Fogo







“Profeta Diário

NOTÍCIA EXCLUSIVA

Após meses de investigações o júri bruxo concluiu que o prisioneiro nº 1788 de nome Draco Alexander Black Malfoy foi condenado injustamente, fazendo com que a sentença do réu seja revogada.
O Sr. Malfoy volta a integrar a comunidade bruxa como um cidadão de bem a partir desta data, visto que todas as acusações contra sua pessoa foram devidadmente esclarecidas por meio de um documento redigido por Virgínia Weasley, nossa repórter.”




Um sorriso brota na minha face ao ler a notícia do jornal daquele dia. Finalmente estava livre, e graças a ela. Ela que sempre foi o motivo das minhas noites de insônia desde os tempos de Hogwarts. Claro que ela nunca soube disso, antes por orgulho Malfoy, agora porque ainda não tive a chance de reencontra-la. Ando pelas ruas da pacata vila de Hogsmeade. Nada por aqui mudou, sinto-me preso no tempo, mas sei que apesar da sensação de normalidade o tempo por aqui passou devagar, deixando um rastro de destruição, dor e sofrimento à muitas famílias. Hoje é um dia importante, pois onze meses após a minha queda, a minha prisão, eu retornei. Se fosse outra época diria que me sinto como o próprio Merlin, hoje em dia tenho discernimento suficiente para saber que não passo nem perto de ser como Ele. O meu nome? Draco Malfoy.


Avisto um casal com um pequenino embrulho nos braços, eles passam por mim apreensivos. Eu compreendo, afinal com a ‘fama’ de matador e ‘Comensal da Morte’ muitas pessoas se tornam hostis com a minha presença. Continuo a minha caminhada sem prestar atenção aos olhares nada amigáveis que recebia no caminho daquelas vitrines. Tudo que me interessava era saber onde ela estava, se estava bem, se tinha se casado com outro (senti um nó na garganta agora), lembranças vieram a minha mente num turbilhão de sensações.


“_Acho que o Potter não gostou do seu cartão de visitas. – eu ria debochadamente e ela saiu correndo da enfermaria, chorando.”


Por Merlin, como eu era inseguro naquela época. Eu ri da minha inocência adolescente. O tempo começava a esfriar. Preciso encontra-la. Estou pronto para repetir aquelas palavras tão intensas que me escaparam dos lábios na nossa despedida: eu te amo.


O poder de dominar é tentador
Eu já não sinto nada
Sou todo torpor


Quando a guerra realmente dava indícios que não cessaria tão brevemente, quanto eu esperava. Resolvi escrever uma biografia, contar a minha real história à sociedade. Confesso que quando acordei naquela manhã nublada com este pensamento em mente me senti um idiota. Mas ao ler o jornal daquele dia e notar a assinatura familiar “Virgínia Weasley – Colunista do Profeta” tive uma reação inesperada: vi-me escrevendo um furtivo bilhete e entregando a minha coruja Menfis pedindo-lhe urgência na entrega. Estava ficando louco? Eu tinha marcado um encontro com a Weasley, a mulher que mais me odiava na face da Terra. Eu estava encrencado.


******


Marcamos um encontro num bar para conversarmos sobre a tal biografia. O detalhe era que esta biografia nem sequer existia, e agora eu via o quão encrencado eu estava. Se ela descobrisse isso de forma errada eu iria virar uma lesma, com toda certeza. Estava ansioso, apesar de não demonstrar esse sentimento em minha face. Bebia meu terceiro copo de Cerveja Amanteigada esperando que ela chegasse ao Caverna Negra. A sineta da porta tocou, finalmente. Era ela. Caminhava elegantemente na minha direção. Uma saia cinza até os joelhos, camisa branca tipo social, óculos de leitura, um charme. Os cabelos soltos completavam o visual. Só me dei conta de que parecia um retardado ao fitá-la desta maneira quando ela sentou-se na mesa.


_Fico feliz que tenha vindo. – falei agradavelmente. Ela ergueu a sobrancelha.

_Não por isso. Trouxe o material biográfico? – ela perguntou seca, desviando o olhar da minha camisa. Eu sorri de canto de boca, involuntariamente.

_Quer beber alguma coisa? –mudei de assunto. Acho que a irritei.

_Sempre responde uma pergunta com outra pergunta? – eu realmente tinha irritado-a ela estava vermelha e parecia furiosa. Encantadora.

_Só a de belas mulheres. –respondi, fazendo-a corar.

_Olha, eu realmente não tenho tempo para perder, então, me responda logo porque dentre tantos jornalistas você escolheu a mim para publicar uma matéria sobre você? – ela perguntou muito rápido fazendo-me arregalar levemente os olhos, surpreso.

_Você é a melhor. – eu lhe disse simples. Ela ficou muda. Enquanto eu pagava pela cerveja que bebericara enquanto esperava ela chegar. – vamos até a minha casa, existem ‘detalhes’ sobre essa biografia que você precisa saber – ela abriu a boca para protestar, mas fui mais rápido – e não tenha medo de mim, não encostaria em você. – disse tentando amenizar o pânico estampado na face dela.

