Vivemos juntos, morremos sós



Os Comensais pareciam assustados diante da perspectiva de não ter os dementadores por perto, que fugiram diante do dragão prateado que riscava os céus. Depois de dispersar as criaturas, Mia, Lúthien e Daniel baixaram as mãos e se apoiaram no corrimão da escada do lado de fora do castelo, completamente exaustos. O dragão continuava perseguindo os dementadores até que todos eles haviam fugido ou desaparecido.

Hermes correu para o local no qual se lembrava de ter ouvido o grito da mãe, sem se importar com os lobisomens e comensais que encontrava pelo caminho. Afastava-os com a imposição das mãos e conseguiu alcançar tia Gina, que tinha um profundo corte no braço, mas que não chegava a ser exatamente uma mordida.

Mia correu para alcançar o amigo, seguida de perto por Daniel e Lúthien. Os Renegados já invadiam o Castelo e devolviam Hogwarts para o lado certo, do qual a Escola jamais poderia ter saído. Então, os jovens perceberam que havia criaturas metade homem e metade cavalo que ajudavam a OdRR a expulsar todos os seguidores das trevas que ainda ocupavam a Escola.

Mia avistou Harry, que caminhava ao lado do enorme homem que ela tinha visto sair da Floresta Proibida. Ele era ainda maior de perto, tanto de altura como de largura, os cabelos e a barba muito brancos cobrindo-lhe o imenso rosto. Deveria ser um gigante, ou qualquer coisa do tipo, mas não havia tempo para pensar em mais nada que não fosse ajudar tia Gina.

- Eles não estão transformados – disse Daniel, referindo-se aos lobisomens. – Hoje não é noite de lua cheia, portanto, acredito que Gina vá ficar bem.

Hermes estava agachado ao lado da mãe e impunha as mãos sobre a testa dela, enquanto tentava fazer com que ela se recuperasse.

Os últimos Comensais ainda fugiam quando Mia avistou Fred e Jorge, que estavam próximos aos portões de Hogwarts. Eles faziam estranhos encantamentos, como que para proteger o local. O mesmo faziam os tratadores de dragões, que sobrevoavam todo o amplo perímetro da escola e cobriam-na com um estranho manto dourado e brilhante, devolvendo a Hogwarts a segurança que a Escola precisava para que não pudesse mais ser penetrada pelas forças do mal.

Lúthien avistou a mãe e correu para ela, que envolveu a filha num enorme e caloroso abraço. Mia ficou sozinha com Daniel, enquanto Hermes continuava concentrado em ajudar tia Gina. O moreno se virou para ela e disse:

- Achei que tudo fosse dar errado hoje. Achei que Lúcio e Voldemort conseguiriam machucar as pessoas que mais amo na vida.

Mia estava estranhamente tímida quando perguntou, observando discretamente os profundos olhos verdes de Daniel:

- Foram eles que implantaram o sonho na minha mente e na de seu pai?

- Infelizmente, sim – respondeu Daniel, tomando as mãos da menina para si. – Acho que eles pretendiam fazer com que você visse que eu estava sofrendo, e incentivá-la a vir me resgatar. Mas acho que não contavam com a presença do meu pai. Acharam que a OdRR o protegeria.

- Mas... você está bem, pelo que eu vejo – disse a menina, intrigada.

- Sim, eu estou. Depois que vocês me abandonaram em Azkaban, eu fui torturado e fiquei à beira da morte – e nesse momento, Mia sentiu uma certa pontada de frustração na fala de Daniel. – Mas eu compreendo que precisavam salvar suas vidas. Com o passar do tempo, me mandaram para o Castelo, onde permaneci como prisioneiro, mas, aos poucos, comecei a ter alguns privilégios. Pude ter aulas com os alunos, todas de magia negra, obviamente. Era durante estas aulas que eu tentava enviar os meus sinais. A água...

- Eu os vi – começou Mia, mas Daniel a interrompeu:

- Eu sei disso. E sei que você acreditou, assim como meu pai, que eu estava vivo, mesmo que o racional fosse pensar que eu havia perecido há muito. E eu agradeço você por isso, Mia. Graças à força de vocês, eu estou ao seu lado novamente.

Mia baixou os olhos castanhos e deixou que a cabeça descansasse no ombro de Daniel. Sentia seu coração bater descompassado, a força dos elementos opostos se atraindo como se fossem iguais. A dualidade do fogo e da água provando que, na verdade, são sempre os dispostos que se atraem.

Harry se aproximou dos dois ao lado do homem gigante. Estava sujo e o rosto tinha um corte profundo próximo ao supercílio. No entanto, estava profundamente feliz quando se dirigiu ao filho:

- Daniel, quero lhe apresentar o guarda-caças de Hogwarts, Rúbeo Hagrid!

