Passo a passo



  Hermione viu as contas imediatamente. Harry não pensara no que dizer quanto a aquilo. Enquanto voltavam ao Salão Comunal àquela tarde, ele a explicou sobre o Hemon, e, quando Hermione perguntou o porquê de não ter começado também, ele lhe falou o primeiro dos motivos de Carlinhos. Ela não o aceitou. Disse que só começar o Hemon não a tornaria uma pior controladora de água. Ele deu de ombros, mas sabia que ela desconfiava de algo a mais. Naquela noite, Hermione se mudou para o quarto dos monitores. Pelo visto, Malfoy ainda não fora para o dele.


  Harry não viu Gina o resto do dia, e nem mesmo Rebecca. Pensou que ele ficaria um tanto solitário agora. Chegando ao dormitório, voltou ao seu problema com o Caminho do Sol. Tentou se lembrar de mais alguma coisa que o fizera sentir culpa. Voltou a pensar desde sua visita ao Beco Diagonal, aonde parara ao descobrir sobre os pais.


  Fora ao cofre, e retirara algum dinheiro. Depois vira Hagrid pegando a Pedra Filosofal, embora não fizesse idéia do que era. Pegou o trem para ir à Hogwarts, onde conheceu Rony, e comprou todo o carrinho de doces, e conhecera Neville e Hermione também.


  Hermione... Agora que se recordava, realmente a tratara mal no primeiro ano. Se deixara levar pela primeira impressão, e não a permitira mostrar quem era. Pensando bem, agira como um sonserino. E, o que era pior... Aquele dia, o fatídico Dia das Bruxas. O dia em que Rony a fizera chorar, dizendo que não tinha nenhum amigo. O dia em que ela foi chorar no banheiro, e ele... Ele a trancara lá, com um trasgo gigante e furioso junto.


  Com uma ponta de preocupação, já começando a ficar com sono, deixou sua mente divagar. O que teria acontecido se ele e Rony não tivessem destrancado a porta a tempo? Um trasgo daquele tamanho, com uma maça na mão... Fechou os olhos, inconscientemente visualizando a cena. Ele e Rony, com onze anos, entrando no banheiro. Um trasgo montanhês adulto se virando para eles, lentamente, rugindo de raiva. A ponta de sua maça pingando algo vermelho... E, lá, caído aos seus pés, um vulto inerte, deitado em uma poça desse mesmo líquido vermelho. O trasgo rugiu novamente, levantando a maça, sem nem perceber esbarrando no vulto aos seus pés, que se virou para os dois. Os olhos vidrados e sem vida de Hermione o encararam, a boca aberta, o sangue fluindo livremente de sua cabeça e ensopando seus cabelos volumosos.


  - Não! – ele gritou, abrindo os olhos imediatamente, o coração subitamente acelerado. Sentiu o braço pesado, mas não ligou, a imagem de Hermione ainda martelava em sua mente. Se deu conta de quão estúpidas e impensadas suas ações sempre foram. Dera sorte de todas elas terem terminado bem, mas todas, e cada uma delas, tinham uma chance de dar completamente errado, e todas teriam um desfecho terrível, por única e exclusivamente sua causa, por causa de sua estupidez e impulsividade.


  Tentou tampar o rosto com as mãos, cansado, mas só um braço o respondeu. Finalmente se dando conta do peso esmagador que só crescia puxando seu braço e quase dobrando o colchão em dois, viu mais uma conta brilhar em verde-musgo, imediatamente à esquerda das contas verde-brilhantes.


  - Eu achei outra culpa? – ele falou para si, confuso. O peso parou de aumentar, mas o colchão ainda estava seriamente dobrado. Suspirando, fechou os olhos.


  Lá estavam os dois Harrys. Eles tornaram a duelar, e tornaram a tentar convencer Harry de seus lados. Mas depois de se livrar da culpa sobre a morte dos pais, sentia que podia vencer qualquer outra culpa. Não teve dúvidas em quem acreditar. Foi um duelo rápido, e logo Harry estava no lugar do Harry da direita.


  - Gangrah! – ele falou, ao perceber que Harry da esquerda se aproximava rapidamente. Uma intensa névoa tomou conta do local, ajudada pela escuridão ao redor. Ele se misturou à nevoa, tentando sentir a presença de Harry da esquerda. Assustando-se, sentiu-o logo atrás de si. Antes que tivesse tempo de pensar direito, desviou-se de um raio dando um passo para o lado, erguendo a própria varinha. – Queirrasd!


  Uma vara de madeira, normalmente usada em treinamento de combate, portanto não muito eficaz, materializou-se em suas mãos. Usando toda a força que podia, acertou Harry da esquerda nas costas, antes que ele tivesse tempo para reagir, e ainda pressionando as costas do outro, rapidamente invocou as chamas.


