Veritate



6. Veritate


 


6.30 p.m.


Eu não vim aqui para ter uma morte trágica, não se preocupem. Mesmo tendo perdido toda a vontade de viver (sei que isso parece melodramático, mas depois de ver aquela cena não sei mais de nada) isso é algo que não vale a pena.


Sei que se me matasse muita gente sentiria minha falta, não é falta de modéstia, mas já sofri perdas e sei que poderíamos ter superado tudo, juntos.


Mas uma morte não se supera, apenas tentamos nos reconfortar com que quem amamos já não sofre. Mamãe morreu, tudo o que tínhamos construído despencou, papai ficou um homem amargo, depressivo, queria que eu deixasse o meu mundo, disse que mamãe morreu por desgosto, mas isso não era verdade. Quando descobriram que eu era uma bruxa, todos vibraram, até Túnia à princípio, mas daí surgiu o ciúmes, ela queria ser uma bruxa também.


Antes de descobrirmos que eu era uma bruxa, eu era a protegida de Túnia, ela gostava de mim, nós vivíamos juntas, mas quando fui pra Hogwarts, tudo mudou, para melhor, e para pior. Túnia vivia me aborrecendo com comentários maldosos, Snape ficara triste de eu ter ido para a Grifinória, mas eu fiz bons amigos que me apoiaram por tudo que eu passei, e eu fiz o mesmo por eles, foi um laço formado muito mais forte que os laços de sangue.


Papai também gostara da notícia que eu era bruxa, sempre pedia que eu fizesse algum feitiço escondida, mas eu sempre negava, dizia que era proibido, e ele ria por eu ser tão certinha, ele gostava disso. Daí mamãe ficou doente, papai começou a beber, Túnia tinha que agüentar as pontas, deve ter sido difícil para ela, eu queria ficar e ajudar, mas mamãe implorou para que eu voltasse e disse que ficaria muito aborrecida se eu ficasse, ela praticamente me enfiou dentro do trem, no estado que ela tava, mal podia sair de casa.


Fui para a escola com peso no coração, e todos os dias eu lhe mandava cartas, até que um dia Dumbledore me chamou para seu escritório e explicou o que ocorrera, mamãe chegara tarde demais ao hospital, eu praticamente me culpei por sua morte. Ele me consolou, disse que a morte fazia parte da vida, e à medida que pessoas saem da nossa vida, não completamente, pois elas sempre estarão em nossa memória, chegam outras, não no lugar das que foram, mas para alegrar nossa vida, todas as pessoas têm uma finalidade em nossa vida, e quem se foi, foi porque já era hora, porque não existe a vida sem a morte, assim como não existe a luz sem as trevas, nem o bem sem o mal.


Eu entendi, não superei, mas me lembrei dos bons momentos que tivemos e pensei nos bons momentos que um dia eu terei com os meus filhos. Isso nos trás de volta ao James, por isso eu volto ao papai que como não tinha quem culpar pela morte da mamãe, me culpava, e Túnia ficava ainda mais feliz ao fazer coro à ele. Não voltei mais para casa depois que mamãe morreu. Fui para a casa dos meus avós, a quem eu amava tanto quanto aos meus pais e Túnia, pois eu ainda os amava.


Então, se eu consegui sobreviver à morte de mamãe, porque não conseguiria sobreviver longe do James? Talvez porque mamãe fez parte do meu passado e foi a ordem natural das coisas e James não fará parte do meu futuro, algo a menos para eu sentir falta.


Depois que começamos a namorar eu comecei a sonhar como seria nossa vida juntos, como envelheceríamos, como teríamos criados nossos filhos, como os prepararíamos para deixá-los na estação no primeiro dia de setembro...


 


 


 


7 p.m.


[...]


