O Sol está Nascendo!



Ela acordou com um grito e sentou-se violentamente na cama. Todas as meninas no quatro estavam em volta dela.
- Mione, você está bem? – perguntou Gina, sentando-se na ponta da cama e contemplando o rosto suado e corado de sua amiga.
Hermione meneou a cabeça, ofegante, mas sem responde nada.
- Está melhor agora? O que foi que você sonhou? – insistiu Gina.
A setimanista grifinória olhou sua amiga e as que estavam em volta. Não diria. Era algo absurdo, horrível...
- Ahn... – Hermione ia começar a falar, mas calou-se. Não queria falar. Não queria pensar. Não queria lembrar.
A professora McGonagall – que havia sido chamada ali por uma das monitoras do sexto ano – entrou em trajes de dormir. Tinha um semblante preocupado.
- O que foi? Você está bem, srta. Granger?
As meninas afastaram-se, para dar espaço para Minerva passar e se aproximar da aluna mais brilhante que Hogwarts já tivera.
- Sim... estou... bem – disse Hermione, sem acreditar no que tinha dito.
- Você está tão pálida – lamentou Minerva. – Venha, vamos ver madame Pomfrey.
- N-não precisa, professora – disse a garota, um pouco mais hesitante do que desejaria.
- Ah, isso é uma ordem, você não parece nada bem – disse a professora de forma enérgica. – Venha agora. E minhas queridas, podem voltar a dormir, porque ainda são cinco horas da manhã.
Hermione, a contragosto, levantou-se, pôs os chinelos e seguiu a professora. Assim que saíram do salão comunal, passaram por vários corredores escuros – e um pouco sombrios, àquela hora.
- Com o que foi que você sonhou? – perguntou Minerva inesperadamente, quebrando o sombrio silêncio que se fazia na penumbra dos corredores vazios.
Hermione olhou-a espantada, e chegou a parar.
- O que?
- Com o que foi que você sonhou? – repetiu Minerva.
Hermione desviou o olhar, vacilante.
- Você não tem dormido bem; suas amigas chegaram a comentar isso comigo. Sempre se debatendo, chorando, e às vezes gritando. Acordou algumas vezes. Ontem mesmo sua amiga Weasley veio falar comigo e eu pedi a ela que mandasse alguém me acordar se por acaso você tivesse as mesmas reações outra vez, durante o sonho. E disse que não importava que horas fossem. Agora, quero saber com o que você tem sonhado.
Hermione olhou para o chão, envergonhada.
- São... são medos infantis e... Estou tão preocupada com os últimos acontecimentos... Todo este negócio de o professor Dumbledore estar protegido por uma magia antiga e não ter morrido... E do Snape estar mesmo do lado dos comensais da morte... Toda essa depressão do professor Dumbledore, por ter errado tão feio no julgamento de alguém... Ah, professora, me desculpe incomodar a senhora tão tarde com isso, mas... – lágrimas foram projetadas nos olhos da garota. – estou com medo pelo Harry e pelo Rony... Eu gostaria de poder ir com eles... Gostaria de não estar de mãos amarradas.
- Minha criança... – começou Minerva, enxugando as lágrimas no rosto da menina. – Não estou irritada. Vamos para a minha sala. Vamos tomar um chá e conversar. Você é uma aluna brilhante e, independentemente disso, é uma aluna. Venha.
As duas foram andando pelos corredores em silêncio. Minerva ouvia o choro baixinho que Hermione tentava controlar. Sabia que ela era forte, mas coisas demais estavam acontecendo ao mesmo tempo para que ela pudesse suportar. Snape matara os pais da moça, sem nenhuma piedade, com o Avada Kedavra. Não havia dúvidas quanto a isso.
Depois, Neville e sua avó haviam sido mortos por Bellatrix Lestrange durante uma visita ao Hospital St. Mungus. Além disso, Fleur, Gui, Carlinhos, Percy e Arthur e Molly Weasley haviam sido mortos por Lúcio Malfoy e Draco.