  - Ectinger! – ele falou, e um rastro de fogo se alastrou desde onde sua mão segurava uma ponta até a outra nas costas do outro Harry, tornando-se amarela no meio da vara. A luz forte iluminou todo o salão, e o fogo finalmente atingiu as costas do outro, fazendo-o desaparecer em chamas.


  Abriu os olhos imediatamente, sentindo o peso em seu braço sumir. Encarando a conta agora verde-brilhante, tornou a agradecer mentalmente o Sol, e deixou-se dormir, exausto.


*~*~*~*~*~*~*~*~*~*


  Nicolas tinha os olhos semicerrados em concentração. Suava profusamente, a varinha apontada para um malão, com as iniciais HP gravadas na tampa. Depois que voltaram da aula de Astronomia à meia-noite, na quarta feira, ele, Hermione e Harry despistaram os demais alunos da Grifinória para sair até atrás das arquibancadas do Campo de Quadribol. Era um esconderijo razoável, as arquibancadas escondiam os lampejos e o brilho das auras, e era longe do castelo o bastante para que ninguém ouvisse nada, além de ser um espaço aberto, onde poderiam praticar sem medo de destruir nada. A fina camada de neve que começava a cobrir o chão amortecia ainda possíveis quedas.


  Harry buscara sorrateiramente seu malão, usando a Capa da Invisibilidade, e trouxera até os dois que já o esperavam no Campo. Hermione trancou-o firmemente, e a tarefa de Nicolas era abri-lo, agora que já conseguia controlar sua aura. Desde o Dia das Bruxas, eles vinham treinando com Nicolas, sem magia, só tentando controlar sua aura. Deryl dissera que todos os bruxos possuem aura, pois é a fonte de sua mágica, então supuseram que, assim como Jason e os outros alunos do dia do ataque, Nicolas também poderia fazer a sua crescer. E realmente, com algum esforço, sua aura azul clara tornara-se visível com o passar dos treinos.


  Agora que já controlava sua aura, e a força certa de lembranças para cada tipo de feitiços, finalmente chegara a hora de testar em uma magia de nível avançado, de nível dos Guardiões. Sabiam que Nicolas poderia usar essas palavras, também, por causa do que Deryl dissera no primeiro dia de aula com eles: foi uma língua desenvolvida por magos poderosos, e só depois adotada pelos Guardiões. Se Nicolas fosse forte o bastante, poderia usar todas as magias que não envolvessem elementos, e até algumas elementais, se achasse um elemento compatível com ele, como Caíque fizera.


  Depois de se concentrar em uma lembrança antiga, de um piquenique de anos atrás, onde ele, seus pais, Aisha, Hermione e Luke riam e se divertiam, e ver sua aura azul clara surgir com a linha branca rodeando-a, puxara a varinha, e agora tentava se lembrar da palavra para destrancar o malão. Harry e Hermione o observavam em silêncio.


  - Tyhred! – ele falou, subitamente se lembrando. Viu o jato de luz atingir o malão, este se estremecer, e então, lentamente, a tampa abrir.


  - Excelente! – Harry parabenizou, junto de uma Hermione sorridente. – Nesse ritmo, alcançará a gente em pouco tempo. Vai ser uma grande companhia em dezembro.


  - Faltam menos de um mês... – ele sentenciou, sério. – Acha que dou conta até lá?


  - Sim, você dá. Estamos no começo de novembro, com certeza até as férias já saberá o bastante pra não ser inútil no resgate. – ele falou. Nicolas compreendeu que não era uma crítica. Ele realmente não ajudaria muito se não melhorasse sua capacidade mágica.


  - Vamos voltar então, isso me deixou exausto... – ele pediu, dando de ombros. Harry e Hermione assentiram, e, Harry levando o malão, os três voltaram para o castelo.


  Nicolas se deitou, quando finalmente alcançaram o dormitório e se despediram de Hermione, e ficou pensando em tudo o que acontecera. Era coisa demais em pouquíssimo tempo... Mas pelo menos, agora havia um limite para reencontrar sua irmã, ou morrer ou ser capturado na tentativa. Sentia que finalmente estava fazendo alguma coisa. Gostava demais da irmã, era superprotetor em relação à ela, porque desde pequeno fora ensinado que ela era seu tesouro, e como tal devia ser guardado.


  Não que ela gostasse disso, pensou, rindo tristemente. Ou que precisasse, acrescentou, fazendo justiça. Aisha sempre soubera se defender sozinha. Ou melhor, ela própria buscava as encrencas. Só que, dessa vez, se metera com algo grande demais para sair sozinha... Finalmente precisava da ajuda que o irmão sempre tentara dar. E agora, ele o faria, nem que perdesse a vida pra isso. Determinado, com esse pensamento em mente, adormeceu.


