Don't worry baby



Capítulo 17





Don’t worry, baby




O humor de Rony continuou basicamente ruim pelo resto do dia. Piorava cada vez que ele falava com Harry e o amigo não respondia parecendo distante e aéreo. Assim, Rony tinha adquirido rapidamente a mania de resmungar e quando eles se encontraram com Hermione na saída do Ministério, ela não demorou cinco minutos para perguntar por que raios ele estava agindo como uma velha? Isso só não redundou em discussão porque Rony amarrou a cara e, com uma tromba gigantesca, seguiu com os dois para o Beco Diagonal. Hermione, porém, não pareceu dar importância para suas caretas e reclamações. Estava mais preocupada em encontrar flores suficientemente vistosas nos baldes que ficavam dispostos em frente à Floricultura Green-witch.

– Eu ainda não entendi – falou Rony mais uma vez em tom de reclamação para ver se Hermione prestava atenção nele.

– O que você não entendeu, Rony? – Ela mostrou um lírio roxo berrante e uma rosa azul e mexeu com os braços para ele escolher. Rony apontou a rosa de má vontade e Hermione sorriu. – Vou querer uma dúzia dessas – informou à vendedora.

– Para começar por que estamos aqui – respondeu, lançando um olhar para as costas de Harry. O amigo se mantinha um pouco mais distante, na calçada, os olhos perdidos em alguma coisa impossível de se ver por qualquer outra pessoa.

Hermione soltou um suspiro cheio de paciência.

– Nenhum de nós deu as caras na Toca durante todo o final de semana e sua mãe me mandou uma coruja hoje reclamando. Logo, vamos jantar com ela e seu pai.

Rony olhou para o imenso buquê que a vendedora preparava e deu de ombros.

– Ah, mamãe faz esse tipo de coisa. Ontem ela me mandou uma coruja reclamando também.

– E o que você fez?

– Eu? Nada. Mamãe sempre reclama.

Hermione revirou os olhos e lhe deu as costas abrindo a bolsa para pagar as flores.

– O que foi? Mione, eu já pisei na bola com a minha mãe outras vezes, ok? E nem por isso cheguei lá com braçadas de flores.

– Claro que não – concordou Hermione já sem a mesma paciência de antes. – Mas ela é sua mãe e não sua sogra – disse pegando as flores e passando por ele, indo em direção a Harry.

Rony fez que não com a cabeça e a seguiu, mas seu humor parecia ter melhorado um pouco ao chegar perto dos dois e passar o braço comprido sobre os ombros da namorada.

– E aí? O que estamos esperando?

– Gina – responderam Harry e Hermione ao mesmo tempo.

– Por que ela não encontrou conosco no Ministério?

– Ela apenas me disse que nos encontraria aqui e pediu que eu avisasse vocês – respondeu Hermione num único fôlego.

– Humm... – Rony a analisou pensativo. – Se vamos jantar na Toca, como fica nossa conversa sobre o nome do poder?

Pela primeira vez em horas, Harry pareceu interessado em outra coisa que não fossem seus próprios pensamentos e olhou os dois amigos.

– Conversamos depois do jantar – disse Hermione. – Pedi para Neville e Luna nos encontrarem lá.

– Na Toca? Por quê? Eles podiam nos encontrar no Largo Grimmauld?

– Foi o Harry que disse que podíamos falar lá na Toca mesmo – respondeu Hermione. – Achei que vocês tivessem conversado sobre isso.

– Não... – Rony voltou a olhar desconfiado para Harry.

Os três começaram a subir a rua em direção ao Caldeirão Furado. Mesmo tendo esfriado bastante nos últimos dias e já não tendo tantas horas de luz, a rua estava cheia naquele final de tarde. Funcionários do Ministério ainda vinham fazer as últimas compras antes de irem para casa e os mais jovens sentavam em frente à Sorveteria Fortescue ou na parte de trás do Caldeirão Furado – onde Ana Abbot montara um terraço – e ficavam bebendo e jogando conversa fora. Harry e Rony cumprimentaram alguns colegas de treinamento e Hermione acenou para um grupo que trabalhava com ela no Departamento de Controle e Regulação de Criaturas Mágicas. Quando chegaram junto às mesas colocadas nos fundos do pub ouviram a voz de Gina chamá-los. Rony a viu subindo apressada a ladeira atrás deles, sorrindo radiante e acenando. Harry seguiu na direção da garota e, sem o menor pudor, agarrou-a ali mesmo, na frente de todo mundo, e a beijou.

– Por que ele faz isso? – Rosnou Rony desviando o olhar. – Parece uma necessidade de chamar atenção.

Hermione não lhe deu muita importância, ela ria e saltava feliz na ponta dos pés.

– Ah, Rony, não seja chato! Eles são tão lindos.

Ela curvou o rosto para o lado com um suspiro e Rony revirou os olhos resmungando alguma coisa ininteligível. Embora, felizmente, Hermione não tenha entendido o que ele disse, isso rendeu expressões ofendidas da parte dela até os quatro desaparatarem na Toca, minutos depois.

– Você confia demais no seu “rostinho bonito” – debochou Harry, que vinha com o braço sobre os ombros de Gina, assim que Hermione desviou da mão estendida de Rony e caminhou resoluta para dentro do terreno da casa dos Weasley.

– O que quer dizer?

– Que talvez, um dia, – sugeriu Gina – a Mione canse.

Com um gemido de pânico, Rony saiu correndo atrás da namorada. Estava descontando nela sua exasperação com Harry e Gina e sabia que isso lhe exigiria ficar se desculpando para o resto da noite. Quando os outros os alcançaram, pouco antes de chegarem à porta, ele tentava de todas as formas que podia acalmar a mágoa da namorada. Molly abriu a porta com uma expressão saudosa, mas Rony conhecia a mãe o suficiente para saber que logo ela os censuraria por terem-na abandonado no final de semana. No entanto, assim que ela viu o buquê imenso que Hermione lhe entregou ficou toda sorrisos e correu para mostrar para o marido.

– Foi o Rony quem escolheu – disse Hermione sobrepondo às exclamações da sogra. – Eu queria trazer lírios, mas ele disse que a senhora amava rosas azuis.

