Amar é (Roupa Nova)

Amar é (Roupa Nova)



“Amar é quando não dá mais pra disfarçar
Tudo muda de valor
Tudo faz lembrar você”

Estava sentada em frente à lareira da sala comunal da Grifinória fazendo seus deveres. Era inacreditável o dom que aqueles dois tinham de tirá-la do sério. Tudo bem que era problema deles se eles tirassem nota baixa, mas ela só estava querendo ajuda-los. Queria encontra-los e arrasta-los para a Sala Comunal novamente para estudarem, mas não conseguia imaginar onde estariam. Talvez jogando quadribol, talvez caminhando pela escola, ou quem sabe conversando com Hagrid.
De maneira alguma admitia isso para eles, mas gostaria de fazer-lhes companhia. Deixar os livros por um instante e se distrair. Mas não podia. Tinhaque estudar. Tudo bem que já sabia os livros todos de cor, já faria as poções de olhos fechados e os feitiços todos de costas, mas e se algo tivesse passado?
Deu mais uma lida naquele capítulo de História da Magia. Cada palavra que lia era absorvida por sua mente, mas de que adiantava absorver o que já sabia? Tinha certeza que não se daria mal em nenhuma matéria. Já estudara o que podia e não podia. Noites acordada, cochilando sobre os livros, para não perder nada. Rony tinha razão. Estava ficando neurótica.
Resolveu dar uma folga para sua mente. Juntou todos os livros, tintas e pergaminhos e levou-os para seu dormitório. Onde estariam eles agora? Olhou pela janela, na direção do campo de quadribol. Nenhuma vassoura no ar em meio àquela neve toda. Pegou seu casaco e seu cachecol e desceu. Os encontraria de qualquer maneira, nem que fosse no fundo do lago, e passaria ao menos aquele sábado na companhia deles, tentando não pensar em estudo. Sim, porque afirmar que não iria pensar também era demais. Mas faria o possível.
Lentamente desceu as escadas para o hall de entrada. Poucas pessoas se encontravam ali. “Devem estar se divertindo nas Salas Comunais”, pensou. Ficou tentada a voltar e estudar. Não! Prometera aquilo para si mesma! Passaria o dia com seus amigos.
Saiu do castelo em meio à neve. Como lhe agradava aquela sensação. O vento frio batendo em seu rosto desprotegido, empurrando suas roupas para trás, ao mesmo tempo que sentia-se aquecida pela enorme quantidade de roupas que usava. Mas por que raios tinha que ficar com os pés gelados?
Imaginando onde estariam os garotos, caminhou direto para a casa de Hagrid, próxima à entrada da Floresta Proibida. Via a fumaça saindo pela chaminé. Tinha certeza que eles estavam ali, mas antes de bater à porta resolveu dar uma volta pela pequena cabana e certificar-se de que eram eles mesmos lá dentro. Passou pela lateral e olhou pela janela. Lá estavam eles. Podia ouvir as vozes rindo e se divertindo lá dentro. Podia ouvir sua voz, gargalhando de uma maneira gostosa, como se fosse a única coisa que pudesse fazer no mundo.
Aquele riso a entorpecia. Fazia com que se sentisse bem, e ao mesmo tempo, o mais idiota dos seres, simplesmente pelo fato de não conseguir pensar em nada quando o ouvia. Era como se alguém tocasse uma música muito alta, que tomava conta de sua mente e não a deixava pensar. Aqueles risos ecoavam de tal modo em seus ouvidos que de alguma forma conseguiam alcançar seu coração. De tantas maneira tentara tira-lo de sua cabeça. E conseguia. Mas era só olhar aquele sorriso que ele se revelava novamente dentro dela, no mais nobre e inexplicável sentimento que já pudera experimentar.
Percebeu que os risos haviam cessado, e então deu novamente a volta pela cabana e bateu na porta. Ouviu o ranger da fechadura e viu aquele grande amigo, meio gigante, cobrir a entrada, sorrindo e convidando-a para entrar assim que viu quem era. Entrou e mirou aqueles dois rapazes que estavam ali. Um sentado na poltrona e o outro em um grande sofá com Canino ao seu lado.
