MOTIVO DE CONFUSÃO



MOTIVO DA CONFUSÃO


 


Eram seis horas da tarde em Nova York. Harry Potter descansava em seu escritório cujas paredes eram revestidas de lambris de carvalho. A camisa branca estava desabotoada no pescoço e ele, reclinado para trás, tinha os pés sobre a mesa. Chegara da Itália há dois dias, e desde então não havia conseguido um minuto de tranqüilidade, pois seus funcionários o solicitavam o tempo todo. Afinal de contas, será que não tinham iniciativa própria? Pegou a garrafa de cristal a sua frente e serviu-se de uma dose de uísque de fogo. Sentiu a bebida queimar a garganta fechou os olhos suspirando. Queria aproveitar muito bem aquele primeiro momento que tinha para si mesmo nos últimos dois dias. Dirigir uma companhia poderosa e milionária era extremamente cansativo.


 


Os olhos verdes dele percorreram a sala por um instante, sorriu com tristeza. Estava satisfeito com o sucesso, é claro, mas não queria se acomodar e parar ai. Queria encarar a emoção de um novo desafio, um novo risco, estava tudo muito fácil. Bastava estalar os dedos para que tivesse tudo o que queria, na hora. Algumas vezes ele se perguntava se não era melhor voltar a ser pobre novamente e enfrentar o desafio de lutar para subir na vida.


 


Potter começara do nada. Havia lutado contra tudo e contra todos que atrapalhavam seu caminho. Tinha sido implacável e sem escrúpulos. Nunca mais ninguém o incomodara ou tentara impedi-lo. Ir contra Harry Potter significava arriscar a própria vida. Ele suspirou entediado e passou a mão sobre os olhos. Estava cansado, mas cansado de que? Fazia o trabalho de sempre. O que teria acontecido com a empolgação que costumava sentir? Será que a queria mesmo de volta? Ele já sabia a resposta. A pobreza só é romântica nos livros de história, ele pensou. Na realidade a vida é dura perigosa, e ele ainda recordava o gosto amargo de ser pobre. As lembranças da sua vida da Inglaterra, de Nova York e da Sicília ainda estavam impressas na alma dele. Aquilo era uma selva e ele preferia morrer a ter que voltar para lá.


 


O telefone tocou. Harry quis ignorá-lo, mas não pôde, pois o toque insistiu. Ele acabou atendendo de mau humor.


_Alô – disse secamente. Nada iria tirá-lo do seu santuário particular. Pelo menos era o que ele queria.


_Rony está morrendo! – a voz desesperada de sua mãe penetrou na sala.


 


Era como se uma mão gelada apertasse o coração dele. A mãe chorava do outro lado da linha. Harry finalmente conseguiu falar.


_Vá para o hospital, mamma – a voz dele era profunda trêmula – Eu a encontrarei lá – e desligou o telefone.


 


Olhou pro teto por um momento, parecendo não enxergar nada depois bebeu o resto do uísque. Jogou o copo na mesa e pegou o paletó e saiu apressado da sala. As ruas de Nova York pareciam estar contra ele. O tráfego era intenso e Harry apertava o volante com impaciência. Acabou ultrapassando um sinal vermelho na esquina da Avenue. Pelo retrovisor viu o carro azul e branco da policia atrás dele.


_Diabo – praguejou nervoso. O guarda aproximou-se arrogante, pronto para multá-lo ou ao menos para passar-lhe um sermão. Harry abriu o vidro. O guarda engoliu em seco, estava surpreso.


__Boa noite, Senhor Potter – disse, querendo se desculpar ao reconhecer o motorista – Como vai o senhor?


_Estou com pressa – Harry respondeu secamente.


_Que uma escolta? – o policial perguntou solicito.


_Está bem. Hospital Santa Teresa. E bem depressa!


 


Vinte minutos depois, Harry entrou correndo na ala de emergência. As paredes brancas estavam impregnadas com o cheiro de morte. Os passos das enfermeiras ecoavam nos corredores. Harry sentia-se fraco quando parou; havia varias portas brancas. Hesitou por um momento e, então empurrou uma delas e entrou. Permaneceu em silêncio, olhando para o rosto do irmão doente. Sentiu o ódio queimar dentro do corpo, Rony era ainda muito jovem para morrer.


