Sementes Frescas de Tentáculos

Sementes Frescas de Tentáculos



CAPÍTULO V. SEMENTES FRESCAS DE TENTÁCULOS VENENOSOS

Os primeiros três dias do Centro de Vampirologia em Hogwarts foram tranqüilos. O infame Vampiro de Hogsmeade, seja por falta de apetite ou talvez por se sentir intimidado com a presença de caçadores tão próximos a ele, não voltou a atacar a vila bruxa.

E essa tranqüilidade veio a calhar: por não precisar correr atrás de cadáveres nem ser pressionada pela mídia, que pareceu ter esquecido completamente do caso, Mina Stoker pôde trabalhar com certa tranqüilidade em suas poções que desvendariam a família do vampiro assassino... E aquela parecia ser uma oportunidade para que ela pudesse se aproximar um pouco de Van Helsing.

Aquele homem continuava sendo para Mina um mistério. Na maior parte do tempo, ele era sério, introspectivo, grosso e extremamente desagradável... Mas havia certos momentos em que ele se mostrava uma pessoa tão amável que ela quase chegava a compreender a paixão que a sua mãe sentiu por ele... Eram momentos como aqueles, em que os dois conversavam sobre assuntos banais enquanto ele a ajudava no preparo das poções.

Enquanto Mina mexia o caldeirão – sem mágica, claro – ele debruçava-se sobre a mesa a espera de uma nova instrução e falava sobre o seu assunto favorito: matar vampiros.

- Se você quer matar um vampiro, Stoker, você não deve se envolver com ele. Não deve conhecê-lo. Vampiros podem ser extremamente persuasivos e, se você der a chance, vai acabar com dois furos no pescoço e em cima da cama dele, ao invés de matá-lo.

Mina deu uma risadinha abafada, corando levemente.

- Não posso acreditar, Senhor Van Helsing. Não posso acreditar que, em todo esse tempo, você nunca tenha sequer conversado com um vampiro. Vampiras, no caso.

- Conversei, sim. E, acredite: eu tenho sorte de não ter acabado com dois buracos na jugular!

Ele riu. Mina percebeu que o semblante dele logo ficou sério e, com os olhos perdidos, ele disse:

- Emily já se deixou levar por um vampiro.

Ela ergueu o rosto para encará-lo, surpresa.

- Mamãe?

- Sim, a sua mãe. Foi como eu a conheci. Ela estava na cama com um vampiro que eu conhecia... um antigo inimigo. Ele estava se preparando para mordê-la, quando eu cheguei e enfiei uma estaca no coração no desgraçado – ele sorriu, quase sonhador. – E, ao invés de me agradecer por ter lhe salvo a vida, Emily me deu uma grande tapa na cara.

Mina tentou sorrir, sentindo um grande nó em sua garganta ao se lembrar da mãe e do seu jeito tão obviamente... intempestivo.

- Eu não acredito que ela fez isso!

- Fez... mas eu não me importei. Ela era tão bonita... – Mina suspirou, tirando os seus grandes óculos e limpando o vapor que os embaçava. – Você parece com ela.

Mais uma vez, ela o olhou surpresa. Sem os óculos, Van Helsing pôde ver que o que ele acabara de dizer impensadamente era verdade; olhar o azul dos olhos de Mina Stoker era exatamente como ver os olhos de Emily... Eles tinham o mesmo brilho.

Por um momento, Mina e Van Helsing ficaram apenas se olhando... Mas o barulho da porta se abrindo pareceu trazê-los de volta ao mundo real. Rapidamente, Mina colocou os seus óculos voltou a sua atenção para a poção.

Exasperado, Van Helsing perguntou:

- Está ficando pronto?

- Logo ficará pronto – ela respondeu rapidamente. – Mas esse tipo de poção demora, mesmo.

Mina, ainda nervosa, olhou para quem acabara de entrar pela porta: era o vice-diretor, Horácio Slughorn.

- Oh, olá.

- Boa tarde! Eu vim falar com Severo.

- Ele está no quarto dele – Van Helsing respondeu.

Slughorn começou a encaminhar-se para o quarto de Snape enquanto Mina continuava a concentrar-se na poção.

- Senhor Van Helsing, me passe as sementes de tentáculo venenoso, por favor.

Van Helsing se levantou e encaminhou-se à maleta de Mina onde ficavam os ingredientes.

- Sementes de tentáculos venenosos? – a voz de Slughorn foi ouvida do fundo da sala. – É um produto proibido classe C... Bom para muitas poções!

- Classe D – Mina respondeu, esboçando um sorriso. – Eu uso as sementes na sua forma natural, e não ressecadas.

Slughorn abriu um largo sorriso, aproximando-se dela.

