Little Wing



Parte II – Little Wing (1)

“Eu conheço seus olhos na manhã ensolarada
Eu sinto você me tocando ao cair da chuva
E no momento que você está longe de mim
Eu quero te sentir em meus braços novamente”
(How deep is your love – Bee Gees)




O encanto, enfim, parecia estar se quebrando.

Ele voltava ao seu habitual estado solitário e soturno, sabendo que aquilo não fora nada além de um delírio de uma noite quente, mesmo que no fundo de seu ser ele ansiasse o momento onde poderia recostar a cabeça e mergulhar em sonhos, carregando em seu peito a esperança de revê-la mais uma vez.

Com um movimento desajeitado, Remus largou o fardo de feno na baia, soltando uma interjeição de alívio. Afastou uma mecha de seu cabelo castanho do rosto suado, saindo do estábulo onde concluíra a sua tarefa. Mas fora surpreendido quando notara que havia um pequeno vulto parado na entrada do estábulo, parecendo alheio à presença de Remus, como se ele não estivesse ali.

-Luna, o que você faz aqui? – Remus se aproximou e afagou o cabelo louro e comprido da garotinha que parecia distraída a observar uma borboleta que voava distante. – Já vai anoitecer e teu pai pode estar preocupado.

Ela voltou seus olhos grandes, de um azul muito claro para Remus e abriu um pequeno e enigmático sorriso.

-Papai sabe que não precisa se preocupar comigo! – Ela explicou calmamente, caminhando ao lado de Remus de volta ao povoado, mas sem despregar os olhos do vôo gracioso da borboleta.

-Mas você ainda é muito pequena para caminhar sozinha por aí!

Ela fez um gesto indiferente com os ombros delicados, como se achasse que não era tão pequena assim.

Remus voltou a se calar, reprimindo um sorriso. Luna era diferente de todas as outras crianças do povoado. Era comum vê-la sozinha, enlevada, como se estivesse em um mundo só dela, ou então conversando com pequenos animais. Borboletas eram as suas favoritas e a pequena parecia verdadeiramente compenetrada com seus segredos, como se a ela houvesse sido revelado os mistérios mais sublimes do mundo.

Remus se surpreendeu quando sentiu os dedos pequenos e delicados daquela criança tocarem sua mão:

-Remus... – Ela chamou baixinho, como se fosse lhe segredar algo. – Você sabia que quando as pessoas especiais morrem são transformadas em estrelas?

A garotinha olhava atentamente a abóbada celeste, onde as primeiras estrelas daquela noite fresca começavam a despontar, sua voz soando estranhamente etérea, como se fosse mais do que uma criança de cinco anos.

-Quem lhe disse isso, Luna?

Curioso com a atitude da pequena, Remus deixou as preocupações de lado por um tempo e se permitiu observar o céu como Luna fazia. A pergunta que ele fizera ficara suspensa no ar por um tempo, e o rapaz não sabia se a garotinha estava considerando a possibilidade de lhe revelar a resposta ou se estava imersa em suas próprias fantasias.

-As ninfas me contaram... – Ela sorriu, aquele mesmo sorriso estranho e misterioso.

-Então você conversa com as ninfas? – Remus sorriu de volta, achando encantadoramente ingênuo o modo como as crianças são capazes de criar histórias e acreditarem firmemente nelas a ponto de as considerarem uma verdade.

Luna apenas afirmou com um gesto da cabeça, as longas mechas louras acompanhando o movimento contínuo.

-Elas são umas das poucas que gostam de conversar comigo! – Ela lhe confessou baixinho e pela primeira vez olhou Remus nos olhos. – Papai também acredita nas ninfas, mas ele disse que nunca as viu antes. Só pessoas especiais conseguem ver elas.

Havia uma pontada de tristeza no modo como a garotinha contara aquilo à Remus e seu olhar se turvara por breves segundos, antes que ela voltasse a encarar o céu que escurecia rapidamente.

Remus sentiu uma súbita ternura por aquela criança. Era capaz de compreender perfeitamente o quanto ela era solitária e quase melancólica.

Envolveu a mão da garotinha com mais firmeza, guiando-a de volta ao povoado.

-E como as ninfas são? Acho que nunca vou ser especial o suficiente para ver uma delas!

-Ah, elas são as criaturas mais bonitas que já vi! – Luna parecia radiante. – E elas estão sempre alegres e amáveis...

E enquanto a garotinha lhe contava as proezas delicadas que presenciara na presença dos primorosos espíritos da natureza, a mente de Remus vagueava por entre suas próprias fantasias. E quanto mais Luna enaltecia a graciosidade das ninfas, mais o jovem plebeu se enredava em seus pensamentos, onde o rosto de sua adorável desconhecida pairava acima de todas as coisas possíveis e reais.

