E era por mim...



O fim se aproxima...
Sinto-me ser lançada fortemente ao chão. Meu corpo está formigando e as batidas descompassadas do meu coração ecoam em meus ouvidos. É estranho. Nunca tive tanta noção do meu corpo quanto tenho agora. Consigo sentir minhas roupas coladas na mistura de sangue e suor. Consigo sentir a areia abaixo de mim, grudando em meus cabelos.

Por um momento fiquei atordoada. Não sei o que me atingiu, não sei quem me atingiu... Primeiro a dor. Lacerante. Agora tenho consciência de que aquele foi um golpe certeiro... e fatal. De alguma maneira, sei que não me resta mais nada. As gotas da chuva que se iniciara sem que eu percebesse fazem caminho pelo meu rosto, misturando-se com minhas lágrimas. Involuntariamente.

E finalmente, sinto você.
Seus braços me envolvem. Eu sinto isso. Com a mesma realidade que sinto o sangue em minha garganta, ouço você chamando meu nome, alisando meus cabelos...
Oh, meu amor, não chore. Eu nunca quis te fazer isso. Faço um enorme esforço, mas abro meus olhos e encontro você. Exatamente como tinha sentido. Você me dá um pequeno sorriso...
Não, meu amor, não sorria... Não suportaria pensar que minha morte lhe traria conforto. Esse sentimento não combina contigo. Sempre fostes intenso, meu amor. E é meu desejo que continues a ser assim...

Enquanto me abraças e me sussurras que tudo vai ficar bem, a chuva aumenta.
O frio é embriagante e sinto uma tentadora vontade de dormir... Mas sei que esse seria um caminho sem volta. E eu não quero partir ainda. Não sem antes pensar em minha vida, não sem antes pensar em você, em nós. Não sem antes te dizer o que eu sempre quis...

Ouço você me pedir pra lutar.
Lutar? Por quê, querido? Não há mais luta pra mim. Entreguei-te toda a minha vida e faço questão de te entregar a minha morte. Culpa? Não, também não quero que sintas isso.
Tudo o que fiz foi por minha vontade. Minha própria vontade. Minha necessidade de te proteger, de lutar contigo. Sempre soube no que poderia resultar, querido. Sempre soube. Desde que entrasses em minha vida, sabia que meu destino era estar ao teu lado. Pra sempre. Mesmo que o “pra sempre” significasse a minha morte. E aqui estou.
Sangrando em seus braços.

Arrependimento? Não o sinto. Não sei o que seria de mim se não te houvesse encontrado.
Talvez agora estivesse tomando chá com meus pais, sentada numa macia poltrona com meu suéter favorito. Aquele azul que me desses no Natal passado. Oh, e eis uma grandiosa ironia que acabo de me aperceber: a maior parte do que tenho de favorito na vida devo a ti. Meu suéter, o livro de Oscar Wilde, o pijama velho de flanelas, o perfume de folhas secas... É tudo meu porque foste tu que me presenteasse. Penso eu que a grande questão é: eu gostaria tanto deles se me fossem dados por outra pessoa? Tu, querido, conheces meus gostos ou moldas meu hábitos? Isso eu nunca saberei.

Tu gritas por ajuda. Desespera-te. De um certo modo estais tendo as reações que previ que terias se isso acontecesse. Eis tão heróico, meu amor. Tão nobre... E de um modo inacreditável, tão... tentadoramente previsível. Pareceis um príncipe para mim. O meu príncipe.
É. Talvez agora eu estivesse em qualquer outro lugar, vivendo um belíssimo conto de fadas. Mas não gosto de contos de fada, querido. Não acredito em príncipes sem defeitos. Gosto de defeitos. Assim como do teu cabelo que nunca fica no lugar certo; Da tua excessiva timidez quando sabes que estais sendo observado. Gosto do teu cheiro de grama recém cortada, da tua pele, dos teus braços me envolvendo como fazem agora... Pena que nunca os tive assim antes. Eles não me eram permitidos. Tu não me eras permitido.
Talvez, apenas talvez, a morte seja uma coisa boa pra mim. Nunca antes pude observar teus olhos tão de perto como faço agora e, apesar de minha visão turva e da chuva que molha a nós dois, eles nunca me pareceram tão lindos. Eu não tenho mais a culpa me corroer.
Sinto frio e o teu calor não me esquenta mais. Ouço tua voz mais baixa... Meu tempo está se acabando. Eu pisco os olhos algumas vezes e a cada uma delas parece-me mais difícil voltar a abri-los...
Eu olho pra ti e vejo que me olhas com raiva. Acho que entendesses que eu desisti. Mas não, não sinta raiva. Não de mim. Não suportaria se assim o fosse. Queria que soubesses que não foi de tu que desisti, meu amigo. Eu nunca desistiria... Minha vida esgota-se a cada segundo e não pensaria duas vezes em dá-la novamente a ti. Sempre fui tua.

“Te amo”... Sussurrei. Apenas duas palavras e isso custou minhas últimas forças. Queria que elas expressassem tudo. Tudo o que sempre quis te dizer. Tudo o que sempre quis fazer. Tudo o que significas pra mim. Penso no quanto essas palavras já foram banalizadas e sinto medo. Sinto medo que não entendas...
Tu me olhas. Sinto-me tão confusa! Não reconheci o que vi em teus olhos. Surpresa? Raiva? Não. Não era nada disso.
Estás chorando novamente. Alisas meus cabelos e me aperta mais forte contra teu peito, sem desviar o teu olhar de mim.

Desculpe-me, meu querido amigo, mas não consigo mais me manter acordada. Não sinto meu corpo. A dor adormeceu. Fecho os olhos.
O que me resta é o frio... Apenas o frio... O frio...
“também te amo, Hermione”
Amor. Sempre desejei isso. Apesar de tudo, sinto-me feliz.
Os meus olhos nunca mais se abrirão, mas permanecerei pra sempre com a visão que tive do teu amor. E era por mim que o sentias...

Se tivesse uma chance, eu voltaria no tempo. Eu te beijaria, te abraçaria, traria teu corpo pra junto do meu. Amaria-te de uma maneira tão intensa que ficaria marcas minhas no teu corpo e na tua alma, querido. Eu desejaria poder fazer isso. Desejaria. “Te amarei eternamente, Harry Potter”



“Se eu me deitar aqui
Se eu simplesmente me deitar aqui
Você deitaria comigo e apenas esqueceria do mundo?”
Chasing Cars
- Snow Patrol

N/A.2: E aí, gostaram? Desculpem os erros, mas perdi a paciencia de corrigir mais! hehehe
Espero comentarios, ok? Bjus!

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