Godric's Hollow



A poucos quilômetros de Manchester havia um vilarejo, seu nome era Godric's Hollow. Uma região alta e arborizada, com inexistentes preocupações com a violência urbana, onde seus moradores poderiam andar livre e calmamente pelas ruas.


Na região mais elevada do local, grandes e imponentes casas coloniais erguiam-se, guardando nomes de tradicionais famílias por trás de seus muros.


Porém, a mais alta casa não passava de um casebre caindo aos pedaços. No alto da mais alta colina, um barraco de poucas peças, mal se mantendo em pé, enfeava a cidade, que mais parecia fictícia de tão bem organizada. Ninguém sabia de onde viera, ou a quem pertencera o casebre, quando os mais antigos começaram a chegar naquela região, e estabelecer moradia, ele já estava lá, e a cidade já tinha o nome de Godric's Hollow, e ninguém sabia por que. Como muitas famílias ali descendiam de séculos, conseguiram estimar que o casebre estava ali há mais de nove centenas de anos. Mas, mesmo assim, ele continuava de pé, resistindo às mais violentas tempestades, apesar de ter perdido grande parte do seu teto e muitas paredes conterem grandes buracos.


Os esforços dos moradores, porém, para que a casa fosse derrubada, já que trazia um imagem negativa à cidade, eram sempre inúteis, já que uma família local sempre impedia quem fosse de que se aproximassem do casebre. Mesmo sendo verdade que o casebre assustava os turistas e, ficando na região mais avantajada da cidade, causava uma má impressão, eles não deixavam nem mesmo o governo aproximar-se do local para destrui-lo. E mesmo quando arruaceiros tentaram invadir a casa para morar ali, eles intervieram e impediram-nos. Fora assim durante todos esses séculos.


De fato, os Potter eram tão ricos, poderosos e influentes na cidade, que não encontravam grandes problemas em fazer sua vontade prevalecer. Ninguém poderia reclamar do turismo ou de qualquer outra coisa que for com eles, já que os investimentos que eles aplicavam na cidade para o seu desenvolvimento eram sempre avantajados. Ainda mais no turismo, uma vez que eles sempre traziam gente à cidade e estimulavam moradores de outras a visitarem Godric's Hollow.


Ninguém sabia o porquê de tamanho interesse dos Potter em manter aquele casebre horroroso intacto. Muitos cochichavam que devia ser por que eles queriam comprar o lugar, derrubar o barraco, e construir uma nova mansão, maior ainda, mas tinham que calar-se quando eram questionados do porquê de eles ainda não terem comprado-a, já que dinheiro não lhes faltava. Já outros, afirmavam que os Potter, que tinham sido dos primeiros a chegar no local, moraram ali, e mesmo depois de terem enriquecido, mantinham-no em pé como um memorial para lembrar-se de onde vieram, para que toda a sua riqueza não lhes subisse a cabeça. Essa hipótese engrandecia-os aos olhos dos vizinhos que acreditavam nela, o que ficava hipoteticamente comprovado já que os Potter, com leves exceções, eram uma família caridosa, que não media esforços para ajudar seus vizinhos. Contam rumores, que outra grande família local, que já não existia mais, havia levado um golpe, e ficado sem nada, e os Potter, investiram neles, e fizeram-nos crescer e enriquecer novamente.


Porém, os Potter eram considerados um povo “estranho”. De fato, eles cultivavam certos hábitos um tanto quanto esquisitos aos olhos dos outros moradores. Corriam de noite pelas ruas cantando músicas em latim e faziam fogueiras no bosque de sua propriedade, e ficavam dançando ao redor dela. Corriam outros rumores que afirmavam que há duzentos anos atrás, alguns membros da família foram levados à julgamento pelo Tribunal da Santa Inquisição por denúncias de bruxaria. Mas exceto por um garoto de oito anos, que jura de pé junto que viu a Sra. Potter sair pela chaminé da casa voando numa vassoura, ninguém tinha visto nada de tão obtuso quanto sair pelas ruas cantando cantigas em latim, e de vez em quando algumas cantigas celtas. Mas os moradores eram tão afeiçoados dos Potter, ou mesmo tão cheios de gratidão por algo que eles tenham feito às suas famílias, que faziam vista grossa às suas esquisitices; e muitos consideravam algo comum; outros até mesmo começaram a correr pelas ruas pelados à meia-noite, mas foram presos após isso, então resolveram parar com a prática, até porque os Potter não retiravam suas roupas para sair pelas ruas à meia-noite.





Nos últimos anos, porém, o filho único dos Potter, resolveu abandonar a grande mansão dos Potter, e morar com a esposa numa casa menor e mais afastada, no início de um grande bosque. Mas os rumores sequer tiveram tempo de correr a cidade propondo uma briga familiar, já que Tiago visitava a casa dos pais quase todo dia, e se tivessem brigado, ele teria mudado de cidade e não apenas de algumas quadras. Decepcionados com a confirmação de que tudo estava bem, e que o herdeiro queria apenas um lugar mais reservado e calmo para criar seus futuros filhos, os vizinhos voltaram ao seu rumor mais habitual, discutir por que os Potter impediam que o casebre feio fosse derrubado.