Só notou que Luna havia interrompido o seu relato, quando ouvira a voz infantil e cristalina dela entoar versos de uma forma estranhamente comovente:


"Oh, a vida é boa,
Oh, a vida é boa,
Oh, a vida é boa...
Tão boa quanto um beijo"(2)



Quando Remus ia indagar à sua enigmática companheira se aqueles versos lhe haviam sido ensinados pelas ninfas, já estavam no povoado propriamente dito, onde uma garotinha de cabelos muito ruivos e longos, aparentando ter a mesma idade de Luna, surgiu de dentro de umas das humildes residências. O rostinho sardento estava afogueado e ela parecia feliz e empolgada

-Luna! Luna! – A ruivinha aproximou-se com animação, puxando a outra garotinha pela mão. - Venha Luna! Papai achou um filhote de cervo no bosque e eu acho que ele vai me deixar criá-lo.

Remus sorriu da alegria genuína da ruivinha por ver a companheira. Despediu-se das duas garotinhas, voltando à sua própria morada, enquanto a estranha conversa com Luna reverberava nele e o rosto de sua adorada desconhecida lhe fazia sorrir.


****


O verão chegara e com ele trouxera um calor estranhamente abafado.

Após um dia exaustivo de trabalho, tudo o que seu corpo desejava e ansiava, era poder repousar e sanar aquele cansaço. Mas o calor o impedia e, mais do que isso, o deixava em um estado de profunda inquietação.

Por uma fissura no telhado do modesto quarto que ocupava, Remus acompanhara boa parte do trajeto da lua cheia nos céus, incapaz de adormecer. O calor parecia penetrar em sua pele como se fossem pequenos punhais de fogo que dilaceravam sua carne e expunham todo o seu interior tão cheio de solidão.

Ele precisava se mover, fazer algo para que o sono viesse logo, já que a perspectiva de passar mais tempo a observar as falhas do teto o deixaria enlouquecido de agonia.

Levantou-se e, por hábito, trouxera consigo o arco e sua aljava carregada de flechas. Se iria caminhar à noite, que ao menos ele o fizesse em completa segurança.

No final do inverno passado, Remus completara vinte anos, e não tinha em mente a menor noção do que faria em sua vida. As jovens do povoado lhe deitavam olhares ansiosos, mas apesar de tratar todas elas de maneira gentil e prestativa, não poderia se comprometer com nenhuma delas. Sentia que seu coração não lhe pertencia e tinha medo de se tornar um títere nas mãos dos seus próprios delírios noturnos.

Obviamente, tratava-se de sua doce desconhecida.

Era absurdo, mas semanas após ter tido aquele estranho encontro com aquela jovem no bosque, o rosto dela sempre surgia em seus sonhos, em seus devaneios. E Remus achou que aquilo já se tornara uma obsessão, quando notou que todas as vezes em que cerrava os seus olhos, sentia a presença dela o acompanhar a todos os lugares.

Louco de amores por uma desconhecida com quem se encontrara uma única vez, Remus concluíra com incredulidade. Aquilo era atípico dele, que sempre fora dono de sua racionalidade.

Por isso ele se punha a caminhar. Sempre em movimento. Afastar de si aquele desejo doentio, e deixar seu corpo exausto o suficiente para que tivesse uma única noite sem sonhos.

Mas nem mesmo o seu corpo era capaz de obedecer ao seu pensamento racional. Caminhava sem se dar conta para onde ia e quando deu por si, adentrava aquela mesma trilha que levava ao riacho, onde semanas antes, surpreendera a sua adorável desconhecida em seu banho.

Mas o bosque estava silencioso, sendo que o único ruído que era ouvido eram os passos de Remus, que mal se preocupava em se manter cauteloso.

Dizem que os deuses gostam de brincar com os mortais, como se estes fossem marionetes. Será que fora isso o que acontecera com Remus? Será que algum deus estava a se divertir, colocando-lhe um encantamento que certamente lhe roubaria a sanidade?

Porque estar ali, no meio da madrugada, quando tudo o que ele mais desejava era abrandar aquele estranho fascínio que o tirara de seu lar?

Foi quando ouviu uma voz, o tom vibrante e cheio de vida, ecoar no meio das árvores e reverberar docemente em seus ouvidos:

-Quem é você que, encoberto pela noite, entra em meu segredo?

O brilho da lua cheia era tão intenso, que nem mesmo as sombras projetadas pelas frondosas árvores lhe impediam de enxergar com clareza. Remus tentou manter a mente alerta e perscrutava com seus olhos sagazes qualquer movimento estranho. Sem saber de onde surgira aquela indagação, respondeu para o nada:

-Por um nome não sei como te dizer quem eu seja. Sou chamado de Remus, mas julgo ser apenas alguém que caminha em busca de conforto! – e acrescentou, quando não recebera uma resposta. – Perdoe-me se invadi os teus domínios, Senhora dos bosques, nunca tive a intenção de fazê-lo.

