o Desejo



O Beco Diagonal estava mais cheio do que nunca! Parecia que absolutamente todas as famílias de feiticeiros da Inglaterra estavam reunidas naquele lugar. E a verdade não era muito distante. No dia seguinte, sairia o Expresso de Hogwarts, e, portanto, uma quantidade enorme de alunos, acompanhados, naturalmente, de suas famílias, perambulava pelo local, de loja em loja, atrás de material escolar, vestes, animais e artefatos mágicos.
Entre esses inúmeros estudantes estava Draco Malfoy, completamente perdido em seus pensamentos. Acompanhava o pai pela mal freqüentada e suja Travessa do Tranco. Após surgirem rumores do retorno de Voldemort, a posse de artefatos proibidos passou a ser punida mais severamente, levando os inúmeros bruxos a se desfazerem com urgência de qualquer coisa que pudesse ser usada para ligá-los ao Lorde das Trevas. Mesmo assim, ir à Travessa do Tranco era uma tarefa muito tediosa, ainda que necessária.
Entre empurrões e solavancos das estranhas figuras que andavam apressadas pelas vielas, Draco pensava em Hogwarts. Seu eterno rival, Harry Potter, infestava sua mente. Por alguns instantes, o jovem se esqueceu de onde estava e parou, recostando-se numa das paredes. Uma mão puxou-o pelo braço e o jovem voltou a si.
– Draco! – era seu pai chamando. – Draco! O que pensa que está fazendo parado aí? Não sabe que não é bom sermos vistos na Travessa do Tranco nesses tempos? Devemos tratar de nossos assuntos o mais rápido possível e com o máximo de discrição e cautela possível. Venha comigo! Ande! Ande logo!
– Posso saber, então, por que, de todos os dias do ano, escolhemos para vir aqui justamente o dia em que o Beco Diagonal está mais cheio? Não é mais fácil de alguém nos ver?
– Hoje é, creio eu, o ÚNICO dia em todo o ano em que as pessoas estão, realmente, cuidando de suas próprias vidas! Todos têm muitos assuntos a tratar!
Lúcio Malfoy entrou apressado na Borgin & Burkes, local em que se desfazia de alguns de seus artefatos de magia negra. Draco entrou na loja pouco depois de seu pai e, enquanto ele esperava para ser atendido pelo Sr. Borgin, o rapaz transitava pela loja.
A Borgin & Burkes era um lugar peculiar. Era uma loja escura e abafada, que cheirava a mofo. Parecia pequena quando vista de fora, mas era espaçosa, uma vez que se cruzasse a porta da frente. As prateleiras, repletas dos mais esquisitos artigos, eram empoeiradas e velhas. O lugar todo, aliás, parecia estar caindo aos pedaços.
Draco fitou uma das prateleiras. Uma jarra cheia de um líquido vermelho abrigava uma pequena e estranha criatura. Os olhos do ser se fixaram nos olhos do jovem Malfoy, prendendo sua atenção. O menino se aproximou da jarra.
– Não chegue tão perto! – advertiu Lúcio. – Essa é uma Sanguessuga da Birmânia! Elas grudam em seu pescoço e sugam todo o sangue que passa em suas veias.
– Não se chama mais Birmânia! Hoje em dia é Myanmar! – Draco afastou-se da prateleira. Dirigiu-se aos fundos da loja, enquanto seu pai negociava com o dono do estabelecimento que, finalmente, aparecera.
Ao perambular por entre os mostruários, Draco percebeu que ele e seu pai não estavam sozinhos na loja. Estava lá uma moça, entretida com algumas runas arcaicas. Era bela e esbelta. Os longos cabelos negros estavam atados num coque informal, preso por uma presilha de madrepérola. Seus olhos eram de um vermelho intenso, algo extremamente incomum, mesmo entre bruxos.
– Bom dia! – ela disse, percebendo a presença do jovem Malfoy.
Draco a cumprimentou com um sorriso e um aceno discreto com a mão. Ele ia passando direto e seguindo com sua vida se ela não tivesse detido com uma pergunta:
– Com licença, poderia me dizer a sua idade?
– Quinze anos completos. Dezesseis a fazer. Posso saber o porquê da pergunta?
– Quinze anos e já é mais alto do que eu! Não sei se estou encolhendo ou se os jovens estão ficando cada vez mais altos e mais cedo!
Draco ficou um pouco sem jeito, sem saber bem o que responder. Ela olhou de relance para o balcão, onde estava o Sr. Malfoy.
– É o seu pai? – perguntou.
O jovem bruxo balançou a cabeça positivamente.
– Então você é Draco Malfoy!
– Exatamente! – exclamou o rapaz. – De onde você conhece o meu pai?
– Seu pai trabalhou para o meu patrão alguns anos atrás. Você ainda nem era vivo!
– Seu patrão? Você quer dizer que serve ao Lorde das Trevas?
– Silêncio! Mesmo aqui não é seguro falar sobre o Lorde! – advertiu a moça. – Eu sou Uma Stonehart! Muito prazer!
– O prazer é meu. Você não me respondeu! Você serve a você sabe quem?
Uma desviou o olhar, como se procurasse por alguém escondido que pudesse ouvi-los.
– Você sabe se é verdadeiro ou não esse rumor de que ele ressurgiu?
– Por que não pergunta ao seu próprio pai? Ele deve saber!
– Ele não me diz!
– Então, eu acho que eu deveria fazer o mesmo.
Draco riu e deu de ombros. Os dois bruxos ficaram em silêncio por alguns instantes até que o rapaz falou:
– Que diferença faz? Ainda mais agora que o Dumbledore foi avisado por aquele maldito Potter...
– Potter? Harry Potter?
– O que foi? Não conhece Harry Potter? É claro que o conhece! Você o conhece e o ama! Assim como todos os outros bruxos na face dessa Terra!
– Não. Eu não o amo! Eu o odeio. Eu lhe arrancaria as tripas se me dessem a oportunidade. – respondeu a feiticeira.
Draco não disse nada, apenas encarou Uma. Percebeu que, na mão direita estava um enorme anel de prata, cravejado com uma grande pedra azul.
– Gostou do anel? – perguntou Stonehart, com um sorriso delicado. – É um anel especial. Mágico.
– Mágico? O que ele faz?
– Ele é capaz de guardar um universo inteiro dentro de si!
Draco segurou sua mão levemente e admirou o anel.
– Você não gosta dele, não é mesmo? – perguntou a moça.
– Gosto! Claro que gosto! É um anel muito bonito!
– Não me refiro ao anel, querido! Estou falando de Harry Potter. Você não gosta dele? Ou será que gosta, e eu estou com uma impressão equivocada?
– Quer saber se eu gosto do Potter? – perguntou Draco com um meio riso nos lábios.
O garoto cerrou o punho e bateu com força sobre um dos mostruários da Borgin & Burkes, fazendo as mercadorias balançarem e capturando a atenção de seu pai e do Sr. Borgin para o fundo da sala.
– Draco! O que está fazendo aí atrás? – perguntou Lúcio.
– Ei, moleque! – gritou o Sr. Borgin. – Se quebrar alguma coisa vai ter de pagar por ela!
– Moleque? – O Sr. Malfoy virou-se para o atendente erguendo a sobrancelha. – Com quem o senhor pensa que está falando, Sr. Borgin?
– Não se irrite, Lúcio! – desculpou-se o Sr. Borgin, um pouco sem jeito. – É que, às vezes, as crianças não recebem a educação devida...
– Então, quer dizer que está questionando a educação que eu dei ao meu filho?