Mas não ficaram muito tempo sem ter o que comentar, pouco tempo depois, o Sr. Potter morreu, e apenas alguns meses depois a Sra. Potter. O impacto para o filho deles foi imenso. Não é preciso dizer que os vizinhos começaram a dizer que ele estava começando a enlouquecer. E que a Sra. Potter tinha morrido de tristeza já que o marido morrera, já que mesmo sendo velhinhos eles ainda se amavam.


Os rumores cresceram pelos vizinhos que não tinham mais o que fazer numa cidade pequena a não ser comentar a vida alheia, quando o filho dos Potter vendeu o grande casarão em que crescera e que gerações e gerações de sua família ocuparam. Quem comprara a casa porém, ninguém sabia, o jardineiro da casa disse que era um velho amalucado que parecia bastante interessado na “história do lugar”, e que pelo jeito parecia ter comprado o lugar para guardar como relíquia mesmo, já que nunca aparecia.


Já Tiago Potter, e sua esposa Lílian, grávida, refugiaram-se na casa que haviam comprado, à orla do bosque que rodeava parte da cidade. A casa não era luxuosa, mas era bem grande, com dois andares, e bem confortável. "Uma má aplicação da fortuna", comentavam os vizinhos, que consideravam o lugar um barraco de favela perto do luxo com que o herdeiro dos Potter fora criado. E só porque a casa ficava mais próxima do casebre feio os vizinhos perversos começaram a comentar que eles tinham mudado-se para aquele lugar para ficarem mais perto do barraco, e não deixar ninguém se aproximar.


Porém, o que mais irritava os moradores, era ver que eles viviam maravilhosamente bem, e pareciam que sequer percebiam a existência do casebre. E se já estavam bem, ficaram ainda melhor quando o filho do casal veio. Harry não era o que se podia chamar de bebê modelo de capa de revista, mas era bem jeitosinho e gracioso. Eles eram um casal jovem, e extremamente feliz, que vivia saindo de casa ninguém sabe pra onde, na verdade, seria mais fácil dizer que sumiam de uma hora para outra da casa com o filho, e apareciam no dia seguinte como se nada de esquisito tivesse acontecido.


“Alguma coisa de esquisito tinha que ter!”, afirmavam alguns já que Tiago e Lílian não costumavam sair correndo pelas ruas à meia-noite cantando em latim.


Quando o jardineiro e a empregada eram questionados sobre como era trabalhar com eles, só ouviam elogios dos “melhores patrões que já tiveram”, o que decepcionava um pouco os vizinhos, que pareciam mais interessados em ouvir relatos sobre algum dia em que Potter tenha bebido e batido na mulher e no filho, mas infelizmente não tiveram esse prazer.


Porém os rumores sobre o raio que havia caído sobre o casebre e não tinha acontecido nada ele a não ser alguns chamuscados foram substituídos por uma notícia muito mais trágica.


Ninguém sabia por que, ninguém sabia como, mas a casa em que os Potter viviam explodiu. Ambos, incluindo o filho, morreram. O máximo que os vizinhos viram fora uma grande explosão de luz verde vinda do local. Era noite de Halloween, e as crianças, que estavam fantasiadas, pedindo doces, voltaram para suas casas correndo, amedrontadas. A casa ficara a frangalhos, e ninguém teve coragem de se aproximar temendo ter sido algo radioativo, devido a forte luz verde emanada do local da explosão. Naquele dia eles sequer se atreveram a sair de casa para olhar e comentar, não era necessário ser gênio para perceber que o herdeiro de toda a fortuna dos Potter morrera.


De fato, muita gente estranha visitou o local, gente nunca vista antes por ali, e gente que era conhecida de vista. Um homem muito bonito, com cabelos que caíam-lhe até os ombros, aparecera ali com uma moto muito transada, apesar de ninguém tê-lo visto chegar com ela. Muitos já haviam visto-o diversas vezes na casa dos Potter, ele mesmo morara durante um tempo na mansão, antes dos pais de Tiago morrerem.


Quem morava próximo ao local disse vê-lo chorando ajoelhado no local, em frente aos destroços da casa e aos corpos. E que um homem gigantesco estivera no local, conversara com ele, e que segurava algo nos braços, que não conseguiam reconhecer o que era, até partir sem que vissem para onde. E que ele agarrara o corpo de Tiago e gritara alto, chorando a morte do amigo, como se chorasse pela morte de um irmão. O jardineiro e a empregada foram ao local, e parecem ter chamado gente do governo para investigar o local, de fato, uma gente bem esquisita. A partir do dia seguinte, ninguém nunca mais os viu naquela cidade.





Os passos de Lílian Potter enchiam o longo corredor da casa dos Potter em direção à sala de jantar. Tiago explodia alguma coisa sobre a cabeça de seu filho, Harry.


- Você vai machucá-lo, Tiago!


- Lílian, quando eu machuquei ele?


- Você quer mesmo que eu lhe responda?


- Eu nunca machuquei ele! - disse Tiago aborrecido.


- Não intencionalmente, e você estava sempre brincando com Harry…


- Ok, ok! Eu não vou negar meus atos…


- Engraçado, eu tenho a leve impressão de que era exatamente isso que você estava tentando fazer agora mesmo.