A dona da tão misteriosa voz riu e Remus sentiu um alívio percorrer o seu corpo e preencher o seu coração. Era a voz dela, a risada dela. E ele não pôde deixar de sorrir e se rejubilar internamente.

Talvez a Fortuna realmente estivesse lhe sorrindo naqueles últimos tempos.

-Delicada senhora, permita que eu veja teu rosto uma vez mais. – Pediu, sua voz soando terrivelmente suplicante aos seus ouvidos. – Tua voz e tua risada me trazem a mais genuína alegria, mas a visão de teu rosto me traria a paz eterna.

E então os olhos do rapaz pousaram em um dos galhos de um carvalho que estava próximo a ele. Parecendo completamente à vontade, como se fosse parte da magnífica árvore, a jovem que arrebatara o coração de Remus repousava o seu corpo esguio no galho mais baixo. Com um movimento ágil, ela aterrisara no chão, embora o movimento não tenha sido gracioso, já que ela cambaleara por falta de equilíbrio.

-Se eu lhe dissesse que o trouxe até aqui, acreditaria em mim? – Ela perguntou, com uma nota de divertimento na voz, embora seu olhar parecesse ansioso. – E eu o acompanhei por todo esse tempo, lhe fazendo visitas em seus sonhos e sussurrando chamados ao vento, para que ele te trouxesse a mim.

Então novamente aquele sentimento de insegurança começou a se instalar em Remus, quando viu a jovem franzir levemente o cenho, a expressão em seu rosto ficando mais tensa. Temeu que novamente ela fosse embora e fugisse dele, fugisse de seu amor.

-Venha, não é seguro ficarmos aqui! - Ela sussurrou, tomando Remus pela mão e o guiando em direção à parte mais fechada do bosque.

Ela olhou para trás, para o rosto levemente decepcionado de Remus, e sentiu uma ponta de angústia em seu peito. Ele a amava verdadeiramente, como nunca achou que ninguém a fosse amar. Quem iria sentir amor tão intenso por uma criatura tão brincalhona e de espírito inquieto, justamente por ela, que sempre zombara dos contos de amor, rindo das peripécias do cupido sobre os corações desavisados?

Ela sorriu, um sorriso matreiro e se desvencilhou de Remus. Com movimentos ágeis, ela se esgueirava por entre os galhos das árvores, rindo e incitando Remus para que ele a seguisse.

E o rapaz ficava cada vez mais confuso. De onde surgira tão misteriosa dama, que lhe ocultava seu nome e o provocava com seus encantos?

-Porque estamos nos escondendo? - Remus exasperou-se, quando a ninfa sumira de seu campo de visão e ele se viu sozinho no meio do bosque.

-Onde está o teu espírito aventureiro? - Ela surgira de trás de um salgueiro, rindo com alegria e novamente puxando Remus pela mão. -Venha, estamos chegando!

Caminharam por mais alguns minutos, e Remus não sabia se se preocupava em manter vigilância por a ninfa ter dito que era perigoso ficarem na trilha do bosque ou se apreciava, maravilhado, as maneiras doces e ao mesmo tempo enérgicas de sua companheira.

Chegaram do outro lado daquele mesmo regato, mas ali a copa das árvores formava um teto de folhas e galhos, e havia um pequeno nicho escavado em uma grande rocha quase oculta pela mata.

Remus parou, ofegando por ter praticamente corrido sem uma única parada, enquanto sua companheira continuava respirando com facilidade.

-Estás cansado! -Ela concluiu com um sorriso sabido, puxando-o pela mão para que se sentassem. Ergueu a mão e tocou o peito do Remus, no lugar onde estava o seu coração. - Teu coração bate tão rápido! - Ela sussurrou e guiou a mão do rapaz ao seu próprio peito, onde seu coração batia igualmente acelerado. - Parece que nossos corações batem no mesmo ritmo, você não acha?

Então os lábios dela entreabriram-se, como os botões de flor que desabrocham na primavera e esperam apenas a carícia do beija-flor, enquanto aproximava o seu rosto do de Remus.

Ele ofegou surpreso e por um momento, um lapso de racionalidade o envolvera. Porque ele era digno de receber aquela dádiva? O que ele fizera de tão especial para receber o amor de tão bela criatura, que lhe sorria com afeto e lhe dizia as mais doces coisas?

Mas as dúvidas se desvaneceram quando sentira os lábios dela tocarem os seus na carícia mais apaixonada. A princípio o toque era terno, cuidadoso, exprimindo toda a delicadeza de um enamorado que deseja revelar o seu amor. E então viera fogo, paixão. O desejo desesperado de resguardar aquele amor, que parecia sair por todos os poros de seus corpos, como se estes não fossem capaz de contê-lo com aquela primeira carícia.