Com um gritinho, Molly pulou no pescoço do filho caçula quase o desequilibrando. Estava tão feliz que nem percebeu o olhar chocado que Rony lançou para Hermione. Assim que a mãe desgrudou dele, parecendo disposta a tratá-lo como seu filho favorito pelo resto da noite, Gina se aproximou e cochichou no seu ouvido.

– E você continua devendo.

Nas horas seguintes, Rony foi o mais atencioso que conseguiu com Hermione, a ponto de, ao terminar o jantar, ela pedir que ele parasse, pois podia comer a sobremesa sozinha.

Artur e Molly ficaram genuinamente satisfeitos com o fato de Gina e Harry terem reatado o namoro. Na verdade, nem pareciam esperar outra coisa. Rony, sem conseguir se controlar, ainda tentou alfinetar a irmã com a noite passada, para todos os efeitos, “na casa de Hermione”. Em resposta, Molly lhe enfiou uma generosa porção de bolo com geléia goela abaixo, num sinal claro de que ela sabia ou desconfiava da verdade e que, como todas as pessoas – à exceção do próprio Rony –, não considerava que aquele assunto fosse da conta dele.

Quando Luna e Neville chegaram, e após todos repetirem a sobremesa pela terceira vez (Rony levou um cascudo por tentar a quarta), os seis foram se amontoar no quarto de Gina para ouvirem o que Hermione tinha a dizer. Molly não fez menção nem de interferir, nem de perguntar o porquê da reunião, mas Artur os olhou com desconfiança e Rony sabia que, a partir daquele momento, o pai ficaria com as “antenas” bem ligadas neles.

Hermione ocupou a pequena poltrona que havia perto da cômoda, e Rony se acomodou ao seu lado. Neville se escorou na janela e Luna, Harry e Gina ocuparam a cama de solteira da garota. Rony havia decidido que observaria cada mínima reação de Harry. Se, por um segundo, ele pretendesse largar Gina novamente, Rony saberia. Porém, algo se quebrou dentro dele ao ver o amigo se escorar na parede e acomodar Gina entre as pernas, abraçando-a firmemente. Ele parecia um garotinho que, avisado de uma súbita mudança, se apega ao brinquedo favorito com medo de ser obrigado a deixá-lo para trás. Rony baixou a cabeça, um pouco envergonhado. Ele provavelmente não estava ajudando em nada, cobrando e fiscalizando o amigo. Era nesses momentos em que pensava que seria melhor que Harry tivesse se envolvido com outra pessoa que não a sua irmã. Talvez, ele pudesse ser mais amigo do seu melhor amigo nesse caso.

A voz firme de Harry quebrou o silêncio que tinha se instalado e ele pediu para que Hermione começasse.

– Certo – se aprumou a garota. – Olhem, muito do que encontrei e praticamente dedução minha, mas acho que, ao fim, talvez seja menos terrível do que parece.

O sorriso dela não desanuviou o ambiente e também não convenceu o grupo, exceto Luna, que pareceu achar importante sorrir de volta.

– Mas Voldemor fez o nome do poder, não fez? – questionou Neville e todos os olhos voltaram a encarar Hermione.

– É... – confirmou – ao que tudo indica fez sim. Eu... – ela abriu um bloco de notas e mostrou uma espécie de diagrama de conexões – os livros que narram os feitos mágicos de Voldemort... – ficou evidente que Harry não gostou do termo: “feitos”, e Hermione reformulou a frase. – Os poderes que Voldemort manifestou antes e depois de tentar matar o Harry quando ele era bebê, bem, são muito parecidos com vários dos poderes ampliados que se acredita que fazer um nome do poder dá. De fato, são poderes bem acima do que os que um bruxo comum manifesta e os quais não costumamos ver por aí.

– Dumbledore também tinha poderes incomuns. – Comentou Gina. – Como podemos ter certeza de que Voldemort realmente fez um nome do poder?

Ela não pareceu se dar conta, a princípio, da suspeita que levantara, mas o mal estar na sala foi quase imediato. Gina retesou o corpo sem olhar para Harry. Foi Luna que, arregalando os olhos, perguntou, embora sem demonstrar choque.

– Ah, faz sentido que Dumbledore tenha feito. Meu pai sempre disse que...

– Não!

– Harry... – era a primeira vez que Rony via Hermione argumentar alguma coisa ao lado de Luna.

– Não! – ele respondeu ainda mais agressivo. – Não me olhem com essa cara. Eu saberia se fosse o caso. – Os outros fizeram menção de contestar, mas Harry permaneceu irredutível. – Não estamos discutindo Dumbledore, continue Hermione.

– Ok – ela concordou com um suspiro. – A outra forma de ter esses poderes seria com muito estudo mesmo, mas acho que Voldemort não se incomodaria em usar todos os atalhos possíveis para tê-los.

– E essa é exatamente toda a diferença – afirmou Harry e os outros preferiram não contradizê-lo. Afinal, Harry ainda era a autoridade em Voldemort e em Dumbledore também.

– Bem, fazer um nome do poder, como já conversamos – prosseguiu Hermione –, consiste em criar um nome secreto e escondê-lo. Esse nome secreto pode lhe dar poderes extraordinários se for criado dentro de rituais mágicos específicos, pois canaliza fontes de poder externas ao bruxo. O problema é que se o nome for descoberto por outra pessoa, ela poderia controlar o bruxo. Como ninguém iria querer algo assim, a maior parte da história sobre os nomes do poder é a história de como os bruxos que os fizeram se empenharam para escondê-los.

– Que estranho... – comentou Luna, com os olhos vagando aéreos pelo quarto.

– O que? – Gina quis saber, enquanto Neville acompanhava os olhos da amiga, preocupado que ela tivesse visto alguma coisa nas paredes que ele não via.

– Alguém fazer algo para se tornar invulnerável, mas que no fundo o torna mais vulnerável – explicou Luna.

– A idéia de vulnerabilidade jamais passou pela cabeça de Voldemort – disse Harry, sem alterar o tom seco que havia assumido. – Tudo o que ele deve ter pensado foi nos poderes que iria adquirir, e em como seria muito mais esperto que qualquer um ao escondê-lo.

– Acho que foi mais do que isso – disse Hermione e as atenções voltaram para ela. – Acho que talvez tenha sido lendo sobre os nome do poder que Voldemort tenha, pela primeira vez, ouvido falar nas Horcruxes.

