CAPÍTULO 2



2



“ Estou dura mas feliz
Sou pobre mas gentil
(...)
Sou sensata mas subjugada
Estou perdida mas tenho esperança, querido
(...)
E a que tudo isto se resume?
É que tudo ficará bem, bem, bem
Porque uma de minhas mãos esta no bolso
E a outra está dando um aperto de mão
(...)”
(Alanis Morissette – One hand in my pocket)



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Na manhã seguinte acordei cheia de um pavor doentio. Sinto-me exatamente como uma criança que não quer ir à escola. Ouço a lareira estalar e talvez seja alguém querendo falar comigo. Antes de chegar à sala, ouço a voz de Lolita me chamando branda.

-Bom dia! – diz ela num tom alegre e agudo.
-Bom dia para você.
-Ah, que isso, Gina?
-Fora toda a humilhação de ontem no saguão da TeenMagic?
-Anda, vai se arrumar que eu vou aparatar aí!

Simplesmente dou de ombros e arrasto minhas pantufas leão até meu quarto. Pego o primeiro jeans que vejo e visto. Uma bata de seda rosa chá o acompanha.

-Eu não posso. – digo num gemido fraco – Aquele pessoal é... assustador!
-Pode sim – insiste Lolita, fechando os botões do meu casaco – vai ficar tudo bem. É só levantar o queixo e seguir em frente. E eu vou estar lá com você, garota!
-E se eles forem horrorosos comigo?
-Eles não vão ser horrorosos com você. São nossos colegas de trabalho. Mas... qualquer coisa eu quebro a cara deles, um por um. – fala apertando o punho fechado contra a palma da outra mão. – Vamos aparatar logo?
-Me deixa ficar? Eu vou ser uma menina boazinha. – digo piscando os olhos repetidamente.
-Eu disse que esses seus olhões são bem persuasivos, mas hoje você tem que ir. Se esqueceu que hoje chega um chefe novo?
-Então vamos logo, antes que eu fuja. – digo com uma voz débil. Na verdade eu me sinto totalmente débil.

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Lolita vai à frente e já está abrindo a porta de vidro do prédio. Hesito por bastante tempo.

-Vamos Gina, eu vou estar do seu lado. – diz apertando meu ombro me confortando um pouco. É, talvez eles já tenham esquecido um pouco.

Mas a primeira coisa que ouço quando Lolita entra batendo seus saltos altos no mármore é “...trepando com o Sr. Buckman o tempo todo!”
Um grupo de estagiários passa por cima do mezanino superior e ouço alguém dizer “...sentada na mesa com uma cinta liga vermelha.” Peraí, isso já é calúnia! “Imaginem eu com uma ruiva daquelas...” ouço alguém perto da recepção dizer e enrubesço.
Certo, eles não esqueceram, e meu otimismo se esvai bueiro abaixo. Percebo a mão quente e delicada de Lola escorregar entre a alça de sua bolsa tiracolo e enlaçar a minha. Olho para ela e sei que estou com os olhos marejados e que esse sorriso foi ridiculamente trêmulo.
O saguão continua uma confusão hoje. A mesma baderna como ontem, ou se não pior. Uma aglomeração fora do normal está formada junto ao mural de recados. Lola olha para lá aflita e depois para mim.

-Vamos ver o que é? – pergunta por fim

Apenas movo a cabeça em afirmação. É verdade que tivemos que esperar algumas pessoas lerem o aviso para conseguirmos ao menos ver de qual cor era o papel.
Ah! Acho que é o comunicado oficial do Sr. Buckman.







TeenMagic

A revista especialista em você, adolescente moderna e antenada


Presidência
TeenMagic
93 Road 27th Street
Londres, UK 008 56





MEMORANDO

Para: Todos os funcionários
De: Thomas Buckman, presidente
Assunto: Exoneração


Comunicado IMPORTANTE

Eu, como então presidente da empresa, peço encarecidamente, que todos os funcionários possam comparecer no auditório particular da empresa ( 4° andar ) para um aviso oficial de exoneração. Provavelmente eu poderia adiantar de antemão o assunto puramente brutal, mas depois de tantos anos trabalhando comigo, acho que vocês provavelmente entendam que eu prefiro tratar da coisa do jeito mais tradicional possível.

