Magia



Capítulo 26 – Magia



É difícil saber quando se está errado. É realmente muito difícil. E é tão fácil errar. Errar uma vez é humano. Persistir no erro, aí já é burrice. Ele fora tão cego assim? Fora tão covarde quanto Harry o acusara de ser? Fora tão idiota quanto aos seus olhos isso lhe parecia? Ele mesmo já não sabia dizer.
Fazia cinco dias que ele e Tonks discutiram. Fazia cinco dias que eles não estavam mais juntos. Fazia cinco que ele não a via. E ele soube, no momento em que a vira aparatar, que não seria fácil viver sem ela. Ele achou que não seria fácil. Mas é muito mais difícil do que ele achava que seria. Seus pensamentos estavam sempre nela, em todo lugar, não importa o que estivesse fazendo. A essa altura, toda a Ordem já sabia que eles não estavam mais juntos. Todos sabiam que ele a abandonara. Sim, Harry estava certo. Ele fora covarde. Covarde em não ter esperanças de que seu filho vai ser normal; em não acreditar que seu relacionamento com a mulher que ama vai dar certo; em não querer ter a responsabilidade de uma família.
Ele estava sendo muito covarde. Decepcionara a todos. Nymphadora iria querê-lo de voltar depois disso? Depois que ele lhe prometeu que nunca a deixaria, depois que ele disse que a amava tantas vezes... Depois que ele admitira estar arrependido do casamento deles, depois que ele disse não estar feliz com ela? Ele foi mais que covarde; foi egoísta. Egoísta em pensar nos sentimentos dele o tempo inteiro, e não ligar para o que ela estava sentindo. Ela, que mesmo sofrendo dos enjôos e tonturas, amava o bebê antes mesmo de nascer. E ele não esqueceu apenas dela, mas esqueceu do bebê.
Ali, andando sem rumo algum por Londres, ele percebeu que não podia mais ter dúvidas. E a verdade é que ele já não as tinha, mais. Sentia peso na consciência por ter atacado Harry, por não aceitar o que ele falara. No momento em que saiu do número doze, percebeu que o rapaz não estava errado. Harry fora o único que falou o que pensava para ele, o único que falara o que ele tinha que ouvir.
E ele precisava fazer alguma coisa. Ele não podia continuar daquele jeito. Ele devia se redimir. Dizer que estava arrependido. Sendo que, dessa vez, seria a coisa mais certa a fazer.

*~*



- Dora, onde está indo? – perguntou Ted, enquanto mudava de canal a televisão. Não era comum aos Tonks assistir televisão, mas Ted mantinha o aparelho na sala de estar.
- Eu não estou me sentindo muito bem, hoje – respondeu a filha, que acabara de levantar. A palidez no rosto dela certamente indicava que os enjôos ainda não haviam passado. – Acho que já vou dormir.
- Ainda é tão cedo – falou Andrômeda, olhando para o relógio, que indicava oito horas e quarenta minutos. – E se alguém aparecer querendo falar com você?
- Então, digam que eu não estou – respondeu Tonks, friamente. – Duvido que alguém queira falar comigo a essa hora, a não ser que seja uma emergência. Boa noite.
Ela subiu as escadas calmamente, e, no momento em que chegou ao banheiro, pensou ter ouvido batidas na porta. É só coisa da minha cabeça, pensou ela. As esperanças que tinha de Remus aparecer não eram grandes como há cinco dias. Ela fora em uma única reunião da Ordem, que já havia sido marcada anteriormente, e ele não estava presente. Até lá, de alguma forma, todos já sabiam do acontecido. Por conta disso, ela supôs que ele falou para alguém sobre isso, o que significava que seria definitiva a separação deles.
Quando terminou de escovar os dentes, ela ouviu três batidas na porta. Ótimo, pensou ela, Kingsley deve estar na sala me esperando para avisar da próxima reunião, coisa que ele certamente poderia fazer amanhã de manhã.
- Mamãe, eu disse para não abrir se não fosse emergência – falou ela, abrindo a porta. Quem estava diante dela não era Andrômeda, no entanto.

Era Remus.