– Como assim? – perguntou Rony até então quieto.

– Revisei alguns de nossos livros de escola pesquisando sobre isso e... – ela puxou um grande livro vermelho, muito familiar, da sacola aos seus pés e Rony imediatamente reconheceu Hogwarts: uma história. – Ok, você nunca leram, eu sei. – Gina e Luna protestaram. – Desculpem, eu falava deles – disse apontando para Harry e Rony. Neville olhou para o teto como se não fosse com ele. – Bem, de qualquer forma, aqui diz textualmente que foi Herpo, o sujo, quem trouxe do Oriente a possibilidade de associar o nome do poder à busca da imortalidade.

– Acho que eu me perdi – disse Neville.

– Foi Herpo, o sujo, quem fez a primeira Horcruxe – explicou Gina. – Foi isso, não Mione?

A garota confirmou.

– Ele aparece em Hogwarts: uma história porque lutou contra Godric Gryffindor e há grandes suspeitas de que ele tivesse algum envolvimento com Salazar Slytherin.

– Você acha que Voldemort foi atrás de descobrir o que eram as Horcruxes ao ler isso?

– Seria plausível, não Harry? Ele sempre se jactou ter descoberto mais segredos de Hogwarts que qualquer um. Bem, o fato é que há uma referência escondida às Horcruxes no livro mais comum da escola. Porém, um livro que a maioria dos estudantes ou não lê, ou não lê com a devida atenção. Eu aposto que Tom Riddle olhou com enorme atenção a possibilidade de ter muito poder e ser imortal.

– Mas ele não fez um nome do poder associado a uma Horcruxe, fez? – Rony não escondeu um leve pavor na voz.

– Não – disse Hermione. – Acho que podemos afirmar com certeza que Voldemort realmente morreu naquela última batalha com o Harry. Mas nós também sabemos que a última coisa que ele fez foi ameaçar Harry de que voltaria. Por tudo o que li – ela fez um gesto para o bloco cheio de anotações – o nome do poder seria a alternativa mais razoável para considerarmos. Afinal, ainda é uma parte dele que resiste no nosso plano de existência. Se o nome for descoberto, e pronunciado, é possível fazer com que uma parte da alma de Voldemort volte para o nosso mundo. Ele não seria corpóreo, claro. Mas vocês se lembram dos estragos que ele fez no nosso primeiro ano na escola, mesmo sem ter um corpo.

– Ok – Harry recapitulou. – Então, para ele voltar é necessário que alguém ache o nome e o pronuncie.

– Da forma correta – completou Hermione. – É sim.

– Como pode ter certeza de que ele não associou uma Horcruxe ao nome do poder? – Gina perguntou.

– Bem, ele tinha sete – Hermione respirou fundo – oito com o Harry. Já era o suficiente para desestabilizar qualquer alma. Se fossem nove, talvez as coisas tivessem ocorrido de forma bem diferente. É por isso que a minha hipótese é a de que ele tenha feito o nome do poder antes de fazer a primeira Horcruxe. Talvez a primeira grande incursão dele na Magia das Trevas. Depois, ele não voltou a dar atenção a isso, pois tinha as Horcruxes. Só lembrou no último momento. Lembrou, porque era algo que Harry não sabia e não poderia ter destruído.

– Então, porque ele quis “avisar” ao Harry? Foi apenas para ameaçar? Tirar o sono do cara?

Neville parecia bem ciente do que tudo aquilo tinha significado para o amigo e Rony e Harry o olharam quase com gratidão.

– Não – disse Hermione. – Eu acho que ele fez isso para que Harry procurasse o tal nome.

Gina se mexeu num assomo de fúria, mas Harry não a soltou. Segurou com um breve pedido de calma. Ele não chegou a se chocar. De fato, era quase como se esperasse por isso. Pausou em cada palavra quando falou.

– O que quer dizer com ele queria que eu procurasse o nome?

– Pense comigo Harry. Se Voldemort fez o nome do poder antes das Horcruxes, então ele ainda estava na escola quando o fez. Bem, se ele fez naquela época, qual era a coisa mais importante, na opinião dele, sobre sua ligação com a escola?

– O fato de ser descendente de Slytherin – Rony e Harry responderam quase juntos.

– Exatamente. E o elemento que dava certeza disso era justamente o fato de ele ser um ofidioglota, exatamente como o antepassado. E Herpo, claro.

– Você quer dizer...

– Não parece óbvio, Gina? Se ele realmente fez o tal nome, eu aposto que deve ser pronunciado em língua de cobra.

– E com certeza está na Câmara Secreta – concluiu Rony, muito impressionado.

– É o mais provável sim – disse Hermione muito segura.

– É – falou Luna – e tinha um guardião grandão lá.

Gina se soltou um pouco de Harry e se voltou para ele com um enorme sorriso.

– Mas ele não tinha como saber, não é? Você me disse... não pode mais falar língua de cobra. – Ela se jogou sobre Harry abraçando-o feliz. – Acabou! Acabou mesmo.

Rony se inclinou e beijou Hermione. Eles também pareciam pensar o mesmo. Afinal, como ela dissera, não era tão terrível assim no fim das contas. Neville tinha a mesma expressão aliviada, contudo Harry se manteve sério. Ele afastou Gina delicadamente e com uma manobra saiu da posição sobre a cama e ficou em pé, no centro do quarto.

– Isso não muda nada.

– Como não muda nada? – uma nota de desespero se traiu na voz de Gina.

– Não podemos deixar aquilo lá. E se algum dia, alguém descobrir. Um inocente. Ou pior. Alguém definitivamente mal intencionado. Quem nos garante que Voldemort foi o último... ou melhor, eu fui o último ofidioglota a freqüentar Hogwarts? O que tem que ser feito é ir até lá e detonar com essa ameaça de uma vez por todas!

Os outros ficaram inertes por longos segundos. Gina fechou os olhos, baixou a cabeça e se sentou encolhida num canto junto à cabeceira da cama, incrédula. Foi Neville o primeiro a se manifestar.

– Eu concordo com o Harry. Seria omissão sabermos e não fazermos nada. A escola não ficaria segura, nem a gente. Acho que devemos ir até lá sim.
Harry assentiu. Com certeza era o que esperava de Neville.