*~*~*~*~*~*~*~*~*~*


  Duas semanas já haviam se passado, a neve começara a realmente cair sobre o castelo, os alunos saíam com luvas e gorros agora. Hagrid já começara a escolher os doze pinheiros que seriam cortados perto de dezembro, para a decoração de Natal. As aulas se tornavam cada vez mais difíceis, e as de Aparatação, para Harry, cada vez mais frustrantes, apesar de vez ou outra conseguir aparatar. Hermione já aparatava quase perfeitamente, Rebecca continuava a fingir que não sabia aparatar, Nicolas parecia mais sólido ainda do que Harry, e ficava quase tão igualmente frustrado.


  As aulas com Deryl se intensificavam cada dia mais, e ele agora exigia exercícios de combate e pedia para que resolvessem situações complexas, ao invés de simplesmente passar as palavras e fazê-los treinar o uso das mesmas. Disse também que, em breve, eles passariam a treinar com armas, uma vez que Dreik, um de seus possíveis futuros inimigos, tinha um preparo excelente como espadachim, e eles provavelmente teriam de enfrentar os Oito Lendários.


  O plano que Harry e Hermione traçaram ficava cada vez mais definido, e ela resolvera começar a colocá-lo em prática. Com autorização de Dumbledore, ela encomendara, aos poucos, pequenas quantidades de ingredientes que não são encontrados no armário dos alunos, para que pudesse preparar determinadas poções. Harry insistira em pagar por tudo, já que não poderia ajudar a preparar.


  Enquanto isso, Harry continuava tentando desvendar o Caminho do Sol. Se livrara de sua quinta culpa três noites atrás, completando a pulseira inteira, o que fizera com que ela se abrisse e caísse, desaparecendo no ar com um clarão de luz. Isso o deixava com mais três para se livrar, e naquela manhã havia achado a sexta, começando um novo ciclo. Hermione ainda estava chateada por não estar ela própria percorrendo o Caminho do Sol, mas resolvera que Deryl e Carlinhos sabiam o que estavam fazendo. Para compensar, se dedicou mais do que nunca no treino específico com Caíque, que ficava cada dia mais positivamente assombrado com a capacidade dela.


  Nicolas encontrava algumas dificuldades nos treinos. Apesar de conseguir invocar sua aura, ela surgia levemente, como um borrão, e não parecia capaz de produzir feitiços muito poderosos. Apesar disso, se esforçava sempre a cada treino, e conseguia progressos notáveis. Harry e Hermione tinham certeza de que, se algum imprevisto surgisse, ele seria capaz de pelo menos se defender até que alguém o ajudasse, ou até conseguir fugir.


  Pelo menos em alguma coisa Harry se sentia bem. Os treinos de quadribol estavam melhores do que nunca, a equipe que Harry reunira parecia imbatível, seja no ataque ou na defesa. A cada treino, os jogadores saíam mais satisfeitos, e a casa inteira se sentia esperançosa. A única coisa que incomodava a todos era a ausência de Rony no gol, que já se tornara familiar para eles desde o ano anterior. O gol sem Rony era como o gol sem Wood, quando este ainda não era formado. A idéia era estranha. Coros de ‘Weasley é nosso rei’ surgiam subitamente, nos corredores, no Salão Principal, como tributos e incentivos a ele, onde quer que estivesse.


  Claro que o restante da escola não sabia de toda a história, mas as paredes de Hogwarts têm ouvidos. Os alunos sabiam que Rony estava gravemente ferido na Ala Hospitalar por um acidente em Hogsmeade, e que fora seqüestrado durante o ataque à escola, por ser amigo de Harry. Sabiam que fora levado para algum lugar, e que lá resistia. A escola, frente a todos esses mistérios e ameaças, finalmente começava a se unir. Talvez com exceção de parte da Sonserina, os alunos de todas as casas confiavam e acreditavam mais uns nos outros.


  Harry sentia falta dele e de Hermione. Com Rony longe, e Hermione mudada para o quarto dos monitores, ficava muito solitário no Salão Comunal, até tarde da noite, revisando os planos, relembrando as aulas, pensando com tristeza se algum dia sua vida voltaria ao normal. Depois suspirava, lembrando a si mesmo que jamais tivera uma vida normal. Sentia falta de Sirius, também. Ainda era assombrado por pesadelos à noite, sobre aquele dia, Belatrix e Sirius, depois Dumbledore e Voldemort, e então por ele próprio e Belatrix no dia do ataque. Tentava não demonstrar, Hermione já tinha preocupações demais, mas achava que Nicolas já o ouvira gritar uma vez ou outra.