Olhou para eles e viu que tomavam chá com Hagrid. Há quanto tempo ela não ia fazer isso! Percebeu que estavam apreensivos vendo a expressão na face de cada um. Será que pegava tanto no pé deles a ponto de deixar-los de tal maneira, provavelmente imaginando que levariam outra bronca? Sorriu para os garotos e percebeu a lividez de cada um ao verem tal ato. Procurou um lugar para sentar-se, em algum dos sofás, mas já estavam os três ocupados. Viu então uma cadeira próxima à mesa de Hagrid e ameaçou ir até ela, mas antes mesmo que pudesse dar um passo Canino já fora expulso do sofá, e ela, chamada para sentar-se ali.
“Amar é a lua ser a luz do seu olhar
Luz que debruçou em mim
Prata que caiu no mar”

Caminhou até o lugar que lhe fora oferecido e sentou-se ali, ao lado de seu amigo de anos. Achava incrível a capacidade que tinha de amá-lo e de ao mesmo tempo sentir-se bem ao seu lado – ao contrário da maioria das garotas – como se não fosse nada além de uma amizade. A menos que ele começasse a rir. Era seu ponto fraco. E em meio a vários pensamentos que lhe passavam pela cabeça, ouviu uma voz.
- Desistiu de decorar os livros, Mione? – A pergunta lhe era feita ironicamente pelo rapaz à sua frente.
- Não – respondeu sarcasticamente – já consegui decorar todos.
- Nossa querida sabe-tudo. – retrucou o outro, defendendo o amigo e provocando-a.
Ficou nervosa com aquilo. Nunca gostara de ser chamada de sabe-tudo. Era apenas esforçada. Mas ao invés de responder atravessado, devolveu no mesmo tom.
- Sabe-tudo que já salvou vocês dois de muitas roubadas.
- É por isso que nós te adoramos. – sentiu-se abraçada pelo garoto ali ao seu lado. Era um abraço meio que irônico da parte dele, mas mesmo assim ficou entorpecida por alguns momentos. Seus cabelos roçando seu pescoço, lhe fazendo cócegas, davam vontade de rir. Seu cheiro a fazia sentir-se bem, mais calma. Ou seria a sensação de estar envolta por aqueles braços que adorava?
Porém não pôde curtir muito o momento, pois as mãos do rapaz, perigosamente colocadas em sua cintura, começaram a fazer-lhe cócegas. No mesmo instante começou a rir. Como ele sabia que ela sentia cócegas? Tentava a todo custo soltar-se daqueles braços nos quais queria ficar pelo resto da vida, mas não conseguia. Ele era muito forte, e a prendia de tal maneira que ela ficava sem movimentos. Gritava pedindo para ele parar em meio às sonoras gargalhadas, mas nada conseguia. Em uma última tentativa virou seu rosto para ele, e sentiu seus lábios encostarem-se levemente. Como se tivesse levado um choque, ele afastou seu rosto e parou de provoca-la, olhando-a diretamente nos olhos, visivelmente envergonhado.
Pôde ver naqueles olhos o reflexo das chamas que ardiam na lareira atrás de si. Era assim que se sentia. Ardendo como as chamas. Mas não as chamas que queimavam na lareira, e sim as chamas que podia ver, ardendo nos olhos daquele rapaz. Sentia-se aquecida por aquele reflexo. Apenas por aquele reflexo.
Percebendo o que estava fazendo, desviou seu olhar e pegou uma xícara de chá sobre a mesa. Estava quente, mas não mais quente que aqueles olhos que tivera por segundos, e que gostaria de ter por toda a eternidade.
Assoprou a fumaça divertidamente, olhando para o líquido distraidamente, sem prestar atenção em mais nada que acontecia, ainda envergonhada da situação que ocorrera há alguns segundos. Viu então, de repente, o reflexo daqueles olhos dentro da xícara. Não continham mais o fogo da lareira, mas sim o reflexo destorcido do que ele via dentro da xícara. Podia ver-se naqueles olhos, e sentia-se mais bonita tendo um espelho tão belo no qual podia mirar-se.