 


Fechou os olhos com força. Doía muito ver o irmão assim. Sentia uma raiva de lhe dava vontade de destruir tudo a seu redor. Respirando profundamente, ele pensou [Uma inglesa de coração frio, que pensava mais em si mesma do que na vida de um pobre rapaz.] Cerrou os punhos e desejou vingança. Harry Potter era um homem que não conseguia perdoar. Também não esquecia, encontraria a tal inglesinha e a faria pagar pelo que fizera a Rony.


_Harry – uma voz tirou-o de seus pensamentos. Os olhos verdes ainda fulminavam de ódio quando ele se virou para a porta.


_O que há Remo? – perguntou abruptamente


 


Remo Lupin observou-o com olhos de quem já viu muito nesse mundo, já sofrera e sabia dos perigos que existem. Parecia guardar tudo isso na memória.


_Ele está acordado – disse Remo, dirigindo o olhar para o jovem deitado na cama. Harry virou o rosto em direção ao irmão. Andou devagar ate a cama e ali permaneceu de pé, estava tenso.


_Oi! – a voz de Rony era um murmúrio, o rosto, uma mascara de morte. Os olhos azuis tão alegres e os cabelos ruivos tão brilhantes estavam opacos, sem vida. Harry conservou-se sério e inexpressivo.


_Por quê? – ele perguntou diretamente. Precisava saber se estava certo, se a tal mulher estava mesmo por trás de tudo aquilo.


_Eu não poderia viver sem ela – Rony respondeu enfrentando os olhos de Harry – Ela significa tudo para mim.


_Você ficará bom – foi tudo que disse, cheio de convicção. Ele não permitiria que o irmão morresse.


_Sim – Rony murmurou, vendo a determinação no rosto de Harry.


_O que o médico disse? – perguntou enfiando as mãos no bolso do paletó


_Ele perdeu muito sangue – Lupin explicou – Mas já recebeu uma transfusão. Acho que escapará dessa.


 


Harry respirou aliviado, como se um peso de 200 quilos tivesse saído de suas costas. Mas a raiva da mulher que fizera isso com seu irmão ainda estava lá. Já no ponto de sair. Ele olhou pra Lupin e voltou a ficar frio.


_E a moça?


_Consegui o endereço dela – Lupin estendeu um pedaço de papel.


_Ah, ela mora em Londres – Harry comentou, lendo o papel. Pensara que ainda morasse em Nova York. Naturalmente que tinha voltado para casa. Sem dúvida fora esse o motivo do desespero de Rony, por isso cortara os pulsos. Olhou para Lupin estreitando os olhos verdes – Tem certeza de que o endereço está certo?


_Claro


 


Harry enfiou o pedaço de papel no bolso. Examinou o corpo imóvel do irmão sobre a cama e suspirou passando a mão sobre os olhos.


_Me arrume uma passagem para...


_Já providenciei – respondeu Lupin, tirando as passagens do bolso do paletó – O avião sai dentro de uma hora, é melhor se apressar.


 


Harry esboçou um leve sorriso. Passou a mão trêmula pelo cabelo escuro e naturalmente bagunçado.


_Diga a mamma que eu tive que sair correndo.


_Naturalmente – Lupin bateu de leve no ombro de Harry, com carinho – Explicarei tudo, não se preocupe.


 


Harry estava agradecido. Olhou para Rony e sentiu ódio crescer de novo. Ele ficaria bom, mas a que preço? Desviou o olha do irmão. Iria atrás dela.


 


PA


 


Hermione estava preocupada. De pé, no meio da sala, pensava em Rony. Ele tinha batido o telefone na cara dela duas horas atrás, e desde então ela estava com uma espécie de mau pressentimento. Sabia que ele ficara profundamente sentido. Tinha tentado explicar, mas ele não quisera ouvir o que ela tinha a dizer. Tudo isso havia dificultado muito o fim do namoro deles.