- Isso é uma emergência – murmurou ele, baixinho.
- Você pode morrer a qualquer minuto? Porque, se fosse isso, era só ir ao St. Mungus – falou ela, com sarcasmo, saindo do banheiro. Ela já estava indo para o quarto quando Remus puxou sua mão carinhosamente, e ela o olhou de volta.
- Ir ao St. Mungus não me ajudaria nem um pouco – disse o lobisomem, sério. Ele olhou o cabelo dela, de repente, e falou, um tanto surpreso: – Seus cabelos estão cor-de-rosa.
- Se parassem de mudar toda vez que você desistisse, eu já estaria sem poder algum – disse Tonks, em tom frio. Seu coração estava a mil por hora, e ela logo perguntou: – O que veio fazer aqui?
- Fui um idiota – disse ele, em tom vencido. – Fugi dos meus problemas, quando eu mesmo os criei. Eu fui um covarde, e acho que isso é o mínimo que você pode achar de mim.
- Enfim concordamos em alguma coisa – ela soltou bruscamente a mão dele.
- Eu sinto muito por tudo que disse, eu estava seriamente enganado – disse ele, com sinceridade. – Fui um tolo ao falar que não achava que daríamos certo, que o bebê vai ser um lobisomem...
- Você falou o que pensava, ao menos uma vez, e eu não o culpo por isso.
- Deveria, porque os meus pensamentos estavam errados. Mas não estão mais – ele a olhava fixamente nos olhos. – Eu peço que me perdoe, Dora. Prometo nunca mais...
- Me deixar? – completou ela, igualmente séria. – Bem, essa seria a terceira vez que você prometeria. Não prometa coisas que não pode cumprir, Remus. Assim você me poupa o trabalho de alimentar esperanças.
- Estou aqui, não estou? – perguntou ele. – Dora, eu amo você. Eu amo vocês. Não a deixarei porque, pela primeira vez, não tenho dúvidas sobre nós.
- Fico feliz em saber disso, mas ainda assim... – ela fitou o chão por alguns instantes, meio que sem saber o que dizer. Queria aceitá-lo, queria ficar com ele, mas não poderia... Ela tentara uma vez, e ele a deixara de novo. – Eu tentei, Remus. Por nós dois. E você quer tentar quando eu já perdi minhas esperanças em você.
- E o que você quer que eu faça? – questionou Remus, em tom desesperador. – Eu não consigo viver sem você, Dora. Minha vida não sentido algum sem você nela.
- Eu ainda estou nela, mas acho que meu papel será diferente dessa vez – murmurou Tonks, virando-se e encaminhando-se para o quarto.
Assim que sua mão tocou na maçaneta da porta, ela fora novamente puxada. Estavam cara a cara agora. Remus mantinha uma mão nas costas dela, para que ela não pudesse sair de lá novamente.
- Me larga, Remus – pediu Tonks, erguendo o olhar para encontrar os olhos dele. – Você sabe que se continuarmos assim eu vou acabar perdoando você...
- Esse é o objetivo – falou ele, sorrindo. – Você disse que seu papel seria diferente na minha vida, agora. Você está certa. Não é apenas minha esposa. Você é minha esposa e futura mãe dos meus filhos.
No momento em que ele inclinou-se para beijá-la, Tonks perguntou:
- Foi impressão minha ou eu ouvi filhos, no plur...
Antes que ela terminasse de falar, Remus apenas a beijou em resposta.

- Ted, como pode ficar tão tranqüilo? Nymphadora provavelmente está voltando para os braços do lobisomem, e... – começou Andrômeda, mas logo o marido a interrompeu.
- A julgar pelo silêncio no corredor, ela já deve ter voltado para os braços dele – falou Ted, calmamente. – Pare com essas atribulações, ‘Drômeda. Ele pode não ser o genro dos sonhos, mas é nosso genro.
- Do jeito que você fala, só falta convida-los para morar conosco – retrucou a esposa, sentando-se de má vontade no sofá.
- Eu ficaria bem mais tranqüilo em ir embora sabendo que você não estará sozinha – falou Ted, passando o braço pelos ombros de Andrômeda, que apenas o olhava boquiaberta.
- Ir embora? – repetiu ela, sem entender.

*~*


O sol iluminava o quarto diante da cortina mal fechada. Já era no final da manhã quando Remus Lupin acordou. Ele pôde ouvir alguns sons vindos do andar de baixo, e teve certeza de que os sogros já estavam acordados. E deviam estar há bastante tempo. Quem não parecia estar pronta para acordar ainda era Nymphadora, que dormia profundamente ao lado dele.
Ele olhou no relógio e viu que já eram dez e meia. Estava mais do que na hora de levantar. Ele sentiu-se um tanto culpado por ter que acordar a esposa de seu sono tão precioso, mas era seu dever fazer isso. Ele chegou perto dela e beijou-lhe levemente os lábios. Não houve resposta alguma, a não ser um pequeno grunhido vindo de Nymphadora. Sem se desanimar, ele beijou os lábios dela do mesmo jeito novamente, e ele obteve uma fraca resposta a isso.
- Está bem, Nymphadora, você pediu por isso – avisou ele, encaixando seus lábios completamente nos dela, que respondeu quase que imediatamente.
Ele interrompeu o beijo, vendo que ela ainda tinha os olhos fechados, embora tivesse um sorriso nos lábios que indicava que ela estava acordada.
- Bom dia – murmurou ela, abrindo os olhos lentamente.
- Bom dia – respondeu ele, calmamente.
- Estava com saudades de te ver quando acordava – comentou ela, enquanto ele se sentava na cama, pronto para levantar.
- Não tanto quanto eu estava com saudades – falou ele, se levantando e começando a trocar de roupa. – Especialmente de vê-la após a lua cheia.
- Estou aqui, não estou? – perguntou Tonks, sorrindo ao falar a mesma frase que ele falara na noite anterior.