_Porque não? - a pergunta escapou dos lábios dela sem que quisesse. Olhei-a divertido.

_Não gosto de ruivas. – eu menti pegando-a pela mão. Antes que eu fizesse alguma sandice que se passava na minha mente como beija-la ali mesmo. Segundos depois estávamos na minha casa.


“É tão certo quanto calor do fogo
É tão certo quanto calor do fogo
Eu já não tenho escolha
E participo do seu jogo, eu participo”




*******


_Weasley? – nem acredito na sorte que tive naquele momento. Ela estava ali, saindo de um mini-mercado de Hogsmeade, tentando equilibrar-se com alguns pacotes de comida. Olhou-me chocada. Certamente não esperava me ver tão cedo.


Ela ficou ali imóvel por alguns segundos que a mim pareceram eternos. Encarava-me como se eu fosse irreal, de outro planeta ou algo assim. Sentia-me despido sob aquele olhar chocolate. Ela estava prestes a chorar quando fez algo que me surpreendeu. Largando as sacolas no chão correu ao meu encontro e abraçou-me. Chorava como uma criança, mas de seus lábios um sorriso de felicidade escapada. Ela chorava de alegria.


_Que bom que voltou. – ela sussurrou por entre as lágrimas, debruçada sobre mim.

_Tinha dúvidas de que voltaria? – perguntei olhando-a nos olhos novamente.

_Nunca. – ela falou mirando-me como uma criança que pede um doce. Beijei-a com todo o fervor que guardara durante aqueles longos meses de angústia. – venha comigo. – ela me segurou e aparatamos num sobrado de aspecto antigo, no subúrbio de Londres.

_Esta é sua casa?

_Não é tão luxuosa quanto a sua, mas é o que temos. – ela falou encaminhando-se com as sacolas para a cozinha. Eu a segui.

_Temos? – perguntei sem entender.

_Somos dois agora. – ela falou sorrindo para mim. Não entendi. Ela estava me convidando para morar com ela? Era isso?

_Não entendo. – falei sincero. Ela ia responder-me quando um choro sentido veio do final do corredor.


Ela fez menção de sair da cozinha às pressas, mas olhou-me por alguns segundos e pareceu mudar de idéia. Respirou fundo algumas vezes e fitou-me com os olhos marejados e apreensivos. Eu gelei. Entendi o que ela queria dizer-me só com o olhar. Respirei fundo. Encarei o chão por alguns instantes, enquanto ela saia da cozinha em direção ao final do corredor. Pude ouvir uma porta abrindo e ela falando palavras de conforto a uma criança. Houve um estalo na minha cabeça. Ela tinha uma criança em casa. Seria minha? Ou ela estaria com outra pessoa? Ciúmes. Senti ciúmes com o pensamento de outro tê-la em seus braços. Percorri o mesmo caminho antes feito por ela. Entrei no quarto com calma. Queria explicações.


_Ele já vai dormir novamente. – ela me disse enquanto colocava um bebê de aparentemente um ano para dormir.

_É seu filho? – perguntei como um grande idiota. Era lógico que era filho dela, se estava ali. Senti-me perdido por um momento. Ela olhou-me com ternura.

_É nosso. – ela falou por fim. Senti uma mistura de pânico com alegria. Nunca planejei ter filhos. Tá certo que eu nunca tinha planejado me apaixonar também, ainda mais por ela. Mas ser pai não estava nos meus planos, definitivamente. – temos muito que conversar. Vamos até a sala.


“Você sempre surpreende
E eu tento entender
Você nunca se arrepende
Você gosta e sente até prazer”



_Sei que parece estranho para você, mas eu também fiquei surpresa quando soube. – ela falou sentando-se no sofá de frente para mim.

_Quando? Como? Foi uma única vez. – eu expressei toda a minha dúvida nesta frase. Ela olhou para baixo. Estava preparada para aquela conversa?

_Foi o suficiente. – ela ergueu os olhos marejados até os meus. Senti o coração apertar. – eu não queria, não fiz por mal. Eu nem sequer quis me apaixonar por você, eu...


Não a deixei terminar a frase. Ela estava em prantos. Soluçava como uma garotinha indefesa e assustada. Não sabia ao certo como reagir, então somente abracei-a forte, permitindo que ela chorasse ainda mais. Ficamos assim por longos minutos até que ela se acalmou, cessando as lágrimas. Encarou-me com os olhos vermelhos ainda úmidos.


_Eu entendo se você não quiser esta criança, mas quero que saiba que ele é seu filho. E você aceita-lo ou não, não muda nada.- ela falava desconexamente. Fiz sinal para ela se calar.

_Quero vê-lo. – foi a única coisa que falei. Ela prontamente levantou-se, minutos depois trouxe o menino até mim. Assustei-me com a semelhança. Os olhos dele eram idênticos aos meus. Eles eram minha responsabilidade agora. – vamos para a Mansão. Vocês não podem ficar aqui. – falei olhando em volta. Notei uma relutância dela em concordar comigo, mas depois de conversarmos ela cedeu.


