A Primeira Carta



Um lunático, um fã obcecado, correndo pelas ruas escuras e naquela hora da noite desertas e úmidas, ouvindo o uivar do vento, o farfalhar das folhas, e o ruído triste da chuva caindo no asfalto gelado. Com cara de um roedor qualquer e miúdo como um, este soltou um berro desesperado, agudo e fino, e caiu no chão, com o rosto molhado pela poça que se formou na estrada, ali, deitado no chão como um ser desprezível, que foi tomado pelo medo... do próprio medo, soltou mais um berro, desta vez, um berro que desse para distinguir:
― Lorde! - O berro se prolongava - Mi Lorde!

***

Harry preparava-se para dormir, puxou o cobertor de tecido vagabundo, deitou-se no colchão duro e puxou o cobertor para si. E começou, mais uma vez, a cantar parabéns para si mesmo. No meio de uma frase foi interrompido por um som, que por um momento ele achou que fosse um vaso ou um copo se quebrando no número 4 da rua dos Alfeneiros, percebeu que estava errado e se deitou novamente, se cobriu e fechou os olhos, tentando pensar no que aconteceria no próximo mês, quando voltaria a sua tão amada e querida escola de magia e bruxaria de Hogwarts, e tentando esquecer o barulho frio e pavoroso que ouvira há pouco. Pensava em Ron, em Mione e em todo o resto, mas outro berro cortou seu pensamento, desta vez Harry se arrepiou, pois ele escutou o que a voz dizia, entendeu o que o grito tenebroso falava, entendeu plenamente o nome que a voz se referia, e esse nome Harry não queria lembrar nunca mais, nunca quis se lembrar do nome que matara seus pais, que gerou assassinos, e que uma dessas assassinas, a preferida desse nome que todos tem medo de falar, matou seu padrinho, seu tão querido padrinho, ele próprio sobrevivera seis vezes dele e de seus seguidores, nunca sentira tanto ódio de alguém quanto sentia de Voldemort.

Na verdade não era bem isso que a voz falava, ela falava: "Mi Lorde". Obrigando Harry a deduzir que um de seus seguidores estava por perto. Ele sabia que Voldemort não podia entrar na casa dos Dursleys, os tão mau-encarados, Dursleys, mas e os seus seguidores? Poderiam eles entrar ali? E a qualquer hora assassiná-lo? Temendo tudo isso, Harry se levantou foi até o armário, onde os Dursleys permitiram guardar seu material, e pegou sua varinha, sabia alguns feitiços básicos para desarmar e paralisar o oponente, sacou a varinha, deixando ela de frente ao corpo, caminhou em direção a janela e abriu a cortina suja e empoeirada, olhou para baixou e viu alguém caído no chão, devia ser ele!

Ficou meia-hora olhando para o corpo sem destino nem rumo, como o corpo não se mexia, Harry achou que algum Auror mais atento pudesse tê-lo acertado com algum Feitiço da Perna Presa ou algo do tipo. Voltou a se deitar para mais uma noite sem sonhos na casa dos Dursleys.

"Ahn? Estou acordado? Será? Ou será um sonho?" Harry ouvia a tia o chamar para o café da manhã, enquanto isso duas corujas piavam muito alto, como se estivessem discutindo, de repente ouviu o estridente pio de Edwiges, parando com a discussão das outras duas corujas, mas tia Petúnia continuava a perturbá-lo. "Tem que ser um sonho!" Pensava Harry "Só pode ser!" Mas acordou desiludido com três corujas picando-o, uma em sua cabeça, e ele reconhecera na hora, a sua coruja branca, Edwiges, outra em seu nariz, que Harry pôde perceber que era a coruja dos Weasley, já quase morta, Errol e mais uma preta, com um brasão bronze no peito, era de Hogwarts. Sentou-se na cama e resmungou para tia que já descia. Olhou para a gaiola de Edwiges e reparou em mais uma coruja, esta era amarronzada com manchas esfumaçadas e pretas, devia ser de um correio-coruja.

Edwiges, Errol e a coruja de Hogwarts conversavam na cama e Harry tardou a conseguir tirar a coruja teimosa de dentro da gaiola de Edwiges e colocá-la em sua cama também. Reparou em quatro pacotes sobre a mesa e em cinco cartas, pegou o primeiro pacote e abriu-o, dentro dele havia uma bússola, meio estranha, em vez de um ponteiro com Norte, Sul, Leste, Oeste e os graus, havia uma bolinha no meio com um V, um A, um T e um F, grudado na bolinha central havia um ponteiro, e tinha também um ajustador ao lado, que conforme você o virava, o ponteiro se mexia, mas enquanto descobria o novo objeto, Tio Vernon berrou lá debaixo:

- Venha descer, moleque!
Harry rosnou um "Já vou", trocou-se e desceu com a bússola no bolso da jeans que vestia. Sentou-se na mesa, quieto, como sempre, apesar dos tios terem melhorado um tanto o comportamento com ele, ainda eram rabugentos e Duda, insuportável.