- Sinceramente, Andrômeda, você tem que concordar comigo que é o mais seguro a fazer – falou Ted, enquanto Andrômeda preparava o almoço calmamente, como se não houvesse ninguém falando com ela. – Se eu ficar aqui, só estarei pondo todos vocês em perigo.
- Eu discordo – retrucou a esposa, de má vontade. – Imagine só! Nos deixar! Ted, você não pode estar falando sério. Simplesmente me nego a acreditar. Afinal, o que pretende com isso? Não sabemos quando você vai voltar, capaz de só conhecer o seu neto depois de algum tempo, o que é abominável, você tem que estar aqui quando...
- Eu vou estar – murmurou ele, interrompendo Andrômeda, que apenas fez uma careta ao ser interrompida. – De uma maneira ou de outra, eu estarei aqui.
- O que quer dizer com isso? – perguntou ela, esquecendo-se momentaneamente das panelas e virando-se para encarar Ted. – Ted, você não pode ir. Pense na sua filha! Ela está esperando um bebê! Ela não iria suportar se você não estiver com ela! Não consigo nem imaginar o que Nymphadora falará quando você contar isso a ela.
- Contar o quê? – perguntou Nymphadora, chegando à cozinha sorridente, de mãos dadas com Remus. – Se você está querendo contar que quer que voltemos para o nosso apartamento, nem se preocupe, papai. Não vamos ficar aqui pra sempre.
- Não era exatamente sobre isso qu... – começou Andrômeda, mas o marido a interrompeu novamente.
- Na verdade – falou ele, enquanto a filha e o genro se sentavam após saudarem Andrômeda e Ted. Andrômeda revirou os olhos quando Ted começou a falar, de um modo que não fazia há muito tempo, mas idêntico ao revirar de olhos de Nymphadora. –, tem um pouco a ver com isso, sim.
- Tem? – perguntaram Andrômeda e Nymphadora, juntas. Remus apenas prestava atenção no sogro.
- Tem – respondeu Ted, com paciência. – Eu e sua mãe conversamos e achamos melhor vocês morarem conosco.
- Morar com vocês? – perguntou Nymphadora, com um sorrisinho debochado no rosto. – Não, obrigada, papai. Sem ofensa, mas saí de casa há sete anos e, quando saí, não pretendia voltar.
- Saiu de casa para viver a sua vida, como você já fazia muito antes de sair daqui, apenas o fez para conseguir mais liberdade – retrucou Andrômeda, mas Ted a lançou um olhar severo. – Ora, nem me venha com esse olhar, Ted, você bem sabe que não conseguíamos dar limites para ela. Você só saiu de casa, Nymphadora – ela voltou sua atenção para a filha. – porque achou que seria legal. Você só começou a ter a cabeça no lugar quando entrou pra essa Ordem, aí. Antes, você era só mais uma adolescente revoltada. Mesmo com vinte e tantos anos, você ainda era uma adolescente revoltada.
- Definição amável, mamãe – falou Tonks, risonha. – O que você falou até pode ser verdade, mas não vejo porque voltar a morar aqui. Eu já tenho a minha própria vida, não entend...
- Estamos em guerra, é melhor estarmos juntos – interrompeu Ted. – Além disso, vocês poderiam ganhar algum dinheiro alugando aquele apartamento, considerando que ambos estão desempregados. Não faço objeção alguma, a idéia, inclusive, foi minha. E sua mãe também concorda.
Nymphadora olhou para Andrômeda, como que esperando a mãe dizer que não queria aquilo, mas Andrômeda continuou calada, tomando conta de suas panelas ao fogo. Ela olhou para Remus, que também permaneceu quieto.
- Pensaremos no assunto, então – respondeu ela, ao ver o silêncio do marido.
- Ótimo – falou Ted, trocando um olhar com Remus. – Eu gostaria de dar uma palavrinha com Remus. Vocês ficam aí, preparando o almoço.
Eles se dirigiram à porta, onde puderam ouvir Nymphadora reclamar:
- Só porque somos mulheres temos que cozinhar? É injusto, Remus cozinha melhor do que eu!
- Qualquer um cozinha melhor que você, querida. Sem ofensa – falou Andrômeda, de repente.
Os dois deixaram de ouvir a conversa delas e se encaminharam vagarosamente para a sala, mas Ted já começara a falar antes mesmo de chegarem lá.
- Você deve ter percebido que não era apenas aquilo que eu pretendia falar, Remus.
- Percebi, sim – respondeu Remus, um tanto cauteloso.
- Não é apenas por aquelas razões que quero que você e Nymphadora venham morar aqui – começou ele, enquanto ambos sentavam-se no sofá. – A principal razão é que não quero que Andrômeda fique sozinha. Irei partir em breve.
- Recebeu a carta do Ministério pedindo que vá até lá como nascido-trouxa? – perguntou Remus, já entendendo aonde o sogro queria chegar.
- Recebi, e não pretendo comparecer – respondeu Ted, parecendo agitado. – Logo eles virão atrás de mim. E eu pretendo partir antes que isso aconteça. Cetus já está muito longe de nós, e, apesar de que nos conhecemos há pouquíssimo tempo, eu confio em você, Remus. Andrômeda é uma pessoa difícil, mas ela compartilha isso comigo. Eu... Não me sentiria bem sabendo que deixei Andrômeda e Nymphadora sozinhas. Eu preciso que me prometa, Remus, que não as abandonará. Eu me sinto estranho lhe pedindo isso – continuou ele, olhando em volta da sala. – já que você já abandonou Nymphadora antes, mas... Não me leve a mal, mas...
- Sou a última pessoa que lhe resta – completou Remus, com paciência e compreensão. – Não as abandonarei, Ted. Nem Nymphadora, nem Andrômeda, e muito menos o bebê. Eu fui um idiota completo, como já havia sido outras vezes, mas não serei mais. É só que... Fica um pouco difícil aceitar uma situação assim, já que eu jamais pensei que teria a vida que tenho.
- Fico contente com a sua sinceridade, Remus – falou Ted, parecendo um tanto aliviado. – Acredito em você. Se você ama Nymphadora tanto quanto eu amo Andrômeda, certamente que não iria quebrar essa promessa.
- Isso nem me passa pela cabeça – falou Remus, dando um pequeno sorriso.
- Não pretendo contar quando irei partir – falou ele, sorrindo calmamente. – Irei quando achar melhor, e assim ninguém me impedirá. Caso eu não venha a retornar – ele lançou a Remus um olhar, que fez o genro fechar a boca, que ele já iria falar alguma coisa. –, cuide bem delas. E quero que saiba que eu estarei lá quando o bebê nascer. Não perderia isso por nada nesse mundo ou no outro.
- Você vai voltar. Tem que voltar – falou Remus, em voz baixa.
- Eu farei o possível – falou Ted, levantando-se. – E você também fará o possível pra convencer sua esposa a vir morar aqui. Falando nela, não acho que seja muito seguro deixá-la sozinha em uma cozinha com Andrômeda de mau-humor.
- Concordo plenamente – falou Remus, e eles seguiram para a cozinha novamente.