– Certo – concordou Rony. – Não deve ser tão difícil, não é? É só achar e acabar com ele.

– Rony, você não acha que vamos atrás de um pedaço de pergaminho, com um nome escrito, escondido entre as pedras da câmara, não é? – perguntou Hermione.

– É claro que não – ele revirou os olhos. – Apenas já fizemos coisas mais difíceis antes. E hoje estamos bem mais preparados do que com doze anos, que foi a última vez que Harry e eu entramos lá.

Com um profundo suspiro Hermione concordou, mas Rony a viu lançar um olhar preocupado para Gina. Harry, no entanto, parecia resoluto. Voltou-se para Hermione, daquele jeito definitivo que ele assumia quando não pretendia mudar de idéia.

– Você tem idéia do que poderíamos encontrar lá, Mione?

A garota assentiu e mexeu novamente no bloquinho até a achar uma página determinada.

– Eu fiz um inventário dos nomes do poder que foram descobertos e também sobre a forma como a magia deve ser feita. Eles precisam ser associados a algo que produza energia. É essa energia que potencializa os poderes do bruxo. Então, muitos dos nomes do poder foram encontrados associados a algo vivo como um pássaro ou um peixe, ou algo não vivo, mas consumível, como uma vela ou um cristal, algumas vezes poderia ser também algo realmente grotesco, como um coração...

– Um coração? Grotesco? – estranhou Rony.

– Se for um coração que foi arrancado de outro ser, é sim – se defendeu Hermione. – Pensei que soubesse de cor todos os contos de Beddle, o bardo, Rony?

Ele fez uma careta, pensando no conto do Coração Peludo.

– Eca! Ok, eu entendi.

– Eu não acho que ele tenha arrancado o coração de ninguém, fique bem claro – falou Hermione. – Se houvesse sido isso, teríamos notícia de uma outra morte em Hogwarts na época em que ele esteve por lá. O feitiço pode ser associado à qualquer coisa que possa se manter “viva” por magia. As possibilidades são inúmeras.

– Certo – disse Harry. Ele mantinha os braços cruzados e Rony quase podia ver seu cérebro maquinando o que fariam com as informações prestadas por Hermione. – Tem idéia do que deve ser feito para acabar com isso? Quero dizer, fazer com que o nome de poder desapareça?

– Bem, – Hermione fechou o bloco de notas e também Hogwarts: uma história, que ainda permanecia em seu colo – é preciso romper o que dá força ao nome e depois apagá-lo.

– Romper? – perguntou Neville.

– Matar a parte viva do feitiço – Luna respondeu por Hermione como se aquilo fosse a coisa mais óbvia e simples do mundo.

– Certo. Então, podemos falar com McGonagall e ir até Hogwarts amanhã e...

– Amanhã? Harry, não podemos ir lá amanhã! – reagiu Hermione.

– Por quê? Por causa do Ministério? Damos um jeito e...

A garota revirou os olhos e, visivelmente, armou-se de paciência para explicar.

– Harry, você esquece quem você é? – perguntou carinhosa e Harry deu de ombros. – Você é Harry Potter!

– Eu sei o meu nome, Mione.

– Não foi isso que ela quis dizer – comentou Gina, ainda encolhida, erguendo levemente a cabeça. – Quis dizer que você aparecer do nada em Hogwarts vai colocar a escola em polvorosa.

– É, você tem muitos fãs – disse Luna com sensatez. – Imagine, vai todo mundo querer tirar fotos com você.

O rapaz nem disfarçou a exasperação.

– Ok, ok. Eu posso usar a minha capa e...

– Mas nós também somos famosos – afirmou Luna. – Cabe todo mundo na sua capa? Eu acho legal ficar escondida nela.

– Harry, – Hermione chamou com calma estudada – eu concordo com você que não podemos nos omitir. Nós iremos a Hogwarts e faremos o que for possível ser feito. Mas o melhor é irmos num sábado. Pelas minhas contas, o próximo deve ter um passeio até Hogsmead, então a escola estará quase vazia.

– Eu tenho compromisso no sábado – afirmou Luna olhando diretamente para Harry. – Ou não vai poder ser no sábado?

Acostumados com as doidices de Luna, ninguém percebeu que Harry corara levemente antes de erguer a cabeça e perguntar.

– Certo. Então faremos isso. Mione, você poderia falar com a Professora McGonagall e perguntar quando seria o dia mais conveniente de irmos até lá? O mais rápido possível, de preferência.

Hermione fez que sim com a cabeça.

– Ótimo. Eu também vou... tomar outras providências. – Os outros o olharam interrogativos, mas Harry não respondeu. Tinha os olhos fixos na namorada e parecia nervoso. “É isso,” ele resmungou para si mesmo, descruzando finalmente os braços e respirando fundo. – Er... Gina... será que nós... podíamos conversar um instante?

A garota o olhou. Rony reconheceu o medo e a indignação nos olhos da irmã. Sem pensar, ele se levantou do braço da poltrona e tocou no ombro de Harry. Sua intenção era sussurrar que o amigo não fizesse o que parecia pretender, mas Harry sequer o olhou.

– Só os dois – disse Harry para Gina. – Lá fora?

Gina não escondeu a mágoa. Levantou da cama e saiu reta em direção à porta sem olhar para ninguém. Harry foi atrás dela e Rony ainda tentou pará-lo, mas Hermione o segurou.

– Deixe, Rony. Isso é entre eles. Fique quieto.



*****************



Gina sentou na mureta que dividia o terreno da Toca e cruzou os braços esperando. Ela tinha caminhado todo o trajeto até ali, dura, sem sequer olhar para trás. A expressão firme se tingiu de vermelho quando se deparou com o olhar quase divertido de Harry, o rapaz a tinha seguido até ali em silêncio. Ele se escorou junto ao muro e os dois ficaram lado a lado; os olhares paralelos, presos nas luzes das janelas da Toca.

– Seus pais estranharam o jeito que você saiu – comentou Harry. Gina cruzou os braços com mais força, era possível sentir a indignação fervendo dentro dela. O garoto disfarçou a vontade de rir e continuou. – Confesso que imaginava essa cena de outra maneira.

