Exame de Corpos



CAPÍTULO III. EXAME DE CORPOS

A sala dos professores de Hogwarts estava escura e quase completamente vazia – exceto pelos dois amigos que, com a voz baixa e em tom conspiratório, conversavam.

Hermione Granger deu um longo suspiro.

- E o que você acha de tudo isso, Harry?

O homem tentou parecer displicente; mas o brilho soturno em seu olhar deixava claro que ele estava, sim, preocupado.

- Eu acho que todos nós temos uma vasta experiência em encobrir os fatos, Mione – ele tentou dar à amiga um sorriso confiante. – Especialmente o Snape.

- Ainda assim, eu estou aflita, Harry. O Centro de Vampirologia nunca esteve tão perto de nós!

- Não é com eles que devemos nos preocupar, mas com Van Helsing. Você já viu do que ele é capaz, na guerra.

Hermione mordeu o lábio.

- E o que podemos fazer?

- Muito pouco. Nós temos que ficar de olho nas atividades deles... e nos certificar que jamais cheguem sequer perto de Hogwarts.

XxXxXxX

Depois de uma penosa viagem, Mina Stoker finalmente conseguiu chegar ao Centro de Vampirologia, e lá foi providenciada a Chave de Portal que levaria ela e Van Helsing ao pequeno vilarejo de Hogsmeade.

A viagem, naturalmente, não foi nada agradável; depois de passar uma hora andando no sol do meio-dia, ser sacudida em uma carroça, pegar dois ônibus e um metrô, ainda teve que fazer aquela viagem claustrofóbica que sempre a deixava ligeiramente enjoada.

E o homem... Bem, Van Helsing não gostava de nada que não conhecesse ou não pudesse fazer. E, para ele, ter que ser desmaterializado em um lugar para reaparecer em outro era uma idéia que sempre o deixava um tanto mais nervoso que de costume.

Mas, apesar dos pesares, no fim daquela tarde, eles conseguiram chegar à Hogsmeade.

Van Helsing olhou de esguelha para Mina, que tentava realinhar o seu blazer. Aquela era, talvez, uma das bruxas mais bizarras que ele já conhecera em toda a sua vida... A mulher não era propriamente feia – olhando bem para o seu rosto, por trás dos grandes óculos e apesar olhos amedrontados, ela até que se parecia muito com a sua mãe...

Ah, Emily McMahon... Van Helsing a conheceu muito bem, no passado... Foi terrível – além de uma grande surpresa – quando ela simplesmente decidiu o deixar para se tornar uma Stoker...

Van Helsing apenas se conformou com o abandono da mulher quando soube da sua morte.

Imortalidade... Isso significava, necessariamente, nunca poder amar de verdade... A não ser, é claro, que ele acabasse se apaixonando por uma vampira – o que seria extremamente irônico, visto que ele caçou esses seres durante toda a sua existência.

Talvez eu acabe os meus dias ao lado de uma das noivas de Drácula!’

Um sorriso sarcástico delineou os seus lábios.

- O que?

Van Helsing percebeu que passara os últimos minutos analisando o rosto de Mina. Sentindo-se um pouco desconfortável, ele desviou o olhar e começou a caminhar.

- O que o que?

Mina bufou.

- O que você estava olhando?

- Nada. Estava apenas pensando em sua mãe. Ela era fissurada em vampiros. Não é de se admirar que a filha acabou se tornando uma vampiróloga.

Mina suspirou, sentindo um pouco de dor ao lembrar da mãe. Esse era um dos motivos pelo qual não queria se encontrar com Van Helsing: sabia que ele e Emily tinham vivido um grande amor e ainda não estava pronta para ficar tão perto do fantasma da mãe.

- Ela era uma grande mulher.

- Sim, era. Eu apenas que---

...ria que ela estivesse viva.’

Mas aquela frase nunca foi completada, pois um homem robusto, de grande e espalhafatoso bigode, interrompeu a fala de Van Helsing.

- Vocês são os vampirólogos?

Mina observou o homem com certo alívio – seria bom mudar de assunto. Ela tentou sorrir e se aproximou do homem, tropeçando em seus saltos.