*~*


18 de Setembro de 1997.
- Eu não entendo por que continuo enjoando! – exclamou Tonks, saindo do banheiro do corredor e encontrando com Remus na porta. – Já faz uns três meses e eu ainda estou assim! E eu ainda vou ter que ver a minha barriga crescer feito uma melancia, e ter dor nas costas e quando o bebê nascer, eu que vou ter que...
- Já entendi, tudo isso é pra você, eu sei – falou Remus, beijando a testa da esposa. – Acha que eu não me sinto mal? Não dessa forma, é claro – ele se apressou a dizer, diante do olhar cínico que ela lhe lançara. – mas não é uma situação muito boa ver a mulher que você ama passar mal e não poder fazer nada além de ouvi-la reclamar.
- Isso não é tão ruim quanto o que eu estou sentindo, mas já ameniza um pouco a minha indignação – falou ela, sorrindo, enquanto caminhavam de volta para o quarto, já que era muito cedo.
- Eu te amo – falou ele, e Tonks soltou uma risada repentina e um pouco alta demais. – Qual é a graça?
- Eu não posso estar feliz, é isso? – perguntou ela, provocando-o, mas em seguida ficou séria. – Você está ouvindo isso? Mamãe não pode estar acordada ainda, é muito cedo...
- Ouvindo o quê?
- Eu não sei ao certo, mas eu estou ouvindo alguém...
Ela passou pelo quarto dela e de Remus e foi em direção ao quarto dos pais, ao perceber que a porta estava aberta. Nymphadora se inclinou para ver se havia alguém ali, mas logo ouviu o barulho de uma porta se fechando vindo do andar debaixo. Sem olhar para Remus, ela apenas desceu as escadas, e encontrou tudo em seu perfeito estado: a sala estava vazia, impecavelmente limpa, como sempre; a porta estava trancada e a lareira, sem sinal algum de fumaça. Mas Nymphadora continuava a ouvir aquele resmungo, como se alguém falasse muito baixinho, e viu que a porta da cozinha, que normalmente estava aberta, fechada.
Ela ouviu Remus indo atrás dela, embora não falasse uma palavra sequer; ele, afinal, nem ouvira barulho algum. No momento em que abriu a porta, Tonks viu a origem do barulho: Andrômeda tinha em suas mãos um papel que parecia ser uma carta e chorava quietamente, embora tivesse parado ao ver, com surpresa, a filha e o genro olhando para ela.
- Mamãe, o que aconteceu? – perguntou Tonks, lançando a Remus um olhar preocupado antes de se sentar ao lado da mãe.
- Seu pai, foi o que aconteceu! – exclamou ela, embora já não chorasse. – Eu ouvi seu pai levantando hoje, e achei estranho porque era cedo demais! No momento em que me levantei, ele apenas me entregou essa carta e disse adeus...
- N-não, ele não pode ter ido assim! – exclamou Nymphadora, tremendo a voz e pegando a carta que Andrômeda lhe estendia. A mãe agora tapava os olhos com as mãos e Nymphadora apenas tinha uma das mãos levada à boca. – Ele nunca disse que iria embora!
- Disse, sim – falou Andrômeda. – Faz algumas semanas que ele falou nisso, mas pensei que havia desistido!
- M-mas... Ele vai embora assim, sem eira nem beira? Sem lugar para ficar, ou qualquer coisa assim? – perguntou Tonks, e Remus pôde ver as lágrimas vindo nos olhos de sua esposa. – E se... E se o pegarem? Ah, não, temos que procura-lo, ele simplesmente não pode...
- Não vamos fazer nada – falou Remus, de repente, e as duas mulheres o fitaram, com surpresa e com um pouco de arrogância. – Ted não queria que ficássemos preocupados. Ele fez a sua escolha, ele quis proteger a família. Se eu estivesse no lugar dele, faria a mesma coisa.
- Como já fez antes, é claro – falou Andrômeda, em tom boçal.
- Mão, quer parar com isso? Já está bem ruim sem você ficar falando essas coisas – pediu Nymphadora, as lágrimas escorrendo pelo rosto, mas ela rapidamente as secou. – Remus tem razão. Papai fez isso por escolha própria. Só... Não podemos pensar negativo. Ele vai voltar logo e a salvo.
Eles se silenciaram por alguns instantes, cada um absorto em seus pensamentos, todos sabendo dos riscos que Ted corria e das chances que ele tinha de voltar para casa. Os pensamentos deles, que em geral não era tão positivos, rapidamente os fez retomar uma pequena conversa, e Nymphadora decidiu que conseguiria dormir mais um pouco se tentasse, embora Remus e Andrômeda dissessem que não conseguiriam, e optaram por fazer um café. Tão logo foi que Nymphadora se reuniu a eles, os olhos vermelhos de choro, que eles tiveram tempo de tomar café todos juntos, embora ainda faltasse uma pessoa.