  O que sentia falta, mais do que tudo, era de alguém para aconselhá-lo. Crescera sem os pais, Sirius se fora, Dumbledore parecia achar que ele devia encontrar as respostas sozinho, e Deryl estava fora de cogitação. Por um instante delirante, viu a si mesmo pedindo conselhos aos Dursley, e riu sozinho, pensando que finalmente ficara maluco de vez. Sentiu-se muito velho. Não parecia ter apenas dezesseis anos. Mas enfim, ele tinha dezesseis anos, afinal. Tinha responsabilidades demais e era apenas um garoto. Era natural se sentir cansado e perdido.


  Naquele dia, ele e Hermione haviam recebido uma informação de Dumbledore. Carlinhos mandara dizer que achara a localização exata da caverna. Tratava-se de Oscura Noche, uma prisão de guerra espanhola, datada de séculos atrás, de quando o Brasil ainda era dividido entre Portugal e Espanha. Não era mais do que um conjunto de cavernas no alto de uma serra, com uma ante-sala e uma prisão em cada, mas provavelmente fora reforçada por magia e meios de proteção para que Voldemort pudesse usá-la. Agora que o mundo estava ciente de que ele realmente voltara, decidira manter bases em várias partes do mundo, para que a Grã-Bretanha se sentisse insegura. Essa em particular parecia lhe agradar bastante, era isolada, não tinha nada em quilômetros, e os bruxos brasileiros não lhe davam a menor importância.


  Com isso em mente, passaram a treinar com mais afinco do que nunca. Então não surpreende que todos notassem os dois cada vez mais cansados e abatidos, mas cada vez com mais determinação no olhar. Nicolas também, embora em menor escala. Rebecca vinha conversar com eles de vez em quando, meio que sondando, mas os três já tinham combinado não dizer muita coisa para ela, uma vez que era irmã de Caíque, e então ela se afastava, sem respostas.


  Com tudo mais ou menos arranjado, Harry decidiu que já era hora de tornar a contatar Rony, para ver como ele estava, se tudo podia continuar indo assim. Chamou Hermione e Nicolas para o dormitório. Neville, silenciosa e respeitosamente, se retirou quando eles entraram. Os três se sentaram na cama de Harry, e ele e Hermione fecharam os olhos, concentrando-se e pressionando o colar. Mergulhando na escuridão, os dois sentiram a mente de Rony, e o chamaram.


  - “Rony?”


  - Harry! Hermione! – Rony chamou, feliz ao ouvir a voz dos amigos. Hermione se preocupou ao ouvir a voz dele. Estava decididamente fraca. Rony parecia estar quase em seu limite.


  - “Você está bem?” – ela perguntou, a preocupação evidente em sua voz. Ele sorriu.


  - Tão bem quanto poderia estar. É minha vez de ser interrogado hoje, ele está alternando entre nós dois, pra ver se a pressão psicológica afeta a gente e a gente fala alguma coisa. Ela é durona, essa Aisha. Está aqui a muito mais tempo do que eu, e não abriu a boca. Claro que a gente anda conversando bem menos, ela fica desmaiada de fome ou cansaço quase todo o tempo, e quando descansa o bastante pra ficar bem, eu sou devolvido dos cuidados de Voldemort e tornam a levar ela pra lá. – ele deu de ombros, olhando para a cela em frente, mas sem poder ver nada na escuridão. Só podia ouvir sua respiração pesada enquanto dormia.


  - “E o ferimento?” – tornou Harry.


  - Ah, está bem. Quer dizer, não podia estar em condições piores, imundo como estou, já que eles não deixam eu trocar os curativos. Eu separei um pouco da água que eles me dão pra beber e lavo as ataduras com ela de vez em quando, mas não adianta muita coisa. Enfim, mesmo assim, aos poucos, ele está fechando. Só que do jeito que vai, com certeza vai ficar uma cicatriz. – Ele sorriu. – Vamos ser todos marcados agora, eu e vocês dois. – ele brincou, se referindo à testa de Harry e ao corte horizontal que Hermione ganhara no fim do ano letivo anterior. – De qualquer modo, eu estou me sentindo um pouco melhor, não dói tanto quanto antes, e as torturas agora não fazem com que ele torne a sangrar toda vez.


  - “Dá pra agüentar até dezembro?” – Hermione tentou esconder, sem sucesso, a preocupação em sua voz.


  - Por mim dá sim, tranqüilo. Eu só tenho medo por ela. – ele apontou a cela em frente, e, se lembrando de que os amigos não o viam, ajuntou – A irmã do Nicolas. Ela está cada dia mais fraca, tenho medo de que não agüente. Mas ela é bem durona. Acho que ela agüenta até lá. Além do mais, pelo que entendi, está bem claro que Voldemort precisa dela viva. Mesmo que ela fique a ponto de morrer, não vão deixar que isso aconteça. O máximo que pode acontecer é vocês chegarem aqui e precisarem carregá-la, porque provavelmente ela vai estar desmaiada. Mas isso vai ser fácil, ela está cada dia mais magra.