- Eu não estava…


- É realmente uma pena que a Sra. Headwhetty não possa mais trabalhar conosco, eu agora tenho que fazer o jantar - disse Lílian mudando de assunto.


- Você não esperava que ela fosse ficar depois de executarmos o Feitiço Fidelius - disse ele debochando.


- Não, eu esperava que você deixasse de ser um vagabundo e me ajudasse nessa casa.


- Eu tive que cuidar do Harry durante todo o dia…


- O Harry dormiu durante todo o dia. Coisa, por sinal, que você não deveria deixar, de noite ele não vai parar quieto.


- Lílian, deixe de ser mal agradecida, já fiz muito!


- Vindo de você eu diria que fez mesmo.


- Por que a única coisa que você sabe fazer é me condenar?


- Porque você sempre insiste em fazer coisas para que eu te condene.


- Você me condenaria se eu lhe beijasse neste exato momento? - disse ele se aproximando dela com cara de deboche.


Ela devolveu o olhar de deboche.


- Condenaria-te por muito menos!


Tiago fez cara de afrontado.


- Com licença, Harry. Vou me retirar, minha própria mulher me esnoba e me detesta - disse fazendo uma falsa cara de sentido, e virou-se.


Lílian puxou-o pelo braço e beijou-o.


Harry riu alto, e os dois viraram a cabeça, ainda abraçados para olhá-lo.


Ele estava rindo olhando para os dois. Eles riram e olharam um para o outro.


- Eu te amo, sabia? - disse Tiago.


- Sim, você me disse isso hoje e ainda não deu tempo de esquecer.


Eles ficaram parados por um momento, olhando um para o outro com um sorriso no rosto.


- É melhor eu ir ou eu vou queimar a comida.


- Não seria surpresa!


- Tiago Potter, diferentemente de você, eu não tive elfos domésticos a vida inteira para fazer o trabalho doméstico para mim.


- Eu disse que poderíamos pegar um…


- Na casa dos seus pais sim, é grande, mas aqui não, não era necessário, e eu prefiro a Sra. Headwhetty trabalhando para nós! E você sabe que eu acho um completo abuso o que fazem com os coitadinhos dos elfos.


- Eles gostam da servidão a que estão submetidos, Lílian.


- Bem, você sabe o que penso a respeito, deixa eu ir.


Ela saiu em direção à cozinha. Tiago olhou para Harry. Ele estava distraído com uma pequena mariposa que circulava o lustre. Ele ficou olhando para o filho pensando nas coisas atuais.


“É tão triste termos que submetê-lo à isto. Ele não tem culpa de nada a não ser…”


- Tiago!


Ele virou-se repentinamente, Lílian estava no solado da porta.


- Hei, onde você estava?


- Pensando em… deixa pra lá!


- Arruma a mesa para eu trazer o jantar - disse ela desconfiada.


- Deixa comigo!


Deu um movimento com a varinha e os pergaminhos sobre a mesa afastaram-se. Lílian veio com uma travessa de assado flutuando à sua frente, que deslizou suavemente para cima da mesa. Eles sentaram-se à longa mesa de carvalho, Tiago na ponta, Lílian de um lado e Harry do outro, que ficou olhando eles jantarem, ele já havia jantado seu mingau.


Enquanto pegava comida com o garfo, Tiago ficou com o olhar perdido. Lílian o observava.


- Tiago, no que anda pensando?


- Ahn? - disse ele olhando para ela como se estivesse acordando de um transe.


- Você está tão longe - disse ela preocupada.


Ele bufou cansativamente.


- As coisas que estão acontecendo. As coisas a que temos que submeter Harry.


- Você sabe que isso é necessário, Tiago. É para, mais do que tudo, protegê-lo.


- Não da nossa parte, sei que estamos fazendo o certo. Mas… - ele hesitou.


- Mas o que? - perguntou ela fraternalmente.


- Da parte de Voldemort. Indigno-me em saber de tudo a que ele está nos submetendo.


- Qualquer um se indignaria, Tiago.


- Mas entre tantos, por que tinha que acontecer justamente conosco?


- É impossível saber por que, Tiago. Talvez nem tenha um porquê. Mas esses incidentes chocaram-se à nossa porta, e agora a única coisa que podemos fazer é confrontá-la.


Ele respirou fundo e olhou para ela.


- Não sei o que seria de mim sem você!


- Um tanto mais obtuso do que o comum, eu diria!


Ambos sorriram.


Lílian tinha os cabelos acaju que lhe caíam às costas; olhos verdes; pele clara e macia; dentes perfeitos; média estatura; um senso de justiça aguçado, porém com um ótimo bom-humor. Já Tiago tinha os cabelos despenteados, que nunca paravam quietos; um sorriso claro; olhos castanhos; alta estatura; uma cara de safado; joelhos ossudos; e um senso de justiça que nem mesmo ele levava à sério, já que eram poucas as coisas que ele levava à sério, e justiça não incluía-se entre elas, não que ele não fosse justo, porém sempre a levava como uma brincadeira, como quase tudo na vida. Já Harry era parecidíssimo com seu pai, mas tinha os olhos de sua mãe.