A chuva esta piorando, aprece que ela piora com o meu humor, mas eu acho a chuva algo tão puro, ela traz renovação, depois da chuva sempre há o sol, depois da tempestade aparece o arco-íris, depois de uma decepção vem a congratulação. Talvez a minha congratulação seja eu ser muito boa na minha profissão, eu serei um auror, é algo que eu tenho desejo de ser. Dizem que quem tem sorte no jogo não tem no amor, eu acho que eu sofro disso. Não terei sorte no amor, serei uma fracassada amorosamente. Mas serei brilhante no meu trabalho, serei conhecida, todos vão me reconhecer. Mas indo para águas mais rasas, eu tenho que melhorar esse ânimo para conseguir uma resposta, sem me humilhar para ele.


Não acredito que ele tenha uma boa resposta para isso, mas eu quero acreditar que tenha. Ou quero imaginar que isso é apenas um pesadelo no qual eu estou com muito azar, talvez seja por isso que se eu me jogar eu não vá morrer, não que eu tente fazer isso, pois vai que não é um sonho, já elvis. É estou recuperando meu senso de humor, o que já é um passo dado. Dorcas e Lene devem estar loucas atrás de mim, Sirius e Remo preocupados, pois eles não estavam junto de James, mas a essas alturas eles já sabem o que aconteceu e devem estar me procurando e James pode estar lá com ela ainda, ou o Dirke pode tê-lo azarado por mim, o que sem dúvida seria reconfortante.


 


 


5.30 p.m.


[...]


-Quem você pensa que é para fazer isso com ela? – perguntou um garoto em cólera apontando a varinha para outro.


-Que eu fiz, Merlim? – perguntou James com raiva e surpreso ao mesmo tempo. Empunhava a varinha também. – Agradeceria se você me deixasse ir atrás de Lílian.


-Depois do que fez com ela, só se me mandar para a enfermaria primeiro. – ameaçou Dirk, com o rosto vermelho, sua fúria aumentava em P.G.


-Então me explica, que eu ainda não sei o que eu fiz para ela. – James tentava se manter sob controle, o que não duraria muito. – Eu a beijei? Caso não saiba ela é a minha namorada Cresswell.


-Como você é um hipócrita de primeira, acho que é a melhor coisa que você faz. – continuou Dirk, que começava a andar circularmente, juntamente com James.


-Mas já está perdendo a paciência? Não pode ser um duelo mais elegante? E por favor, deixe minha Santa Mãe fora de suas calúnias de dor de cotovelo. – James ria.


-Você foi a pior coisa que aconteceu na vida de Lílian. – falou Dirk baixando guarda – Não vou perder meu tempo aqui com você. – e saiu em direção ao castelo. James deixou baixo, tinha coisas mais importantes em mente do que azarar um mal amado.


-Alguém pode me explicar o que está acontecendo? – perguntou James para o nada.


-Nós fomos verificar. – disse Remo saindo de baixo da capa.


-O negócio é sério. – comentou Sirius sério.


 


6 p.m.


[...]


-Tem algum panaca com poção polissuco se passando por você cara. – falou Sirius.


-Eu vou matar o idiota... – falou James começando a ficar irado.


-E ele estava beijando a garota que estava com você. O que aconteceu? – perguntou Remo.


-Ela tentou me beijar e eu disse que tinha namorada, daí ela ficou gritando comigo e saiu feito louca. – resumiu James.


-Bem, ela no mínimo está junto com a pessoa que se passou por você. – falou Remo.


-Eu vou procurar a Lílian. E vocês podem procurar esse falso James para mim? O efeito da poção ainda não deve ter passado, e segurem-no até eu aparecer. – com isso James saiu em direção ao castelo.


 


6.30 p.m.


[...]


-Já soube? – perguntou uma garota da corvinal para a amiga.


-O quê? – perguntou curiosa.


-James Potter beijou uma garota na frente da namorada.


-Sério?


-Aham.


-Agora ele está livre será?


-Nem pense, ele é meu!


-Olha lá ele!