  - “Estamos ajeitando tudo aqui. Deryl, nosso mestre, não quer que façamos isso. Mas Dumbledore nos apóia. Então, com ou sem Deryl, vamos até aí em dezembro. Já achamos onde você está, está mesmo no Brasil. Só estamos trabalhando em como contornar a segurança, e esperando as férias pra não alarmar todo mundo.” - Harry o atualizou.


  - Ah, tudo bem. Escuta, acho que são eles, estão vindo me buscar. Ah, Harry... – ele acrescentou, um pouco sem graça. – Acho melhor vocês não me contarem nada dos planos. Sei que até agora Voldemort tirou pouca coisa útil da minha cabeça, mas ele pode conseguir invadir minha mente a qualquer momento. Não seria legal se ele preparasse uma emboscada.


  Então, Harry e Hermione ouviram passos e vozes zombeteiras, e apressaram-se a retornar. Nicolas já os olhava, ansioso. Contaram o que aconteceu a ele. Não fazia sentido esconder o estado de sua irmã, ele a veria quando fosse resgatá-la de qualquer jeito, e além do mais, seria bom ele saber que eles a manteriam viva. Preocupado, ele simplesmente ouviu a tudo, esperando o próximo passo.


  - Então é isso. Quando as férias começarem, vamos até o Brasil, e procuramos a caverna de Rony e Aisha. Hermione precisará distrair Deryl, e Dumbledore vai com a gente. – Harry resumiu. – Levaremos poções de emergência, e vassouras de emergência. Se nos perdermos, nos encontramos na fronteira do México. Esperamos dez dias, se o outro não aparecer, voltaremos para buscá-lo.


  - Eles têm Defensores da Serpente, dos quais podemos dar conta. Os Cavaleiros da Dor estarão ocupados, segundo o que você viu. Dreik só aparece de vez em quando, teremos de dar sorte. E então esperaremos um dia em que você veja Voldemort longe de lá. – Nicolas continuou. Harry e Hermione assentiram com a cabeça.


  - E eu tenho, de preferência, de acabar com o Caminho do Sol até lá, porque não posso me dar ao luxo de achar uma culpa e inutilizar o braço direito ou um dos pés no meio de uma luta. Isso seria nosso fim. – Harry ajuntou, pensativo. – Voldemort definitivamente vai tentar me fazer me sentir culpado, se eu o encontrar, e posso achar uma culpa e inutilizar um membro.


  - É, isso seria bem ruim. E então, onde vão ficar no Brasil? – Hermione perguntou.


  - Como assim ficar? Vamos pegar os dois e sair de lá. – Harry a olhou como se estivesse louca.


  - É? Essa distância toda? E se Rony ou Aisha estiverem muito fracos? Uma viagem como essa pode matá-los. – Hermione disse sensatamente.


  - Bom... Eu não pensei nisso. – Harry respondeu, derrotado.


  - Percebi... – Hermione brincou. – Não tem problema, vemos isso depois.


  - Luke... – Disse Nicolas, lentamente. Hermione o olhou, confusa.


  - O que tem? – Harry os olhou, mais confuso ainda.


  - Quem é?


  - Um antigo amigo nosso. – ela deu de ombros. – Não o vejo desde os dez anos, muito menos falo com ele. Ele se mudou antes ainda de Aisha. E não manteve contato como ela manteve. Mas o que tem ele, Nicolas?


  - Luke se mudou para o Brasil, acho. Ou algum lugar perto de lá. – ele olhou para o chão, evitando encarar Hermione.


  - Como sabe disso? – ela o olhou, desconfiada. – Achei que ele tivesse se mudado sem deixar notícias.


  - Bom, ele... Ele manteve contato. – Nicolas ainda evitava encarar Hermione. - Mas só com Aisha... Nem mesmo comigo ele quis falar.


  - Aquele idiota... – Hermione suspirou. Sacudiu a cabeça tristemente, antes de continuar. – Então ele está no Brasil.


  - Foi o que me pareceu... Já disse, ele não falava comigo, mas suas cartas eram entregues por aves exóticas ao invés de corujas. Ele ficou mesmo chateado com aquela briga, não quis saber nem de mim nem de você... – Nicolas deu de ombros, num gesto impotente.


  - Eu imaginei... Mas não fazia idéia de que ele ainda falava com Aisha. Suponho que seja pelo motivo de sempre. – ela o olhou.


  - Deve ser. Ela não me contava nada, também, disse que prometeu a ele não dizer nada. De qualquer modo, se ele mora mesmo no Brasil, teremos onde ficar, e onde deixar os dois descansar por uns dias. Duvido que ele vá negar, se for por Aisha. – Ele comentou, ao que Hermione assentiu com a cabeça veementemente.