- É mesmo? As sementes em sua forma natural são muito caras. E só ficam no mercado durante o inverno, quando florescem.

- E, como é extremamente caro conservá-las frescas, as pessoas simplesmente as secam. É lamentável.

- É falta de visão. Eles poderiam vendê-las por um preço bem mais alto, já que, quando frescas, potencializam os seus efeitos. Mas me diga, Srta. Stoker, você tem muitas sementes?

- Não – foi a voz grossa de Van Helsing que respondeu. – Não tem mais, Stoker. É urgente?

Mina suspirou, mexendo o caldeirão um pouco mais rápido.

- Não, nem tanto. Só precisarei adicioná-las daqui a meia hora. Será que você pode pedir ao Sr. Snape um pouco de sementes frescas, Senhor Slughorn?

- Eu prefiro não me meter nesse assunto, Srta. Stoker – Slughorn deu um riso abafado. – Eu conheço Severo; ele acabaria pensando que a minha verdadeira intenção era assaltar o estoque de ingredientes caros e raros, dele. O homem não acredita em favores ou ações altruístas! Mas eu poderia ficar aqui, mexendo, enquanto você pede!

Antes que Mina pudesse aceitar o favor, Van Helsing interviu:

- Obrigado, mas não. Essa poção já está demorando muito para ficar pronta e a última coisa que eu quero é ter de atrasar três dias, caso algum acidente aconteça.

Sem graça, Slughorn apenas deu de ombros e disse:

- Bem, se vocês pensam assim...

E deixou a sala.

- Senhor Van Helsing! – Mina o censurou. – Por que você fez isso? Ele só queria ajudar!

- Mina, eu conheço o mundo. Não existem favores e ações altruístas. Aprenda isso.

- Bem, talvez você só tenha conhecido a parte ruim do mundo! Mas, já que o senhor quis assim, por favor, assuma meu posto. Eu vou pedir as sementes ao Senhor Snape.

Van Helsing a olhou atravessado.

- Eu não tenho vocação para cozinheira.

Mina suspirou.

- Tudo bem, então serei obrigada a usar mágica!

E, antes que Van Helsing pudesse pestanejar, Mina fez com que a colher se movesse sozinha dentro do caldeirão. Sorrindo satisfeita, aproximou-se dele e tirou o avental que estava ligeiramente sujo de sangue.

- Vou falar com o Senhor Snape.

E começou a se aproximar da porta que levaria até o quarto do diretor de Hogwarts.

Mas, antes que pudesse ao menos bater, Van Helsing falou:

- Homem estranho, não?

Mina se virou, sobrancelha erguida.

- O que?

- Ele é estranho. Onde já se viu, um diretor tirando um cochilo no meio da tarde? E mais: por que ele dorme aqui, nas masmorras, tendo os aposentos de diretor à sua disposição?

Mina mordeu o lábio, sabendo que a pior coisa que poderia fazer era contar as suas suspeitas para Van Helsing.

Sorriu, nervosamente.

- Ele apenas está cansado! Quer dizer, passou a noite nos ajudando, e não deve ser nada fácil ter estranhos enfurnados na ante-sala do seu quarto! Ele deve estar uma pilha... merece esse descanso.

Ele apenas continuou a encará-la, deixando claro que não tinha acreditado numa só palavra.

- E as masmorras?

Mina deu de ombros.

- Bem, ele tem esse laboratório... Não poderia deixar tudo isso exposto, não seria bom para as conservas. Tampouco deve ser agradável ficar indo de um lugar para o outro sempre que quiser fazer uma poção qualquer!

Van Helsing abriu a boca para contra-argumentar, mas Mina foi mais rápida que ele.

- Eu já vou.

E, sem sequer bater, entrou no quarto de Severo Snape, fechando a porta atrás de si para evitar qualquer bisbilhotagem da parte de Van Helsing.

XxXxXxX

Aquele quarto era provavelmente o mais frio e escuro que Mina já havia entrado. Na verdade, aquele aposento de maneira nenhuma lembrava um quarto... Mais parecia uma cripta.

Mina abraçou-se, sentindo um breve arrepio cruzar a sua espinha.

Os tons mortos nos tecidos, nos tapetes... A falta de janela, de luz...

A bela lareira que acumulava apenas pó, e nenhum fogo.

Mina mordeu o lábio.

Seus passos, as batidas do seu salto contra o assoalho de madeira, eram os únicos ruídos que podiam ser ouvidos naquele lugar... E ecoavam alto, à medida que ela se aproximava lentamente daquela grande cama de lençóis vinho.

Uma ponta reprimida de medo fazia o seu coração bater cada vez mais forte.