*~*


24 de Dezembro de 1997.
A neve trazia a brisa gelada do inverno e Hertford nunca tivera uma paisagem tão convidativa: havia vários enfeites natalinos pela cidade, a neve propiciava um ambiente bonito e havia muitas nuvens no céu. Entrementes, a residência dos Tonks estava vazia naquela véspera de Natal. Duas pessoas saíam da porta de entrada, extremamente encasacados. Remus apenas seguia sua esposa, agora nos cinco meses de gestação. Ela parecia radiante, como uma criança que tem um segredo e não pode contar, mas fica se gabando de saber tal coisa. Ele, no entanto, tinha o olhar preocupado e sério.
- Não acho que seja uma boa idéia – falou ele, enquanto atravessavam a rua. – Acho que devíamos voltar. Pode ser perigoso.
- Não vai ser perigoso – falou Nymphadora, teimosamente. – Mamãe foi fazer compras e não há ninguém em casa. Estamos no meio de uma cidade trouxa. Não vai acontecer nada.
- Como pode ter tanta certeza? Logo vai começar a escurecer – exclamou ele, enquanto ela dava uma risada.
- Você não costumava ser tão medroso, Remus – falou ela, rindo, enquanto caminhavam vagarosamente pelas ruas da pequena cidade. – Vamos, honre o nome de sua casa! E diziam que grifinórios eram corajosos, veja só.
- Fala isso porque não fez parte da mesma casa – retrucou ele, um tanto mal-humorado por sua proposta de voltar ter sido rejeitada. – Afinal, aonde vamos?
- A um lugar mágico – falou ela, sorrindo.
- Mágico? Vamos a um festival de truques mágicos trouxas? Não sabia que você gostava dessas coisas – comentou ele, em tom irônico.
- Muito engraçado, Remus Lupin – murmurou ela, enquanto se afastavam do centro da cidade e iam cada vez mais adentro do subúrbio. – Não sei qual é a sua concepção de magia, mas a minha vai muito além de feitiços com uma varinha e vassouras voadoras. Pensando bem, a minha vassoura está tão velha que nem sei se voa mais.
- A minha concepção de magia vai muito além disso, também – falou Remus, apenas deixando Nymphadora guiá-lo. Agora andavam pelo que parecia ser um parque muito grande, pois não se podiam ver casas por ali. – Vai me dizer aonde estamos indo?
- Já estamos chegando – ela parou em frente a grandes arbustos, que formavam quase um muro na lateral do parque, que estava vazio. – Papai me trouxe aqui quando eu tinha treze anos. Eu costumava vir aqui todo inverno, mas faz uns dois anos que não venho.
Ela abriu caminho entre os arbustos, e Remus não entendia aonde ela planejava ir: bem ali ao lado daqueles arbustos havia uma rua, que eles haviam acabado de passar. Por que ela iria querer voltar para lá? Se fosse assim, nunca teriam precisado entrar naquele parque.
Ele viu sua esposa desaparecer entre os arbustos, como se ela havia se esquecido dele. Ele a chamou e o braço dela apareceu, sem luva alguma, o que indicava que ela havia acabado de tirar, apesar do frio que fazia.
- Vamos, Remus, você não vai entrar se não me tocar! – exclamou ela do outro lado, impaciente.
Ele segurou a mão dela, e se espantou ao constatar que estava quente. No momento em que colocou os pés do outro lado, sentiu uma onda de calor invadir seu corpo, e, ao abrir os olhos, pôde ver um céu nem nuvens, o sol descendo vagarosamente, e, apesar do calor, ainda havia neve ao redor deles; ele olhou para o chão e viu que estavam numa espécie de lago congelado. Sorrindo, ele virou para Nymphadora, que havia jogado as luvas, a toca e o cachecol a um canto, e ria baixinho.
- Sabia que conseguiria trazê-lo aqui! – falou ela, com um sorriso de orelha a orelha.
- Mas... Como chegamos aqui? – perguntou ele, percebendo o que se tratava o lugar mágico que Tonks falara anteriormente.
- Ah, nem me pergunte, eu mesma não sei muito bem onde estamos – falou ela, olhando em volta. – Meu pai disse que eu só poderia trazer pra cá alguém que eu realmente amasse, porque, senão, tudo o que eu veria ao atravessar os arbustos seria a rua ao lado.
- E... só bruxos podem ver esse lugar?
- Não – respondeu ela. – Quer dizer, acho que não. Meu pai disse que descobriu esse lugar quando era criança, e ele só convivia com trouxas, né?
- É magnífico – murmurou ele, sem acreditar no que via. – Agora vejo a sua definição de magia.
- Espero que a sua definição seja parecida com a minha – falou ela, tirando a varinha do bolso. – Quer patinar?
- Não acha que alguém pode entrar aqui de repente e... ver você com essa varinha? – perguntou Remus.
- É claro que não! – falou ela, como se aquilo fosse óbvio. – Qualquer um que tentar entrar agora, não vai conseguir, a não ser que deixemos a pessoa entrar. Foi o que papai me disse, pelo menos. Quer patinar ou não?