  - Não vai mesmo, O problema é saber onde ele mora. – Nicolas ficou pensativo por uns instantes.


  - Não devem existir muitas famílias de sangue-puro no Brasil. Ouvi dizer que é o país mais mestiço do mundo. Além do mais, lá deve ter uma escola, se a acharmos, achamos a passagem dele por lá, e podemos rastrear onde ele mora por pessoas que conhecem a família dele. Tem vários caminhos, o problema é que são todos complicados.


  - Tudo bem, vamos deixar isso pra depois, porque de qualquer modo já teríamos de estar lá pra começar. Vamos nos concentrar no que fazer agora. – Ao ver que Harry ainda os olhava, ajuntou – Luke é um antigo amigo nosso e de Aisha, que teve uma briga feia com Nicolas, na qual eu tomei partido contra ele. Ele se mudou logo depois, mas não manteve contato comigo, então nunca mais falei com ele. Ele provavelmente continuou falando com Aisha primeiro porque ela não tomou partido nenhum, segundo porque ele é apaixonado por ela desde pequeno. Como se comunica por aves exóticas, Nicolas acha que ele mora no sul, provavelmente no Brasil ou próximo a ele, já que África é muito deserta e Austrália muito longe pra uma ave entregar a carta. Se pedirmos, ele com certeza cederá a casa por Aisha. Isso resolveria nosso problema.


  - Ah, certo. – Harry assentiu, compreendendo.


  - E então, o que temos de fazer agora é... Harry, terminar o Caminho do Sol. E ficar de olho em Voldemort, pra saber quando ele vai marcar a troca com Rony, e algum dia que ele saia de Oscura Noche. Nicolas, desenvolver seu controle da aura. E eu vou fazer todas as poções que vão precisar, e vou me aproximar de Deryl.


  - Certo. – Os dois garotos assentiram. Um clima pesado se espalhou sobre eles, enquanto compreendiam a importância e o perigo do que estavam a ponto de fazer.


*~*~*~*~*~*~*~*~*~*


  Na semana seguinte, Harry já se livrara da pulseira do outro braço. Começara a colorir a do pé esquerdo, já tendo se livrado de duas contas. Contemplava agora a conta verde-musgo que se acendia em seu pé, enquanto acabava de descobrir a culpa que sentia ao deixar Pettigrew escapar. Essa não era uma culpa fácil. Ele realmente acreditava que foi uma falha inteiramente sua que Pettigrew tivesse fugido. Isso acarretou em várias conseqüências desagradáveis, mas Harry não queria pensar nelas agora, não conseguiria lutar com tantas culpas de uma só vez.


  Sentiu seu pé ficar cada vez mais pesado, afundando na grama macia do Campo de Quadribol, ainda com as vestes do treino. De lá de cima, avistara o Salgueiro Lutador, e isso desencadeou uma lembrança atrás da outra, até sentir a Firebolt descer lentamente e perceber que achara uma culpa. Desmontara da vassoura e sentara-se na arquibancada, encerrando o treino, e somente Nicolas ficara, por saber do que se tratava. Ele estava sentado ao seu lado, silencioso, segurando sua Nimbus 2001 e a Firebolt de Harry, vendo-o suspirar e fechar os olhos.


  Os dois Harrys agora já se acostumaram com a presença de Harry. Não o pediam mais para se decidir, simplesmente começavam a duelar, gritando seus argumentos e esperando que ele os escolhesse. Uma coisa que Harry notara era que as tatuagens nos braços de ambos os Harrys, antes um pequeno brilho verde musgo em um e verde brilhante no outro, cresciam a cada conta que Harry acendia. E agora já começavam a tomar uma forma. Ainda não se podia dizer com certeza, mas pareceu a Harry um animal, com patas demais. Os dois Harrys duelavam mais ferozmente agora, e começaram a dizer seus argumentos para Harry, que só os ouvia em silêncio.


  - Ele fugiu! Como disse a profecia, ele se juntou ao Lorde das Trevas, e o fez retornar! Pettigrew, o homem que traiu seus pais! O rato que entregou nossos pais! De quem é a culpa? É sua! – Harry da esquerda começou, atirando raios vermelhos no outro.


  - Você sabe que não é verdade. Voldemort teria retornado de um jeito ou de outro, ele tinha muitas mentes frágeis a sua disposição para controlar. Rabicho foi só um que surgiu mais cedo. – Harry da direita se desviou dos raios, atirando raios amarelos de volta.


  - Eu o deixei viver... – ele começou. Desde que aceitara a morte dos pais, não duvidava tanto de si. Só que sentia que, enquanto exterminava cada culpa, devia se livrar de cada resquício dela, tirando cada pequena dúvida, para ter certeza do que fazia.


