"Sempre estarei a seu lado"

"Sempre estarei a seu lado"



A Toca, em um dia qualquer de agosto. A manhã nascia. Nascia com um sol extremamente brilhante, entrando sorrateiramente pelas janelas e frestas descobertas do antigo prédio torto. Esses mesmos raios acordaram uma garota ruiva, que saiu do beliche, levantou a cabeça e observou sua colega de quarto. Sorriu ao perceber que dormia pesadamente. Havia notado olheiras e alterações rápidas de humor na amiga. Resolveu deixá-la dormir. Trocou-se e foi tomar café da manhã.
Alguns minutos depois, outra jovem acorda, abre os olhos castanhos (quase cor de mel ao sol exuberante), espreguiçou-se e levantou, sacudindo ligeiramente os vastos e volumosos cabelos castanho-claros. O rosto dela seria magicamente perfeito, se tivesse a ausência de profundas olheiras. Hermione Granger há dias não dormia bem. Gina Weasley, sua colega de quarto e melhor amiga não suspeitava, mas Hermione tinha terríveis pesadelos todas as noites, e supunha que sua amiga tinha mesmo um sono muito pesado, para não acordar-se com seus gemidos e ocasionalmente, um grito estridente.
Hermione pegou frouxamente a varinha,que estava em cima da cômoda, e fez um gesto vago em direção das camas, murmurando com a voz ainda rouca:

- Arrumar!

As duas camas do beliche ficaram com os lençóis impecavelmente limpos e esticados, e os travesseiros fofos com as fronhas desamassadas. Ela conduziu-se lentamente ao banheiro, despiu-se e entrou no banho frio. Enquanto deixava a água conduzir-se lentamente pelo seu corpo, pensava.
Antigamente, todo o dia pensava nas mesmas coisas: em que comeria o que faria à tarde, contava os dias que faltavam para voltarem para Hogwarts. Mas hoje, não. Hoje, como em todos os dias que tinham se passado desde que a Guerra terminara, ela estava n’A Toca (os pais de Hermione haviam morrido ‘misteriosamente’,diziam os trouxas. Hermione sabia que tinham sido mortos com o Avada Kedavra.). O fatídico dia que todos procuravam esquecer, e ela também, voltava insistentemente à sua memória. Há seis meses a guerra terminara, e nem sinal dele. Hermione chegava a ser inconveniente, às vezes escutando através de portas, buscando desesperadamente pelo seu nome. Havia ouvido, uma vez, McGonagall conversando com Dumbledore (que estava vivo, tinham recentemente descoberto que não passara de um plano dele e de Snape.), dizendo que ele estava estável, recuperando-se em sua casa. Hermione perguntava-se se precisava tanto tempo para isso.
Desde aquele dia que não o via... e precisava perguntar à ele o que queria dizer com aquelas palavras.

FLASHBACK

Casa dos Gritos. Todos os participantes da Ordem da Fênix - inclusive Snape – preparavam-se para a batalha final. Os mais jovens integrantes da Ordem da Fênix, Harry, Rony e Hermione, se preparavam em diferentes – e deploráveis, diga-se - quartos da casa, que emanava podridão e desespero. Mas todos estavam confiantes. Hermione lançava, numa porta, diversos feitiços e azarações, quando Snape entrou, e uma azaração do Corpo Preso perpassou sua orelha esquerda.
Hermione apressou-se a dizer:

- Oh, desculpe-me, não vi o senhor...

Mas ele fez um gesto vago com a mão e disse, um tanto rouco:

- Entendo, srta. Granger, não poderia saber quando alguém viria a adentrar o quarto.

Hermione não pode deixar de perceber que ele estava cansado, até fraco. Ia perguntar se estava bem, mas ele foi mais rápido e disse, interpretando corretamente sua face contraída de preocupação:

- Estou bem, Granger. Vim avisá-la que logo começaremos a batalha.

Hermione deixou escapar uma exclamação triste, que soou como um gemido baixo. Snape fez cara de interrogação e perguntou, na voz habitual:

- Algo a atingiu?

E caminhou ao redor dela, como se quisesse ver onde uma bala perdida entrara. Não encontrando nada, suspirou pesadamente e jogou-se em um sofá velho e puído. Ela também suspirou e disse baixinho - mas suficientemente claro para que ele entendesse:

- Estive pensando... Talvez não saiamos vivos desta batalha. E se o mal triunfar? O que vai ser dos outros? E dos trouxas? Meus pais só foram os primeiros, professor.

Se deixou cair no sofá, ao lado dele. Snape falou suave – porém rispidamente, como se ela já devesse saber daquilo há tempos:

- O bem sempre vence, não é isso que Dumbledore diz? Não importa o que aconteça, estarei sempre com você. Lembre-se: aqueles que nos amam...

-... nunca nos deixam realmente - terminou a frase para ele.

Mas antes que pudesse perguntar o que ele queria dizer com aquelas palavras, tão enigmáticas, mas ao mesmo tempo calmantes, ouviram um berro ensurdecedor (que, mais tarde, souberam que fora de Remo Lupin) e saíram correndo, só tendo tempo de dizer simplesmente:

- Boa sorte.

FIM DE FLASHBACK

Hermione saiu do banho, vestiu-se, amarrou o cabelo e desceu para tomar um café, não sabendo o que o dia lhe renderia. Para ela não importava: só conseguia pensar nele e em suas palavras.



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