CAPÍTULO 6



Ele me emprestou o casaco que ele estava usando sobre a camiseta de tênis e eu amarrei na cintura. Voltamos para a casa e ouvimos uns barulhos estranhos vindos do armário do corredor. Ele me olhou, eu olhei para ele. Estávamos, os dois, muito indignados. Que raio de barulho era aquele? Decidimos ignorar. James me convidou para irmos na piscina, então eu fui colocar o meu maiô laranja e verde (que eu adoro).

James já estava lá, de short preto, dentro da água. Eu me sentei na borda, soltei os cabelos e notei que ele me olhava. Era legal, de um jeito bem irritante.

-O que foi? – perguntei entrando na piscina.

-Hm... é assédio dizer que você está linda? – ele perguntou.

-Não. – respondi, sorrindo. – É um elogio. Não assédio.

-Interessante. – ele disse com um leve sorriso.

-O que é interessante? – perguntei, curiosa.

-Nada não. – ele apressou-se em dizer. – O que você acha que eram aqueles barulhos que ouvimos no corredor?

-Não faço idéia. – respondi. – Só sei que eram muito estranhos.

Ficamos um pouco em silêncio, quase sem nos movermos, apenas observando a água cristalina completamente parada. Percebi que ele estava pensando em alguma coisa, mas resolvi não quebrar aquele silêncio, já que há um ditado muito interessante que diz que o silêncio vale ouro. Sei que não é pra levar ao pé da letra, pois esse ditado significa que em certos momentos é mais correto não dizer nada.

James se virou para mim e sorriu de leve. Ficou me observando durante algum tempo até eu resolver perguntar por que ele estava me olhando daquela maneira. Ele apenas suspirou longamente e disse que já que éramos amigos, seria legal sabermos mais coisas sobre o outro, pois não sabemos quase nada.

-Nada que importa, pelo menos. – ele disse calmamente.

-Ok. O que você quer saber? – perguntei sorrindo.

-Qual a sua cor preferida? – ele perguntou.

-Isso importa? – eu perguntei passando a mão nos cabelos.

-Importa pra mim. – ele disse suavemente. – Então, qual é?

-Vermelho. – respondi. – E a sua?

-Vamos ficar passando a bola? – ele perguntou. – De qualquer maneira, é azul escuro.

-Hm... fruta preferida? – eu disse curiosa.

-Morango. De preferência, coberto com chocolate.

-Hm... muito romântico.

-E a sua?

-Maçã. De preferência verde.

-Sério? Maçã verde? Sempre achei muito... sei lá... azeda. Não é igual a maçã vermelha.

-Agora vamos ficar discutindo qual maça é mais doce?

-Pior momento da sua vida.

-Quando o Jefferson Parryl me trocou pela Débora Cartiê. Foi um choque. Um grande e doloroso choque.

-Aquele Parryl é um idiota. Acabei sabendo que ele é gay.

-Ele é o quê?

-Gay. Ele foi visto dando uns amassos com o Evander Noscentt.

-Fala sério! Meu Deus! Eu nunca percebi que ele gostava de garotos. Ele sempre aparentava ser tão...

-Don Juan.

-É. Nunca esperei ouvir algo do tipo. Principalmente porque ele beijava tão bem...

-Provavelmente treinava com os amigos.

Foi inevitável. Comecei a rir. E uma coisa levou a outra e o James começou a rir também. Ficamos ali, na piscina, rindo, conversando, agindo como se fossemos amigos há tanto tempo... Não acredito que eu demorei tanto tempo pra deixar ele entrar na minha vida. Como eu fui idiota. Ele me contava coisas que eu nunca esperava ouvir. Como que o Jefferson é gay, a Stela ronca, o Amos estava mentindo pra mim... Era um verdadeiro amigo. Diferente de todos que eu já tive.

Logo a Savanna nos chamou pra jantar. Ela havia feito a especialidade dela: macarronada e couve-flor gratinada. Claro que não combinava de jeito nenhum, era pra escolher uma coisa ou outra, pois ela, o Jack e o Remo eram vegetarianos e o molho da macarronada era bolonhesa. Então, como da última vez, cada um pegou o que queria e foi pra um canto. Dessa vez o James disse que ia me levar para um lugar especial.

Então ele abriu uma porta num corredor da casa e lá havia uma longa escada. E aquela escada levava a cobertura da casa, que dava para uma vista incrível da praia.

-Lindo, não é? – ele disse pra mim.

-É de tirar o fôlego. – eu disse comendo um pedaço da couve-flor.

Eu havia decidido provar as famosas couve-flores da Save e estavam, sem dúvida, maravilhosas. Pelo visto o James também havia decidido provar.

-Quando eu era criança, meus pais vinham até aqui passar um tempo com os pais da Save. Então eu e ela subíamos aqui e ficávamos olhando as ondas. Quando chovia era ainda mais divertido. – ele contou. – A Save costumava trazer uns biscoitos de chocolate que eram os preferidos dela. Então nos ficávamos aqui durante horas. Só eu, ela e os biscoitos. – eu ri baixo. – Era demais.

-Como assim “era”? – perguntei.

-Crescemos. Esse lugar ficou abandonado. – ele contou. – Essa cobertura, não a casa. – explicou. – Sinto saudades daqueles momentos.

O silêncio tomou conta de nós mais uma vez. E ficava cada vez mais irritante.

-Você já reparou que a Jessy e o Remo andam meio... – comentei.

-Estranhos? – ele sugeriu. – Reparei. O Remo não é do tipo que fica babando por garotas.

-Talvez a Jessy exerça um poder especial sobre ele. – comentei.

-Essa frase foi tirada do filme Bridget Jones no Limite da Razão, certo? – ele disse sorrindo.