  - Sim, você o deixou viver! – Disse Harry da esquerda, exultante – Você o salvou, e como recompensa, ele fugiu e matou Sirius! – Harry sentiu uma pontada de dor ao ouvir isso. O duelo começou a se desequilibrar. Harry da esquerda acertou o outro, mandando-o longe com um flash azul. Ele logo se pôs de pé, gritando para Harry.


  - Você o deixou viver porque era a coisa certa! Você não poderia se tornar um assassino. Desapontaria não só a todos que te conhecem e te vêem como um exemplo, mas a seus pais também, e a si próprio! Além do mais, Sirius morreu por uma série de fatores, a maioria deles inconseqüência dele próprio, e não finja que não sabe disso só para honrar a memória dele. – Harry da direita continuou severamente.


  Harry olhou para o chão, ignorando a parte de Sirius. Podia se dar a esse luxo, como descobrira em experiências anteriores, uma vez que a culpa em discussão era Pettigrew e não Sirius. Considerou o restante dos argumentos dos dois Harrys. Era verdade, deixara-o viver e isso causara uma série de coisas ruins, mas realmente não acreditava que, se fizesse tudo de novo, poderia matá-lo. Como dissera o outro Harry, desapontaria a todos, e em especial a ele próprio, agir como alguém que tanto diz desprezar. Ao pensar nisso, sentiu o pé mais leve, e ao erguer os olhos, como já tinha adivinhado, encarava Harry da esquerda, varinha em punho, no lugar de Harry da direita.


  - Ectinger Saph! – exclamou, levantando a varinha para o alto. Uma enorme estrela de fogo surgiu acima de sua cabeça, e ele estendeu a varinha pra frente. A estrela saiu girando, como uma shuriken gigante, e com um clarão, tornou-se amarela no meio do caminho, antes de acertar o outro Harry em cheio, clareando todo o Salão.


  Ele abriu os olhos e deu de cara com Nicolas, que o olhava ansioso. Olhou então para o pé. Depois de abrir uma cratera no chão do Campo, parara de afundar. A conta agora estava verde-brilhante, e ele apontou-a para Nicolas. Este soltou um suspiro de alívio, e entregou a Firebolt de Harry, sem dizer mais nada. Então, os dois marcharam para o vestiário, para se trocar e voltar para o castelo.


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  Draco estava deitado em sua cama espaçosa no quarto de monitor. Já havia jogado metade das almofadas ao chão, rolando de um lado para outro, mas não ligava. Pansy não estava mais tanto em seu pé desde que se mudara, mas aparecia de surpresa vez ou outra, como o que fizera faziam dois minutos. Isso o incomodava. Ele sabia de algo que podia tirá-lo disso, mas não conseguia.


  Ele não conseguia tirar aquele beijo da cabeça. Continuava com Pansy, porque era a única forma que tinha, de não esquecer... Sabia que aquilo jamais se repetiria. E sempre que Pansy o beijava, ele não conseguia evitar a comparação... E isso o lembrava mais uma vez de qual era a sensação. Era a única maneira de reviver aquilo, seu toque, seu gosto, seu cheiro. Rolou na cama. Ele estava plenamente consciente que ela estava ali, do outro lado do banheiro, a um cômodo de distância.


  - Não seja idiota. Ela te odeia. Fim da história.


  Não tinha idéia que ela tinha acabado de dizer a mesma frase, ali, a um cômodo de distância.


*~*~*~*~*~*~*~*~*~*


  O dia seguinte amanheceu inquieto para todos eles. Mas se tornaria ainda mais inquieto. Draco tinha um horário vago após o almoço, e apesar do inverno ainda estar a quase um mês de distância, os ventos cortantes já eram frios o bastante pra desencorajar alunos nos terrenos. E foi isso o que o fez ir até lá. Não queria companhia. Os barulhos que lhe levaram até lá. Era definitivamente crepitar de chamas. Talvez o gramado do Campo de Quadribol estivesse pegando fogo...


  Qual não foi sua surpresa ao ver Hermione ali. Potter estava lá, é claro. E um velho, e o professor de DCAT. Até que gostava das aulas dele. Uma magia muito dolorosa que forçava a pessoa a se manter paralisada e em silêncio fora usada em Pansy, e coube a ele desfazê-la, na última aula. Convenientemente, ele pareceu particularmente ruim em magia naquela manhã. Não ganhou os pontos da aula, mas disse a si mesmo que a Pansy calada uma aula inteira valia dez pontos de Slytherin a qualquer momento.


  Parou perto das arquibancadas, observando. O velho lançava fogo em Potter. Rápido, de várias formas, cores e tamanhos, uma hora um chicote vermelho, em seguida uma roda amarelada, e sem que ele pudesse piscar, uma águia azulada já avançava. O que mais o surpreendeu foi ver Potter defendendo todos. Usou a varinha para parar o chicote, girando-a pra frente dissipou a roda, e o mais surpreendente, no fim, fez a águia dar meia-volta em pleno vôo e voltar em um rasante para o velho. Ele a barrou com uma parede de água antes de voltar a lançar mais fogo.