Horário da reunião: 11h00min
Local: Auditório particular da empresa, quarto andar

c/c: Thomas Buckman, presidente


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E é claro que depois desse aviso o expediente pela manhã não ocorreu normalmente (se é que ocorreu). Às dez horas já tinha gente subindo, com a desculpa de não se atrasar e pegar bons lugares. É verdade que o auditório é pequeno e que algumas pessoas vão ficar em pé, mas dez horas?
Alguns tentavam espremer de mim alguma informação.
E tenho que confessar que já estou nervosa com todas essas perguntas idiotas. E sem saco.
Dez e meia Lolita subiu e caminhamos para o auditório com dificuldade. Quase todas as cadeiras estavam ocupadas, mas eu e Lola conseguimos achar duas cadeiras juntas, e na terceira fileira do palco.
Estou começando a ficar ansiosa e todo mundo já sabe que eu sou realmente curiosa. Eu não sei por que, mas estou com um mal pressentimento. O que Lola está falando mesmo?

-...e já são 10h56min.
-Eles não devem demorar. – digo sem muita certeza. Ah meu Deus! Me ocorreu uma idéia que... Ah, não! - Será que a próxima chefe será uma mulher?
-Ih, é verdade, Gina! Caso seja, você me devolve o Guy e pode ficar com ela.

Mostro-lhe língua e vejo que ela não entendeu o que eu queria dizer. Eu detesto trabalhar com mulher. Elas se acham superiores e... Não sei, eu não gosto. Ah, por favor, por favor, que não seja uma mulher... Se for uma mulher que ela seja pelo menos legal.
Ah, o Sr. Buckman está subindo! O burburinho se cessa num piscar de olhos. Por que eu não estou respirando direito? Vamos lá, Gina, você não se esqueceu como se respira não é? É só aspirar, de preferência com força e soltar o ar devagar, para acalmar.

-Bom dia! – diz com a voz ampliada. Sempre esse jeitão de simpático. Mas trabalhem com ele e vejam como é a simpatia em pessoa. – Queridos companheiros de trabalho, como acho que a maioria já está sabendo, a nossa querida TeenMagic está passando por uma crise. Uma leve crise. É claro que conto com a ajuda de vocês para me ajudar a melhorar o quadro de nossa empresa. Bem, depois de testarmos várias alternativas, acabou sobrando uma apenas, que tivemos de executar. É, a venda de ações. E bem, felizmente nossas ações foram parar em ótimas mãos. Como quem administra a empresa é o acionista majoritário, e a família Buckman infelizmente perdeu esse posto, devo dizer que agora vocês contarão com a presença de um novo presidente. Espero que ele possa nos ajudar a contornar nossa atual situação e tenho certeza de que entrego essa empresa em mãos realmente competentes. Bom, chega de falatório e vamos ver o que o nosso novo presidente tem a nos dizer. Com vocês... – ele faz uma pausa ansiosa, onde ofego de curiosidade - Draco Malfoy.

Ãhn? Eu, eu, eu... Eu ouvi direito? Agora eu realmente estou sentindo falta de ar.
Uma salva de palmas bem agitada ecoa no salão enquanto o Malfoy entra gingando sobre seus sapatos de grife. Quando vê que algumas pessoas até se levantaram, um sorriso enviesado corta seu rosto. Não tenho nem a reação de juntar as palmas das minhas mãos para acompanhá-los.
Ah meu Merlin! É ele mesmo, aquele cabelo platinado, aquele olhar superior e aquele sorriso de desdém. MEU NOVO CHEFE É UM MALFOY!

-O Malfoy! – digo com a voz aguda. Lolita olha para mim sorrindo e depois o sorriso esmaece.
-Gina? Gina, você tá bem?
-Não. – digo olhando ainda para ele. Malfoy afasta o cabelo do olho com um leve balançar de cabeça e começa a falar. Mas eu não ouço. Fico só olhando para aquela figura desprezível que agora vai... Oh, não! Ele vai mandar em mim!
-Você quer água? Eu vou pegar. – diz fazendo menção de levantar.
-Não Lola, deixa...É só que... Bem, é o Malfoy!
-É! - diz animada – Ei, eu conheço esse rostinho de algum lugar... Ei, ele já saiu aqui na revista entre os dez bruxos mais bonitos do Reino Unido!

Apenas gemo, frustrada.