- Eu sou! Mina Stoker – ela estendeu a mão para o homem, que apenas a fitou. Sem-graça, Mina a recolheu – E esse é Van Helsing.

O homem robusto crispou os lábios.

- Vamos acabar logo com isso. Venham.

XxXxXxX

Eles entraram numa pequena sala que parecia ser um necrotério improvisado.

As paredes amareladas estavam sujas de sangue e o lugar era iluminado apenas pelos fracos e precários raios solares que entravam pelas grandes janelas de madeira. Não havia mobília alguma na saleta: apenas uma mesinha com alguns equipamentos cirúrgicos e três mesas brancas onde, em cada uma delas, jazia um corpo.

E aquela era a primeira vez que Mina via um cadáver.

Instintivamente movida pelo seu horror, ela deu um passo em falso para trás. O seu salto, já muito velho e desgastado, não resistiu e quebrou-se em dois, levando Mina ao chão em questão de segundos.

Se fosse uma opção, Mina desapareceria naquele momento: estirada do chão de um necrotério com as pernas semi-abertas e tendo que ver o homem robusto segurar a sua risada e Van Helsing apenas rolar os olhos.

Num inesperado gesto de cavalheirismo, ele estendeu-lhe a mão. Mina, muito corada, se levantou e encaminhou-se para os corpos equilibrando-se em seu salto quebrado e murmurando para, talvez, tentar esquecer o seu imenso constrangimento:

- Eu estou bem! Eu estou ótima!

Chegando perto do primeiro cadáver, Mina respirou fundo para tomar coragem. Péssima idéia. O odor fétido do corpo em decomposição adentrou as suas narinas e a fez estremecer silenciosamente numa ânsia de vomito.

Mina precisou usar toda a sua força para se controlar – devia mostrar competência.

Fingindo não estar afetada pelos cadáveres, ela sacou a varinha e...

...e ouviu a voz de Van Helsing ecoar.

- Eu não já falei que não quero mágica?

Droga!’

Relutante, Mina abriu a maleta. Conhecia todo o procedimento de colheita manual de amostras da mordida, mas jamais a fizera... não sabia o que lhe esperava. Mas já ouvira falar que não era nada agradável.

Vestiu luvas de borracha. Começou a examinar os dois furos que a vítima tinha no pescoço.

Ok, Mina, é agora...’

Ela pegou um pequeno tubo de ensaio e colocou logo abaixo de um dos furos. Suspirou. Tinha que fazer.

Pressionou a ferida.

Um cheiro terrível subiu e empestou o ar, fazendo com que ela tossisse – a ânsia aumentando. Mas nada saiu.

Que droga!’

Apertou mais uma vez... O cheiro ficava cada vez mais insuportável, fazendo com que o homem robusto se retirasse da sala. E, então, uma gosma esbranquiçada começou a sair do ferimento. Ela aliviou-se.

- Ah, finalmente!

Mina começou a coletá-la, mas não tardou para que o tal líquido terminasse de escorrer – ela fechou o tubo com uma rolha de cortiça, colocou-o na maleta e pegou um outro tubo.

Van Helsing bufou.

- Acabou?

Ela o olhou – um sorriso amarelo brotando em seu rosto.

- A parte mais tranqüila, sim.

O homem robusto voltou.

- Desculpe, mas por que você não usa mágica para controlar ele cheiro?

- Pergunte ao senhor Van Helsing – Mina choramingou, sem tirar os olhos dos defuntos.

O homem olhou Van Helsing, talvez no intuito de realmente fazer a pergunta... mas recebeu um olhar tão hostil que o obrigou desistir imediatamente.

Mina voltou a sua atenção ao ferimento. O apertou mais. E o cheiro piorou. Agora uma gosma bem mais espessa que a primeira, de cor esverdeada, começava a sair.

Eca! Eca, eca, eca, eca!’

Mina continuou apertando até que...

- ECA!!!

Um pouco do sangue que sobrara na vítima, que estivera preso por aquela espécie de pus, espirrou nela.