Serviu-se de ovos com bacon (já frios), sabia que agora, mais do que nunca seus poderes estavam sobressaindo sozinhos, isto já acontecera seis vezes desde que chegara de Hogwarts no ano anterior, e não podia dar a chance dos Dursleys deixá-lo de castigo, mas... deu!

Enquanto comia seus ovos, um destes caiu no chão e Tia Petúnia histérica, mandou-o limpar, Harry nem ligou e sem se preocupar, pensando em limpar depois, respondeu um "sim", mas enquanto respondia o "sim" e pensava no tempo que perderia tendo que limpar a sujeira, ela sumiu, simplesmente sumiu, deixando o chão limpo como estava antes. Tia Petúnia levou a mão à boca e deu o costumeiro gritinho agudo, Duda mal percebeu que a sujeira que estava no chão foi parar no seu prato e ele agora a comia, Tio Vernon mandou-o subir, dizendo que ficaria lá mais três dias. Harry pensou porque ele não o deixara ali o verão inteiro, talvez fosse porque ajudou Tia Petúnia a limpar a cozinha, quando chegou no quarto ouviu a porta lá debaixo fechar, Tio Vernon estava indo trabalhar.
Sentou-se na cama e reparou que a coruja da escola e a coruja-correio tinham ido embora e que Errol dormia em sua cama, pegou a carta de Hermione, que foi quem mandou a bússola:

Caro Harry,
Tudo bem? Estou por aqui na Inglaterra mesmo, como já deve saber pelas cartas que te mandei. Recebi meus O.W.L.s ontem e fui bem, isso é muito bom, quer dizer, não gostei nada do "Excede as Expectativas" que consegui em Poções e Runas Mágicas, deve ter sido pela aquela palavra que traduzi errado, Poções nem se fala, quem da aula é Snape...


"Rabugento!" Pensou Harry.

... De resto nós nos falamos no Diagon Alley, vamos dia trinta, vamos?
Beijos!
De sua amiga, Mione.

P.S.: Gostou do Projetador que lhe dei? Tomara que já tenha entendido como usar, se não, te explico no Diagon Alley!


Ficou um tempo paralisado, pensando em como que aquele objeto estranho funcionava, mas como sabia do poder de inteligência da amiga, decidiu esperar até o encontro no Diagon Alley. Mesmo que quisesse pensar em algo mais, Harry não conseguiria, pois caiu da cama quando o barulho que saiu de uma outra caixa o assustou. Temendo que aquele pudesse ser o presente de Hagrid, Harry avançou com cuidado, lembrava-se bem dos animais que Hagrid gostava, já tivera um dragão, um cão de três cabeças, um hippogriff além de uma aranha gigante, entre outros, lembrou-se do presente de 13 anos, um livro-monstro! Lembrava-se também que Hagrid não fazia por mal, mas...
Avançou cauteloso à caixa, achando que aquele presente não era realmente o que precisava para trazer a alegria dos tios, ao estender a mão à caixa, mudou de direção para a caixa ao lado, que conforme o bilhete fora enviado por Hagrid, olhou para a caixa novamente, e agora? De quem seria aquele presente bizarro?
Abriu com cautela o de Hagrid, provavelmente pensou que pudesse ser alguma espécie dormindo, olhou para dentro como quem fosse se queimar de propósito, esperou, mas nada se mexia, olhou direito (deu uma recuada, mas depois voltou à atenção a caixa.) e viu, seis daqueles bolinhos que grudavam na boca do Hagrid e uma xícara de chá, daquelas que Hagrid costumava servir as pessoas, guardou-as, ficou aliviado a perceber que não era nada vivo.
A caixa "viva" se mexeu de novo, e Harry decidiu ver o que habitava aquela mera caixa marrom e sem graça. Olhou para o bilhete grudado na aba e leu: "Com muita amizade, de Ron".Estranhou, Ron não lhe mandaria nada que pudesse lhe ferir, mas comprometer seu estado com a família Dursley, bem isso ele já tinha feito, resolveu abrir a caixa, bem ele abriria, se a caixa não tivesse sido derrubada em um súbito salto do animal estranho, ela se abriu.
Um bicho, um ovo enorme, grotesco e caramelo, era redondo, com alguns pêlos cor de caramelo, duas mãozinhas minúsculas saíram de dentro dos pêlos e uma língua enorme, talvez o dobro do corpo do pobre bicho, começou o vínculo de amizade entre Harry e o puffskein que lá se encontrava, este enfiou a língua pontuda e rosa em uma das narinas do garoto, que por sua vez, espirrou.
Harry só esperava que o puffskein não fizesse barulho, depois de uns quinze minutos ele percebeu que Tia Petúnia agradeceria a ele pela limpeza do quarto, o bicho comia de tudo, desde aranhas (que Harry notou ser o seu alimento preferido, com a exceção da meleca do nariz dele, o bicho enfiou a língua no nariz dele quatro vezes em cinco minutos.) a um restinho de poção da limpeza que Harry fizera para a lição de Poções, que por sinal, o puffskein não gostou muito.
Ainda restava um pacote sobre a escrivaninha marrom e escura... começava a escurecer e os tios não deixariam ele acender a luz, provavelmente já tinham desligado a luz do quarto dele, acendeu a lanterna e partiu em direção a outra caixa, enquanto o puffskein lambia a quina de uma parede.
O bilhete pendurado por uma tachinha muito da teimosa dizia: "Infinitamente de bom grado, de Albus Dumbledore". Arrancou o bilhete, deixando para trás uma tachinha resmungando (que Harry fez questão de esmagar.) e abriu a caixa, delicadamente, o que vinha de Dumbledore, podia ser muito importante, mas se surpreendeu ao ver que dentro da caixa havia uma coruja de pelúcia, não uma qualquer, mas sim uma réplica perfeita de Edwiges, e ainda por cima, com um rasgo na ponta de uma das orelhas, transbordando algodão (que o puffskein fez questão de ingerir!).
Começou a leitura das cartas, já tinha dado uma lida na carta de Mione e não quis rele-la, começou a ler a de Ron:

