Capítulo Único



“Não se engane,você não vai escapar
Amarrado e preso
Não tem como se esconder de mim
Todo meu,você tem que ser
Então não resista
Nós existiremos
Até o dia
Até o dia que eu morrer
Todo meu
Você tem que ser”
(All mine – Portishead)


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“A Outra”
(Lupin & Tonks)



Tudo parecia estranhamente frio e vazio.

O sono, que antes sempre fora tão pesado e contínuo, agora se dissolvia rapidamente como uma cortina de fumaça tênue frente uma brisa mais intensa e impiedosa, deixando nela apenas aquele leve estado de atordoação que precede o despertar completo.

Instintivamente, ainda sonolenta e preguiçosa, as mãos tatearam o lado vago na cama de casal e encontraram apenas o vazio e o contato morno dos lençóis que pareciam queimar os seus dedos no lugar onde ele estivera a pouco. Lentamente as pestanas se moveram e seus olhos se acostumaram com a suave luz prateada que se insinuava quase que de maneira petulante pela janela entreaberta, quebrando de maneira envolvente a escuridão.

O coração falhou uma batida ao notar que ele estava parado em frente à janela, o olhar cravado nos céus, parecendo distante e arrebatado na presença dela.

Estavam ali, claros todos os sinais da influência que ela sempre exerceria sobre ele: a ansiedade que antecedia a consumação do ato e que depois seria substituído pela culpa e pelo sentimento de imundície; os punhos cerrados como se tivesse a intenção de deter aquele fulgor que lhe dominava os instintos; a irresistível atração que fazia que seus pensamentos sempre se voltassem para ela...

Sempre ela...

Contra a sua vontade, lutando com unhas e dentes e garras ele tentava resistir, mas no final ele sempre se entregava. Que chances ele tinha de vencer aquele fascínio, aquela paixão doentia que corroia as suas entranhas e queimava a sua tão distinta racionalidade?

Podia sentir toda a angústia e desespero e pavor diante daquele poder avassalador. Tragando-o, seduzindo-o com sua voz gélida e lânguida, sussurrando-lhe a promessa de que o possuiria em breve, de que teria em seu poder não só os seus pensamentos, mas também seu corpo que se rasgaria de horror e prazer animalesco. E que assim faria com que ele se entregasse de corpo e alma.

Era terrificante, absurdamente terrificante.

Suspirando pesadamente, Tonks se desvencilhou do lençol e se levantou da cama. Com um gesto distraído, passou a mão pelos próprios cabelos cor-de-rosa, soltando um bocejo longo.

A madrugada avançava célere, os dias eram cada vez mais cansativos, mas julgava-se incapaz de dormir. O sono evaporara-se no momento em que se encontrou sozinha na cama. Era sempre assim, esse eterno sentimento de desconforto.

Era verão e fossem em outros tempos, as noites seriam claras e luminosas. Mas uma névoa densa e sufocante pairava sobre a capital britânica, ocultando dos olhares desesperançados o brilho das estrelas. Minando a alegria e a pouca felicidade que se podia obter naqueles tempos sombrios. A pouca felicidade que eles, juntos, haviam conquistado após tantos desentendimentos e dores e discussões. A felicidade que parecia minguar, enquanto ela se mostrava em sua beleza e lascívia, quando faltava muito pouco para que alcançasse o auge de seus poderes. Quando finalmente os instintos subjugariam a razão e ele perderia por completo o controle de si mesmo.

E que irônico pensar que a única luz que conseguia vencer aquela cortina de desespero nebuloso, era daquela que lhe causava tanta exasperação.

Definitivamente mordaz.

-Tudo bem, Remus? – Tonks perguntou baixinho, abraçando o homem pelas costas e apoiando a cabeça no ombro dele.

-Não consigo dormir! – Respondeu e sentiu um calafrio lhe atravessar a espinha e de modo algum provinha da névoa que pairava sinistramente no céu. Pensou em justificar, dizer que era a preocupação com a guerra e com Harry, que após o casamento de Gui e Fleur simplesmente sumira com Rony e Hermione, sem dar maiores explicações. Mas não se tratava apenas disso e ele sabia que Tonks não acreditaria nisso se ele o dissesse.

Pobre homem, feito de lágrimas e dor... tentando esconder em sua fortaleza de determinação e coragem a sua própria fraqueza. Tentando ocultar o quanto o seu corpo ansiava por se entregar ao prazer lânguido daquele abraço frio e que seu coração se negava a admitir. Desde tão jovem tendo que lidar com a escuridão de sua própria maldição, tendo que atender aos caprichos daquela que era tão voluntariosa e cheia de fases.

-Eu também não.

Quase que de maneira inconsciente, as mãos de Tonks começaram a deslizar pelo peito de Lupin, envolvendo-o num abraço mais forte e possessivo.

-Fica aqui comigo? – Lupin disse baixinho, deixando-se envolver mais ainda por aquele abraço, tão diferente daquele toque frio e pálido que lhe beijava de maneira atroz.

-Claro que sim, bobo!

Lupin sentiu um certo alívio quando notou Tonks sorrir contra o seu pescoço; o corpo relaxou um pouco mais e aquele estranho encanto que a outra exercia sobre ele parecia ter sido desfeito por um tempo.

Assim como ela, Tonks tinha o poder de fazê-lo perder a razão e deixar-se levar apenas pelos desejos. E seu corpo também respondia às sensações que ela lhe provocava e aos instintos passionais que o impediam de raciocinar. Tonks era sua amiga, sua companheira, sua amante... e ela poderia ter o controle sobre seu corpo, mas à Tonks ele entregara o seu coração.

Voltou-se para ela, dando as costas para a janela e ignorando a presença da outra.

Ela o teria em seu poder muito em breve, mas não naquela noite. Naquela noite ele seria apenas de Tonks.

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N/A: A idéia dessa fic surgiu meio que do nada, mas não vou ser hipócrita em dizer que não me inspirei em nada. Em partes, esse triangulo amoroso foi inspirado na fic “Quatro” da devilicious ( http://www.fanfiction.net/s/3069516/1/ ) e é uma das melhores Remus/Tonks que já li. Aliás, Obrigada devilicious pela opinião prévia! ;-)

E como ando meio carente de escrever esses dois, me arrisquei nisso. E em breve outra short deles deve vir por aí. =D

See ya!

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Comentários (1)

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