Lílian ficou um tanto séria por um momento que fez Tiago perguntar à ela por que.


- Tiago, você tem certeza que não quer saber?


- Lílian, você sabe que quanto menos gente souber melhor é! Voldemort está tão desesperado atrás disso quanto está atrás de Harry.


- Mas e se alguma coisa acontecer a mim? Tiago, eu sou a única que sabe, e esse segredo, em hipótese alguma deve desaparecer. Antes que nós saibamos dele do que desconheçamos sua localização, é melhor que saibamos onde está e o protejamos onde ele está, do que ninguém saber, e ele acabar, ocasionalmente em mãos inocentes, ou mesmo sendo descoberto pelo próprio Voldemort.


- Não há como ele saber, Lílian.


- Até parece que você não sabe de quem está falando, Tiago. Eu não duvido de nada vindo dele.


- Lílian, não vai acontecer nada a você. Nós estamos protegidos, lembra?


Mas ela manteve o ar sombrio no rosto.


- Lílian, você não está desconfiando de Pedro, não é?


- Eu não sei… eu estou tão confusa, Tiago. Eu já não sei mais o que pensar, de repente me passa pela cabeça a idéia de que um de nossos melhores amigos seria capaz de nos enganar.


- Eu conheço Pedro desde muito tempo, Lílian. Você bem sabe! Ele morreria por mim, da mesma maneira que eu morreria em nome da nossa amizade.


Lílian sorriu e baixou a cabeça. Tiago passou a mão em sua cabeça.


- Não se preocupe, tudo vai dar certo.


- Agora é você quem está me dando palavras de consolo! - disse ela sorrindo. E ele sorriu com ela.


- Afinal de contas, somos um casal, não? Uma dupla.


- Cúmplices.


- Com Harry formamos a máfia - disse ele rindo.


Eles permaneceram calados por um momento, e Lílian voltou a falar voltando a tocar num assunto mais carregado.


- Assusta-me ver todo esse crescente poder e influência de Lorde Voldemort.


- Nós temos Dumbledore ao nosso lado, Lílian.


- O que Dumbledore pode fazer a ele? Você bem sabe que o único que pode fazer algo a ele é Harry. Como se não bastasse justamente o nosso filho tinha que vir ao mundo incumbido da tarefa de ter em suas mãos a responsabilidade de ter que… você sabe!


- Agora você está falando como eu a alguns minutos atrás, e você mesma me disse que esse perigo tinha batido à nossa porta e a única coisa que podíamos fazer agora é confrontá-lo.


- É! Agora eu vejo que dizer palavras reconfortantes é mais fácil do que encarar a realidade. Nós vivemos sob a época em que alguém como Lorde Voldemort reina sobre o país, persegue-nos, persegue nosso filho, e o mesmo está destinado a morrer ou matá-lo. E nós temos que nos esconder como fugitivos porque ele está atrás de…


- Lílian, acalme-se! Voldemort a essa altura talvez saiba que não deve chegar perto de Harry. Ele deve saber o que aconteceria a ele.


- E se ele não souber?


- E se ele não souber nós estamos protegidos dele.


- Escondendo-nos!


- Não é só uma questão de proteger Harry, apesar de ser o principal, há também esse segredo, e na última das hipóteses, há mais alguém que pode indicar a sua localização. O segredo de sua localização não desaparecia se acontecesse alguma coisa a nós!


- Ela não pode afirmar nada, você sabe disso, ela não lembra de nada!


- Alguém poderia recuperar isso da mente dela!


- Só se fosse Lorde Voldemort! Ou você se esqueceu que quem fez o feitiço foi Dumbledore, ele é muito forte para ser desfeito assim! - disse ela estalando os dedos.


- Exatamente, alguém como Dumbledore seria capaz, foi o próprio que fez o feitiço! E se algo acontecesse a nós ele o recuperaria. Eu repito: não se preocupe, Lílian! Nós já temos preocupações demais com o que já está acontecendo, não temos cabeça para agüentar o que pode vir a acontecer!


- Ah, pelo amor de Deus, Tiago! Como que a gente não vai pensar no que pode acontecer…


- Lílian…


- O que é? - perguntou ela aflita. Eles pareciam ter esquecido o jantar.


- Eu comecei com isso, com essa aflição, essa preocupação toda, e você ficou pior do que eu estava. Você está pressentindo algo de estranho, algo de diferente…


Ela fungou com a expressão perdida.


- Olha, eu realmente não sei o que pensar, não consigo compreender o que estou sentindo, por que estou tão aflita assim, tão inquieta, eu realmente…


- Calma! Calma! - disse ele passando sua mão acima da dela. - Você vai surtar se continuar assim. Acalme-se, não vai acontecer nada de ruim, agora vamos voltar a jantar.


- Eu já não tenho fome alguma! - disse ela passando a mão pelo cabelo.


- Pior que eu também não! - disse ele olhando para o prato. - É uma pena! O jantar estava maravilhoso - disse ele sorrindo para ela.


Ela retribuiu o sorriso.


- Bem, deixa eu ir lavar a louça, porque pelo visto o jantar terminou.


E ela saiu em direção à cozinha, deixando Tiago na sala junto a Harry.





