Diabretes e uma Perna de Trasg



Capítulo 4 - Diabretes e uma Perna de Trasgo


1º de Julho de 1995.
- Tonks! – gritou uma voz, fazendo a jovem acordar.
- Hã?! – falou Tonks, sem concordância alguma, levantando a cabeça para ver Kingsley Shacklebolt no seu cubículo, no Quartel-General do aurores.
- A noite foi boa, hein? – perguntou ele, sério.
- Ah, não, de verdade – respondeu ela, se aprumando na cadeira. – Fiquei fazendo até tarde o relatório pro Scrimgeour, e não preciso dizer que ficou péssimo.
- Arrume alguma coisa para fazer nesse escritório – falou Kingsley, mas a seguir baixou a voz. – Me encontre nesse endereço hoje, depois do expediente. Tenho um recado de Dumbledore. – e entregou um pequeno pedaço de pergaminho na mão da moça.
- Claro – concordou Tonks, olhando para o relógio. – Faltam apenas quinze minutos, nos encontramos lá.
- Até mais. E vê se não dorme de novo.
- Pode deixar – disse ela, lendo o bilhete, que dizia: Largo Grimmauld, Londres.

- Está atrasado – murmurou Tonks, na pequena pracinha do Largo Grimmauld. Ela sempre quis dizer aquilo para Kingsley, já que normalmente era ele quem falava isso à ela. – Afinal, que lugar é esse?
- Você está na rua da sede da Ordem da Fênix - disse ele, com simplicidade. – Siga-me.
Ele a conduziu pela rua, e pararam entre os números onze e treze de casas mal-cuidadas. A seguir, entregou outro papel, dessa vez com a seguinte mensagem:
"A sede da Ordem da Fênix fica no Largo Grimmauld, nº12, Londres."
- Leia em silêncio e memorize – falou Kingsley. Mal a bruxa acabara de ler, uma casa maior e mais mal-cuidada que todas as outras se materializou entre os números onze e treze. Era o número doze.
- Uau! – exclamou Tonks. Embora fosse bruxa, ela não tinha grande conhecimento de casas bruxas, uma vez que, na família do seu pai, apenas ele e um dos irmãos fosse bruxo. Toda a família era trouxa.
- Vamos? – e já estavam no hall da casa.
Se esta era mal-cuidada por fora, pensou Tonks, por dentro era um mofo só.
- É nisso que vamos salvar o mundo? – perguntou ela, num tom desgostoso.
- É aqui que vamos salvar o mundo – corrigiu o auror. – E não fale assim perto de Sirius, pode ofendê-lo.
- Ofender o Sirius, por quê?
- Não me ofendeu, de verdade – disse a voz de Sirius, que acabara de surgir. - Bem vinda à nobre casa dos Black, Nymphadora! – disse ele numa voz falsamente animada.
- Tonks, Sirius – corrigiu ela, com um arrepio. – Essa casa é da sua família?
- Nossa família. E, como pode ver, está um lixo. O elfo-doméstico, Monstro, não limpa nada há anos, desde que minha mãe morreu – explicou ele, com amargura. – Vamos para a cozinha? É o único lugar habitável daqui, mas Remus insiste que a biblioteca está em boas condições.
- Er... se importa se eu dar uma olhada no lugar, Sirius? – pediu Tonks. Ela pediria isso se fosse qualquer outro lugar, também, mas esse a levava a ter um interesse especial. Fora o lugar onde sua mãe cresceu.
- Não, sem problemas, Tonks – respondeu ele. – Estaremos ali adiante. Só tome cuidado com a sala de visitas, achamos que está com algum bicho estranho ali dentro. E conhecendo minha mãe, eu não discordaria.
- Está bem – riu ela. Logo ela se achava em um corredor cheio de cabeças de elfos-domésticos penduradas na parede, o que era completamente nauseante.
A casa estava coberta por mofo. De fato, Tonks nunca vira uma casa tão suja assim antes. Era grande, e cada cômodo parecia levar à outro diferente do anterior. Se sua mãe visse sua antiga casa agora, certamente que teria um colapso nervoso. A bruxa adentrou uma nova sala e deu de cara com uma coisa tão suja quanto a casa. Coisa não, ser. Com nariz e orelhas pontudas, um elfo-doméstico pairava à frente de um armário.