-Lola, não era bem isso que eu queria dizer. Ele... ele é um, era um... um comensal. Fora que eu estudava com ele em Hogwarts.
-Mas eu sei muito bem que ele deu muitas informações para o Ministério quando veio para o nosso lado. Ele se redimiu, eu acho. Mas então vocês se conhecem?
-Não! Quer dizer, sim, mas a gente se odiava. Quer dizer, se odeia.
-Como se odeia? Vocês ainda mantêm contato?
-Não, não exatamente, alguns esbarrões, com algum membro Weasley. Ele é um arrogante, acha que só por que é rico, pode dizer o que bem entender. Um esnobe, sujo, desprezível! Argh!
-Nossa! Mas esses bonitinhos são os piores mesmo. Eu já passei por uma coisa parecida na escola, por ser trouxa.
-Ele também é um idiota quanto aos trouxas. Nos chama de traidores do sangue, por que somos uma família sangue puro que gosta de trouxas.
-Ih, esse daí então já caiu no meu conceito... – diz sussurrando.

Uma outra salva de palmas nos desperta e nos damos conta de que Malfoy acabou seu discurso, que com certeza foi patético.
Algumas pessoas estão se levantando e então acho que ele nos liberou para o almoço.

-Ainda quer ir na Cantina Mexicana da Dona Mercedes? – pergunto para Lola enquanto ela termina de passar seu batom.
-Claro! – diz sorrindo amplamente.

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Quando voltamos da Cantina, com alguns doces nos bolsos (por que a Dona Mercedes é muito amável. Ela me lembra alguém, mas não sei muito bem quem é... Até nos recebeu com um abraço e nos chama de queridas.), o saguão está praticamente vazio, tem algumas pessoas, é claro, mas elas estão circulando, apenas voltando do almoço. Só está na recepção quem deveria, ah e Robert, o segurança, na porta.

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Ah meu Merlin! Estou aqui na presidência sozinha. O que eu faço? Bato na porta? Será que tem alguém aí? Ah, e agora? Certo, eu vou... É, bater na porta é a única saída. Ou quem sabe eu deva apenas me sentar como se tudo estivesse normal...
Oh, não!
Lá vem o Sr. Buckman acompanhado do Malfoy de um outro cara. E... Eles estão vindo na minha direção. O Malfoy vai me despedir, não é? Bem na frente do Sr. Buckman e desse outro cara. É só olhar pro meu cabelo vermelho para sacar...

-Bom, Sr. Malfoy, essa é a senhorita Virgínia Weasley, minha, e acho que agora sua, secretária. – diz o senhor Buckman enquanto eu permaneço sentada com cara de pateta. Malfoy me avalia de cima para baixo e enrubesço. Ele aperta os olhos em minha direção e se aproxima o quanto pode de mim (até por que tem uma mesa no meio).
-Weasley? – pergunta levantando uma sobrancelha, depois de um momento constrangedor de silêncio.
-Sim, Malfoy, a Weasley.
-Senhor, Malfoy você quis dizer. – diz o senhor Buckman severo.
-Sim, é claro... – digo sem graça.
-Bom, acho que a senhorita adoraria acompanhá-lo para que possa conhecer melhor a empresa. Não é? – pergunta se virando para mim com um olhar vidrado.
-Ahn... É.

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Por que o Malfoy não falou que não queria que eu, logo eu, apresentasse a empresa pra ele. Por que ele não disse que preferiria que o próprio Sr. Buckman fosse. E eu tenho a resposta na ponta da língua. Por que ele sabe o quão ruim é a presença dele pra mim. Como ele sabe que ele me incomoda, ótimo, vamos perturbar a Weasley.
Ah, eu não agüento ver todo mundo se transformar quando ele entra no escritório e o pior de tudo, puxar o saco dele. Gente, acorda! Ele é um crápula. E daí que ele paga o salário de vocês, você acha que só por que elogiou o terno dele, ele vai promovê-lo? Sinto muito, mas ledo engano seu. E ainda tem aqueles comentários madosos... “Mais um chefe, Gina?” disse Margot do RH. Ridícula! Esse pessoal não tem o mínimo de respeito?
Fora esse guarda-costas estúpido dele. Ou seja lá o que esse cara for, por que ele nem é tão grande assim para ser um guarda-costas. Pra falar a verdade ele é quase da minha altura.

-Weasley, esse aqui é Francis Taylor , meu assistente.
-Desculpa Mal... Sr. Malfoy, mas acho que você não precisa de um assistente. Eu pude perfeitamente dar conta do meu trabalh...
-Weasley, quem você pensa que é para falar do que eu preciso ou não? – diz calma e levemente - E, você deu conta perfeitamente, o que eu duvido muito, do seu trabalho por que o Buckman é um idiota que não sabe administrar nem a própria gaveta de cuecas.
-Então, se ele é seu assistente...
-Ele é meu assistente pessoal, o que é uma coisa totalmente diferente de você.
-Certo... – disse bufando. – Bem, senhor Malfoy, - ah, detesto chamá-lo de senhor Malfoy, parece que ele sorri satisfeito por estar num cargo maior que o meu - este é o departamento de Marketing.