Tiago estava na sala, sentado em frente à lareira. Harry estava ao seu lado, deitado no sofá enquanto o pai ocupava uma bergère. Ele admirava o filho serenamente, pensando em como seria o seu futuro, tentando adivinhar que profissão escolheria, se sua vida seria o mais próximo do normal, ou uma vida sob as cortinas, como a que estava levando agora.


De repente percebeu que sua esposa observava-o da porta da sala.


- Harry é a minha vida. E pelo visto é a sua também - continuou ela sorrindo. - Eu daria a minha vida por ele.


- Eu também.


Ela aproximou-se dele e tentou mudar o rumo da conversa.


- A Sra. Headwhetty conseguiu se livrar daqueles furúnculos-carrapatos roxos que ela pegou?


Tiago, percebendo a sua intenção, continuou.


- Creio que já estavam no final até ontem. A coitada sofreu para se livrar deles.


- Mas ela fez por merecer! Onde já seu viu querer plantar losna em um campo enfeitiçado para fazer os vegetais crescerem! A invasão foi feia mesmo, eu passei na casa dela para dar uma olhada.


- A Sra. Headwhetty é uma senhora de ótimo coração, mas a cada passo comete cada trapalhada - disse ele sorrindo. - Assim como o velho Sr. Gildink, corta uma grama como ninguém! É talento hereditário, eles fazem um ótimo trabalho há muitas gerações, mas de vez em quando faz das suas trapalhadas.


- E há muitas gerações eles trabalham para vocês - e ao ver que Tiago já preparava-se para replicar, ela adiantou-se: - Mas não se preocupe, eu sei muito bem que seria como matar o velho dizer para ele se aposentar.


De repente ela ficou extremamente séria, começou a respirar fundo, e olhou para o lado, em direção à janela.


- Lílian, tudo bem com você?


- Eu… eu estou sentindo um certo… um certo mal-estar! Como se algo não… não estivesse certo, como se algo de errado estivesse me perturbando…


Ele olhou-a preocupado.


- Lílian… ambos sabemos muito bem que você… você é meio… receptiva, não? Isso quer dizer que…


- Isso pode dizer alguma coisa. E além do mais, isso é superstição de vocês, eu que tive um repentino mal-estar e…


- Mas algo pode estar ocorrendo sim!


- Está tudo normal, Tiago! - disse ela moderada. - Eu só tive um mal-estar, algo de ruim, acho que são os assuntos que temos tratado ultimamente, essa pressão toda está me deixando louca!


Ele mirou-a preocupado não aceitando sua explicação. Ela ainda parecia aflita, como se sentisse que algo estivesse a acontecer.


- Eu vou tomar um banho - disse ela saindo da sala.


Tiago acompanhou-a com os olhos até ela desaparecer corredor adentro. Ele ficou sentado pensando em Lílian, abanou a cabeça e levantou para pegar o Profeta Diário à mesa no centro da sala.


Uma grande matéria enchia a capa do jornal: Ministério indeciso! Seguido por um subtítulo: O poder de Você-sabe-quem cresce e o Ministério ainda está indeciso sobre quais medidas tomar!


Tiago já havia lido a matéria pela manhã, mas resolveu lê-la novamente para tirar o assunto de Lílian da cabeça.




“O Ministério já não tem para onde ir! Os cidadãos o pressionam para que ele tome decisões para impedir o avanço do crescente poder d'Aquele-que-não-deve-ser-nomeado. Os informantes do Ministério dizem que medidas estão sendo tomadas, mas que o povo britânico deve compreender que nenhum Ministério está preparado para tamanha ameaça e eles estão fazendo o possível para diminuir os focos de ataque do considerado O Maior Bruxo das Trevas do Século. Já os nossos leitores nos bombardeiam com cartas afirmando que viram Você-sabe-quem perto de suas casas ou que um de seus vizinhos foi assassinado. De fato, se o número de cartas que recebemos correspondesse à cada morto por Você-sabe-quem, o número de pessoas assassinadas já teria passado do número de pessoas residentes em todo o estado de Liverpool.


Enquanto isso, o povo pressiona o Ministério para que Dumbledore suba ao cargo de ministro. Segundo eles, Dumbledore é o único capaz de fazer com que Você-sabe-quem pare de assassinar cidadãos…”




Sua leitura foi interrompida por um grito de Harry. Ele olhou para o garoto que tentava pegar a mariposa que baixara vôo. Ele ria tentando pegá-la. Tiago ficou ali observando-o por algum tempo, até ele desistir da mariposa e começar a se distrair com a incessante dança das chamas na lareira.


Lílian apareceu já vestida, secando o cabelo com a varinha.


- Já está melhor?


- Ah, sim, sim! O banho já me deixou bem melhor!


Mas via-se que ainda estava meio desconfortável.


- Você leu isso? - perguntou ele apontando para a matéria no jornal.


- Ah, já sim! Não sei por que insistem que Dumbledore se torne ministro quando ele mesmo já disse diversas vezes que não o fará.


- Eles estão desacreditados, e apavorados. Querem que isso pare de uma vez e vêem em Dumbledore a única esperança.


- Hum, como se Dumbledore não estivesse fazendo nada para deter Lorde Voldemort!