“Suspirar, sem perceber
Respirar o ar que é você
Acordar sorrindo
Ter o dia todo pra te ver”

Sem tirar os olhos do líquido presente na xícara, levou-a a boca e bebeu um gole do chá. Assim que afastou a xícara de seu rosto pôde ver que ela ainda a mirava. Como era difícil resistir àquele olhar. Mas não podia deixar que notassem nada. Virou seu rosto para o outro rapaz que estava ali perto e perguntou sobre o que estavam falando antes dela entrar.
Percebeu que ele lançou um olhar apreensivo àquele que estava ao seu lado. Imaginou que fosse algo que ela não devesse saber, então rapidamente virou-se para Hagrid e perguntou:
- Qual será a próxima criatura que veremos? – percebeu que tanto Harry quanto Rony ficaram nervosos. Era de se esperar, vindo de Hagrid, que fosse algo bem perigoso.
- Fênix! – Respondeu o meio gigante. – Dumbledore nos emprestará a sua.
Sentiu os garotos suspirarem aliviados. Pelo menos desta vez não correriam risco de vida. E junto deles suspirou também, mas não por estar aliviada, e sim por senti-lo tão próximo de si, sua respiração alcançando sua nuca. Sabia que estavam próximos, mas não tão próximos assim. Olhou disfarçadamente para suas pernas, na tentativa de calcular a distância entre eles.
Ele estava ali ao seu lado, uma distância máxima de cinco centímetros. Ainda conseguia manter seu autocontrole perto dele. Sentiu então suas pálpebras fecharem-se lentamente. Lembrou-se que há dias não dormia. Passava noites estudando, revendo matérias, fazendo deveres, decorando feitiços e poções. Merecia dormir um pouco. Sabia disso e ali mesmo adormeceu, sem notar, sua cabeça pendendo em algo macio, provavelmente o encosto do sofá de Hagrid.
Acordou horas depois. Viu que o Sol já se punha no horizonte. Perdera o almoço e sentia uma leve pontada de fome. Manteve-se parada ainda por alguns instantes, sorrindo para o nada ao lembrar-se do que acontecera há algumas horas. Viu que Hagrid não estava mais lá, e nem o amigo que antes estava sentado ali à sua frente. Porém não estava só. Sentiu a mão dele em sua cintura. Ruborizou um pouco e olhou para o rapaz. Riu ao notar que ele dormira ali, abraçado a ela.
Sem poder e nem querer sair daqueles braços encostou-se em seu ombro e ficou imaginando o que poderia ter acontecido. Provavelmente ao adormecer sua cabeça caíra sobre o tórax dele, e, sem querer acorda-la, ele passou o braço pelo encosto do sofá. Os outros dois deveriam ter saído, e ele ficou ali, provavelmente para não despertá-la. Acabou adormecendo também e deixara o braço cair sobre sua cintura.
Enquanto pensava, mirava encantada aquela mão sobre sua cintura. Era grande e forte, mas parecia algo frágil e delicado quando pousado ali. Sentia o rapaz respirar calmamente, movimentando levemente os fios de seu cabelo. Podia sentir de longe seu hálito. Era doce, tinha cheiro de menta. Como tinha vontade de experimentar aquele gosto. Virou a cabeça para cima tentando olha-lo com o maior cuidado para que não o acordasse. Arrependeu-se do movimento ao sentir uma leve movimentação vinda dele, mas riu ao ouvir um ronco. Ele dormia profundamente e ela não queria acorda-lo. Se pudesse passaria o resto de sua vida naquela posição.
Imaginando que ele dormiria por mais um bom tempo, encolheu as pernas para o sofá e aninhou-se melhor no peito do garoto, evitando fazer qualquer movimento brusco. Sentiu a mão dele escorregar para sua barriga e teve uma sensação gostosa quando isso aconteceu. Fechou os olhos e adormeceu novamente naquele largo sofá, abraçada pela pessoa que mais amava no mundo.
Quando acordou novamente sua situação não estava melhor do que antes. Já estava deitada próxima ao encosto, abraçada àquele que estava deitado ao seu lado. Um pouco mais estreito que fosse o sofá e ele cairia no chão. Olhou para seu rosto e notou que ainda dormia. Já era noite e eles provavelmente haviam perdido o jantar também. Retirou lentamente a mão de cima dele e tentou levantar-se, mas foi presa por aqueles braços fortes e delicados.