Gina se virou como se fosse atacá-lo e os cabelos vermelhos, soltos ao vento, faziam-na lembrar ainda mais um explosivim.

– Imaginava de que maneira?

– Bem, certamente você não estava me atacando. Ao menos, não desta maneira.

– Ah, então eu deveria estar calma e feliz porque você vai terminar comigo?

– Gina... eu disse que não abriria mão de você outra vez. E eu não menti. Pensei que tivesse acreditado em mim.

Harry virou o rosto de lado para encará-la. A expressão de Gina tinha um misto de confusão e doçura que o fez sorrir largamente.

– Mas então... ? Por que...? – Ela respirou pela boca com visível esforço. – Você quer pedir para que eu não vá junto com vocês à Hogwarts? É isso?

– Não – ele respondeu com calma. – De fato, nem sei se iremos só nós.

– Como assim?

Ele deu de ombros.

– Não há porque haver segredo ou apenas nós nos arriscarmos. Falarei com Kingsley, afinal ele é o Ministro, foi Auror por muito tempo, saberá o que fazer. Dumbledore sempre confiou nele e eu também confio. Ele saberá se será seguro incluir alguns Aurores e até mesmo algumas pessoas da Ordem da Fênix. Com certeza, os professores irão querer participar. Não imagino McGonagall aceitando que desçamos à Câmara Secreta sem que...

Gina tinha colocado a mão na sua testa e exibia um ar preocupado.

– Se você é Harry Potter diga algo que só nós dois possamos saber – pediu ela. Harry abriu a boca para falar, mas tinha um ar jocoso e Gina cortou imediatamente. – Não vale sobre ontem à noite. Já não tenho certeza se você era você ontem à noite.

O rapaz gargalhou enquanto retirava a mão dela da própria testa e lhe dava um beijo que tinha mais brincadeira que galanteria.

– Bem, seja lá quem eu for, você fez esse alguém muito feliz ontem à noite – o tom lhe rendeu um tapinha doloroso no braço.

– Fale sério, Harry? – Esse pedido vindo de um Weasley soou quase surreal. – Isso não parece nada com você.

– Está enganada. Eu iria sozinho se fosse necessário ou obrigatório, mas não é. E antes que diga qualquer coisa, isto é muito diferente de que houve na guerra.

A garota já tinha descruzado os braços e agora os apoiava na mureta, ao lado do corpo.

– Se quer voltar a esse assunto, eu nunca entendi completamente. Afinal, Rony e Hermione...

– Eu tentei impedi-los de irem comigo, se quer saber. Mas há uma enorme diferença. Nenhum Comensal e, certamente, Voldemort muito menos, compreenderia o que Rony e Hermione significam para mim. Nenhum deles poderia saber o que o tipo de amizade que tenho com eles é para um garoto órfão e sozinho. – Harry voltou a olhar para a Toca. – A palavra: “amigo” não fazia sentido para eles. Mas a palavra: “namorada” é bem mais fácil de entender.

Gina olhava as próprias pernas.

– Talvez... eles nem tivessem dado tanta importância.

– Eu não correria esse risco – ele afirmou muito sério. – Se ele soubesse de você, compreendesse o que você era para mim... ele saberia... – o silêncio pairou um instante antes de ele completar – que eu faria qualquer coisa...

Harry fechou os olhos ao sentir a mão pequena e quente de Gina vagar pelos seus cabelos e acariciar um ponto sensível próximo à nuca. Mudou de posição até ficar bem de frente para ela.

– Se não quer me dispensar – Gina provocou – nem quer me fazer ficar em casa “protegida”, por que me trouxe aqui?

– Bem... – mas palavras se perderam.

A proximidade e o perfume dela o fizeram esquecer momentaneamente qualquer outra intenção que não fosse beijá-la. Uma de suas mãos capturou a curva do pescoço da garota e a outra, colocou seu braço entorno da cintura dela, estreitando-a contra si. Mergulhou nos seus lábios perdendo o sentido de qualquer outra coisa que não fosse estar ali. Era como se o simples fato de tocar Gina pudesse transportá-lo para outro lugar. Um lugar só deles, onde nada existia além dela, da sua boca macia, do seu cheiro, do longo e delicioso cabelo que cobria seus braços e o mergulhava numa luxuria nova e irresistível. Os beijos se repetiram e se alongaram. E Harry não demorou a perceber que ao invés de ficar saciado, ele queria mais. Deslizou dos lábios de Gina para o pescoço e a garota o enlaçou com as pernas deixando-o perto demais para sua própria sanidade.

– É um bom motivo – Gina conseguiu sussurrar próximo ao seu ouvido.

Como o murmúrio dela conseguiu tornar a situação ainda mais perigosa, Harry não pode saber. O fato é que as coisas esquentavam rápido quando eles se deixavam levar e, num último fôlego do que ainda restava do seu cérebro consciente, ele registrou que o muro da Toca não era, nem de longe, um lugar conveniente ou confortável para os dois se esquecerem do mundo num amasso.

Foi preciso um grande esforço para se afastarem um do outro. Gina ofegava e Harry sentia como se tivesse bebido algo forte de um só gole. Girou o corpo para o lado tropeçando nos próprios pés e guindou-se para o muro, sentando ao lado dela. A garota entrelaçou os dedos nos dele e deitou a cabeça no seu ombro, enquanto ambos tentavam voltar a respirar normalmente.

– Não estou reclamando, – Gina falou finalmente – mas tem certeza de que foi apenas para isso que você me chamou aqui?

Apenas, não. Na verdade... eu tenho uma pergunta para te fazer.

Gina tirou a cabeça do ombro dele, olhando-o com um sorriso.

– Faça.

– Mas antes... eu fiquei curioso.

– Com o quê?

– Por que não apareceu no Ministério hoje à tarde? Eu procurei você por lá. E por que quis nos encontrar no Beco Diagonal no final da tarde?

Harry reconheceu imediatamente no rosto dela aquele leve tremor, tão familiar a ele próprio, de quando não se sabia como contar o que se tinha feito. Não pressionou, embora ele achasse que tinha uma idéia do que seria. Apenas ficou esperando.

– Eu...

Uma longa pausa.

– Sim...? – incentivou-a.

Gina fechou os olhos como única forma possível de evitá-lo.

– Você tinha razão.