- Você sabe que eles não sabem do esforço que Dumbledore aplica para detê-lo.


- Mesmo assim, é algo deduzível, eles não esperariam que ele fosse ficar parado, não?


- É, realmente! Não faz parte da índole do professor.


De repente Lílian virou-se sobressaltada novamente em direção à mesma janela da outra vez.


- O que foi?


- A mesma sensação de novo! Aquele sobressalto.


- Lílian, eu disse, isso não é normal! - disse Tiago aumentando o tom da voz.


Lílian ainda olhava afoita para a janela.


- O que tem com a janela?


- Não é com a janela, quer dizer, também. Mas é mais com aquela direção! - apontando para o caminho arborizado para além da janela.


- O que há de errado com aquele caminho?


- Eu não sei! Eu sinto… eu sinto… algo… estranho, naquela direção.


- Como se essa sensação viesse de lá?


- Não. Como se… como se essa sensação me sobressaltasse sobre esse caminho. Como se esse caminho fosse o motivo desse sobressalto.


A respiração dela ficou acelerada, e Tiago aproximou-se dela, e tentou deitá-la no sofá, mas ela não deixou, continuou apenas sentada. Ele passou a mão pela testa dela, mas ela continuava a olhar pela janela, temendo o caminho por entre as árvores.


- Lílian, você vai ter um ataque de pânico se continuar assim, acalme-se!


Ela tentou controlar-se, fazendo a respiração desacelerar, mas não desgrudou os olhos do caminho.


Tiago levantou-se e foi em direção à janela para olhar além. Lílian levantou-se e ficou em pé ao lado do sofá.


Ele aproximou o rosto da janela, sua respiração embaçando o vidro, e apurou os olhos para enxergar no escuro.


Sob a noite escura e úmida, por entre as árvores grandes e verdes que envolviam a casa, surgia um vulto encapuzado encoberto por uma capa de viagem. A luz fraca da lua semi encoberta pelas nuvens recortavam o vulto contra o bosque escuro. Seus passos eram meticulosos, como se as solas de seus pés encaixassem-se na terra úmida.


O rosto de Tiago foi gradativamente petrificando-se, sua boca ficando seca e seus olhos lacrimejando tanto pelo esforço de mantê-los abertos quanto por um sentimento de desesperança. A voz pareceu falhar.


Lílian inclinou a cabeça para ver além da nuca de Tiago através da janela, já sabendo o que vinha além.


Os dois pareceram petrificados enquanto seus cérebros absorviam o que estava acontecendo, enquanto compreendiam o que havia sido feito.


Tiago virou o seu rosto para o lado, sentindo-se traído. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto.


De repente lembrou-se de quem era, e por que Voldemort estava ali, e gritou energicamente, virando-se para Lílian:


- Lílian, leve Harry e vá! É ele! Vá! Corra! Eu o atraso… - disse ele abanando o braço furiosamente.


Ela pegou o filho rapidamente e saiu correndo com a criança segura entre os braços; os cabelos esvoaçando e caindo sobre o rosto desesperado da mulher; os sapatos chocando-se violentamente contra o chão, tropeçando. Ela subiu pulando os degraus da escada, ocasionalmente chocando os sapatos contra eles, até bater em um fazendo seus joelhos cederem e chocar-se violentamente contra a quina do degrau superior fazendo um tremendo barulho como se a rótula tivesse rachado. Ela soltou um grito mas manteve o filho seguro entre os braços. Levantou-se rapidamente como se não sentisse dor alguma e correu desesperada em direção ao quarto do filho.


Tiago seguiu Lílian até o patamar da escada, depois virou-se em direção à porta esperando Voldemort corajosamente, para atrasá-lo dando tempo de Lílian fugir com Harry.


Uma luz forte entrou pelas frestas da porta fazendo-a abrir-se violentamente e soltar-se da dobradiça superior.


Lorde Voldemort entrou pelo solado da porta com passos vagarosos. Ele virou-se para Tiago e baixou o capuz.


- Há quanto tempo!


- Não faz muito… desde que nós escapamos de você da última vez.


- Pela última vez, creio. Ou pensa que tem alguma chance sequer de escapar de mim.


- Da última vez eu também não tinha.


Os dois conversavam atropelando as palavras. Tiago, nervoso, esmagava a varinha com os dedos, os nós dos dedos brancos. Voldemort, ansioso, trazia a varinha firmemente segura, e vendo a determinação de Tiago debochou:


- Não pensas em se defender? Pensas?


- Até o último momento - respondeu levantando a varinha e ficando, corajosamente em posição de duelo.


Uma risada aguda e penetrante ressoou pelo aposento.


- Não seja ridículo, Potter!


- Como fui das últimas vezes que nos encontramos? - proferiu Tiago no mesmo tom corajoso.


Voldemort olhou-o minuciosamente, observando a sua constante determinação.


- A maioria das pessoas teme ao apenas ouvir o meu nome, a idéia de ver-me, ou mesmo de ter que enfrentar-me é demais para suas mentes. Mas vocês não só me enfrentaram por três vezes como também conseguiram escapar por entre os meus dedos. E mesmo agora, em frente à morte, você me enfrenta de cabeça erguida, mesmo com o medo que vejo em seus olhos, vejo que não teme por si, e muito menos teme a mim.