E uma massa de garotas de todas as casas foram para cima do maroto, que estava sozinho, ele saiu correndo.


 


6.40 p.m.


[...]


James se esquivou das meninas e foi para o dormitório, para pegar o mapa. Pegou um caminho desconhecido, primeiro para não ter a chance de encontrar Dirk e depois para se esquivar das gurias que estavam loucas atrás dele.


Chegando ao dormitório pegou o mapa que estava dentro do malão. Sentou na cama e começou a procurar um pontinho, chamado Lílian Evans, que pro incrível que pareça, apareceu rapidamente no mapa, estava na torre de astronomia, ele guardou o mapa, colocou a capa e foi até lá.


 


6 p.m.


[...]


-Lílian! – Marlene entrara gritando no dormitório para procurar a amiga. – Caramba, onde ela se meteu? – perguntou para Dorcas.


-Não faço idéia. – a amiga ainda estava abismada com o que tinha visto, nunca pensara em algo tão baixo.


-Vamos, se mexa! – falou Lene entrando em pânico – Nós temos que achá-la antes que cometa uma burrice.


-Você tem idéia de que esse castelo é imenso? – perguntou Dorcas olhando para as fortes gotas que batiam nas vidraças.


-E vamos ficar paradas? – perguntou Lene que começava a ficar impaciente.


-Não, nós temos que parar e pensar. – Dorcas deu uma pausa. – Chamar Alice, Frank, Gideão e Fábio para procurá-la, cada um em uma parte.


-Mas até nos acharmos eles Lílian já fez alguma burrada. – Lene olhava aterrorizada para as amigas.


-É mais fácil achar os quatro que não estão se escondendo do que a Lílian, que pode nem estar no castelo e com essa chuva... – Dorcas se perdeu em devaneios, Lene pigarreou – Nós pegaremos quatro corujas lá no corujal e mandaremos cartas para eles, as corujas saberão onde procurar.


-Você tem razão. – as duas saíram pela porta do dormitório apressadas, a chuva lá fora piorava.


 


6.30 p.m.


[...]


-Já escreveu todas as cartas? – perguntou Lene para Dorcas que apenas reproduzia mais três cartas a partir da primeira.


-Já, toma. – Dorcas dava as cartas para Lene, esta colocava cada carta em uma coruja, e logo as despachou.


-Então vamos para o saguão de entrada.


Em quinze minutos estavam os seis agrupados na entrada.


-Vamos nos dividir, assim fica eu e o Gideão, a Dorcas e o Fábio, a Alice e o Frank, sendo visualizada a região da Grifinória, Corvinal e Lufa-Lufa, nos encontramos aqui em uma hora para irmos para as masmorras...


-Pode deixar, eu e o Remo vamos para as masmorras. – falou Sirius entrando no saguão de entrada.


-Vocês vão ter coragem de procurar a Lílian mesmo depois do que o seu amigo fez com ela? – perguntou Lene.


-Você não sabe o que aconteceu, e não sou eu que vou lhe explicar. – Sirius retrucou.


-Não, só que o James beijou outra garota na frente do Três Vassouras inteiro.


-E era o James? – perguntou Remo.


-Vai dizer que era uma ilusão de ótica? – perguntou Dorcas com cinismo.


-Não, vou dizer que era polissuco. – com isso os dois amigos saíram para vasculhar as masmorras, pois era provável que o falso James fosse um sonserino.


 


6.30 p.m.


[...]


Dirk entrara na sala comunal da Grifinória procurando por Lílian. Perguntou a todas as pessoas que estavam presentes, fez uma varredura no local, nem sinal de Lílian. Pediu para algumas garotas vasculharem o dormitório, e nada.


-Tudo isso só por causa do panaca do Potter? – perguntou um de seus amigos.


-Se acontecer alguma coisa a ela, eu juro que o mato. – falou Dirk friamente, saiu pelo buraco do retrato mais disposto do que nunca, ele vasculharia cada canto do castelo, ele acharia Lílian.