– Eu tinha? Sobre o quê?

– Quadribol.

Harry riu satisfeito. Agora tinha certeza do que era, ainda assim zoou.

– Pois é, mas convença o Rony de que os Cannons jamais voltarão a ganhar um campeonato com o tipo de jogadores que eles contratam.

Gina abriu os olhos, confusa, e Harry riu mais ainda. O coração dele batia rápido e rir da situação parecia ser a melhor forma de lidar com o nervosismo que ele tentava ocultar.

– Mas algo me diz, que as Harpias terão grandes chances na próxima temporada.

Estava escuro, porém as luzes da Toca, mesmo distantes, deixaram perceber que ela tinha corado quase de imediato. Gina baixou a cabeça.

– Ela realmente me quer no time, sabe.

– Seria burra se não quisesse – vociferou Harry.

A garota ergueu um dos ombros, modestamente.

– Fez uma proposta...

– Irrecusável?

– Quase ofensiva. – Ela voltou a olhar para ele. – Não sorria desse jeito – pediu, sem graça.

– Por quê? Estou orgulhoso. Eu... – Harry passou o braço sobre os ombros dela e a fez olhar dentro dos seus olhos – sei que você vai ser uma estrela. E eu vou assistir a todos os seus jogos, torcendo, babando por você e deixando bem claro que você está comigo, entendeu?

Foi a vez dela rir.

– Bem, acho que isso, você já resolveu hoje.

– Como assim?

– Ora, Harry. Rita Skeeter estava perseguindo você para fazer uma matéria exclusiva sobre a “pregressa” vida amorosa do menino-que-sobreviveu. Não foi o que a Ana Abbot te contou?

– Sim, mas o que...

– Tenho a impressão de que o beijo que você me deu em pleno Beco Diagonal estará no Semanário das Bruxas desta semana e, talvez, até no Profeta de amanhã.

Harry fez uma careta e depois completou como quem lê algo no ar.

Harry Potter dá o golpe do baú em futura famosa estrela do Quadribol britânico.

Ela revirou os olhos.

– Hoje você não vai falar sério, não é?

O riso sumiu do rosto dele e Harry sentiu o coração acelerar ainda mais. Namorar Gina era fácil. Sentar ao lado dela, beijá-la, falar sobre tudo e sobre nada. Isso poderia ocupar anos da sua vida. No entanto, ele queria mais e se perguntava se seria errado pedir que, ao invés de algumas horas, Gina ficasse com ele por uma vida inteira. Seria cedo para querer tanto, para querer tudo?

Quando a idéia lhe veio à cabeça, Harry queria era provar para Rony que não mais abandonaria a irmã dele. Queria também que Gina se sentisse segura e não mais ficasse chateada ou com medo, como ficara há pouco. Mas agora, ali, tomando a mão dela entre as suas, Harry sabia que não era nada disso. Era apenas por si mesmo que ele queria fazer aquele pedido e desejava desesperadamente que ela aceitasse. Se apaixonar por Gina o fez aprender a gostar de alguém como ele nunca achou que seria possível. E ficar longe dela, durante a guerra, doeu muito mais do que ele podia imaginar que ia doer. De fato, até esperava que aquele tempo o fizesse esquecê-la. E depois da guerra, depois de tudo, ele quis acreditar que tinha conseguido, achou até que poderia continuar sendo apenas seu amigo. Falhou miseravelmente. Precisava de Gina, precisava de todo aquele sentimento que tinha por ela. Precisava pertencer a alguma coisa maior que ele mesmo. E ele sabia que isso era, devia ser, tinha de ser, aquela garota e a família que ele formaria com ela.

– Estive pensando... – uma coisa fria se movimentou no seu estômago e Harry teve de respirar para acalmá-la. Não sabia por onde começar e lhe pareceu que dizer diretamente poderia chocar Gina. – Eu... claro, será quando você quiser, isto é, se você quiser. É um pouco precipitado, eu sei e... – Ele ergueu os olhos, sem jeito. – Hã... quando começa a temporada?

Gina piscou confusa, com certeza não tinha entendido o que ele queria e Harry não poderia culpá-la, não depois de ter mudado de assunto daquela maneira.

– Na primavera. Pelo que a Guga disse serão apenas treinos e talvez alguns jogos amistosos até a Páscoa.

– Legal.

A conversa morreu novamente e o coração de Harry ribombava como se estivesse dentro da bateria d’As Esquisitonas. Era impressionante que Gina ainda não o tivesse ouvido.

– Harry? Há alguma coisa que você quer me dizer?

A cabeça dele se movimentou afirmativamente quase sem comando. Contudo, a imagem que lhe veio à cabeça foi a da primeira vez em que ele, desajeitadamente, convidou uma garota para alguma coisa. Lembrou da vontade de sair correndo apenas para não ter de ouvir um não de Cho Chang. Na verdade, ele tinha ouvido um não daquela vez e, apesar da vergonha, tinha sobrevivido, então... Pelo menos, dessa vez, ele tentaria falar devagar.

– Gina... é, o que você acha...? – engoliu em seco. Talvez devagar demais. Começou de novo esquecendo a lentidão. – O que quero dizer é, e eu vou entender se você achar que é muito rápido, claro. Afinal, nós mal recomeçamos a sair, mas eu não consigo parar de pensar nisso, sabe. E, bem, a Luna falou que talvez você gostasse da idéia. Ela sugeriu sábado, mas é claro que isso é coisa da Luna, então poderia ser outro dia qualquer, que você queira, é claro. Ser bem que, agora, como vamos à Hogwarts, não poderá mesmo ser no sábado e...

– Harry... amor... – o segundo chamado o fez parar com o coração na boca, ofegando pelos quilômetros que correra até ali. A voz carinhosa de Gina lhe dando consciência de que ele não tinha conseguido chegar nem perto do alvo, apesar do esforço. – Do que é que você está falando?

– De nós dois. – Gina arqueou as sobrancelhas, ainda sem compreender. “Seja o que Deus quiser!” – Juntos. Em definitivo. Isto é, casados. É, isto, casados!