Tiago olhava friamente para ele.


Voldemort continuou:


- Infelizmente para você, o seu tempo acabou, você não pode prolongar o momento de sua morte por mais tempo. Por mais que eu o admire por sua valentia, creio que terei que matá-lo, afinal, vocês já me atrapalharam por tempo demais, e porque não espero que vá simplesmente abrir alas e deixar-me passar para fazer aquilo pelo que vim aqui.


- Realmente creio não ter chances de escapar, mas Harry…


- Ela não poderá aparatar, muito menos deixando-o para trás.


Tiago foi falar, mas Voldemort se adiantou.


- Não poderá usar Flu, não poderá sair pulando pela janela, não como ela sair! Você apenas diz isso por não possuir mais esperança, e querer dá-la a si mesmo. Pois sabe muito bem que não há como ela sair daqui pois sabe muito bem que tomei todas as providências necessárias.


A respiração de Tiago acelerou-se. Sabia que era verdade, não via chances em Lílian escapar com Harry, mas tinha que confiar nela.


- Pelo visto seus contatos vão muito além de conseguir bloquear redes de Flu… eles incluem traidores.


- Ah! Sim, sim! Decepcionante, não? Um dos melhores amigos… tsc, tsc… o poder de Lorde Voldemort vai muito além do que você imagina, eu sei obter aquilo que quero.


Tiago olhava-o com ódio. Queria prolongar a conversa por mais tempo, mas via que não seria por muito, mas surpreendeu-se com rapidez que tudo terminou.


- Você sabe que eu sei, que você quer me atrasar é óbvio, mas você sabe que eu sei o que se passa em sua mente.


De repente ele levantou o braço empunhando firmemente a varinha.


- Crucio.


Tiago rebateu o feitiço para Voldemort, que desfez o raio com um movimento da varinha.


- Eu posso morrer, Voldemort. Mas será lutando, sempre lutando, eu não aceitarei essa morte como minha sina - bravejou Tiago lançando um feitiço dourado em sua direção.


Os dois duelaram lançando feitiços, bloqueando-os, escapando deles, os móveis da casa destruindo-se. Mas a vantagem lógica de Lorde Voldemort logo se sobressaiu.


- Perdão é uma palavra cujo significado não compreendo, Potter. Sua sina está selada.


- O perdão vindo de ti não seria perdão, pois sempre teria algum intuito por trás.


Disseram eles pausando o duelo.


Mas Tiago sabia o que estava por vir.


O duelo recomeçou, e num momento de agilidade superior de Lorde Voldemort ele conseguiu.


- Avada Kedavra.


O jato de luz verde explodiu pela sala e atingiu Tiago Potter no peito antes que ele pudesse tentar se defender, e, pensando na esposa e no filho, ele caiu no chão, jogado para trás, morto.


Uma gargalhada aguda, sem alegria, penetrante e fria escapou dos lábios de Voldemort. Ele dirigiu-se para a escada e subiu-a agilmente em direção ao quarto.





Lílian correu pelo corredor em direção ao quarto do filho. Sabia que não havia esperanças, não havia por onde escapar. Ela chorava, não via em lugar algum uma maneira de proteger seu filho de Voldemort. Ela parou em frente à porta do quarto do filho, as pernas tremendo, imobilizadas pelo medo. De repente ouviu uma explosão do andar inferior, uma porta escancarando-se. Como se acordasse de um transe ela correu desesperada para dentro do quarto do filho, trancou a porta, e encostou-se nela deslizando as costas lentamente até sentar-se no chão.


Ela olhou fraternalmente o filho nos braços, só agora percebeu que ela chorava. Ela ouviu o barulho de móveis quebrando abaixo do chão. Ela passou a mão na cabeça do filho para acalmá-lo e com esforço, levantou-se cambaleando e sem ter idéia do que fazer, vendo que não havia mais para onde ir, pensando somente no bem-estar do filho, deitou-o no berço e começou a brincar com ele. Lágrimas escorriam pelo seu rosto, e molhavam as vestes da criança, que continuava a chorar.


- Acalme-se, querido! - disse ela sacudindo um chocalho para acalmá-lo.


Ele diminuiu o choro. Ela sorriu para ele. Um belo sorriso no meio de rosto manchado de lágrimas. E inclinando-se, ela beijou o filho na testa, emocionada.


Passos foram ouvidos na escada.


Ela afastou o seu rosto do filho e passou a mão delicadamente pelo seu queixo.


- Tudo vai dar certo, está bem! - disse ela para reconfortar o filho. - Tudo vai ficar bem, no fim tudo vai dar certo, e não importa o que aconteça, eu estarei sempre do seu lado, e quero que nunca se esqueça - Harry olhava para ela como se compreendesse cada palavra - que eu te amo! Que eu te amo muito! Meu filho!


E ela fechou os olhos vagarosamente esperando. E a porta atrás dela explodiu da mesma maneira que a do andar inferior. Ela abriu os olhos e virou-se para admirar um Lorde Voldemort com um olhar repleto de cobiça, um desejo de morte.


