Parte I



Este tempo, este lugar
Desperdícios , erros
Tão demorado , tão tarde
Quem era eu para lhe fazer esperar?
Apenas mais uma chance
Apenas mais uma respiração
Apenas um caso que foi deixado de lado
Porque você sabe,
Você sabe , você sabe...


A vida de Sirius Black nunca mais foi a mesma depois do assassinato de Lílian e Tiago, seus melhores amigos e pais de seu afilhado. O peso do mundo caíra sobre suas costas, a dor perda, o sentimento de desprezo e incompetência. Pagara por longos anos, mais de uma década, por um crime que não cometera. Inocente, amigo fiel e preocupado, mas estava pagando. Mas esse inferno não durou por muito tempo, pois no terceiro ano de seu afilhado ele resolveu sair daquilo, fugir e tentar mudar o passado. E que passado! Não só pelos problemas que envolviam Lilly e Tiago, mas também algo muito mais profundo e secreto, algo que ele jogara no esquecimento por longos anos.

Uma única jura, um único beijo. Mas algo que se tornou eterno para o jovem galã, algo que jamais deixaria sua vida. Conhecido como o mais galinha dos Marotos, Sirius conquistava e namorava a todas, e todos sempre acharam que ele o fazia por pura futilidade. Ledo engano, pois até os pomposos também amam. Ele procurava em outros beijos, abraços e carícias o que mais sentia falta: Bellatriz Black, sua amada prima. O sentimento era recíproco, porém proibido. Ela tinha o destino marcado pelas trevas, ele pelo bem. Não é a toa que já nem está mais no quadro da família, é até considerado bastardo. Bem vindos, meus amigos, à realidade de Sirius Black.

Estava sentado, muito mal acomodado, em uma poltrona velha. Bicuço brincava com ossos velhos, enquanto o homem tal judiado tentava se aquecer um pouco na frente da lareira. Considerado um delinquente, exilado, solitário...Um João Ninguém. Escondido, sem comida, sem mordomia alguma. A única coisa que lhe restara era o velho hipogrifo e alguns galeões, garanto que bem poucos. Sirius Black, um maroto em potencial estava na pobreza. Dias sem comer algo decente, noites sem dormir, horas sem banho. Mas ele ainda estava lá, ele ainda ia esperar para lutar por sua causa, seu ideal. Pode parecer bobagem, mas desde o dia de seu nascimento ele sabia que um dia ia se encontrar ali, jogado na sarjeta como um animal, pois merlim colocaria sua lealdade a prova. E uma coisa que o Black é, é ser leal. Justo, digno, apenas azarado. Mas aquilo ia mudar, melhorar pelo menos um pouco: A proposta partira de si próprio, mas com uma ajudinha de Dumbledore. Voltar para a velha Residência dos Blacks e transformar aquele lugar na Sede da Ordem da Fênix. Irônico, não? Um berço de bruxos das trevas agora ia servir para o lado bom. É, essa é a vida.

No dia em que regressou ao lugar onde passou grande parte da sua vida, o lugar onde jurou amar Bellatriz para sempre, sentiu um aperto no peito. Ver os mesmos quadros, as tapeçarias...O cantinho escuro onde prensara sua Bella para o primeiro beijo. Respirou fundo e adentrou, com coragem e pisando firme. Tomou um bom banho, vestiu suas roupas e determinou-se a dar um trato naquela casa. Com o tempo e com a limpeza, encontraram uma velha tapeçaria da árvore da família Black. Nela havia muitos nomes, mas certamente um em especial lhe chamara a atenção. Bellatriz Lestrange, casada com o ignorantes Rodolphus. " Você merecia algo melhor, Bellinha". Era assim que ele a chamava quando criança, Bellinha. Juravam se casar e ter três filhos, Sarah, Pogus e Frederic, e também sonhavam em morar numa bela casa de campo com um lago no quintal. E agora, vejam onde estão. Bellatriz desfrutando de puro luxo, frivolidades e um casamento vazio. Sirius, jogado num canto qualquer. Para onde foi o amor? Sinceramente...Ninguém sabe. Mas Sirius sabia, de alguma forma, que ele ainda podia encontrar o dito cujo dentro do seu peito, debaixo de memórias esquecidas.