Completou sem fôlego. Gina engasgou um pouco e a expressão de choque dela pareceu gritar para ele duas coisas. A primeira era de que não devia ter feito aquilo. A segunda é que tinha feito tudo errado. Aquela surpresa só poderia demonstrar que ela não queria, que não tinha pensado nisso como ele pensara. Com certeza, Gina nem entenderia porque ele precisava daquilo. Ela tinha uma família enorme, unida, e agora estava cheia de planos, afinal, ela mal tinha acabado a escola e ia começar uma carreira. Casar? Era uma loucura total. Onde é que ele estava com a cabeça quando perguntou isso para ela?

– Você pediu conselhos para a Luna?

As pausas e o assombro na fala dela não ajudaram Harry a se sentir melhor.

– É – a voz dele estava carregada de desculpas. – Ela é sua amiga, não é?

– Claro que é, mas Harry... conselhos da Luna? A Hermione é a sua melhora amiga, ela...

– Eu acho que não queria um conselho muito racional – ele falou se encolhendo um pouco.

– E a Luna sugeriu de noivarmos no sábado?

Harry queria que o chão se abrisse e o engolisse para sempre. O espanto de Gina só confirmava que tudo estava errado. Ainda assim, preferiu responder a verdade.

– Não. Eu não falei em noivar, digo, para a Luna, eu... Gina, o Rony e a Hermione querem casar no próximo ano porque acham que já terão um salário para se sustentarem, certo? Bem – era melhor dizer tudo o que ele tinha pensado logo de uma vez – eu tenho todo aquele ouro que meus pais me deixaram e também a herança do Sirius. E você, agora, vai ganhar um salário bem legal, não é? Você usou a palavra “ofensivo”, não foi? Pois é. Quero dizer, não precisamos realmente esperar para podermos ter uma casa e tudo o mais. Podíamos... isto é...

Gina cobriu a boca com as mãos e riu com o que pareceu a Harry, piedade.

– Desculpe – ele disse, baixando os olhos. – Acho que fiz tudo errado, não é? É cedo para isso. Estou atropelando você e falando besteira, eu sei. Esquece isso, ok?

– Harry? – os olhos deles se encontraram finalmente. – Por que você não experimenta perguntar o que eu quero? Você não perguntou, sabia?

Ela tinha razão. Harry respirou fundo registrando suas entranhas congeladas e o fato de que as luzes da casa brilhavam nos olhos dela como nos de um gato. Pela primeira vez percebeu que havia uma brisa fria, mas que a noite girava em torno deles cheia de estrelas e que estava repleta de sons que invadiam os seus ouvidos. Ele pediu intimamente para que o volume deles aumentasse, caso ela lhe dissesse não.

– Você quer se casar comigo?

O sorriso da garota se abriu radiante e Harry achou que alguém deveria ter acendido mais luzes ali do lado de fora.

– Achei que você demoraria um ano me enrolando antes de perguntar. E já que perguntou de um jeito tão direto – os dois riram e Harry apertou as mãos dela ainda presas entre as suas na expectativa – vou responder da mesma forma. Eu quero sim. Quero muito!

Uma sensação de alívio tão grande o percorreu que Harry achou que tinha largado uma bigorna no chão. Até os seus braços amoleceram. Gina se inclinou e o beijou na boca e Harry correspondeu com paixão. Ainda estava tonto, mas era isso. Ela tinha dito sim. Ela tinha dito sim!

Precisando respirar ele afastou os lábios e encostou a testa na dela, um riso nervoso escapando pelos cantos da boca e pelas bochechas inchadas de felicidade.

– Você não acha que é cedo demais?

Ela suspirou.

– Eu não acho que se possa medir isso, Harry. Pode ser para outras pessoas... eu não sei. Mas, de alguma forma... parece que para a gente é...

– Certo – ele completou.

Estava tão feliz quando voltou a olhar para ela. Gina lhe pareceu mais linda e maravilhosa do que ele jamais a tinha visto e ela seria sua mulher. Tinha concordado em ser sua mulher. Poderia gritar de felicidade. De fato, ele queria gritar de felicidade, queria que todos soubessem. Harry Potter tinha enterrado seus fantasmas, ia começar a viver como merecia – sim, ele sabia que merecia – e ele ia se casar. Ia ter a garota mais incrível do mundo como esposa e se as pessoas o invejavam por ser famoso, elas eram muito tolas, porque só agora, Harry achava que elas tinham realmente motivo para invejá-lo.

Pulou do muro e tomando Gina pela cintura a ergueu no ar enquanto berrava tudo aquilo. A garota ria alto. A algazarra foi tanta que Harry teve consciência de que a porta da Toca abriu e ele ouviu a voz de Rony perguntando que diabos era aquilo. Traídos pela imagem do casal rodando pelo gramado, as pessoas da casa começaram a caminhar até onde eles estavam. Harry colocou Gina no chão finalmente, mas continuou a abraçá-la com força.

– Vamos contar para eles? – perguntou.

– Não temos escolha, não é? Não com toda essa urgência – ela riu. – Mamãe vai ter um chilique.

– Bem, não precisamos comentar da história sobre o sábado – ele sugeriu. – Façamos o seguinte. Você dirá a ela a data. Quanto tempo você acha que precisa para que a gente possa montar um casamento do jeito que você sonhou.

– Eu não sonhei – revidou Gina e Harry ficou levemente decepcionado.

– Jura? – o povo da Toca já estava quase chegando neles. – Sempre achei que você sonhava em se casar comigo?

Ela lhe brindou com o seu sorriso mais travesso.

– Nos meus sonhos... você sempre me raptava.




********************
N/A: A música é Don’t worry baby, dos Beach Boys. Sei, é uma velharia, mas é linda e eu adoro.

É isso, gente. Eu disse que era o último e é. Mas ele vai vir em duas partezinhas, ok? Uma hoje e a outra amanhã. Hoje respondi os comentários, amanhã comento tudo o que se passou nessa fic.

Obrigada pelo carinho, pela espera, pela leitura. A música do 17 e da sua segunda parte já estão no meu Multiply.
Um recadinho para:


Thais Domingos dos Santos Rodrigues – Muito obrigada, Thaís. Eu sei que R/H ficou um pouco de lado, mas eu os resolvi antes e, bem, mesmo sem querer, H/G acaba me ocupando mais espaço. Bjs

Priscila Louredo – Te amo, linda. Obrigada.

Bernardo Cardoso – E como, rsrs? Bjão.