Passava correndo por todos, esses perguntavam o que havia de errado, mas Dirk estava tão direcionado em sua busca que não dava atenção para nada.


 


 


7.30 p.m.


Já está na hora de eu sair daqui, está frio demais, estou louca para ver o James, sei que isso parece masoquista, mas eu preciso saber da verdade, mesmo que isso doa. No fundo sempre achei que era bom demais para ser verdade, que ele era muito bom para mim e que eu não merecia tanto, complexo de inferioridade aflorando, mas eu tinha medo de me machucar, sempre tive, não que tenha adiantado muito, olha onde estou. Se todos gostam dele, é porque ele é legal, é simpático, gentil, isso ele é, mas  ele tem tantas escolhas, todas ficam aos seus pés, que eu sempre achei estranho ele me escolher, eu não acredito que eu seja tudo isso que ele disse que eu sou, e não devo ser, para ele me trocar por outra...


-Lílian? – chamou uma voz conhecida, é ele – Eu sei que você está aí. – falou James, quando eu me virei eu não o vi. Agora a voz vinha do meu lado, será que ele também está com o feitiço da desilusão? – Eu preciso que conversar com você. – num gesto rápido ele apareceu, tirou uma espécie de capa e apareceu.


-Eu sei o que você sempre pensou de mim, e acho que você tem certa razão em não querer falar comigo. – fez uma pausa, com um gesto nervoso arrumou os óculos – Mas também não tem razão.


Eu ri.


-Não você não tem. – ele falava sério, eu continuo rindo bobamente. – Era um panaca usando poção polissuco.


Soltei um bufo.


-E como você pode me provar? – perguntei, minha voz está fraca.


-Não posso.


Ri de novo, mas não é uma risada minha, é algo falso, algo que nunca pensei que fosse capaz de fazer.


-Você acha que depois de tanto trabalho para te conquistar eu ia fazer algo assim? – perguntou ele olhando para onde eu estava com aqueles olhos amendoados.


-Se você estivesse tentando provar algo para si, sim.- falei incapaz de olhar seus olhos.


-Você não pode acreditar que tudo o que eu te disse era mentira. – ele deu uma risada – Acho humanamente impossível.


-Para você, nada é humanamente impossível. Me magoar foi prova disso.


-Mas você não é a prova de sentimentos.


-Até algum tempo atrás era a prova de você. Você não podia me machucar, eu tinha uma barreira que não deixava, um belo dia isso se dissolveu, a partir daí eu fiquei vulnerável a você.


-Mas você não acredita que não era eu.


-Não quero acreditar.


-E se eu te provar?


-Você não acha que os meus sentimentos já não foram suficientemente postos a prova e falharam?


-Você não quer acreditar, então me deixe provar.


-Como?


-Vou dar um jeito.


-E se você não der?


-Você poderia apenas confiar em mim. – os olhos de James brilharam por um momento.


-Você acha que eu o amo tanto assim, para apenas confiar em você? – perguntei com um som de riso na voz.


-Sim, e eu fui tão correspondido que sei o quanto você me ama. – a voz dele não continha arrogância, apenas uma simples e verdadeira afirmação.


-Assim eu seria masoquista.


-No fundo todos somos, eu principalmente. – falou pela primeira vez com aquele sorriso brincando em seus lábios.


-Mas você promete que vai tentar me provar? – perguntei como uma criança pergunta para um pai.


-Prometo. – ele sorriu calorosamente veio mais perto e me tocou com a varinha, que desfez o feitiço. Mesmo assim continuava frio. Ele tirou a blusa e me entregou, me abraçou e saímos com sua capa até a sala comunal da Grifinória.


Ele tinha de estar falando a verdade, e eu queria acreditar que estivesse. Ele estava falando a verdade, eu sentia.

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