Mina finalmente perdeu o controle: sentindo o estomago revirar, ela correu para fora da sala.

O homem robusto não agüentou o odor e a seguiu.

Van Helsing apenas colocou a mão sobre o rosto por um momento. Mas logo, com a sua expressão inalterada, se aproximou do corpo, segurou o tubo de ensaio com a gosma verde que Mina largara no chão, o tampou e guardou na maleta.

Com o rosto molhado e os olhos levemente lacrimejados, Mina voltou.

- Eu estou bem! Estou bem.

Voltou para o corpo e retirou uma grande amostra de sangue. Sorriu satisfeita.

- E... eu acabei.

Van Helsing a olhou com um sorriso sádico.

- Ótimo. Agora só faltam os outros dois corpos.

Aquela seria uma longa hora...

XxXxXxX

CENTRO DE VAMPIROLOGIA INVADE HOGWARTS

Numa decisão controversa, a vampiróloga encarregada do caso Hogsmeade pediu auxílio à Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts para fazer as pesquisas e experimentos necessários à identificação do misterioso vampiro.

A vampiróloga Mina Stoker, disse em entrevista que “é de grande ajuda um lugar próximo aos ataques que possua um bom laboratório, e esse lugar só pode ser Hogwarts. Temos que descobrir a identidade do vampiro para poder encontrá-lo; isso só será possível com a pesquisa”.

A decisão, apesar de parecer viável tanto para o Centro de Vampirologia quanto para o Ministério da Magia, está preocupando os pais dos alunos. Alguns já organizam petições para tirar os vampirólogos, da escola.

O diretor de Hogwarts, Severo Snape, ainda não se manifestou sobre o assunto.

Veja também: Entrevista com Whiters, o diretor do Centro de Vampirologia, pagina 04

Estatísticas de ataques a membros do Centro de Vampirologia, pagina 26.”

XxXxXxX

- Isso é inaceitável!

Snape bradou para o Ministro da Magia, Rufo Scrimgeour.

- Eles precisam do laboratório, Severo. Precisam dos seus caldeirões, dos seus ingredientes. E eu ouso dizer que talvez até precisem da sua ajuda.

Parecendo ultrajado, Snape continuou encarando o Ministro.

- Isso aqui é uma escola! Eu não permitirei---

- Não vamos levar isso para o conselho, vamos? Recusar auxílio o Centro de Vampirologia quando tanta gente está morrendo... – Scrimgeour suspirou. – A mídia cairia em cima de você.

O diretor respirou fundo enquanto era tomado por uma terrível sensação de impotência, apesar de estar no mais alto posto da escola.

- Eu não quero que os ataques se estendam à Hogwarts. E isso pode acontecer se uma vampiróloga vier passar uma temporada aqui. Seja racional, Scrimgeour: Isso colocaria em risco a vida das crianças, e eu acredito que os pais delas concordam com isso.

- Ah, mas com Van Helsing aqui, pode ter certeza que não existe tal perigo!

Mais uma vez, Snape suspirou com a sua impotência. Jamais convenceria o Ministro. Resignado, disse:

- Quero que o conselho seja reunido, então. E saiba que você assumirá a responsabilidade por qualquer ataque que eventualmente ocorra à escola.

O Ministro titubeou um pouco... mas...

- Reunirei. E assumirei a responsabilidade pela vinda do Centro de Vampirologia para Hogwarts. Agora devo ir.

E, pela lareira, Scrimgeour deixou a sala.

Exasperado, Severo olhou para a sua esquerda, encontrando os olhos do vice-diretor.

- Fique. Calado.

- Se as leis tivessem sido obedecidas...

- ...Tudo seria diferente hoje! Mas parece que isso não vai fazer muita diferença, já que Van Helsing está vindo para cá, e tudo será esclarecido.

Slughorn preferiu apenas ficar calado e se retirar da sala, deixando Snape só com os seus pensamentos...

XxXxXxX

Reviews, por favor.

Bjus para a Shey, maninha do coração, que betou mais esse capítulo! E, claro, para as lindas que me deixaram reviews: a Naj, a Lois, a BastetAzazis e a Lua Mirage2.

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