Harry e Rony estavam desaparecidos, procurando por comensais, longe das ordens de Dumbledore. Longe da proteção de Dumbledore. Estava dando tudo sublimemente errado para a Ordem e tudo ia muito bem para o lado de Voldemort. O Ministério estava prestes a cair. Já quase não havia aurores. Os que sobraram eram membros da Ordem. Fora isso, o único lugar no mundo mágico seguro para as crianças era Hogwarts. Nenhuma outra escola, nenhum outro porão, nenhuma outra construção ou abrigo, estava tão seguro quanto Hogwarts.
Apesar de andar terrivelmente abatido, Dumbledore achou que os professores precisariam ter paz para poder ensinar a seus alunos como se defender. Isso, é claro, vinha acompanhado de um terrível isolamento em relação ao mundo. Os alunos e professores mal podiam sair, e tudo o que sabiam se restringia às poucas corujas que chegavam de manhã, de alguém corajoso o suficiente para enviá-las. O único que tinha um contato constante com o mundo exterior ao da escola era o diretor.
Hermione enxugou as lágrimas e respirou fundo. De repente, notou que não estavam indo para a sala de McGonagall, mas para a sala do próprio diretor.
- Professora, por que estamos indo para...?
- Porque decidi que ele merece saber.
Hermione queria gritar de ódio. Como Minerva levaria alguém, em tão péssimo estado de espírito para ver o diretor? Para deixá-lo ainda mais abatido?
- Professora... – murmurou Hermione, tentando manter o tom de respeito à diretora de sua casa.
Mas Minerva caminhava decididamente. Hermione chegou a ter que apertar o passo para acompanhá-la. Em fim, chegaram à frente da sala. Minerva disse a senha e as duas puderam passar. Minerva bateu à porta.
Inútil, pensou Hermione. Deve estar dormindo.
Mas a resposta veio mais rápida do que ela esperava. O próprio diretor abriu a porta. Trazia em seu outrora calmo olhar um abatimento e uma tristeza inconcebíveis. Ninguém nunca imaginaria aquilo. Nunca imaginaram que Alvo Dumbledore pudesse ser vencido. E fora vencido por seu amor. O estranho amor paterno e a confiança que dedicara a Severo Snape.
- Ah – disse ele, fazendo um esforço para sorrir, em vão.
Ele abriu a porta para que as duas pudessem entrar. E foi sentar-se numa poltrona que ficava a um canto que Hermione estava certa de nunca ter visto antes.
- Sentem-se – disse o velho diretor, indicando duas poltronas à frente da sua.
Elas aceitaram sem hesitar.
- Então? – perguntou Dumbledore. – Em que este velho moribundo pode ajudar vocês a uma hora dessas?
Hermione sentiu uma pontada forte no coração. Poderia ela estar sentindo pena do grandioso Alvo Dumbledore? Estava. A força e a calma dele haviam desaparecido. Aquele ar brincalhão de todas as horas parecia ter sido extraído de sua alma.
- A nossa aluna brilhante anda tendo pesadelos. Não tem dormido bem, não tem se concentrado nas aulas... – começou Minerva.
Dumbledore olhou a moça, que encolheu os ombros.
- Me desculpe, diretor, eu não queria vir atormentá-lo com problemas tão pequenos quanto os meus.
- Pequenos? – perguntou Dumbledore. – Seus pais morreram daquele modo há duas semanas e você acha que eu consideraria seus problemas pequenos? Não, Srta. Granger, apesar de estar morrendo, ainda sou Alvo Dumbledore...
Hermione sentiu outra pontada forte no coração. Estava prestes a chorar.
- Claro que ser traído por aquele que sempre considerei um filho não estava nos meus planos – disse Dumbledore. Parecia estar começado a falar para si mesmo. – Deve ter um ponto... alguma coisa em que eu errei... Algo que não vi.
Minerva sacudiu a cabeça. Desde 8 meses antes, quando acontecera a terrível tragédia na torre, em que Snape mostrara de que lado realmente estava, Dumbledore repetia isso. Parecia ir ao mundo das respostas tentar encontrar uma para sua pergunta, mas não pôde. Ele não achava. Estava se entregando a pequenos surtos, em que passava horas pensando, lembrando, repassando cada momento em sua cabeça. Mas não havia nada.