- Aaah, então você é o Monstro – falou ela, fraternalmente, em reconhecimento.
- Escórias vêm falar com Monstro, Monstro vai fingir que não ouve... – murmurou o elfo para si mesmo, se virando. – Monstro tem que ir, o que diria a senhora se visse Monstro falando com pessoas dessa laia...
Tonks ficou observando o elfo deixar a sala, com um misto de risada e aflição. Em geral, ela não tinha problemas com elfos-domésticos, e aquele ali certamente que traria algum problema. Ainda assim, aquele encontro não deixara de ser irônico.
Ao se virar, a auror viu o armário que Monstro andara mexendo. Mais uma vez, a curiosidade foi maior do que a razão. Assim que abriu o armário, saíram de lá uns cinquenta diabretes azul-elétrico.
- Aaaaaaarre! – gritou Tonks, tentando se proteger dos tantos diabretes que vinham para cima dela, tentando machucá-la na medida do possível. – Imobulus! – berrou ela com a varinha à mão,mas não fez mais do que meia dúzia de diabretes ficarem imobilizados.
- Imobulus! – bradou uma nova voz dentro da sala.
Aos poucos, os diabretes foram sendo imobilizados, e Tonks pôde ver quem a ajudou. Era Remus Lupin.
- Ah, obrigada, de verdade – agradeceu ela, um pouco desarrumada. – Sempre achei que os diabretes da Cornualha eram exclusivamente da Cornualha!
- E são, mas esse lugar ficou sem ninguém por um bom tempo. Você está bem? – disse Lupin, bondosamente. – Eu bem que disse ao Sirius para avisar para ninguém vir para a sala de visitas...
- Ah, não, ele me falou. Eu só não sabia que aqui era a sala de visitas – explicou Tonks, um tanto encabulada. – Mas eu estou bem, de verdade.
- Já que é assim, eu vou voltar para a biblioteca – disse ele, se virando.
- Será que pode, hum... Dizer-me...
- Quer que eu a leve de volta à cozinha? – perguntou Lupin, sorrindo.
- Exatamente! – exclamou ela, sorrindo também. – Esse lugar é enorme, eu decididamente estou perdida.
- É enorme, mesmo – concordou ele, enquanto saíam da sala.
- E sujo - acrescentou ela. – Juro que vi uma pelota de mofo pulando que nem um coelho no que parecia ser uma sala de jantar.
Ele apenas riu. Aquela garota irradiava vivacidade de uma forma que nem mesmo ele não pudesse se sentir contagiado. Mas continuaram andando, ela tagarelando sem parar. Até chegarem ao corredor que levava aos quartos e à cozinha.
-... Mas eu realmente gosto da minha profissão, esse negócio de se arriscar é muit...
TRABUM.
Tonks havia caído estatelada no chão por causa do porta guarda-chuva em forma de perna de trasgo. Pelo visto, além de tagarela, ela era desastrada.
- Você está bem? – perguntou Lupin, já esquecendo do pequeno detalhe que tendia a gritar no corredor. Ele já ia ajudá-la, mas ela foi incrivelmente rápida e já se erguera.
- Estou ótima – respondeu, olhando para o objeto que a fizera cair. – Ai, me desculpa, mesmo...
E naquele momento, um quadro de uma velha na parede pôs-se a gritar.
- Ralé! Escória! Vergonha para o mundo dos bruxos! Sangues-ruins!
- Cale a boca! – berrou Sirius, que já saíra da cozinha para fechar a cortina e abafar os gritos da velha.
Com Lupin e Kingsley, ele conseguiu acabar com os berros, em meio à uma avalanche de pedidos de desculpas por parte de Tonks.
- Não foi nada – disse Sirius, ofegante. – Ao menos conheceu a sua querida tia-avó, minha mãe, infelizmente.
- Minha tia-avó? – repetiu ela.
- Sua tia-avó – respondeu ele. – Agora vamos à cozinha, lá podemos conversar sossegados.
A garota era realmente inusitada, pensou Remus. Seria essa uma qualidade boa para a Ordem da Fênix? Apesar de tudo, ela parecia ser sincera e falava tudo o que pensava (e mais um pouco!). Ele iria descobrir com o tempo, é claro.

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