  Voltou o olhar para Hermione. E seu queixo caiu. Já imaginava que Potter recebesse algum treinamento especial, afinal, ele era o Escolhido ou sabia lá mais o quê. Mas ver Hermione daquele jeito – poderosa, não havia outra palavra – o fez olhar, admirado, enquanto ela combatia ondas enormes, estalactites de gelo, e sumia em nuvens de fumaça para passar a atacar do oculto. O professor estava tendo momentos difíceis. Ela decidira usar pequenas cápsulas de água, cilíndricas e comprimidas, que disparavam feito projéteis. Ele conseguiu distinguir o vermelho do sangue quando uma delas acertou, explodindo em cheio contra a perna do professor, que criou uma enorme cúpula de gelo pra impedir as outras enquanto gesticulava pedindo tempo.


  Parecia que ela não tinha visto. Quando viu a cúpula, fechou os olhos, ele só podia supor que preparando um novo ataque. Então, a aura vermelha que ele não percebera antes aumentou, ele conseguiu distinguir a fina linha prateada ao redor dela. A nuvem de fumaça que encobria a cena pareceu encolher, até virar uma quantidade considerável de água, que espiralou ao redor dela e se encerrou até que ela sumisse de vista. Ele forçou os olhos, tentando enxergar, mas antes que se desse conta, a água desabara no chão com estrondo. E Hermione não estava mais lá.


  Olhou em volta do campo, mal registrando a dança entre Potter e o velho, procurando-a, e então notou um movimento com o canto dos olhos. Olhou para aquela direção. Uma sombra a mais surgira dentro da cúpula de gelo do professor. Não era possível... Ela não tinha ido parar ali... Tinha? Subitamente, estilhaçando-se em pedacinho, a cúpula se quebrou, confirmando que ele estava certo. Hermione criara uma espécie de extensão do seu braço, uma cobertura de gelo que cobria sua mão em uma ponta afiada, e atacara o professor de surpresa. Mas então...


  O professor, treinado toda a vida para agir, e pego de surpresa quando achou que a luta acabara, deixou os instintos assumirem o controle. Vastamente mais treinado e experiente que Hermione, em dois segundos apenas, cobriu o braço com um escudo redondo de gelo, e criou a mesma cobertura que ela no outro braço. Agindo pelo instinto, avançou o braço com a ponta na direção do peito desprotegido de Hermione.


  Em dois segundos apenas, Draco arregalara os olhos e começara a correr campo abaixo.


  E depois de dois segundos, parou de correr, confuso, e olhou para os dois. O professor não se movera mais nem um centímetro. A boca de Hermione continuava meio aberta pela exclamação de surpresa que soltara quando viu o escudo barrar seu ataque. Eles simplesmente... Pararam de se mover por completo. Olhando atentamente, os estilhaços de gelo que se soltaram da ‘arma’ de Hermione flutuavam no ar, interrompidos a meia-queda. Ainda mais confuso, olhou para o lado. Potter parara onde estava, a varinha erguida, um leão de fogo apenas com a metade dianteira formada saindo da ponta de sua varinha. O velho também paralisara, no meio de um giro, labaredas vermelhas espiralando na mesma direção em que ele girava, a meio caminho de formar uma barreira.


  Draco olhou cada um deles novamente. Ele próprio mal se movia, surpreso demais, inconscientemente temendo que, se ele também se movesse, quebraria aquilo. Porque aquela era a verdade. Todos ali, exceto ele, haviam sido congelados no tempo.


 


*~*~*~*~*~*~*~*~*~*


N/A.: So... Meio ano. Nem levou tanto dessa vez, não é? Desculpem novamente a cara de pau. Mas aqui está, pra quem ainda quiser ler. Agradeço a Dryka Jane M. Potter, Agatha e Ruby Black. Me deram forças pra seguir em frente. A propósito, Dryka. Você disse que queria mais diálogos porque pensamento ficava cansativo. Aí depois disse que queria diálogos menos longos... Complicado xD Só brincando. Obrigada por ler e dar sugestões. Vou tentar atrasar menos da próxima vez. Se alguém ainda lê, até o próximo capítulo!


~*Aparatei*~

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Comentários (2)

  • meroku

    entao o Draco é o guardiao do tempo!!!!!!!!!!!!!!???????????sendo assim aquele garoto que o Harry levou pra treinar (esqueci o nome) é o guardiao do vento?????????e a Aisha a gardia da terra?????????  

    2012-10-31
  • Iasmim Costa

    Ah não demora mais tanto tempo pra atualizar a fic, por favor!! Adoro sua fic!

    2012-02-02
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