Jogando Conversa Fora



Capítulo 5

JOGANDO CONVERSA FORA

Quando faltavam cinco minutos para as oito horas da noite, Andi já estava banhada, refrescada, relaxada e vestida.

Ela passara um longo tempo de molho na banheira, relaxando com o ambiente luxurioso e com o aroma curiosamente relaxante provindo dos óleos de banho. O banheiro, assim como o seu quarto, era iluminado por tochas fixadas às paredes e o reflexo das chamas nos espelhos era maravilhosamente hipnótico.

O seu cabelo escuro que lhe descia até os ombros para variar se comportou, ondulando extraordinariamente. Andi, então, não precisou insultá-lo com todos os palavrões que conhecia – não que lá ela fosse fazer isso.

Mesmo enquanto olhava o guarda-roupa tentando decidir o que vestiria, Andi se perguntou por que estava se importando tanto. Talvez a atitude desdenhosa de Snape para com ela tivesse alimentado a necessidade de provar algo – de provar que ela era uma adulta, que poderia se comparar a ele em termos de igualdade, e não em desvantagem por ser... como ele a tinha chamado mesmo?... uma “trouxa”.

Faltando um minuto para as oito horas, ela deixou o seu quarto, caminhou pelo corredor e contou as portas. Na terceira, ela bateu.

Ele abriu a porta.

- Você achou o quarto e não está atrasada – ele disse num tom nada amigável que imediatamente a fez sentir como uma mera aluna.

Ele foi até a cadeira ao lado direito da mesa e puxou-a, indicando de Andi deveria sentar-se nela.

Pense como Katherine Hepburn! Pense como Katharine Hepburn!’ ela cantava mentalmente como um mantra, enquanto caminhava elegantemente para a cadeira.

Ela escolhera um vestido sem mangas de seda prateada. Ele era um tanto longo – o que evitaria que fizesse piadinhas sobre o comprimento. A saia era um pouco espessa e fazia um barulho engraçado, como se tivesse raspando, enquanto ela andava.

O mais discretamente que ela conseguiu, sentou-se na cadeira. Snape sentou à sua direita, na cabeceira da mesa.

- Nós comeremos cordeiro – ele anunciou, indicando os pratos à frente deles – Você pode se servir.

- É ex-tre-ma-men-te gentil da sua parte, Professor – ‘Não, não, não! PENSE como Katharine Hepburn, não SEJA ela!

- Vinho?

Eles se serviram e começaram a comer em silêncio. Andi achava a falta de conversa estranha, mas, olhando para Snape com o canto do olho todas as vezes que tomava um gole de vinho, percebeu isso o agradava bastante.

Andi tomou o vinho rapidamente, tentando acalmar os nervos. Já estava na metade da sua taça ligeiramente grande quando tomou um grande gole e passou a língua pelos lábios.

- Esse é um ótimo vinho – ela se aventurou.

- Sim, nós temos sorte de dispor de uma extensa adega aqui – ele disse, distraidamente.

Um outro longo silêncio se instalou, quebrado apenas pelo tilintar dos talheres na porcelana.

E ela simplesmente não suportava aquilo.

- Você costuma jantar ouvindo
música? – perguntou esperançosa.

- Não se eu puder evitar, Srta. Carver.

Ela tomou mais um bom gole de vinho.

Pigarreando, disse, nervosamente.

- O que exatamente você ensina, Professor Snape?

Ele a olhou rapidamente.

- Poções.

- Ah. E isso seria...?

Lentamente, ele pousou a sua taça de vinho na mesa.

- Essa é uma tentativa um tanto banal de jogar conversa fora, Srta. Carver. E este é um costume que eu abomino.

Andi paralisou com a replica tão cruel.

- Professor, eu sei que sou um fardo para você...

Ele a encarou friamente.

- E, acredite, se eu tivesse alguma escolha, preferiria estar em casa assistindo às reprises do Big Brother; mas, como nós fomos forçados a essa convivência, não seria mais agradável para nós dois se tentássemos nos entender...?

Ele ergueu uma sobrancelha, pousando o queixo em seus longos dedos, considerando por um momento o que ela acabara de dizer.

- Muito bem... – ele disse. Andi sorriu aliviada, sem notar o brilho malicioso em seu olhar. – Talvez eu pudesse começar lhe fazendo algumas perguntas?

- Sim.

- Eu estou um tanto curioso: qual é a exata função do vibrador portátil que eu apanhei do chão do seu quarto, essa tarde?

Ela sentiu seu rosto corar.

Desgraçado!

Andi tomou mais um gole de vinho para disfarçar o seu constrangimento. Quanto mais o álcool penetrava em seu corpo, mais ela se sentia bem. Decidiu que não deixaria aquele homem lhe intimidar.

- Com certeza o senhor não é tão inocente, professor – ela respondeu docemente. – Até eu já percebi que os bruxos também batem umazinha de vez em quando.

Houve então um silêncio constrangedor, no qual eles apenas se encararam.

O canto do lábio dele se curvou e ele assentiu.

- A sua próxima pergunta é…? – Andi atirou.

- Qual é a sua idade, Srta. Carver?

- Vinte e sete. E quantos anos você tem? – ela replicou.

- Você não usa aliança, – ele continuou, ignorando-a – mas eu suponho que têm pessoas que se preocuparão com a sua ausência?

Ela abriu a boca para responder, mas a fechou novamente. Fixou seus olhos na taça de vinho. A pergunta a tinha desarmado completamente.

Andi o olhou e imaginou se ele tinha calculado perguntar aquilo. Aparentemente, ele tinha uma estranha habilidade de lê-la.

- Na verdade, não – ela disse lentamente. – Não tem ninguém. – Esvaziou o seu copo e percebeu que o seu cérebro começava a nublar. Sentiu os olhos dele sobre si, como se ele pudesse enxergar seus pensamentos.

- Eu terminei com o meu namorado recentemente – ela disse sem conseguir controlar a sua língua por causa do vinho. – Eu não conheço meus pais. Minha mãe nunca se preocupou em perguntar o nome do meu pai e eu não a vejo desde que tinha três anos de idade. A minha avó foi quem me criou. Ela morreu há dois anos.

Andi sentiu um nó em sua garganta ao falar da avó.

- Meus amigos acham que eu estou de férias... Dessa forma, respondendo à sua pergunta, ninguém se importa onde eu estou nesse momento. – Ela deu a ele um sorriso amarelo. Como ele não disse nada, ela continuou.

- Esse foi um dia muito estranho, – dobrou o seu guardanapo e depositou-o na mesa. – e eu acho que nós não temos mais assunto para jogar conversa fora... – Seus olhos bateram nele e se satisfizeram ao ver que o canto da sua boca tinha se curvado novamente. – Eu acho que vou dormir.

XxXxXxX

Reviews,
por favor.

Bjus para a Lara, que betou mais esse cap. E, naturalmente, para o pessoal que revisou: Lulu-lilits, Olívia Lupin, Avada Kedrava Riddle, Lois Lane, Lara e shey.

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