 


Ela nunca o tinha sentido tão desesperado. Havia certa urgência, alguma coisa incompreensível e muito estranha. Sentira algo diferente desde que atendera ao telefone. Poderia ligar para ele e perguntar como estava. Suspirou fundo, fechando os olhos. Não, isto poderia dar a Rony novas esperanças, fazer surgir uma faísca de otimismo que não poderia mais existir. Acabou vencida pela ansiedade e ligou.


_Incorporação Black, em que posso ajudá-la? – a voz era clara e audível


_Sr. Ronald Weasley, por favor – Hermione disse à telefonista.


_Sinto muito, o Sr. Weasley saiu há uma hora. Deseja falar com a secretaria dele? – Hermione ficou ainda mais tensa. Mordeu o lábio e balançou a cabeça


_Não obrigada. Ligarei mais tarde – desligou o telefone, sentindo-se tremendamente desconfortável.


 


Se ao menos tivesse terminado tudo bem! Gostava muito de Rony, mas ele tinha forçado a situação a tal ponto que ela não tivera outra escolha. Fora obrigada a ser honesta com ele. Gostaria de saber se ele estava superando a crise. Entendia que teria dificuldades. Mas não sabia quantas sem a sua gravidade.


 


Na noite seguinte, Hermione encostou-se no assento de couro do táxi e soltou um suspiro cansado. O trabalho de modelo era exaustivo. Naquele dia tinha sido horrível. As posses, as fotos, trocas de roupa, tudo isso a esgotara. O queixo doía do constante sorriso forçado diante das câmeras. Olhou-se no espelho do táxi. Os longos cabelos castanhos e ondulados caiam sobre os olhos, emoldurando o rosto claro. Tinha os lábios cheios e rosados, as maças do rosto delicado. Mas eram os olhos que davam a ela a maior beleza. Castanhos claros e brilhantes como o mel recém tirado da colméia.


 


Era muito diferente de quando era mais nova e estudava em Hogwarts. Era toda desajeitada e nunca teve amigos por lá. Todos a chamavam de CDF e alguns de sangue-ruim. Não que se importasse muito, ela compensava os amigos nos livros pra um dia ser uma grande Aurora, porem, por não ser popular e nem um tutor que a ajudasse a entrar no Ministério foi rejeitada pela Academia de Aurores. Se vendo sem família, seus pais morreram quando ainda estudava em Hogwarts, e sem ter como se sustentar que viu a carreira de modelo na sua frente. Não era famosa, mas por sua beleza era bem requisitada por várias agências. Sua beleza foi à luz no seu caminho, sem ela, estaria passando fome.


 


As luzes das ruas refletiam nas casas, em seus telhados cinzentos e molhados. Londres era muito bonita à noite. Nova York tinha sido excitante, mas Londres era a sua cidade e ninguém podia esquecer as próprias raízes, por mais que tentasse.


_Aqui estamos doçura – o táxi parou e o chofer esticou a mão para trás para abrir a porta de Hermione.


 


Quando desceu do carro, os olhos pararam numa limusine preta estacionada do outro lado da rua. Sentiu certa curiosidade. Aquele carro não combinava com aquela rua pacata. Algum dos vizinhos deveria ter amigos ricos, ela pensou. Andou ate o velho prédio onde tinha seu apartamento, mas a intuição fez com que ela parasse antes de chegar à porta. Uma leve brisa bateu e os olhos de Hermione se estreitaram, procurando ver alguma coisa na escuridão. Engoliu em seco ao ver uma sombra alta e escura na entrada do seu apartamento.


_Quem está ai? – perguntou em voz alta, na esperança de assustar um possível ladrão. Estava com medo. Um rosto ficou visível e ela deu um passo para atrás, assustada. Conseguiu enxergar dois olhos verdes num rosto duro e marcante.


_É a srt. Granger, não é? – uma voz profunda perguntou – Srt. Hermione Granger? – o bom senso fez com que ela entendesse que, se ele sabia seu nome, não poderia ser um ladrão. Se fosse, já a teria atacado.


_O que quer?


 


Houve uma pausa e, então, ele saiu da sombra. Seu rosto ficou iluminado pela luz. O brilho da lua cheia refletia em seus cabelos e nos olhos.


_Eu quero você, Srt. Granger.


 


Hermione ficou imóvel.

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