- Professor – murmurou Hermione, tirando uma força ela não sabia de onde. Ela levantou-se, olhando para a fina linha iluminada que surgia no horizonte, e que ela podia ver através da janela.
Dumbledore acordou de seu devaneio. Ele nunca acordava quando o chamavam, mas o tom diferente com que Hermione o chamara o fez acordar. Minerva olhou para a sua aluna, esperando para ver o que ela iria dizer.
- O que foi, srta. Granger?
Hermione apontou para o que estava vendo pela janela. Dumbledore olhou para lá atentamente e depois olhou para ela.
- Viu? – perguntou a moça.
- O que? – perguntou Dumbledore.
- É mesmo; o que? – ajuntou Minerva.
Hermione sentiu um desapontamento. Esperava que Dumbledore visse, mas ele não via mais. Estava tão cego pelo abatimento que não via mais.
- O sol está nascendo – disse Hermione, com um sorriso brotando de seus lábios. – Mais um dia está chegando.
Dumbledore e McGonagall olharam para a aluna curiosos, esperando o que mais ela iria dizer, mas ela não disse mais nada.
Enquanto lágrimas surgiam dos olhos dela, ela, tal como um anjo de luz, aproximou-se da janela. Afastou as velhas cortinas que impunham um semi-obstáculo para a visão e, com um sorriso triunfante, apontou de novo para a direção do horizonte.
- Olhem! Olhe, professor, não me decepcione! – exclamou ela. – Sabe o que é aquilo?
Dumbledore olhava para a garota com uma espécie de brilho nos olhos, um certo interesse. Minerva olhava para a garota e para o diretor, um pouco espantada.
- Aquilo é o sol! – gritou a garota; lágrimas grossas começando a escorrer por sua delicada face. – Significa que mais um dia vai começar! Enquanto isso acontecer, enquanto as flores desabrocharem lá fora, enquanto houver luz e amor, o amor que o senhor sempre pregou, haverá esperança! Eu imploro, não deixe minha última esperança morrer, senhor, não entregue os pontos, não deixe de ser Alvo Dumbledore! Você está deixando de ser ele, não viu o sol, não viu a vida!
Hermione enxugou as lágrimas, respirou fundo e disse:
- Eu perdi os meus sustentáculos, perdi aqueles que me deram a minha força e a minha vida, e não deixei de ver o sol!
Ela arrancou as cortinas. Dava para ver o quanto o sol nascia rápido da bela visão que o diretor tinha em sua sala.
- Não podemos abandonar os poucos que ainda lutam por nós! Não podemos desistir, senhor! O que será da Ordem sem o senhor, sem a sua vida? E não estou falando da vida no sentido oposto à morte, e sim no sentido oposto a desesperança! Onde está o amor? Para onde ele foi? Ou será que ele se escondeu? Harry e Rony são a minha família, e estão lutando. Eu sei que também sou a família deles, e não estou lá para eles. Acho que havia uma razão para eu ficar. Havia uma razão para me deixarem aqui e saírem sem ninguém saber. Eu tinha que ficar aqui e tentar mostrar ao nosso grande líder que não podemos deixar que Voldemort destrua toda a vida! Não podemos deixar que a morte vença!
Aquele discurso emocionado não combinaria com Hermione em nenhuma outra situação que não aquela em que estavam. Nos olhos do diretor figurou-se uma espécie de brilho, uma espécie de calor que não se via havia muito tempo. Hermione quase chorou de alegria quando ele a olhou por cima daqueles oclinhos meia-lua e perguntou:
- Mas o que estamos esperando, srta. Granger?
Minerva permitiu-se sorrir. De alguma forma, sabia que faria bem tanto a Hermione quanto a Dumbledore estarem juntos naquele momento. Agora ela via que estava certa. O sol nascera numa resplandecente manhã de primavera. As flores se abriam com os primeiros raios de sol.
- De repente senti algo... – murmurou a garota. – Uma vontade imensa de desafiar o Lorde do Nada a destruir tudo o que está aqui... uma vontade de mostrar a ele que...
Apesar de você amanhã há de ser outro dia...

