Uma Visita Inconveniente



Harry ria-se dentro do seu quarto com o que acabara de acontecer. O tio Vernon, provavelmente, estava espantado a olhar para aquilo, incapaz de proferir uma palavra. Mas não quis saber e procurou uma carta que lhe haviam mandado dois dias antes. Quando a encontrou, olhou-a de relance e abriu-a.

Harry,
PARABÉNS! Finalmente és adulto! Agora podes lançar uns feitiços aí aos teus tios para ver se eles aprendem! Vê se consegues estar cá na Toca antes do início das aulas. Sim, porque Hogwarts vai abrir! O prof. Flitwick mandou uma carta a todos os estudantes (tu deves tê-la recebido), a dizer que as aulas continuam e que a prof. McGonagall é a nossa nova directora... Sinceramente, acho que foi uma boa escolha. O meu pai disse-me que não sabiam quem eleger... Estavam a pensar no Binns! Sabes quem é? O prof. de História, acho eu... Mas escolheram a McGonagall... Bom, não te vou chatear mais com isto. PARABÉNS e espero que tenhas outros 17 anos de vida e mais... eheheh não te preocupes, estou um pouco surpreendido. Aconteceu uma coisa excelente, só que ainda é secreta. Eu depois conto-te...

Espero-te brevemente!
Ron


Esta história da coisa excelente atormentava-o... O que será que havia acontecido? Perguntava-se sempre que lia aquela carta.
Mas havia outra coisa que ele tinha de fazer. Uma decisão a tomar. Iria ele voltar para Hogwarts? Uma decisão que o matava... Por um lado queria ir, pois as lembranças de estar com Ron e Hermione e todos os seus amigos eram um ponto forte, mas ele tinha uma missão. Tinha de reunir todos os Horcruxes para destruir Voldemort. E estava a perder o seu tempo ali, em Privet Drive. Esse era o lado que dizia para não ir.
Ele não sabia o que fazer. Só sabia uma coisa. Tinha de sair dali, quer dizer, ele podia sair, mas não sabia como chegar à Toca para assistir ao casamento do Bill e da Fleur. Depois ia a Godric’s Hollow e esclarecer de uma vez por todos o que realmente havia acontecido no dia da morte dos pais.
Foi assim, de repente, que olhou para uma carta que estava debaixo da gaiola da Hedwig, com a ponta do envelope para fora. Não tinha visto aquela carta sempre que olhava para lá.
- Estranho... deixa ver. – levantou a gaiola e retirou a carta. No envelope apenas dizia “ver parte interior”. Harry abriu o envelope e tirou o papel.

Harry, já agora, os meus parabéns, mas não é disse que tenho de te dizer. Como sabes, o meu casamento é daqui a poucos dias e eu preciso que venhas, porque a presença do melhor amigo do meu irmão é fundamental, e também porque és meu amigo. Mas eu estou a enviar-te esta carta, porque sei que estás literalmente preso em casa dos teus tios e eu estou disposto a ir-te buscar.


Passo por aí à meia-noite do dia 2 de Setembro.