O meio gigante apertou a mão do menino, sorrindo largamente e demonstrando simpatia. Podia-se notar que ele era muito velho, mas dizem as lendas que aqueles que possuem sangue de gigante vivem muito mais que os humanos. O homem dos olhos negros de besouro se dirigiu então a Mia:

- Você só pode ser uma Weasley, com esses cabelos de fogo. Filha de...

- Nossa filha, Hagrid – disse a senhora Weasley, aproximando-se juntamente com o marido e envolvendo o homem num grande abraço.

Hermes também se aproximou, os cabelos muito loiros denunciando suas verdadeiras origens:

- E este só pode ser um Malfoy – e embora Hermes esperasse algum insulto por isso, surpreendeu-se quando Hagrid continuou – o trio do passado e o trio do futuro, é maravilhoso ver vocês juntos para salvar Hogwarts!

- Ei! Trio não! Somos um quarteto – Lúthien se aproximou, provocando um sorriso nos lábios do grupo diante da sua colocação.

- Tenho certeza que Dumbledore ficaria muito orgulhoso em saber disso.

Parecia que Hagrid continuaria falando do diretor, mas o enorme dragão negro fez um vôo rasante, provocando uma ventania que bagunçou os cabelos de todos. Quando ele pousou, Hagrid encarava o animal fascinado, sem conseguir despregar os olhos de seu dorso brilhante e escamado. Carlinhos saltou das costas do dragão sorrindo, embora seu rosto estivesse atravessado por um enorme e sangrento corte. Dirigiu-se imediatamente a Hagrid:

- Acho que alguém gostaria de vê-lo. Talvez ela nunca tenha se esquecido daquele que considera como uma mãe. Dragões têm uma ótima memória.

- Ela? – questionou Hagrid, o rosto enrugado numa expressão de dúvida.

- Sim, Hagrid... na verdade, ela é fêmea! – respondeu Carlinhos, com uma piscadela.

O dragão fêmea aproximou o focinho quente da pele do meio gigante, enquanto Hagrid estendia a mão para tocar o enorme animal. O meio gigante sorria como uma criança, dando a impressão de que a espessa barba e os cabelos brancos fossem apenas parte de uma fantasia qualquer. O dragão bufou, assustando Mia, Hermes e Daniel, que não estavam acostumados à presença do animal.

Mia percebeu, então, que Harry carregava o braço esquerdo meio pendurado ao lado do corpo. No entanto, como Carlinhos, ele também sorria quando se dirigiu aos garotos:

- Esse é o Norberto... ou melhor, a Norberta. O dragão do Hagrid – e parou ao lado do eterno guarda-caças de Hogwarts para compartilhar da alegria do homem em ver novamente o seu bichinho de estimação. O senhor e a senhora Weasley também sorriam, lembrando-se do dia em que haviam entregado o dragão a Carlinhos para que ele o levasse para a Romênia e cuidasse dele.

Mia concluiu que Hagrid tinha estranhos gostos para bichinhos, mas também sentia vontade de sorrir. Não que a guerra estivesse vencida, havia muito a fazer ainda, mas a perspectiva de estar em Hogwarts fazia com que ela se sentisse bem como nunca havia se sentido na vida. Enfim, estava em casa.

Daniel parecia ler os pensamentos da menina quando tomou sua mão e, diante de todos, beijou-a ternamente, acariciando os longos cabelos ruivos e fazendo com que ela tremesse ligeiramente. Depois, o moreno ouviu a voz do pai, chamando-o para ver qualquer coisa no enorme dragão fêmea.

Mia e Hermes ficaram sozinhos. O loiro, meio sem graça, deu de ombros:

- Tudo bem. Nós não daríamos certo mesmo...

A ruiva sorriu e abraçou o amigo:

- Você é meu irmão de magia, Hermes. Não há nada mais certo no mundo que isso!

Daniel e Lúthien voltaram a se reunir aos dois amigos, mas Hermes permanecia com um olhar distante. Alguns pontos do campo de batalha ainda estavam em chamas, havia centauros e outros guerreiros feridos. Mas a revolução tinha conquistado um importante posto tomando Hogwarts do inimigo.

Os únicos temores que restavam era saber onde estava O Oráculo, o que teria sido feito de Draco e Lúcio Malfoy, e qual seria a localização da última horcrux de Voldemort. Este seria o único meio de destruir para sempre o Império do Mal.

Mas a guerra ficaria para outro dia. Agora era hora de comemorar a vitória da batalha. O sol nasceria de novo. E eles continuariam a viver juntos até que, fatalmente, chegaria a hora de cada um partir. Sozinho.

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