Enquanto o Sr. Malfoy interpelava o dono da loja, Draco continuava a conversar com a desconhecida Srta. Stonehart. Estava agitado e gesticulava muito enquanto falava.
– E não é nem a questão de ele ser famoso e querido! Com isso eu consigo lidar tranqüilamente! Tem tanta gente aí nesse mundo que é famosa, e eu nem esquento.
– Qual é o problema, então? – perguntou Uma, massageando a testa, como se estivesse a espera de uma resposta que demora a vir.
– O problema? – continuou Draco. – O problema é que parece que o nosso mundo GIRA AO REDOR DELE! Eu sei que isso é absurdo e que ele é só uma pessoa qualquer como qualquer outra, mas... ELE recuperou a Pedra Filosofal, que ia ser roubada por Voldemort, ELE encontrou a Câmara Secreta, ELE é o campeão da Escola, ELE é queridinho do Dumbledore! Não que isso seja um mérito! Saiba a senhora que não é mérito nenhum!
– Senhorita! – interrompeu Uma, corrigindo-o.
– Senhorita! Perdão! – Draco não parava de falar e estava cada vez mais perturbado. – Velho decrépito! Ele é a pior coisa que já aconteceu àquela Escola! Sem contar o próprio Potter, é claro!
– Você desejaria que ele nunca tivesse ido a Hogwarts? – perguntou a moça, colocando as mãos nos ombros de Draco.
– Não – respondeu Draco. – Eles o chamam de “o menino que sobreviveu”, não é mesmo? Pois, bem! É claro que eu gostaria que Harry Potter NUNCA tivesse pisado em Hogwarts. O meu verdadeiro desejo, no entanto, é outro! Eu desejo que Harry Potter não tivesse sobrevivido!
A Srta. Stonehart ergueu as mãos à altura do colo e alisou a pedra azul cravejada em seu anel de prata. Uma luz vermelha emanou de dentro da runa e, em instantes, ela ficou rubra como os olhos da feiticeira. A luz vermelha logo tomou todo o cômodo.
O chão começou a tremer, e ondas energéticas rodearam Draco, levantando a poeira das prateleiras.
A bruxa fitou Draco. Sua respiração estava ofegante, como se aquela magia estivesse consumindo todo o vigor do seu corpo. Ela disse a menino:
– DESEJO CONCEDIDO!