Passou quase uma hora inteira sentado na frente da tapeçaria, apenas olhando para o pequeno nome: Bellatriz, Bella, Bellinha. Saudosas lembranças vinham à tona, uma nostalgia gostosa, um passado esquecido. Um prazer tão...Memorável. Como queria tê-la em seus braços naquele momento, tocar seus sedosos cabelos e beijar sua boca carnuda e avermelhada. Dizer-lhe juras de um amor proibido ao pé do ouvido, depois trocar carícias quentes e dormir abraçados, esperando ansiosamente o dia seguinte para vivê-lo com a mesma paixão do anterior. Mas aquele foi apenas um caso que fora deixado de lado. Agora cada um vivia sua vida, cada um tinha seus objetivos. Ele levantou-se, pegou um copo e o preencheu de whisky, subiu para o último andar da casa e ficou olhando pela janela de seu quarto, era um sonhador no corpo de um morimbundo. Olhava para a lua que brilhava intensamente, como se o chamasse para segui-la para toda a eternidade.

Distante, em um outro lugar, um par de belos olhos verdes, profundos e cruéis olhavam para a mesma lua. Bellatriz não viveu um dia sequer de sua vida sem pensar em Sirius. Tudo lembrava seu amado, cada flor, cada gesto, cada lugar. Não havia alegria a não ser ao lado dele, o seu maroto. Os primeiros anos em que estudou em Hogwarts, não suportava. Não aguentava ouvir dizer de sua fama de galã, não podia nem pensar...E foi esse o real motivo de sua transferência para Beauxbatons. Para os pais e amigos ela dizia não suportar estudar em uma escola com tantos sangue-ruins, pobres e retardados. Mas no fundo, era apenas mágoa de um coração ferido. "Por que você me deixou, meu maroto?". Essa era uma pergunta que Bella repetia toda vez que lembrava dele, o seu amor.

Suas mãos magras e ossudas deslizavam pelo parapeito da janela, e vez ou outra ela olhava para baixo. Por que não se jogar? Não tinha nada a perder. Ele a deixou esperando por tantos dias, meses...Anos. Anos afundada em mágoas, desesperos...Não é a toa que acabou se casando com Rodolphus. Ela nunca o amou, nem se quer simpatizava com ele. Mas era puro-sangue, tinha dinheiro e a achava linda. Bella fechou os olhos e pode ver então. Parado ali na sua frente estava Sirius Black. Vestido com um terno impecável e uma bela gravata em combinação, ele a esperava com cabelos penteados e exalando um perfume maravilhoso, numa das mãos tinha uma rosa vermelha, a outra estava estendida para ela.

- Bellatriz...Você sabe que eu te amo e sempre te amei, e retornei para ocupar meu lugar em seu coração. - Ele falava enquanto sorria e a puxava para mais perto, segurando-lhe pela cintura. Uma pegada deveras incrível! Então trilhou beijos pelo seu pescoço e deixou os pêlos da nuca dela ouriçados, deslizou as mãos pelo seu corpo e por fim a beijou com paixão e desejo.

- Bella, você não vai para a reunião? O Lord não tolera atrasos! Onde você está com a cabeça, mulher? - Foi com a voz arrogante e grosseira de Rodolphus que Bella despertou de seu melhor sonho, ou talvez pesadelo. Não podia deixar seu coração guiar sua vida, pois em mente tinha muitos outros planos, e estes eram maquiavélicos e dignos do agrado de Lord Voldemort.

Aparataram no cemitério e tiveram uma reunião não tão boa. O Lord estava desgostoso, irado e querendo resultado. E Bella? Estava muito bem, havia deixado todo o sentimentalismo de lado e planejava com fervor novos planos para acabar com Dumbledore e seu pequeno exército de crianças retardadas. Depois de muita discussão e falatório cansativo, ela voltou para casa. Tomou um banho e teve que aguentar as carícias nojentas de Rodolphus, fingindo uma dor de cabeça esquivou-se e foi para o escritório.