- Há quanto tempo você não dormia? – perguntou ele, divertidamente. Sentiu seu rosto enrubescer e tentou novamente levantar, e novamente foi presa. – Sabe que você fica linda dormindo? – seu olhar era doce e cativante. A proximidade era perigosa demais. Tentando livrar-se daquela situação constrangedora resolveu falar algo.
- Estou com fome. Já passou da hora do jantar?
- Já – respondeu o garoto. – Mas assaltaram a cozinha por nós e trouxeram algo para comermos. Já deve até imaginar quem foi.– disse isso se levantando e indo em direção à mesa, enquanto ela confirmava sua suspeita com um leve meneio de cabeça. Pegou uma bandeja repleta de biscoitos, bolos e suco de abóbora. – Sabe, ele bem que imaginou que teríamos fome.
- Que horas são? – perguntou, sentando-se no sofá e pagando um biscoito que lhe era oferecido na bandeja.
- Já passam das onze. Vou fazer um chá pra mim. Está muito frio. Quer?
Aceitou o chá que lhe era oferecido com um aceno de cabeça. Viu o garoto colocar água na chaleira e levá-la ao fogo.
- E Hagrid? – perguntou, querendo cortar aquele silêncio.
- Não sei. Apareceu aqui, disse que tinha algo a fazer e saiu.
- Você estava acordado há quanto tempo?
- Uma hora mais ou menos.
- E por que não me acordou? – perguntou, brava por tê-la deixado ali até tão tarde.
- Você estava dormindo tão bem. – respondeu o garoto, virando-se e mirando-a – Tão linda. – acrescentou timidamente, em um tom de voz que ainda podia ouvir.
Viu-o pegar um pote com algumas folhas no armário e colocar um pouco na água já fervendo. Pegou a bandeja que ela usava, colocou duas xícaras com chá, o açúcar, e levou até o sofá, sentando-se ao seu lado.
- Chá de quê? – perguntou, inalando o vapor que saía de sua xícara.
- Menta.
Tomou um gole do chá. Estava bom. Pegou mais uma bolacha e comeu. Estava nervosa com aquela situação toda. Sozinha na cabana de Hagrid com um garoto tarde da noite.
- Como vamos voltar para o Castelo? – viu-se perguntando. – Alunos não podem estar fora da cama essa hora.
- Teremos que ter a sorte de não encontrar ninguém no caminho, ou passar a noite aqui. Se bem que vão estranhar se não nos encontrarem amanhã de manhã na Sala Comunal. – ouviu ele dizer essa última frase divertidamente.
Saíram assim que acabaram de comer, e por sorte não encontraram ninguém no caminho para o retrato da Mulher Gorda.
“O amor é um furacão, surge no coração
Sem ter licença pra entrar
Tempestade de desejos
Um eclipse no final de um beijo”

Chegaram na Sala Comunal aliviados por não terem sido pegos por ninguém no meio do caminho. Sentaram-se um pouco em frente à lareira para aquecerem-se do frio cortante que estava pelo castelo. Ficaram ali no tapete por alguns minutos, sem nem perceberem que estavam encostados um no outro, tentando manterem-se próximos para não esfriarem.
- O que fazemos agora? – sentiu o hálito quente com cheiro de menta próximo às suas narinas. Tentou afastar-se um pouco, mas estava sendo segurada pelo braço do rapaz.
- Creio que devemos ir dormir, não? Já é tarde. – disse, tentando desvencilhar-se do garoto.
- Eu duvido que você consiga, mas se quiser ir. Vou ficar por aqui mesmo. – sentiu o braço do garoto soltá-la e só então se lembrou que havia dormido a tarde inteira, sentindo o sangue subir à sua face. Provavelmente ficaria rolando na cama a noite toda se deitasse. Levantou-se e sentou-se na poltrona mais próxima da lareira.
- Então o que fazemos? – perguntou, aterrorizada só de pensar em passar a noite toda acordada sem fazer nada.
- Humm... que você acha de algum jogo? Snap explosivo talvez? Ou xadrez?