Um cheiro estranho invadiu as narinas de Lílian e ela ficou ali, olhando para ele, com as mãos sobre a barra do berço.


Ele deu um passo para frente, e outra lágrima escorreu pelo rosto da mulher, ela olhou novamente para o filho, como um último olhar, e virou-se para o bruxo às suas costas.


- Por favor…


Voldemort riu violentamente.


- Não acha que pedir “por favor” adiantará em muito, acha?


- Você não pode me matar, lembre-se que eu sou…


- E quem disse que eu vim aqui para lhe matar?


- Não, por favor, não!


- Afaste-se! Eu não vim aqui para matá-la, eu não quero matá-la, você sabe muito bem que preciso de você. Eu quero o garoto.


- Harry não, Harry não! Por favor… - ela caiu no chão ajoelhada em frente a ele - farei qualquer coisa…


- Afaste-se. Afaste-se, menina…


- Eu não deixarei que nada aconteça a ele! E você não pode me matar, lembre-se!


- Eu não vou te matar, saia da frente, você sabe que ele morrerá de uma maneira ou de outra, com você viva ou morta.


- Mas você não pode me matar, caso contrário nunca saberá…


- Saberei sim, sabe que saberei.


- Não! Não há como saber, eu sou a única…


- Não, não é! E você sabe muito bem disso!


- Eu não deixarei que você o leve de mim!


- Ele não ficará longe de você, ambos irão para o mesmo lugar!


Ela viu que não podia mais fazer nada.


- Por favor…


- Afaste-se, preciso de você.


- Para que precisa de mim, se como disse pode obter de outra maneira, por outra pessoa?


- Sem você tudo ficará muito mais difícil, eu preciso de você, agora, SAIA DA FRENTE! Eu preciso matar a ele!


- O Harry não, o Harry não, por favor, o Harry não!


- Afaste-se, sua tola… afaste-se agora…


- O Harry não, por favor, não, leve-me, mate-me no lugar dele…


- Eu não preciso de você morta, preciso dele.


- Harry não! Por favor… tenha piedade… tenha piedade! - disse ela num último esforço, já completamente curvada, encostando a cabeça no chão.


Ele deu uma risada alta, fria e penetrante.


- Eu não tenho piedade, eu não sei o que é a piedade, e agora afaste-se, ou terei que matá-la também! Preciso de ti, mas há outras maneiras de conseguir o que quero! Afaste-se, ou morrerá! - completou ele, a paciência alcançando o limite.


- VOCÊ NÃO PODE MATÁ-LO!


Ela levantou a cabeça, repentinamente, num grito audível, como se aquelas palavras fossem a sua última esperança de salvar o filho.


Ele ignorou-a e ergueu a varinha.


- Você não entende, não pode matá-lo, você não sabe, mas…


- Cale a boca! Afaste-se, ou morrerás.


- Você não sabe, você não pode matá-lo, você não deve…


- Pare de inventar histórias, esse garoto é o primeiro a ameaçar o meu reinado na Terra, e antes que ele possa fazer qualquer coisa que seja, ele já estará morto.


Ela suspirou desesperada levantando-se, postando-se entre ele e o berço do filho. Deu um último olhar suplicante a ele.


- Por favor!


Ele apontou a varinha em direção a ela e um imenso jato de luz verde cobriu o espaço entre os dois, fazendo a mulher cair no chão, morta.


O ambiente de repente mudou. Era como se o ar estivesse diferente.


Voldemort olhou em volta percebendo um poder diferente ao seu redor.


- Bobagem! - sussurrou a si mesmo, ignorando a sensação esquisita que sentia ao redor de si, enquanto aproximava-se do berço onde o garoto encontrava-se.


Ele afastou o corpo da mulher do caminho com um dos pés, e chegou perto do berço.


O garoto chorava alto, com o medo que sentia na falta da mãe, mas algo pareceu acalmá-lo, e o seu choro foi diminuindo, sem cessar.


Voldemort olhou o garoto intrigado e este retribuiu um olhar choroso e inquisidor ao bruxo.


Mas o bruxo abanou a cabeça, e sem pensar mais, ergueu o braço, em posição de ataque, apontando a varinha ao bebê, e olhou-o com ódio por aqueles olhos vermelhos.


- Adeus, Harry Potter! Avada Kedavra!


Outro raio de luz verde cortou o ar do aposento em direção à testa do garoto, mas algo de inesperado aconteceu.


Voldemort sentiu mais forte do que tudo aquela entranha sensação que parecia encher o ar, enquanto o seu raio colidia com a testa do garoto. Este, atingiu-o com uma força incomum, rasgando a testa do garoto, que gritou extremamente alto, e por frações de segundo pareceu congelar, e repentinamente, o fluxo do raio que saía da varinha inverteu, dirigindo-se à Lorde Voldemort.


O raio acertou-o ainda com mais ímpeto no peito. E, com um brilho de dúvida cobrindo os olhos vermelhos do bruxo, num último grito desesperado, o raio pareceu explodir e alastrar-se por todo o canto da casa, destruindo tudo o que prostrava-se à sua frente. Uma imensa explosão de luz verde erguendo-se no céu, vista ao longe sob a escuridão da noite.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.