- Não acho uma boa idéia – falou ele, olhando receoso para a esposa. – Você pode cair, e...
- Eu nem tenho caído muito ultimamente! – reclamou ela, fazendo um aceno com a varinha, que fez aparecer um par de patins de gelo. – É verdade!
- Só porque tem sempre alguém atrás de você – retrucou ele, sorrindo. – Dora, isso realmente não é uma boa idéia.
- Já sei qual é o seu problema – falou ela, enquanto calçava os patins. – Você não sabe patinar, e é por isso que você está tentando me impedir. Bem, sem querer ser chata nem nada, mas eu acho que, aos trinta e sete anos, você está mais que pronto para patinar, Remus.
- Eu tenho trinta e oito – corrigiu ele, rapidamente.
- Você parece mais jovem – falou Tonks, piscando o olho esquerdo para ele, sorrindo. – Não quer patinar, tudo bem, mas eu quero ver quem vai ficar atrás de mim pra me segurar quando eu cair.
- Dora, por favor... – pediu Remus, mas no momento seguinte, Tonks patinava muito à frente dele, cantarolando alguma música boba para ver se ele iria logo atrás dela.
Sim, Tonks podia ser muito boba às vezes. Incrível como ele conseguia suportar tanta infantilidade. Pior: incrível como ele conseguia amar essa infantilidade que vinha dela.
Tentando não pensar nisso, ele foi à direção da esposa, que agora patinava calmamente em círculos um pouco à frente, rindo ao vê-lo se esforçar para não cair.
- Pelo visto alguém precisa praticar um pouco mais – falou ela, em tom debochado. – Vamos, Remus, se solta um pouco! Você devia aprender a aproveitar a vida um pouco mais, sabia? Eu, por exemplo, tento aproveitar tudo ao máximo, já que estamos em guerra e todo dia pode ser o último de nossas vidas...
- Eu já dei um grande passo tentando aproveitar a vida estando com você – murmurou ele, patinando devagar e de forma desajeitada.
- Pois dê mais um! – exclamou ela, parando de patinar e esperando-o chegar mais perto. – Tenta patinar mais rápido, pelo menos você estaria vivendo intensamente.
Ele sentiu o sarcasmo no tom de voz dela, mas não deu bola. Tonks podia ser muito sarcástica quando queria. Talvez isso provasse que ela era realmente metade Black. O sorriso jocoso que ela usava quando alguém estava sendo desagradável ou quando ela não suportava a pessoa com quem estava falando não era o tipo de coisa que Ted fizesse. Ele sabia, no entanto, que aquele tom sarcástico fora usado apenas porque ela queria que ele patinasse mais rápido. Tonks também era extremamente impaciente em situações rotineiras. A impaciência dela o incentivou e, sim, ele tentou patinar mais rápido. Antes que pudesse ter certeza do que estava fazendo, ele ouviu a gargalhada de Nymphadora e caiu estatelado no chão.
- Sabe, existe uma razão pela qual muitas pessoas não ouvem o que eu digo – falou ela, rindo e indo em encontro à ele. – Mas você tentou, pelo menos – falou ela, puxando-o pela mão para ajudá-lo a se levantar. – Considero isso uma grande prova de amor, você tentar patinar mais rápido para chegar até eu, sendo que você não sabe patinar direito.
- Bom saber o quanto que você considerou isso – falou ele, se levantando e passando a mão nas costas, doloridas. – Parece que os papéis estão invertidos, hoje.
- É, mas você precisa de anos de prática pra se levantar tão rápido quanto eu – disse Tonks, sorrindo e pegando a mão dele. – Anda, me acompanha.
- Eu não sei se é uma boa idéia – falou ele, olhando receoso para o gelo embaixo deles.
- Eu vou devagarzinho! Prometo – falou ela, sorrindo, mas em seguida ficou séria e com expressão preocupada.
Ele ficou com receio de perguntar o que a preocupava, embora já tivesse uma boa noção do que era: Kingsley aparecera na noite anterior querendo que Remus saia para um trabalho pela Ordem na noite de Natal. Infelizmente, ele não poderia recusar: todos os demais membros estavam ocupados, sendo que alguns mal podiam sair de casa. O fato fez Nymphadora enlouquecer, obviamente; ela começou a reclamar ali mesmo, na frente de Kingsley, que tentava, como Remus, acalma-la, em vão. Como ela não cansou de repetir, aquele seria o primeiro Natal que passavam juntos.
Apesar disso, ele iria perguntar o que a aborrecia. E ele não iria discutir. Não iria discutir porque sabia que ela estava certa. E tampouco queria ir na tal missão, que devia ser coisa pequena, já que seria apenas no começo da noite. Mas isso era o suficiente para tirar Tonks do sério.
- Qual é o problema? – perguntou, finalmente.