Caro Harry,
Tudo bem com você, os seus tios melhoraram o comportamento idiota? Impossível, aqueles trouxas são os piores possíveis, bem recebeu o meu presente? Tomara que Errol tenha conseguido levar o Blunder...


Olhou para o puffskein.

...até aí. Ah, o Blunder é o puffskein que você recebeu. Gostou dele? Espero que sim, espero que os trouxas não se importem, perguntei à mamãe se você poderia levar o Blunder até a escola e ela disse quem não tinha problemas, que na turma dela tinha um garoto que tinha dezesseis sapos. Lembrei-me do Neville quando ela disse isso, imagine: "Cadê vocês? Vocês viram os meus sapos?".
Bem, é isso, ah, se quiser renomea-lo, pode, foram Fred e George que deram esse nome a ele, então... Até mais, te vejo no Diagon Alley.
De seu amigo, Ron.


Já cansado, Harry leu a de Hagrid:

Harry.
O.k, tudo O.K. com você? Está melhor? Sirius foi uma grande perda para a comunidade bruxa, sinto muito. Sei que esse não é o assunto correto para esse dia. Parabéns para você! Parabéns para você! Bem, gostou do meu presente? É simples, mas pensei que você fosse gostar, sempre tomamos chá com xícaras como essas! Bem, é isso.
Até mais, de seu amigo, guarda-caças de Hogwarts e professor de Trato das Criaturas mágicas, Hagrid.


Agora faltava só a de Dumbledore e a de Hogwarts, devia ser a carta com seus O.W.L.s, era ver para crer.

Harry,
Este presente parece algo inútil, como tudo que faço parece inútil, mas saiba que nos momentos de mais aperto ele sempre estará contigo, você queira, ou não! Tudo que digo Harry, tem algo de importante. Saiba disso.
De seu diretor, Albus Dumbledore.


Realmente, Albus Dumbledore não era o que você chamaria de normal, mas Harry não o achava inútil, pelo contrário. Mas aquele presente realmente, ele não soube para quê serviria.
Ansioso, quase deixou o projetador quebrar ao derrubá-lo da mesa, abriu a carta e deixou cair algo dela que ignorou, primeiro leu os seus O.W.L.s:

Senhor Potter, temos o prazer de informar os seus O.W.L.s(Ordinary Wizardy Levels.). Os resultados limitados pelos professores de cada matéria correspondem a um nível, conforme o seu nível, você freqüentará ou não esta matéria.
Os seus resultados:
Adivinhação - Regular
Astronomia - Excede as Expectativas
Defesa Contra as Artes das Trevas - Excepcional
Feitiços - Excede as Expectativas
Herbologia - Excede as Expectativas
História da Magia - Regular
Poções - Excede as Expectativas
Transfiguração - Excepcional
Trato das Criaturas Mágicas - Excepcional.


Estupefato, Harry releu a carta três vezes como se não acreditasse passou na maioria das matérias, até mesmo em Poções, com o pior professor, o mais ranzinza, o mais implicante. Deitou-se na cama e ficou pensando em como tudo aquilo acontecera. Só depois se lembrou da carta que caíra, uma semelhante a dos jogos de carta, mas em vez de um fundo colorido, havia um fundo marrom, com riscos pretos e no verso da carta, algo escrito, como codificado, uma pista, mas para o que? Bem, estava escrito:

Lembre-se, meu querido.
Que o primeiro deve ser escolhido.
E ao vê-lo.
Cuidado para não perdê-lo.
Então, até.
Cuidado para não quebrar o pé.


Não entendera, mas quase dormindo guardou a carta, para depois pensar naquilo. Mas alguma coisa o acordou. Harry olhou para os lados, a procura de alguém, seria o que você diria se o visse, mas não havia ninguém por ali, nunca tivera ninguém por ali, e pelo o que Harry pensava, nunca teria. Mas mesmo assim olhou para os lados, sentiu um vento em suas costas e um vulto, um vulto negro passar por trás dele e de repente pôs-se a chorar, um choro descontrolado, terrível, terrível, se lembrou de tudo que vivera até aquele dia e o choro se tornou um choro novo, um choro misto, de tristeza e alegria, um choro horrível, lembrou-se, lembrou-se do dia, do dia em que os pais morreram.

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