- E acordar todos os alunos com o barulho? Não, obrigada.
- Então podemos inventar alguma coisa. Uma aposta talvez? – disse com um olhar maroto.
- Que tipo de aposta? – perguntou ela, imaginando o que aconteceria se perdesse ou ganhasse.
- Eu te faço três perguntas. Se você acertar duas ou três, ganha e eu tenho que fazer alguma coisa ou deixar você fazer o que quiser comigo. Mas se você só acertar uma ou errar todas, você faz alguma coisa ou eu faço com você o que eu bem entender.
Pensou na proposta. Era interessante. Costumava saber tudo, e não seria dessa vez que erraria.
- Está certo. – respondeu por fim. – Eu aceito.
- Ótimo. Então aí vai a primeira. O que causa o grito da mandrágora para quem o ouve?
- Essa é fácil – respondeu vitoriosa – Mata. Mas se for uma mandrágora ainda pequena apenas deixa a pessoa desacordada.
- Certo. Essa foi de presente. Agora a próxima. O que acaba com um bicho papão?
- Assim não vale. Você só manda perguntas fáceis! – reclamou a garota. Parecia até que ele queria que ela ganhasse!
- Então eu te faço mais duas perguntas além dessa. Se der empate cada um faz o que o outro quiser. Certo?
- Certo! – concordou e ficou quieta.
- Então? – perguntou ele – O que acaba com um bicho papão?
- Risadas.
- Ótimo. Agora a penúltima. Quem é a pessoa que eu mais admiro?
- Imagino que seja Dumbledore. –respondeu incerta. Percebeu que um sorriso se estendia pela face do garoto.
- Errou! – disse ele sorridente. – Sabe, já faz algum tempo que eu venho admirando uma outra pessoa.
- Está certo. Então faça logo a última pergunta. – disse ela emburrada, mas curiosa.
- Humm... deixe-me pensar. Quem é a garota que eu amo?
Aquela pergunta pegou-a de surpresa. Jamais imaginaria de quem ele gostava. Só sabia que o amava. E isso doía fundo em seu peito. Não conseguia deixar de amá-lo, e isso a machucava, pois fosse quem fosse que ele amasse, não seria ela ou então ele não teria feito aquela pergunta. Ficou pensativa por alguns instantes. Quem seria? Teria que responder certo, ou teria que fazer alguma coisa para ele. Mas de qualquer maneira, ele teria que lhe fazer alguma coisa. Por fim decidiu desistir.
- Não sei.
- Vê Mione – falou o garoto – qualquer pergunta referente aos estudos você sabe a resposta, mas no que se refere aos seus amigos você é uma leiga no assunto. Não acha que está na hora de prestar mais atenção em nós e menos nos livros? Sabe, N.I.E.M.s não são tudo que você pode conseguir na vida. Tem coisas muito mais importantes, que você dava valor, mas esqueceu.
- Você está certo. Mas deixe o sermão de lado e diga logo o que eu devo fazer. Afinal, empatamos. – disse a garota, com medo do que ele pediria.
- Senta aqui do meu lado e fica juntinho de mim. – respondeu ele. – Sabe, esse fogo não está me esquentando muito.
Com um sorriso tímido Hermione levantou-se da poltrona e sentou-se no tapete ao lado do rapaz. Era exatamente o que ela queria fazer. Estava com pouco frio, e ficar perto dele era bem melhor. Aconchegou-se em seus braços e ficou um bom tempo ali, abraçada com ele, ambos esquentando um ao outro.
- E o que você quer que eu faça Mione? – perguntou o garoto, lembrando-a que ela também devia pedi-lo para fazer algo.
- Quero só ficar assim, abraçada com você. – respondeu – Eu também estou com frio – aninhou-se melhor nos braços dele, sentindo-o protege-la do frio com um forte abraço e beija-la levemente a testa, em uma simples demonstração de carinho e afeto que a levou ao paraíso.
“O amor é estação, é inverno é verão
É como um raio de sol
Que aquece e tira o medo
De enfrentar os riscos, se entregar”

Sentiu seu corpo todo gelar com aquele simples gesto. Era inacreditável como ele podia aquece-la e ao mesmo tempo congela-la. Gostava daquela sensação. Ficar ali abraçada com ele enquanto era aquecida e ao mesmo tempo sentia seu estômago congelar.