- Eu não quero que você vá naquela missão – falou ela, exatamente como ele previra.
- Nem eu, mas...
- É sua obrigação ir, eu sei – completou Tonks, sem olhar nos olhos dele. – Faz tempo que não há nenhuma missão para você, e eu fico grata por isso, mas ainda assim... Eu não posso perder você, Remus.
- E não vai – falou ele, parando abruptamente e erguendo carinhosamente com uma das mãos o rosto dela. – Eu prometo.
- Promete, é? – repetiu ela, com um sorrisinho. – Os Comensais não prometem esse tipo de coisa. E nem Você-Sabe-Quem.
- Só vamos observar os portões de Hogwarts por algumas horas – falou Remus, tentando minimizar o problema.
- Que está lotada de Comensais! Cujo diretor é um Comensal! – reclamou ela, e Remus sabia que estava certa. – Remus, não vá. Kingsley pode achar outra pessoa...
- Quem, Mundungus? – perguntou Remus, em voz baixa. – Ele é provavelmente o único que não é procurado, mas ainda assim todos sabem que faz parte da Ordem, sem contar que é dificílimo achá-lo.
- Eu vou junto, então – falou ela, não dando bola para o “não” de Remus. – Vamos nós três!
- Não, de jeito nenhum.
- Eu estou grávida, não incapacitada! Eu posso lutar!
- É claro que pode, mas eu jamais permitiria – interrompeu Remus, enquanto ela ainda protestava. – Tente me esperar acordada amanhã. E se ousar aparecer lá – ameaçou ele, enquanto ela o olhava descrente. – eu juro que levo você de volta e não a deixo sair de casa até três meses depois de o bebê nascer.
- Você não faria isso – insinuou ela, sorrindo calmamente.
- Ah, faria, com certeza.
- Está bem, me convenceu – replicou ela, continuando a patinar e puxando Remus junto. – É bom você não chegar tarde, senão todo o Natal será arruinado pelo Kingsley. E, se isso acontecer, eu vou fazer questão de dar indiretas sobre como ele arruinou o primeiro Natal de um casal apaixonado pelo resto da vida dele.
- Pobre Kingsley – murmurou Remus, enquanto Tonks ria gostosamente.
- Eu estou falando sério, viu? – começou ela, rindo. – Vê se avisa para o Kingsley sobre isso. Se as indiretas não derem certo, fale que eu tenho uma varinha e não tenho medo de usá-la, apesar de qu... AAAARRE!
Com um impulso automático, Remus alcançou rapidamente um dos braços de Tonks, e puxou-a antes que ela pudesse cair. Ela se salvou, e o objetivo era esse; o maior problema é que, ao puxá-la, quem acabou sendo jogado para frente foi Remus.
- E mais uma prova de amor, que é o sacrifício de salvar a sua esposa de uma queda feia e cair no lugar dela – falou Tonks, em tom profético, deitando-se ao lado de Remus, que estava um tanto atordoado. – Diga-me, meu amor, o que eu preciso fazer para provar meu amor por você? – perguntou ela, rindo. – Se você espera que eu caie no seu lugar, sinto muito. Como você não cansa de lembrar, eu não posso fazer certas coisas – lembrou ela, enquanto o sol se punha no horizonte. – Eu já disse que te amo hoje?
- Não, acho que não – respondeu Remus, após uma pequena pausa.
- Eu te amo – falou ela, dando um beijinho nele. – Eu te amo demais.
Eles ficaram observando o sol se pôr por alguns minutos, mergulhados num silêncio cuja mera companhia um do outro fizesse parecer o melhor silêncio do mundo para cada um. A neve agora caía levemente sobre eles, e o tempo parecia ser mais frio agora, embora não se comparasse com o frio da cidade.
- É melhor irmos embora, está ficando tarde – disse Remus, levantando-se e puxando Nymphadora pela mão para que ela pudesse se levantar também.
- Papai vinha aqui toda véspera de Natal – falou Tonks, de repente. – Não importava se ele estava sozinho, ou com outras pessoas; ele vinha até aqui toda véspera de Natal. Eu vim com ele nas últimas seis vezes, no mínimo. Exceto no ano passado. E agora ele não veio. E eu não pude vir com ele.
- Dora – falou Remus, abraçando a esposa, embora ela não chorasse. Tonks não era muito chorona normalmente. Desde que ficou grávida, no entanto... – Seu pai está bem. No próximo ano ele vai estar aqui, conosco. E com o nosso filho.
- É, espero que sim – falou ela, calmamente. – É melhor voltarmos, mamãe já deve estar chegando e vai pirar se ver que não estamos em casa.
- Tem razão – falou Remus, passando o braço em torno dos ombros dela.
- E você disse ‘filho’ – disse Tonks, parecendo intrigada. – Você acha que vai ser menino ou quer que seja menino?
- Não me importa o sexo, desde que tudo corra bem – disse Remus, sem entender muito bem. – E eu estava generalizando.