-É. Foi. – concordei. – Eu amo esse filme. Mas odeio o fato de que o Daniel Cleaver é um...

-Pervertido infiel. – James completou.

-É. Quer dizer, ele é tão lindo, tem todas as garotas aos seus pés e não está satisfeito. – eu disse.

-Caras como ele só vivem por uma razão. Sex... – ele ia dizer.

-E são todos um bando de idiotas. – comentei. – Deveriam agir com mais maturidade. Não como um bando de adolescentes excitados.

-Concordo com você, Lily. – ele disse comendo a última couve-flor.

Depois do jantar eu desejei boa noite para o James e fui para, de acordo com a Save, o quarto das meninas. Ali havia dois beliches, e quando entrei a Jessy estava deitada na parte de baixo de um deles cantarolando aquela marcha nupcial. Queria saber o que tinha acontecido pra ela ficar cantarolando musiquinhas de casamento. Será que ela ia se casar? Não! Claro que não, Lily! Que coisa mais patética de se pensar. A garota só tem dezesseis anos!

Deitei-me na parte de cima da cama onde a Jessy estava com uma lanterna e um livro e fiquei ali, em silêncio, lendo, lendo, lendo. Logo após eu terminar o primeiro capítulo, a Mandy apareceu com o cabelo um pouco desarrumado e se jogou na cama de baixo do outro beliche e ficou ali, exatamente que nem a Jessy, só que sem a cantoria.

Queria saber onde estava a Save, então eu desci do beliche e fui até a varanda ver se ela estava por ali. E estava. Mais uma vez ela estava com o Jack na praia. Só que dessa vez eles estavam na água, jogando água um no outro, rindo e conversando como dois verdadeiros melhores amigos. Será que eu e James algum dia chegaríamos a fazer algo do tipo? Digo, ficar brincando assim. Sorri de leve e fiquei observando-os. Então aconteceu. A lua minguante iluminava a água, então eu pude ver. Jack se aproximou de Save a beijou, e por mais estranho que soe, ela correspondeu.

Chamei Jessy e Mandy e as duas vieram correndo para olhar. Pedi a Jessy que chamasse os Marotos, então ela saiu correndo toda estabanada, tropeçou umas dez vezes e, por fim, voltou com os quatro. Então, nós sete ficamos ali observando Jack e Save. Era tão romântico, tão absolutamente perfeito.

Todos nós sorríamos. Era uma cena linda. Pelo que pudemos notar, Jack finalmente havia dito a Save o que sentia por ela. Não sei quanto tempo fiquei ali com a Mandy, a Jessy, o James, o Black, o Remo e o Pettigrew, mas não queríamos sair dali.

Mas começou a ficar muito escuro, então resolvemos ir dormir. Na manha seguinte encontramos Save na cozinha sentada na mesa brincando com um pedaço de bolo de chocolate que ela havia feito. Discreto como sempre, o Black entrou ali já exclamando:

-Oba! Tem bolo!

James deu um tapa na própria testa, eu revirei os olhos e o Remo ergueu as sobrancelhas.

-Nem nas férias você deixa de agir como um bobo? – comentou Remo.

-Não estou agindo como um bobo! – Black disse fazendo aquela carinha de cachorrinho abandonado.

Depois de devorarmos o bolo inteiro, todos nós esperamos uma boa hora e fomos pra praia. Quero dizer, a Jessy, o Remo, a Mandy, o Black, a Save, o Jack e o Pettigrew foram. Somente eu e o James ficamos de fora.

Ele me levou pra quadra de tênis, aonde ele ia me ensinar a jogar. Coloquei um short-saia, uma blusa e tênis e fui pra lá.

-Segure a raquete assim, Lily. – ele disse me corrigindo. – Não, não assim. Não estamos jogando pingue-pongue.

Quando ele disse isso eu comecei a rir.

-Eu sou um caso perdido. Nunca vou aprender a jogar isso. – eu comentei ainda rindo.

-Não, você não é. Agora se concentre. – ele disse. – Não! Não, espera aí! Deixe-me sacar.

Então eu tentei, inutilmente, bater naquele bolinha amarela com aquela raquete gigante. Por fim, eu acabei tropeçando nos meus próprios pés e caindo no chão. Então, como não havia mais nada pra fazer, eu comecei a rir. James veio correndo até mim e perguntou se eu havia me machucado.

-Não. Estou bem. – eu disse ainda rindo.

Tentei me levantar, mas não consegui. Acho que foi porque eu estava rindo demais. Então eu caí de novo. Então o James não pôde se conter e começou a rir também.

-Vamos. – ele disse me ajudando a levantar. – Vamos procurar alguma coisa que você saiba fazer.

Acabei descobrindo que sei jogo xadrez de bruxo muito melhor que ele. Ganhei três vezes. Bom, nós só jogamos três vezes. Ele acabou se enfezando porque não conseguia ganhar de mim.

-Aha! – eu disse. – Xeque-mate. De novo.

-Qual é, Lily! – ele disse franzindo a testa. – Não era pra você me deixar ganhar? Estou começando a me sentir um pato!

-Você já é um pato, James. – eu disse brincando. – Já chega. Vamos fazer outra coisa. Alguma coisa em que eu não precise pensar.

Ele pensou um pouco e, por fim, relatou:

-Vamos voar!



"*" Próximo capítulo em andamento! James ensina Lily a voar!

Snoopy: Vai dar zebra.

GS: Snoopy! O que você quer?

Snoopy: Brincar. Vem! Eu achei a bolinha azul!

GS: Tá, já vou. Tchau gente, tenho que tacar uma bolinha babada pra ele ir buscar. Comentem, viu? Beijos! "*"

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