Neste momento, a tremedeira aumentou. O chão e as paredes da Borgin & Burkes começaram a ceder, e parte do forro da loja desabou. Draco atirou-se contra a parede cobrindo a cabeça. Lúcio Malfoy irrompeu por entre os mostruários chamando pelo nome do filho.
Antes que pudesse alcançar seu pai, Draco perdeu as forças. Sentiu-se como se algo sugasse sua alma de dentro do seu corpo e arrastasse para outro lugar. O calor do interior da loja foi substituído por um frio glacial. Draco sentiu que a vida lhe escapava enquanto a luz ofuscante liberada pelo cristal tomava todo o lugar.
Draco recobrou os sentidos em alguns segundos.Abriu levemente os olhos, mas a visão estava embaçada. Tentou se erguer do chão, mas não conseguiu. Sentia-se tonto. Sentou-se e deitou a cabeça sobre os joelhos.
– Draco! – exclamou Lúcio. O menino, aliviado, ergueu a cabeça, procurando o lugar de onde vinha voz do pai.
– Draco! – o Sr. Malfoy chamou mais uma vez. – O que faz aí, estatelado no chão?
O jovem bruxo, confuso, encarou o pai. A visão começava a clarear, e Draco pôde perceber que seu pai trajava roupas completamente diferentes daquelas que colocara ao sair de casa. Procurou ao seu redor por Uma Stonehart, mas a feiticeira havia desaparecido.
Escorou-se na parede e levantou-se do chão. A tonteira diminuíra e já recobrara a força nas pernas. Andou um pouco, completamente estupefato com tudo que o rodeava. As velhas prateleiras enferrujadas e sujas deram lugar a reluzentes mostruários de ébano. A temperatura era amena e o cheiro de bolor não mais existia.
A Borgin & Burkes não era mais uma lojinha escondida na Travessa do Tranco, mas uma enorme casa de comércio na entrada do Beco Diagonal. Cheia de pessoas e de produtos que jamais estariam expostos, pois eram proibidos. Draco, admirado, exclamou:
– O que está acontecendo?