Há quanto tempo sonhava com aquele momento. Só eles dois, ali, juntos, bem próximos, sem ninguém para incomodar. Quanto tempo perdera. Poderia ter estado daquela maneira muito antes. Bastava ter largado os livros. Mas talvez não fosse tão bom assim. A ansiedade de antes melhorava o momento. Queria que ele a beijasse. Queria saber quem ele amava, mas tinha medo de perguntar. Medo de ele dizer que era outra pessoa, e não ela. Medo de ele dizer que era ela e não saber o que fazer. Medo de ele dizer que não podia contar. Medo de ele dizer alguma palavra e ela não conseguir manter o controle que vinha mantendo há anos. Por fim resolveu criar coragem e quebrar o silêncio.
- A pessoa que você mais admira e a garota que você ama... – começou, esperando que ele desse continuidade ao assunto.
- O que tem elas?
- São a mesma pessoa? – percebeu que ele ficou um pouco apreensivo, mas por fim respondeu.
- São sim.
- E quem é? – tomou coragem e resolveu perguntar. Aquela curiosidade a corroía por dentro e a proximidade a fazia sentir-se cada vez mais quente. Sabia que ele não responderia àquela pergunta, mas o silêncio que pairava no ar a estava matando.
- Eu imagino que você saiba essa resposta. – respondeu ele, seriamente – Eu tentei de toda maneira, mas não consegui esconder isso. O sentimento sempre falava mais alto e quando eu notava, já era tarde demais.
- De qualquer maneira, nunca consegui notar nada. Ou quem sabe não quis notar. – acrescentou em um tom de voz baixo, para si mesma.
- Como? – percebeu que ele ouvira aquilo então falou, tentando consertar o que falara. Não se sentia ainda preparada para revelar sentimentos tão profundos e guardados há tanto tempo.
- Talvez eu não tenha tido vontade de notar. Só de imaginar perder um dos meus melhores amigos para uma outra garota. Talvez eu tenha sido cega apenas por não querer enxergar o que estava na minha frente.
- É. Talvez. E você Mione? Ama alguém? – perguntou, olhando-a nos olhos. Pôde ver novamente o reflexo das chamas naqueles lindos olhos.
- Amo. – respondeu sinceramente – Mas creio que não seja correspondida. Não sou uma garota atraente, e além do mais, ele já ama outra pessoa.
- Oras! Quem disse que você não é uma garota atraente? Existem coisas muito mais importantes que a aparência de uma pessoa. O carinho, a amizade, o afeto.
- Exatamente. Tudo que eu deixo para trás quando estudo. Sabe que foi difícil largar aqueles livros hoje de manhã?
- Eu imagino. Mas não foi bom passar o dia longe deles? – e acrescentou divertido – Mesmo que tenha dormido o dia todo.
- Foi sim – riu-se a garota – mas sabe o que foi melhor? – e continuou ao ver a expressão curiosa na face dele – Passar o dia com você.
- Eu sei que sou demais. – retrucou ele, apertando-a mais ainda entre seus braços. – Sabe Hermione, eu senti sua falta nesses últimos tempos. Senti-me trocado por uma pilha de livros.
- Aqui dentro – disse apontando para seu coração – sempre vai haver um lugar pra você. Um cantinho especial reservado para os meus melhores amigos.
- E aqui – foi a vez dele apontar para o próprio peito – sempre vai haver um lugar pra você. Um cantinho especial reservado para minha melhor amiga e companheira. – e apertou-a contra seu peito.
Podia sentir o coração dele bater descompassado. O que era aquilo? Sentia seu coração batendo da mesma maneira, com a mesma velocidade, dando pulos de alegria por estar ali, encostada nele. Percebeu que estava muito mais próxima do que no início da conversa, mas ao invés de afastar-se um pouco uniu-se mais ainda, sentindo seu corpo ser completamente abraçado por aquele que amava.