Aproximou-se, para observar o homem que trajava negro.

Deitado de barriga pra cima, Severo Snape nunca tinha se parecido tanto com um cadáver. Sua pele extremamente alva contrastava com toda a escuridão daquela imensa cripta. Profundas olheiras se destacavam no rosto magro, caveiroso... e as mãos entrelaçadas sobre o seu peito coroavam aquela imagem fúnebre.

O peito!’

O peito de Snape não se movia.

Lentamente, movida por uma incontrolável curiosidade, Mina foi se abaixando, aproximando o seu rosto do de Snape, para conferir se aquele homem realmente não respirava.

Ela tentava ser silenciosa... mas não conseguia controlar o coração acelerado e a respiração cada vez mais pesada.

Apoiou-se no espelho da cama. Apenas poucos centímetros distância...

Mina prendeu a sua respiração, deixando os seus lábios muito próximos dos dele, esperando sentir o seu hálito quente...

Mas ela não sentiu. Ele não respirava. O que queria dizer que ele realmente era...

Apavorada com a sua constatação, Mina sem querer suspirou. E, ao sentir o ar sobre os seus lábios, Snape abriu raivosamente os seus negros olhos vítreos, arrancando um grito de susto e pavor da garganta de Mina.

Grito que ainda ecoava quando as grandes mãos pálidas se agarraram aos cabelos dela e a empurraram, deitando-a de costas para a cama. Quando Snape rolou na cama, jogando o seu corpo grande e pesado violentamente sobre o dela. Quando as mãos dele agarraram os pulsos de Mina e os seguraram firmes sobre a cabeça dela.

Os dois se olharam por um instante, enquanto se acalmavam do susto. Por um instante em que respirações entrecortadas eram as únicas coisas a serem ouvidas naquele quarto.

Até que, em fim, Snape disse pausadamente – sua voz assustadora e aveludada.

- O que você está fazendo aqui?

Mina olhou para os lábios frios que estavam perigosamente próximos dos dela – sentiu o seu coração bater ainda mais forte. Desviou o olhar.

- Eu--- Eu vim---- Você não estava respirando!

Mina pensou ter visto um breve semblante aterrorizado tomar conta do rosto de Snape, enquanto ele saia de cima dela e sentava-se em seu leito.

Mas logo pensou ter sido apenas impressão dela – afinal, com a voz completamente inalterada, ele disse:

- Isso, Srta. Stoker, seria humanamente impossível.

Mina respirou fundo numa vã tentativa de se acalmar e se sentou, enquanto ajeitava os óculos no rosto e endireitava o seu coque no topo da nuca.

- De fato, humanamente impossível.

Snape bufou.

- Mas eu suponho que você não tenha vindo até aqui me perturbar apenas para checar se eu estava respirando ou não?

Mina tentou sorrir, levantando-se da cama – não era nada apropriado ficar na cama de um homem solteiro.

- Eu vim por que preciso de mais sementes frescas de tentáculos venenosos. As minhas acabaram... E você sabe que, nessa época do ano, elas não são vendidas, de forma que eu tenho que fazer um pedido para o Centro de Vampirologia e, daqui que eles me entreguem, a poção já terá se estragado, e... – Mina se interrompeu, percebendo que o nervosismo estava a fazendo tagarelar.

Snape se levantou e caminhou silenciosamente até um armário. Dentre os vários recipientes, ele escolheu um de vidro, com as sementes frescas de tentáculos venenosos. Voltou para o encontro de Mina.

Por um breve instante, Snape segurou o potinho de vidro em suas mãos. Pareceu indeciso, até que, sem olhar nos olhos de Mina, ele o entregou.

- Eu os tenho secos, se servir.

Ela o olhou, tentando sorrir.

- Não serve. É ainda para descobrir as origens do vampiro. Se usasse as sementes secas, a poção...

- ...demoraria pelo menos seis meses para ficar pronta. Eu sei.

Ela assentiu.

Snape rolou os olhos.

- Se era só isso...

- Oh! Desculpe!

E finalmente saiu do quarto, o deixando sozinho com os seus pensamentos.

Um feitiço fez com que várias velas se acendessem, finalmente iluminando o local. Severo Snape voltou ao armário.

Estou ficando sem poção...’

E sentou-se numa grande poltrona em frente à lareira apagada.

Ele não tinha mais onde encontrar sementes frescas... Certamente passaria por momentos difíceis.

XxXxXxX

Reviews, por favor.

Bjus para a minha maninha do coração, a Shey, que continua pacientemente betando essa fic... E, claro, para a lindas que revisaram: a Sandy Mione, a Lua Mirage2, a Lois, a DevilAir, a BastetAzazis e a Tina Granger.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.