‘Inda pago pra ver o jardim florescer, qual você não queria...

Ela abriu a porta da sala do diretor e disse:
- Senhor, sei que estamos em período de aula, mas não quero nada hoje. Vou matar todas as aulas. Quero pensar, quero chorar, quero gritar, quero correr, quero sonhar... Hoje não vou fazer nada. Depois que eu mandar para fora tudo que está preso dentro do meu peito, acho que conseguirei voltar a ser a fria Hermione Jane Granger.
Ao dizer isso, ela saiu.
E mal sabia ela o quanto tudo ia mudar por causa daquele pequeno atrevimento.
Ela correu o mais que pôde para fora do castelo. Correu. Muito. Ao chegar lá, continuou correndo, sentindo a brisa da manhã entrar em seus pulmões.
Meus pais, amo muito vocês... Vocês merecem saber que a filha de vocês não vai morrer por sua causa. Não vai nunca desistir, como vocês me ensinaram... A sua filha vai lutar até o fim, sendo ele o fim da guerra ou o fim dela!
Hermione estava decidida.
Fez nascer roseiras, e várias outras flores. Estava revoltada e sabia que, para desafiar o Lorde das Trevas, nada melhor que um pouco de luz, que um pouco de vida.
Ela gritou:
- Você é capaz de me achar? É capaz de chegar perto? É capaz de me ver? É capaz de me pegar? É capaz de impedir o sol de nascer? Ou de impedir os pássaros de cantar?
Sua voz ecoou no silêncio da manhã. E o eco foi a resposta. Era primavera. Os pássaros cantavam. O sol já estava quase inteiro aparecendo no horizonte...
Uma revoada de pássaros saiu de uma árvore perto dali. Logo Hagrid apareceu.
- Mione, você tá bem? – ele perguntou.
- Estou – ela disse. – Não vou dar nenhuma alegria àquele maldito cretino. Não vou dar a ele a alegria de me vencer. De nos vencer.
- Ele já venceu, Hermione – disse Hagrid, reduzindo muito o tom de sua voz. – Acabo de saber que ele tomou de vez o Ministério ontem à noite... Snape estava entre eles, do lado direito de Voldemort...
Hermione parou para pensar nas implicações daquilo para suas novas resoluções. Não implicava em nada. O Ministério era frouxo, estúpido, completamente desnecessário.
- Sabe, Hagrid, Rony costumava dizer que o jogo só acaba quando não há mais um dos reis na partida...
- Bom, o líder da Ordem não está mais aí, não é? – perguntou Hagrid, num tom amargurado.
Ouviram ao longe o canto da fênix. Não era um choro, mas um canto.
- Ah, não está não – disse Hermione, abrindo um sorriso quase radiante. – Ele está aí sim, e pronto para liderar seus fiéis.
- E como pretende vencer o exército de comensais que Voldemort conseguiu com sua ascensão? – perguntou Hagrid. Não era o mesmo Hagrid vivo de antes.
- E como é que se vence as trevas, meu querido Hagrid? – perguntou ela. – Com luz!
Hagrid olhou-a. Ela estava inspirando vida.
- O que é que você está pensando, Mione? – ele perguntou, desconfiado.
- Ah, só posso adiantar que será grande. Vamos ver com quantas trouxas se faz uma bruxa de verdade!
- Conhecendo você, com uma só – disse Hagrid, desistindo de toda a sua amargura e abrindo um sorriso. – Venha, vamos tomar um chocolate quente. Está cedo ainda para o café da manhã.
Hermione sorriu e aceitou. Foram andando pela orla da floresta até a cabana dele. Entraram. Hagrid serviu o chocolate em duas grandes canecas e os dois sentaram-se em uma grande poltrona.
- Agora, me diga, Mione: em que você está pensando? – ele perguntou curioso.
- Acho que você é a pessoa certa para me ajudar, Hagrid... – ela disse, com um sorriso enigmático. – É loucura, mas pretendo copiar uma historinha trouxa... Uma fábula.
- Qual fábula? – perguntou Hagrid, estranhando ainda mais aquilo.
- Eu pretendo convidar o rei inimigo para uma festa em nosso reino – ela disse, adequando a história trouxa à situação atual com estranha lucidez.


BOM, PRIMEIRO CAPÍTULO

NUNCA FUI DE PEDIR REWIES, MAS MINHAS AMIGAS E FIÉIS LEITORAS... DÊEM UM OI LÁ MEU E-MAIL

BJOSSSSSS

ANNINHA SNAPE

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.