“Amar é envelhecer querendo te abraçar
Dedilhar num violão
A Canção pra te ninar”

Estava tão bem aconchegada ali, agarradinha com ele. Poderia morrer naquele instante que morreria feliz. Só faltava mesmo que ele a beijasse para que sua alegria fosse plena. Começou a pensar em tudo o que havia feito e deixado de fazer naqueles seis anos em Hogwarts. Sabia que ainda teria mais um ano pela frente, mas já sentia falta daquilo tudo antecipadamente.
- Sentirei saudades daqui quando tudo acabar. – viu-se confessando. – Foi aqui que aprendi a maior parte do que sei. E não falo só de magia não. Aprendi a ter amigos e inimigos. Aprendi a brigar e perdoar depois. Mas principalmente, aprendi a amar.
- Quem você ama Mione? – se viu pega de surpresa por aquela pergunta. Parecia que ele custara a tomar coragem para faze-la. Não sabia se respondia a verdade ou não. Novamente o medo tomava conta de si.
- Ah... Bem... Eu amo um garoto que já me ajudou muitas vezes. Me trouxe muitas alegrias e tristezas. Sei que provavelmente não sou amada por ele com a mesma intensidade, mas também sei que nunca conseguirei deixar de ama-lo. Várias vezes já tentei em vão. Sempre briguei com ele, mas um simples sorriso e eu me derreto toda. Descobri que esse amor se entranhou em mim de maneira que não sairá nunca.
- E o que te faz pensar que ele não te ama?
- Eu já te disse. Não sou uma garota atraente. E ele ama outra pessoa.
- Mione, é como eu te disse. Não é apenas a aparência da pessoa que importa. Amizade, carinho, afeto, tudo isso é muito mais importante do que a beleza de alguém.
- Você me acha feia? – perguntou, virando seu rosto para ele.
- Não. Acho você muito linda, mas demorei a notar isso. Antes de tudo percebi o que você era por dentro. Nunca fui bom com sentimentos, mas você me fez aprender a notar o que uma pessoa é de verdade. Até nosso terceiro ano não havia olhado pra você direito, mas sabia exatamente como você era, porque a conhecia por dentro. Sempre foi alguém muito especial pra mim.
- Você também foi sempre especial pra mim. Apesar das brigas sempre gostei muito de você.
- Acho que brigávamos porque eu era muito cabeça dura. – riu-se ele. – sempre quis tomar conta de você. Cuidar de você como se fosse minha irmã. Apesar de ter te notado melhor a partir do terceiro ano, custei a perceber que não era apenas um sentimento de irmão. Sempre foi muito mais que isso.
Ela escutara direito? Deveria estar delirando. Ele nunca falaria aquilo. Não para ela. Se não era um sentimento de irmã, era o quê? Amizade, só podia ser. Ou será que não. Poderia ter esperanças? Será que ele a amava também? Era difícil acreditar que não depois daquilo tudo, mas não conseguia acreditar que sim. Por que ele nunca lhe falara nada?
- Do que você mais vai sentir falta quando formos embora?
Como era doce a voz dele. Não conseguia acreditar que aquele era o garoto com quem brigara tantas vezes. Aquele amigo infantil que sempre vinha lhe contar problemas e falar besteiras a estava ouvindo. Ainda não tinha parado para pensar nisso, mas era estranha toda aquela situação. Sentia-se aberta, como se não conseguisse esconder nada. Cada palavra que saia de si era com total sinceridade, às vezes na tentativa de esconder algo, às vezes falando tudo o que sentia sem guardar absolutamente nada.
- Sentirei falta de coisas que já sinto. De ter estado com vocês mais do que com os livros, de ter ouvido vocês. De ter repetido este momento mais vezes. De saber quem é a pessoa que você admira ama antes de perceber que estava deixando meus amigos de lado.
- Você sabe quem é a pessoa que eu amo, mas é como você mesma falou. não quis notar. Ela está dentro de você, na ponta de sua língua, mas você não quer saber. E eu sei que sou amado também por essa pessoa. Ela já me deu provas o bastante de seus sentimentos, mas não percebeu. E é dela que eu sinto mais falta, e sentirei sempre. Meu amor é como o seu. Está entranhado em mim e nunca sairá, por mais que eu tente ou já tenha tentado joga-lo fora por medo de sofrer. Mas agora eu tenho segurança de que não sofrerei. Ainda ontem eu não tinha certeza de nada, mas hoje posso dizer que nos amamos mutuamente, e passaremos o resto da vida juntos, bem perto um do outro, assim como nós dois estamos agora.