Felicidades,
Bill


- 2 de Setembro? Mas é hoje! Ai, tenho de fazer as malas! – começou a arrumar as suas coisas, deixando cair um folheto de Hogwarts, que dizia que as aulas começavam apenas no dia 1 de Outubro. Apanhou a folha e guardou rapidamente o mais que pôde na mala. Eram onze e quarenta e três da noite quando acabou. – Bem... já está. Agora é só esperar pelo Bill.
Estava a descer as escadas quando viu um vulto na escuridão, na sala. Harry sacou da varinha e tentou identificar o intruso silenciosamente, mas sem sucesso. Escondeu-se atrás do sofá e tentou ver quem era, até que o ouviu dizer umas palavras que lhe soaram a “vem cá!”. Essas palavras confirmaram-se quando outro vulto apareceu, agora muito mais pequeno, minúsculo até. Harry ficou a olhar, surpreendido. Até que percebeu o que era. Era um cachorro. Um cachorro muito parecido ao da...
- Tia Marge!
Ela saltou com o susto, dando um guincho estridente. Harry ouviu vozes vindas do andar de cima e, consequentemente, passos. O tio Vernon tinha acordade com o grito da tia Marge.
- Marge? – perguntou, surpreendido, quando a viu – O que raio é que estás aqui a fazer?
- Olha... que raio de recepção! – queixou-se ela.
- Nós é que temos motivos de queixa! Então tu entras à toa na minha casa e queres uma recepção digna? Parecias uma ladra!
- Olha, este aqui – apontou para Harry, tentando mudar de assunto – também estava aqui, com malas feitas e tudo!
- Pois, onde é que tu vais? – perguntou o tio Vernon, num resmungo.
- Er... eu vou-me embora.
- Ah! Para onde? – pergunta a tia Marge.
- Não é da sua conta! – Harry deixou escapar a sua deixa de saída. – Bom, tenho de me ir embora!
- Não, não, não, não e não. Não podes sair daqui, ainda não tens 17 anos, como o teu professor, ou lá o que é, disse no ano passado!
- Eu fiz 17 anos há dois dias e esse professor de que está a falar morreu no final do ano passado.
Foi desta vez a tia Petúnia a avançar em direcção a Harry.
- Dumbledore morreu? – perguntou, espantada.
- Sim... Snape matou-o.
- Maldito seja ele! – todos ficaram a olhar para ela, com cara de surpresos. – O que é que foi? Eu conversava com a minha irmã e falávamos sobre isso.
- O quê? – perguntava o tio Vernon.
- Marge, vai arrumar as tuas malas no quarto de hóspedes, se fazes favor. – pediu a tia Petúnia.
A tia Marge obedeceu, resignada. Foi quando ela fechou a porta do quarto que a tia Petúnia começou a falar.
- Harry, eu e a tua mãe éramos irmãs, como tu muito bem sabes. Ela costumava voltar de Hogwarts no Natal, na Páscoa e nas férias de Verão.
- Sim, e depois?
- Bem, quando ela vinha a casa, nós ficávamos horas a conversar sobre o que acontecia lá em Hogwarts. Ela falava-me do James, do romance deles... do Snape, do Sirius e de Hogwarts em geral. Foi assim, com estas conversas, que eu fiquei a conhecer Hogwarts e alguns dos amigos da Lily. Eu sempre quis ir para Hogwarts. – esta afirmação pôs Harry e o tio Vernon espantados.
- Então e porque não foi?
- Porque já não tinha idade... Revoltei-me, sabes... Sempre falava com ela, mas lá dentro, tinha alguns ciúmes dela saber fazer magia e eu não. Ela não podia ensinar-me porque não podia fazer magia fora de Hogwarts e quando completou os 17 anos, foi viver com o James. Houve um dia que eu quis ir falar com ela. E foi nesse dia que eles morreram.
- O QUÊ?! – perguntou Harry, surpreendido.
- Eu sei que isto é um pouco repentino, mas eu tinha que te dizer antes de te ires embora. E Dumbledore... eu conheci-o. Falava muitas vezes com ele e ele dizia-me para não me revoltar por não poder entrar em Hogwarts. Confortava-me, dizendo que a magia não era tudo. E não é. Não é porque, para mim, tudo é ter uma família, como eu tenho. Desculpa por tudo o que te fiz, mas foi por ciúmes, pois mais uma vez, uma pessoa entrou em Hogwarts e eu fiquei a olhar. Mas eu aprendi. Percebi. Entendi que a magia é um acessório para se poder viver bem, ter sucesso na vida. E eu simplesmente não precisava desse acessório. – as lágrimas começavam a escorrer na face da tia Petúnia. Foi então, que Harry fez o impensável. Abraçou a tia Petúnia.

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