-Como devo chamá-la? – Remus sussurrou, uma mão entrelaçada à mão da Ninfa que estava posta sobre o seu coração. -Eu ainda não sei o teu nome, pequenina!

-Isso não importa!

Havia uma certa urgência na voz da Ninfa ao dizer aquilo e Remus pensou em indagar o real motivo para que ela quisesse manter a sua verdadeira identidade em segredo.

-Você está comprometida com alguém? – Ele perguntou. – É por essa razão que eu não posso saber o teu nome?

-Meu coração é livre, para que eu o dê a quem quiser! - A ninfa disse com convicção e acrescentou: -Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação teria igual perfume. – então aconchegou-se no abraço de seu amante e sussurrou docemente. – Dá-me o nome apenas de amor, que ficarei rebatizada.

-Amor! – Remus repetiu, saboreando aquela palavra em sua boca, que só não eram mais deliciosas quanto o beijo daquela jovem. - Meu amor!



****



A aurora chegara de maneira sorrateira, surpreendendo o casal de amantes no seu aconchego de amor. O rapaz trouxera o corpo nu da jovem que estava junto ao seu para mais perto, envolvendo-a em um abraço forte e amoroso. Eles haviam feito amor e ele nunca poderia descrever a felicidade que sentia. Remus nunca imaginara que amar alguém fosse ser algo tão único e especial. Como se ele tivesse provado a ambrosia dos deuses, pois sentia-se feliz e invencível como nunca..

-Dizem que quando fomos criados por Júpiter, ganhamos uma única asa, que são invisíveis a nós. – Remus disse suavemente, quando sentira aquele olhar sobre si e a ninfa piscara os olhos com curiosidade diante daquelas palavras. – Mas não podemos voar com uma única asa e só quando encontramos o nosso verdadeiro amor é que podemos ganhar os céus e percorrer as distâncias em companhia de nosso amor.

-Se temos uma única asa, então descobri a razão para que eu seja tão desastrada e sempre precise de um apoio para não cair! – Ela gracejou, rindo alegremente.

-Então eu te apoiaria pelo resto de minha vida, para que nunca tropeçasses outra vez! –Remus respondeu sério.

A ninfa parou de rir, embora o sorriso permanecesse em seu rosto. Ergueu a mão delicada e tocou o rosto do rapaz, que estremecera levemente, como se seu corpo tivesse sido atravessado por uma descarga elétrica.

A luz dos olhos dela brilhava mais intensa e verdadeiramente que a lua, e o toque das mãos dela no rosto de Remus era cheio de fogo, como aquela noite quente de verão que passaram juntos.

E então a cantiga de Luna surgira na mente de Remus, quando o seu último resquício de racionalidade se perdera nos beijos de sua amada. Porque se aquilo fosse realmente verdade, talvez a vida fosse tão boa quanto um beijo de amor.



“E você veio para mim em uma brisa de verão,
que me mantém aquecido com o seu amor.”
(How deep is your love – Bee Gees)



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N/A: Em primeiro lugar, me perdoem pela demora em atualizar. Só agora estou conseguindo organizar os meus horários e tal. Já tinha todo o roteiro dessa fic no caderno, mas só não tinha tempo de sentar e desenvolver os diálogos. Eu sei, os dois estão descaracterizados, o texto hiper meloso, mas por causa do tipo de história tinha que ser um pouco assim.

Referências:
(1)Little Wing – Música do Jimmy Hendrix, mas que tem uma versão linda com a banda “The Corrs”.

(2)Versos da música “Fairy Tale” da banda Shaman – Sim, eu gosto dessa música =D

(3) Algumas frases do diálogo do Remus e da Ninfa foram retiradas da obra: “Romeu e Julieta” de William Shakespeare, mais precisamente da cena II do Ato II (embora eu tenha modificado alguns detalhes pra não ficar excessivamente rebuscado e cansativo):

JULIETA — Quem és tu que, encoberto pela noite, entras em meu segredo?
ROMEU — Por um nome não sei como dizer-te quem eu seja. (...)

JULIETA — (...) Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação teria igual perfume.(...)

ROMEU — (...)Dá-me o nome apenas de amor, que ficarei rebatizado.


Eu nem sou muito fã desse estilo de texto, porque não gosto muito de ler peças de teatro, mas algumas citações de “Romeu e Julieta” me inspiraram muito, além de ser um clássico da literatura.

Se alguém quiser ouvir as músicas que compõe a “trilha sonora” dessa fic é só acessar o endereço:
http://catastrofica.multiply.com/music/item/14

Muito obrigada por todos os comentários, votos e afins.
Nos vemos no próximo e último capítulo deste pseudo conto de fadas. (ou de ninfas...rs)

See ya

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