Será que ela não era tão inteligente quanto pensava? Tinha certeza que era dela que ele falava. Tantas cenas de ciúme, tantas brigas, tanto carinho demonstrado em apenas um dia. Mas ainda tinha dúvidas. Não queria tomar nenhuma atitude precipitada. E se não fosse ela? Porque afinal, isso era possível. Mas estava tão claro. Não tinha como ser outra pessoa. Mas e se fosse? Não agüentava mais aquela agonia. Tinha que perguntar quem era, mas antes mesmo de dizer qualquer palavra, ouviu ele falar, bem perto do seu ouvido, em um sussurro quase inaudível:
- Já sabe quem é?
Tinha medo de responder. Não conseguia pensar em outra pessoa senão ela mesma. Seu coração explodia de alegria e angústia, mas não podia dizer quem imaginava ser. Não seria muita pretensão de sua parte? A felicidade já começava a transparecer em seu rosto. Não poderia segurar aquilo por muito tempo, ou acabaria explodindo. Não queria falar que o amava, nem que achava que era amada por ele. Porque afinal, se era ela mesma, ele já sabia que o amava. Mas também não conseguia mentir. Como ele podia fazer aquilo? Sem nenhuma poção deixa-la indefesa, de coração aberto, impossibilitada de dizer algo que não fosse a verdade plena! Ainda tinha que responder a uma pergunta. Não podia deixa-lo sem resposta. Não queria ficar sem resposta. Finalmente disse, em um sussurro falho:
- Imagino que sim, mas prefiro que me fale. – tentou parecer normal, mas já não conseguia mais. Era muita emoção, angústia, ansiedade, amor. Eram muitos sentimentos para uma pessoa só. Explodiria se ele não dissesse logo.
Percebeu a proximidade quando os lábios dele tocaram seu ouvido. Aquilo estava levando-a a loucura. Será que era preciso tanta tortura?
- Você! – sentiu a movimentação da boca dele, e ouviu em um sussurro ainda mais baixo que o anterior, sentindo o bafo quente dele alcançar o fundo de seu ouvido, a palavra chegando ao coração. Então estava certa. Era amada também. Não percebeu que já estava com os olhos fechados, e nem que ele já se afastara de sua orelha. Não conseguia perceber qualquer movimentação externa, nem mesmo quando foi delicadamente puxada para o colo dele, aumentando ainda mais a proximidade.
Apenas pôde sentir os lábios dele tocando os seus. Como eram macios e doces! Podia agora sentir aquele gosto de menta que desejara tanto. Não conseguia acreditar que estava fazendo aquilo. Sentiu as mãos do rapaz passarem por suas costas, carinhosamente, chegando aos seus cabelos. Não sabia o que fazer. Apenas mantinha a boca colada na dele, ainda perplexa com a ousadia. Mas não queria larga-lo. Procurando alguma posição mais confortável, colocou as mãos em sua nuca.
Sentiu a língua quente e úmida do rapaz procurando entrada pelos seus lábios. Abriu a boca levemente, permitindo a ousadia dele e ousando um pouco mais também. Suas mãos já se moviam lentamente pelo cabelo dele, procurando aprofundar mais o carinho que já estavam trocando.
Sentiu quando seu fôlego se acabava que ele afastava-se lentamente. Não queria acabar com aquele momento. Era tão bom. Abriu os olhos quando o beijo foi finalmente cortado. Olhava-o encantada. Como podia alguém que já fora tão rude com ela ser tão carinhoso? Sorriu mostrando sua felicidade, ao mesmo tempo em que via a alegria do rapaz expressa em sua face. Os olhos brilhavam mais ainda, refletindo novamente o fogo. O sorriso na face dele a entorpecia, e os cabelos meio bagunçados a faziam querer rir. E num misto de emoções, tinha certeza de apenas uma coisa: aquele ruivo seria seu pelo resto da vida.

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