Carine Gonçalves – Muito obrigada, Carine. Pois é, esta não era para ser uma pós DH, mas acabou tendo elementos nesse sentido. Fico feliz de parecer ter acertado com os personagens. Sobre o “arre”, é a Lya Wyler que usa nos livros e eu gosto, hehe. Se fosse usar o gauchês seria “mas bah”! Kkkkk. Bjs!

Patrícia Ribeiro – De novo desculpe a demora querida. Mas como diziam nossas mães, dói mais em mim do que em vcs, rsrs. Sou completamente dependente de escrever. Obrigada pelas lágrimas no fim do Retorno =D. Bj.

Guta Weasley Potter - *aperta e afofa Obrigadão, querida!!!! Amei seu comentário. Fiquei feliz de ele te causar todo esse encanto. Obriga, obrigada! Um beijão!

Amanda – Obrigada, querida!

MárciaM – Valeu lindinha!

Liz Negrão (LiLi) – Que bom, amiga. Vc não imagina como me tirou o sono essa cena. Fico feliz de não ter me passado, rsrs. É um equilíbrio delicado, não? Beijos grande e espero que vc tenha melhorado.

Tammie – Muitoooooo obrigada, querida. O sábado não deu, mas logo eu envio o convite com dia e hora, hehe. Bjs!

Tonks Butterfly – Thanks =D!!

Hellzita – Nossaaaaa!!! Fiquei sem graça com essa. Muito, mas muito obrigada mesmo. Espero ter acertado a mão neste tb. Bjs.

Bruna Perazolo – Você acredita que essa quase foi a música do capítulo? Verdade, estava na ponta da agulha (como se dizia antigamente, quando os aparelhos de som tinha agulha, hehe), mas na última hora apresentei três músicas para o meu editor aqui de casa e ele escolheu a do REM. Mas acho que tb dá para ler o capítulo com You and me, sim =D.

Charlotte Ravenclaw – Espera terminada querida e logo vem o restinho que falta. Eu não era ruim em poções, o problema era o professor, hihi.

Mirella Silveira – É o último, mas eu dividi para ajudar a despedida, hehe. Beijo querida e obrigada.

Drika Granger – Ah linda, muito, mas muito obrigada mesmo. Sim, o Harry é muito fofo e, claro, o Rony, que fez tudo para os dois ficarem juntos, tb tem razão nos medos dele. Mas agora vai ser só felicidade. Beijo grande!

Day Pereira – Valeu querida! Sim é para logo, hehe. Bjs.

Luísa Lima – Menina, você me mata de rir com os seus comentários, sabia? Te adoro. Obrigada por todo o carinho apesar de vc estar brava comigo, hehe. Bjs.

Sô – Amiga querida, muito obrigada. Seus elogios, seus recadinhos carinhosos, sua leitura sempre. Um beijo enorme para vc.

Gina W. Potter – Eu tb, hehe. Vc não imagina em como fico feliz em escrever coisas felizes, mas sabe? Acho que são as que dão mais trabalho. Espero que tenha curtido esse tb. Bjs

Doug Potter – Aii nem diz isso! Rsrs Fico louca de medo de erra no próximo, hehe. E não esqueci de vcs não, tá? Realmente não deu para ser antes. Bjs e espero que goste.

Danielle Pereira – Valeu, Dani. Pois é, acabou o Retorno e essa tb está no final. Mas já estou postando uma nova história e logo virá mais coisa. Obrigada por ler e pelos elogios. Um beijo.

Clara – Nossa, tão doce assim? Rsrsrs Espero não dar diabetes em ninguém, haha. Quase simultaneamente. Mas agora terminada esta posso me dedicar com mais afinco à Floresta, né? Beijão.

Pandora Potter – nada muito ruim e o melhor, parece que nosso herói aprendeu a lição, o que é o melhor de tudo. Espero que tenha gostado deste. Bjão!

Naty L. Potter – Amada, obrigada mesmo. Feliz de vc ter gostado que vc não imagina, hehe. Te adoro, beijim, beijim!

Bruna Weasley – Esse clube só cresce, hehe. Sabe o que é pior? Me acusam de fazer propaganda enganosa. Os meninos precisam dar um jeito, não acha? Bjão!

Renata Grazielle Souza Santos – Mais uma para o clube, hihi. Pode aguardar o convite, hehe. Bjs!

Natalia Reis – Obrigada, querida. Beijos.

Belle Sarmanho - *sorrindo Que bom!! Hei, fiquei esperando seu comentário na surpresa e ainda não vi, hehe. Olhe nos links lá no final.

Julie Weasley – Eba!! É sempre bom ter gente nova por aqui. Obrigada por gostar. E sorry pela demora. Beijão.

Regina McGonagall – Muito obrigada, amiga. Eu amei esse elogio, ainda mais de uma bruxa poderosa como vc, hehe. Um beijo enorme.

Lili Coutinho – Primeiro: parabéns pela formatura!! Segundo: acabei de ler seu cometário no Retorno. Muito obrigada mesmo. Vc me emocionou. Deixou encantada e feliz. Um beijo enorme.

Gabizinha – Valeu mesmo, querida! Bjs

Aninha Weasley – Wow! Acho que vou ficar devendo nesta. Mas, quem sabe na Floresta. Sorry, para a Just acabou não dando. Beijo.

Pedro Henrique Freitas – Querido, muito obrigada mesmo pelo seu comentário adorável. Você não é imagina como é importante ter esse retorno de quem lê as fics. Eu comecei escrevendo para mim, mas hj, faço com um carinho muito maior e me dedico muito mais por causa de comentários como o seu. Muito obrigada mesmo. Um beijo grande.

Fênix - *sorrisão de orelha a orelha* Obrigada mesmo!!!!! Meu maior cuidado é não descaracterizar nossos heróis e seu comentário é do tipo que alivia a gente, com a certeza de estar fazendo direitinho. Obrigada de novo. Beijão!

Ginny Potter – Obrigada! São meus orgulhos, rsrs. Desculpe a demora da postagem. Um beijão!

Paula Potter e babi Weasley – Que bom!!! Eu tb imagino eles exatamente assim, hehe. Obrigada e um beijão!



Adoro vcs! Um beijo grande e até amanhã.
Sally

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