***********


_Gosta de música? – perguntei.

_Sim, gosto sim. – ela estava maravilhada, assim como eu, por tê-la em minha casa por tanto tempo. A minha biografia já estava esquecida.

_Sente-se comigo. – eu apontei para o piano de cauda negro no centro da sala. Andamos até o instrumento imponente e ela sentou-se lá, ao meu lado. Meus dedos longos e alvos começaram a tocar uma melodia lenta, suave, apaixonante. Ela parecia apaixonar-se por aquele som.



"Não consigo dizer se é bom ou mal
Assim como o ar me parece vital
Onde quer que eu vá e o que quer que eu faça
Sem você não tem graça"



*********


Hoje Edward, meu filho com a Virgínia, deu seus primeiros passos. Ele ergueu-se sozinho, enquanto nós discutíamos por algum motivo tolo pela centésima vez desde que casamos. Olhamos para ele maravilhados, o motivo da briga já esquecido. Ele caminhava tortamente, com dificuldade em direção ao brinquedo que caíra no oposto da saleta. Demonstrava perseverança toda vez que caía antes de chegar ao objeto que tanto desejava. Ergueu-se umas três vezes, e nós dois na expectativa de ver a reação dele quando conquistasse o pequeno dragão de pelúcia. E ele conseguiu, pegou o brinquedo que tanto o fez caminhar, era perseverante como uma Malfoy deveria ser. Estava orgulhoso do pequenino quando repentinamente ele jogou o dragão de pelúcia longe, com ar de irritação. Impaciente, como os Weasley.

...

_Porque choravas ontem à noite? – perguntei a ela durante o desjejum no dia seguinte.

_Tempestades. Tenho medo.- os olhos dela refletiam a verdade.


“Veja os outros
Todos estão tentando
E é tão certo, quanto o calor do fogo
Eu já não tenho escolha
Eu participo do seu jogo”



*********

Ainda me lembro do dia em que aconteceu a minha prisão. Do dia em que roubaram a visão da minha bela ruiva dos meus olhos. Eles me levaram, sem me dar tempo para despedir-me decentemente, tive medo. Medo que ela me esquecesse. Medo de não vê-la outra vez. Medo de ser fraco e não resistir à solidão de Azkaban. Medo dela se envolver com outro homem e nunca mais ser minha.

...

_Não podem leva-lo assim, sem mais nem menos. – ela tentou impedir que me levassem. Tive certeza dos meus sentimentos naquela hora.

_Eles podem Virgínia. – falei terminando de analisar o tal documento. Ela olhou-me com desespero. havia chegado o momento da despedida.

“É tão certo quanto calor do fogo
É tão certo quanto calor do fogo

Eu já não tenho escolha
Eu participo do seu jogo"


...


Hoje percebo o quanto senti a falta da Virgínia durante o tempo em que estive preso. Nenhuma carta. Nenhuma visita. Eu não tinha direito a nada naquela época. Sentia-me isolado do mundo. Abandonado por todos, mas o que doía mais era saber que estava sem ela. Sem o olhar irritadiço dela. Sem o sorriso de deboche, que ela aprendeu comigo. Sem o calor do corpo dela. Aquela tortura estava quase me matando. Quase. O amor que eu sentia por ela era maior. Muito maior. Tão grande que eu nem sabia que conseguiria suporta-lo ou senti-lo corretamente. Tive receio dela não me querer mais quando saí da prisão. Graças a Merlin isso não aconteceu e eu pude tê-la novamente em meus braços. Conheci o meu filho, e por mil trovões, ele é completamente igual a mim quando criança. Loiro, lindo e temperamental. Além de ciumento, assim como eu era com minha mãe, Narcisa.

Hoje em dia posso afirmar que minha família me completa. Tenho a mulher que sempre fui apaixonado, desde a adolescência, ao meu lado. Ela me faz feliz, cuida de mim, mesmo com todo meu mal-humor. E o Edward, ah, meu filho foi o melhor presente que a ruiva poderia me dar. É por isso que eu agradeço-a todos os dias por ter feito a minha biografia e me livrado daquele martírio de onze meses. Agradeço-a por ser a única mulher que realmente fez e faz parte da minha história.



Draco Malfoy. 10 de Outubro de 1999.





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N/A: Oieeeeeeeeeeeeee... gostaram da segunda parte??? Tem algo de errado? Se tiver por favor me avisem, tá...

Bom, neste capítulo teve:
Flashbacks!
Spoiler de HP.
Música: Fogo, Capital Inicial. *sugestão: leiam a fic escutando a música*

Comentem para me deixar feliz, tá galera!!!!
Dançando com o Inimigo será ATUALIZADA TAMBÉM!! Em breve.

COMENTEM E GANHEM UM PEDAÇINHO NO CÉU... ^______^'

Bjokinhas...

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