- Isso é meio machista, essa coisa de generalizar no masculino – comentou Tonks, mexendo, aparentemente sem perceber, na aliança no dedo esquerdo. – De qualquer maneira, temos que começar a pensar em nomes, Remus. Eu andei pensando e acho que, se for menina, gostaria de colocar um nome bem simples, como Mary ou Jane, coisa que eu não tive, porque ninguém merece ser chamada de Nymphadora. Eu também pensei em Maggie, mas eu tive uma colega muito chata no colégio que se chamava assim e percebi que seria péssimo lembrar dela toda vez que olhasse para minha filha...
E aí estava uma característica de Tonks que jamais mudara: a tagarelice. Remus apenas dizia ‘sim’ ou simplesmente acenava com a cabeça quando ela falava desse jeito; mal dava tempo para falar.
- ... e não tem nenhum nome de menino que eu pense no momento, nunca parei para pensar nisso, mas, agora que chegamos nesse ponto, acho que tenho que começar a pensar com carinho, mas todos os nomes parecem tão chatos e sem-graça! – exclamou ela, indignada, olhando para Remus.
- Peça a opinião de sua mãe – aconselhou ele, tentando não rir.
- Nem nos meus pesadelos! Ela ia dar nomes que querem dizer ‘O presente dos Deuses’, ‘O colarinho de Merlin’ e ‘A roupa íntima de Circe’ em latim, grego ou serêiaco – falou ela, rindo no final da frase. Sim, Tonks ri das próprias piadas. Ri das próprias piadas como um adolescente, mesmo que a piada seja realmente sem-graça. – Sei lá, é realmente muito difícil, e eu não tenho idéia alguma, talvez seja melhor que seja menina, assim pelo menos eu tenho alguns nomes em mente, e...
Remus olhou para o céu, que agora já começava a se encher de estrelas. Ele sorriu, sem nenhum motivo aparente, mas ele tinha milhões: as brincadeiras bobas, as risadas depois de piadas, o sarcasmo, a infantilidade, a tagarelice... Tudo em Tonks o fazia feliz e o fazia amá-la cada vez mais, não importa o que fosse.
- Pelo visto não sou só eu que não tenho idéias – falou ela, de repente. – Alô, Terra chamando Remus!
- Como disse? – perguntou ele, como se não tivesse ouvido uma palavra do que ela estava falando.
- Você não ouviu nada que eu disse, não é mesmo? – perguntou Tonks, parecendo desapontada.
- Eu gosto dos nomes que você falou – disse Remus, tentando mostrar para ela que estava ouvindo. – Mas acho que podíamos pensar nisso mais tarde, ainda é cedo. E acho que devia pedir a opinião de sua mãe, mesmo que ela fale um nome que queira dizer ‘Cabelo seboso de Severus Snape’ em língua de trasgo.
- É, talvez eu devesse pedir a opinião dela – disse a metamorfomaga, enquanto colocava as luvas e o cachecol, rindo da piada sobre Snape. – Depois, é só dizer que achei um nome melhor. Ela ia gostar que eu perguntasse.
- Concordo – falou Remus, enquanto Tonks pegava a mão e o puxava para verem o parque novamente e sentirem o frio novamente. – E eu te amo.
E Nymphadora riu. Ela sempre ria quando Remus dizia que a amava. Era um riso diferente, real e sincero; era um riso de alegria e de amor. E aquele riso talvez fosse o que ele mais gostava nela. O modo como sempre era espontâneo o fazia lembrar que aquela risada só era dada para ele. O fazia lembrar como ela o amava, e como ele a amava. O fazia lembrar de como ele nunca fora tão feliz antes e, mais importante: que ele não queria que momentos como aquele jamais acabasse. Tudo aquilo era a essência da magia para ele. Não eram feitiços ou poções, mas a risada de Nymphadora era um mundo totalmente mágico para ele.


*~*

N/A: Antes de mais nada, asseguro-lhes o seguinte: sim, ainda estou viva. Meus dias têm sido extremamente corridos e a internet não tem vez, a não ser para pesquisas. Minhas queridas amigas internautas que o digam. Infelizmente, eu ainda decaí para o que parece ser um mundo pós-Harry Potter, o qual eu não me acostumei bem ainda - após sete anos fica meio complicado), sem contar que o sétimo livro destruiu todas as minhas esperanças em matéria de novas fan fics. A verdade é que, depois de um certo desespero, eu senti um alívio imenso.
Raramente penso em Harry Potter, o que teve um efeito ótimo em mim e péssimo nessa fic. Mas posso dizer-lhes, com certeza absoluta, que pretendo finalizá-la. O maior problema é, realmente, meus horários, o que me impossibilita de escrever. O próximo capítulo não é nada mais que uma vaga idéia, e infelizmente demorará mais alguns meses a sair. mas sairá, prometo. :)
Em todo o caso, desculpem a demora e espero que gostem. Foi feito de coração, juro.

Beijos

Ju

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