Afogava as mágoas num copo de whisky, chorava em cima de um pergaminho e olhava para um brasão. Era o brasão Black, a coisa que mais lembrava Sirius naquela vida. Ele havia dado a ela de presente no último dia em que se viram, no dia do beijo. Ela tentava de todos os jeitos conter as lágrimas e erguer a cabeça, ir dormir e rasgar aquela página de sua vida, porém, infelizmente não era possível. Aquele amor era a maior realidade existente e os mantinham vivos desde sempre. Não resistiu à tentação e deixou a pena mergulhar no tinteiro e logo em seguida deslizar no pergaminho.

Não houve um único maldito dia em que eu tenha conseguido esquecer da tua promessa. Não houve dia em que eu sorri, se não fosse ao lembrar de algo que envolvia você. Por que me prometeu tudo aquilo? Por que jurou um falso amor? Por que me iludiu, Sirius Black? Muitas noites passei em claro pensando se signifiquei algo para você...E se tudo aquilo que você me disse e escreveu eram verdade. Me diz, você disse que me amava só pra me manter afim de você, não é? Não entendo por que algumas pessoas conquistam as outras só para se gabarem que sempre tem um idiota no seu pé, pra usar e jogar fora. Eu também fiz isso, no entuito de te esquecer, Black. Mas a verdade, a pura verdade é que eu nunca consegui. Você é a parte mais viva que existe em mim, e se meu coração ainda bate é pela esperança de te ver e ter de novo.

Um borrão muito feio finalizava tudo aquilo, ela não ia ter coragem para mandar aquela carta, jamais. O amor era grande, mas Bellatriz Lestrange é muito orgulhosa acima de toda e qualquer circunstância. Se ele a queria de volta, se ele realmente a amava...Que viesse atrás do prejuízo. Bella não podia negar que o amaria até o último dia de sua vida, mas que depois de tanto tempo teria de começar a priorizar as coisas. E naquele tempo, tinha que colocar seu status de Comensal da Morte na frente do amor e seguir em frente, esquecer de vez daquela besteira.

- Vamos, Sirius! Tá na hora de levantar, temos muito trabalho a fazer, aliás, vocês tem. Molly estava ocupada com o café e pediu para vir lhe acordar...Levante logo! Você sabe que tenho que me ausenter e ir logo ao encontro de Greyback e os outros, Dumbledore pediu... - Remus falava sem parar, estava com uma aparência péssima. Magro, descabelado, olheiras profundas...Afinal, onde estava toda a vivacidade dos marotos? Evaporou com o tempo, acredito eu. Traições, mortes, é...Não é qualquer um que supera, e os bons e velhos marotos jamais serão os mesmos.

- Tá bom, tá bom, seu velho lobo resmungão! Já estou levantando... - Sirius coçava os olhos e piscava na tentativa de acordar.

- Mas o que é...? Ah, Sirius! Seu cachorro pulguento...Andou bebendo? De novo? Quantas vezes eu vou ter que...Ah, quer saber? Esquece. Minha época de amigo-monitor-controlador-chato já acabou há muito tempo, eu vou ir descendo. Se cuida, ok? - Deveras, Lupin não tinha tempo para fazer mais nada agora. Tinha que cuidar de muitos outros problemas, e cuidar de um amigo bêbado e vagal não estava entre eles.

Sirius levantou, tomou um banho quente e rápido e desceu para o café da manhã. Estava meio atrasado, só havia Tonks, Mione e Gina na mesa, que conversavam incansávelmente. Todos os sons eram apenas murmúrios baixos, pois em sua cabeça ecoava a voz doce e marcante de Bella. Por que? Passara tantos anos sem lembrar disso...Mas logo agora tudo voltou, por que? O motivo é uma incógnita. Mas no final, esse por quê terá de ter uma explicação, aliás, todos os por quês deverão ter.

Os dias se passaram, assim como as semanas e poucos meses. Sirius ainda vivia perturbado pelas lembranças daquela casa, mas por incrível que pareça...Eram boas lembranças. Tentou, durante todo aquele tempo na residência, esquecer e abafar o sentimento com o dia-a-dia e as novas responsabilidades, mas não conseguia. Tinha que escrever uma carta para Bella, necessitava disso. Sentou-se no chão do quarto e apoiou o pergaminho num caderno velho, mergulhou a pena no tinteiro e logo a deixou correr pelo pergaminho, marcando com palavras as sinceridades de um coração.

Apenas mais uma chance...

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