Trazida pela coruja



Outro dia de aulas chegava ao fim. Ainda não conseguira acostumar-se novamente àquela rotina. Era bom estar em Hogwarts novamente, junto de Rony e Mione, mas ao mesmo tempo a ausência de Dumbledore ali e a de Voldemort ameaçando os mundos mágico e trouxa o incomodavam. Não que esta última fosse ruim, mas era no mínimo estranho não ter mais que se preocupar com ele.

Agora mais do que nunca era apontado nos corredores, não mais como o menino-que-sobreviveu, mas como o garoto-que-matou, ou como ele mesmo se denominara por simples escárnio ao que fizera, o Lorde da Luz, aquele que matou o Lorde das Trevas.

Abandonara Hogwarts. Deixara por um ano seu lar para ir atrás das horcruxes, destruí-las e finalmente acabar com aquela ameaça. E agora que conseguira, sentia-se estranho. Em alguns momentos parecia que ele, e apenas ele, voltara no tempo. Sentia-se mais novo quando via Gina a seu lado na sala de aula. Sentia que voltara cinco anos no tempo quando entrava na sala do Professor Lupin para ter aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas, mas ao mesmo tempo sentia-se mais velho e cansado, fatigado pela incansável batalha de um ano contra o mal. Tivera como peças fundamentais nessa luta a ajuda de seus melhores amigos, Rony e Mione, sempre o apoiando e colocando suas vidas em risco para salvá-lo, e com isso salvar o mundo. Mas nada disso lhe parecia suficiente no momento.

Queria tê-la ali ao seu lado, como tivera durante seu sexto ano. Poder abraçá-la, beijá-la, senti-la. Mas ela não o queria mais. Tinha ficado com raiva, mágoa, e ele sabia disso. E respeitava. Não a deixara acompanhá-lo na mais importante missão de sua vida. Queria preservá-la, mantê-la viva, e em troco de sua preocupação recebeu a indiferença da mulher que amava. Sentia agora mais que nunca que morreria. Sua dor era maior que aquela causada por um cruciatos. Sentia que aquilo o mataria mais que um Avada Kedavra. Sua alma parecia mais longe do que aquelas dos que tiveram o infortúnio de serem beijados por um dementador. Mas ela parecia não notar isso. Passava por ele como quem passa por um estranho. Conversava com ele como quem conversa com um mero conhecido. Parecia ter esquecido a história que haviam vivido, as belas tardes que passaram nos jardins, ali mesmo onde ele estava, sob aquela mesma árvore, as noites que ficavam contemplando o céu estrelado, assim como ele o fazia naquele exato momento. Parecia-lhe faltar uma estrela no céu. A mais importante, a mais brilhante, a que iluminava todas as outras. Estaria ela escondida sob uma nuvem ou teria explodido como muitas outras?

Acordou de seus devaneios com uma bicada na cabeça. Viu fora de foco a coruja que há oito anos o acompanhava. A coruja branca como a neve que cobria os jardins de Hogwarts naquela noite, de penugem quente as salas comunais aquecidas pelas lareiras. Tivera medo por Edwiges no ano anterior. Deixara-a em Hogwarts e não a usara para enviar e receber cartas temendo que fosse interceptada. Quando voltara demorara a conseguir reaproximar-se dela, visivelmente magoada. Mas conseguira. Será que com Gina seria o mesmo? Conseguiria algum dia reaproximar-se? Começou então um monólogo com a coruja, contando-lhe tudo que se passava em sua cabeça. Precisava desabafar com alguém, naquele exato momento. Incrivelmente o animal parecia entender tudo que ele dizia. É claro que não podia ser verdade! Ela jamais o entenderia! Mas era exatamente o que parecia. E assim que parou de falar a coruja levantou vôo, deixando-o mais uma vez sozinho na noite de Hogwarts.

Deitou-se sobre a neve e mais uma vez perdeu-se em seus pensamentos. Foi tirado deles pelo farfalhar de asas da coruja que vinha acompanhada. Estava enganado. Ela o entendera, e trouxera-lhe a pessoa que menos esperava ver naquele momento. Levantou-se e manteve-se ereto, apenas olhando-a nos olhos, esperando qualquer reação. Mas ela não reagiu. Mantinha seu olhar fixo no dele, sua expressão dura e severa sublinhando toda a mágoa que sentia. E sem mais nem menos deixou cair uma lágrima.

A principio ele estranhou. Nunca a vira chorar. Aquilo não fazia parte de sua personalidade. Mas depois entendeu tudo, ao ver sua expressão amenizar-se. Junto com aquela lágrima notou que iam embora quaisquer resquícios de mágoa, raiva ou indiferença que sentia por ele. Seu mundo pareceu ter saído do cinza para o cor de rosa em milésimos de segundo. Aquela nuvem simplesmente fora embora, permitindo a visão d estrela antes desaparecida. Sentiu novamente que tinha dezoito anos, não menos nem mais. Permitiu-se um sorriso. Era estranho para seus músculos executar tal movimento, mas descobriu que ainda sabia fazê-lo. E sem qualquer aviso prévio abraçou-a. A levantou do chão e fê-la rodopiar no ar. Estava abraçando-a, sentindo-a novamente. Tinha ganas de beijá-la, sentir suas bocas unidas, as línguas valsando em um ritmo constante, acompanhando as batidas igualmente descompassadas de seus corações. Mas não podia. Antes disso tinha algo mais importante a fazer.

Colocou-a no chão e ainda abraçado a ela sussurrou em seu ouvido, fazendo-a arrepiar e não conseguir falar nada, apenas acenar afirmativamente a cabeça encostada em seu peito:

- Casa comigo?

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