Eu não vou agüentar por muito tempo esse idiota me tratando mal. Eu juro que eu peço demissão e arranjo outro emprego, afinal eu já estou aqui a três anos. Mas pelo que estou vendo, não vou agüentar mais um ano aqui. Ah, esse Malfoy me dá nos nervos!
Ah, a Lola, está bem ali, acenando de dentro do seu cubículo. Malfoy a cumprimenta, sem sorrir, claro, e depois ela olha para mim, sua boca está se mexendo mas não está saindo nenhum som. Ela diz “Ele é mais bonito de perto.” E depois se abana.
Eu, do mesmo modo que ela, tento dizer com a boca, sem emitir qualquer barulho “Mas ele é um imbecil.”. Ela olha para as costas dele a uns dois cubículos do dela e depois se abana mais ainda. “MEU DEUS! Olha a bunda dele!” diz apontando Malfoy com o polegar.
É lógico que eu não vou olhar pra bunda do Malfoy. Meu Merlin, o Malfoy! Até parece que eu posso sequer supor a idéia de olhar logo para a bunda do MALFOY!
Ele termina os cumprimentos e sai de queixo em pé, para variar um pouco, da sala.

-Acabou, Weasley? – pergunta ele com a voz tediosa.
-Acho que sim..., hum, senhor. – acrescento quando ele me lança um olhar significativo.
-Bom, não precisa mais me guiar pelo prédio, ao menos a presidência, que é o que interessa, eu sei onde fica. Você devia estar achando fantástico um Malfoy depender de você, não?

Eu nem me dei o trabalho de responder. Eu... estava ocupada olhando... Ah, agora me sinto totalmente culpada! Eu não queria olhar, mais lá estava ela, bem ao alcance da minha vista, pedindo para ser observada. E... Pronto, olhei para a bunda do Malfoy. E o pior, eu a achei lin...
Não importa o que eu achei sobre a bunda do Malfoy. O que importa é o que eu acho do dono, e para mim ele é um tremendo de um mal educado.
Quanto tempo será que terei que o aturar?

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-WEASLEY! – ouço Malfoy me chamar como uma explosão. Ah meu Deus, o que será dessa vez? Essa é a décima quinta vez que ele me chama, sendo que ele só está aqui há quatro horas!
-Você não me ouviu chamando? – pergunta arrogante.
-Hum, não. Claro que não. – minto. Para falar a verdade, ele estava me chamando há uns cinco minutos, mas eu não queria olhar para aquela cara de doninha dele.
-Então por que está coçando o nariz?
-Coçando o nariz? – pergunto olhando interessada para minhas unhas.
-E por que não olha nos meus olhos?
-Olha aqui Malfoy, digo, senhor Malfoy, você me chamou aqui para que afinal? Com certeza não foi para fazer uma avaliação minimalista dos meus gestos, foi?
-Weasley, Weasley... – diz rastejando para perto de mim, sorrateiro – Olha, você está abusando.
-Você ainda não viu nada. – digo baixinho.
-E caso você tenha uma resposta na ponta da língua para cada coisa que eu diga, terei o enorme prazer de não ver mais nada mesmo. – ele faz uma pausa e depois prossegue. - O Francis quer saber de todas as minhas reuniões para amanhã, para agendar minhas outras atividades.
-Perfeitamente. – digo num tom eficiente que nem sei de onde surgiu.

-Ele tem que marcar hora no salão de beleza, é? – pergunto para Francis quando saímos da sala.
-Não, o senhor Malfoy não vai ao cabeleireiro. Ele tem um esteticista que o visita em casa. – diz ele sério.
Minha cara despenca. Nossa, onde está o senso de humor desse cara? Por Merlin, ele deveria tentar sorrir. Deve ser a convivência com o Malfoy. Agora entendo a situação desse pobre coitado...

-Ah, – diz Francis antes de fechar a porta de vidro esfumado da sala de Malfoy – o senhor Malfoy disse que já está bom por hoje. Até amanhã! – diz robótico.

Esse cara me assusta! E eu não estou falando do Malfoy, por que eu mando ele ir caçar sapos de chocolate e pronto, mas sim do Francis. Coitado...





N/A: Obrigada quem comentou!
^^
E aguardem o capítulo três, acho que não vai ter acction ainda, mas D/G é tão empolgante, não é?



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