a Maldição da Morte. Não. A morte seria tão mais bem-vinda do que isso.

Dor.

Medo.

Chamas criaram um círculo em torno da vítima e do seu agressor, queimando o próprio chão de terra. Fogo, que purificava, estava prestes a incinerar os pecados – dos dois.

Não seria possível.

Mais uma vez, um feitiço. E então, as chamas sumiram. Como se fosse mágica? Mas era. Seu assassino mantinha a varinha e a magia... aparentemente, seu plano era continuar vivo. Como se nada tivesse acontecido. Como se fosse inocente.

Mas ele não era.

Além daquela vida, carregava a culpa por muitas outras. Anos de Artes das Trevas, de ataques e torturas. Assim como ele.

Ele, todavia, ainda esperava se redimir. Ou, ao menos, ser perdoado. Ou, ao menos, não lembrar toda noite o que fizera.

Morte... a morte lhe daria essa permissão. E estava fora de seu alcance. Se implorasse... não, nem mesmo se implorasse lhe concederiam essa liberdade. Calou suas intenções.

Chorou.

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