Draco estava confuso. Não sabia exatamente o que acontecera. Saíra da Borgin & Burkes e se vira diante de uma enormidade de lojas de artefatos de Magia Negra. Quase todas as pessoas na rua cumprimentavam seu pai. Muitos também estendiam as mãos para felicitá-lo.
Um bruxo alto vestindo uma túnica verde aproximou-se e abraçou entusiasticamente o Sr. Malfoy:
– É bom vê-lo, Lúcio! Após ficar afastado durante esses dois anos, finalmente vai voltar à ativa!
Lúcio respondeu com um sorriso de satisfação:
– Eu não estive parado, Manheim! Eu continuei lecionando na Escola de Comensais! De fato, estou contente em poder voltar a exercer todas as minhas atividades!
O tal Manheim ia responder a Lúcio quando se deu conta de que Draco estava de pé ao lado do pai.
– Como está bonito, Draco! Puxou ao pai, é claro! Minha filha está ansiosa para revê-lo! Tem falado muito de você e dos seus amigos. É uma pena que vocês não se possam ver fora da Escola!
Draco não conseguiu esconder sua expressão de total desconhecimento do que se passava.
– O que houve, Draco? – Lúcio se surpreendeu. – Não se lembra da filha de Christopher Manheim, um dos meus melhores colegas e um dos maiores Comensais da Morte? Gillian? Tenho certeza de que ela é da sua turma desde o primeiro ano!
– Mas é claro que a conheço! É minha colega de classe! – Draco mentiu. Não fazia idéia de quem era e nem de que Escola seu pai e o Sr. Manheim estavam falando. Comensais da Morte? Eles todos foram presos ou mortos quando Voldemort caiu.
Os dois bruxos se despediram e Lúcio seguiu apressado em direção a uma loja que Draco nunca vira.
– Espere-me aqui fora! Essa loja é de materiais do tipo de magia mais negra e mais poderosa. Menores não podem entrar. Não saia daqui! Não quero você perdido por aí, caindo nas mãos de um auror ou, ainda pior, de um Inquisidor do Tribunal de Terror Absoluto!
Novamente Draco não entendeu absolutamente nada do que o pai falou. Tribunal de Terror Absoluto? O que estava acontecendo? Estava tudo cada vez mais confuso. Como todo rapaz de quinze anos, ignorou totalmente as ordens de seu pai e começou a transitar pelo Beco Diagonal.
Surrupiou um exemplar do Profeta Diário. Na capa, a manchete:



DERROTA INESPERADA NO CERCO A HOGWARTS.


A chegada de reforços internacionais vem dificultando a outrora iminente vitória sobre Hogwarts. A presença do Tribunal de Terror Absoluto resultou em duas esmagadoras derrotas consecutivas para os seguidores de Voldemort. A moral das tropas que sitiam a última grande fortaleza inimiga está em baixa e nem mesmo a captura e execução de Sirius Black, um dos maiores inimigos de Voldemort, foi capaz de elevá-la.
É esperado o envio de mais Comensais da Morte para fortalecer o Cerco e de bruxos de países simpáticos à causa, em especial do Leste Europeu e de todo o continente Americano. Não houve confirmação se o número de Excetos no local será ampliado.

Draco dobrou o jornal e colocou-o debaixo do braço. Rumou de volta para a porta da loja onde se separou do pai. Mal Lúcio deixou o estabelecimento, acertou a cabeça de Draco com a bengala.
– Por que está me batendo? – perguntou o garoto. – Eu fiquei aqui como você mandou!
– É claro que ficou! – respondeu o pai. – E esse jornal debaixo do seu braço simplesmente aparatou no seu colo, foi isso?
O Sr. Malfoy balançou a cabeça negativamente. Draco esfregou a testa onde fora atingido e seguiu com o pai para o Banco de Gringotes.
– Gringotes ainda está funcionando? – exclamou Draco, não contendo a surpresa.
Lúcio olhou para Draco e riu:
– O que foi? A bengalada lhe tirou a memória?
O menino procurou explicar-se:
– É que, com Hogwarts sob cerco e tudo mais, eu estranhei...
– Ora, meu filho... – ponderou Lúcio. – Parece que não conhece os duendes! Só se importam com dinheiro. Nunca se incomodaram de receber nossos galeões. Não ia ser agora que estamos vencendo a Guerra que iriam se queixar!
Após uma rápida visita ao Banco, os Malfoy retornaram para casa, onde Draco teria, finalmente, a oportunidade de compreender o que estava se passando.

OBS: Histórias iguais é essas são meras conhecidencias...

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