Quando o Dia se Fez Noite



Capítulo 13
Quando o Dia se Fez Noite

“O que está acontecendo?
O mundo está ao contrário e ninguém reparou
O que está acontecendo?
Eu estava em paz quando você chegou”

Cássia Eller


Luna desceu as escadas que davam acesso ao corredor da cozinha. Benjamin tinha dito que ia fazer uma boquinha e como estivesse demorando ela decidira procurar pelo rapaz. Depois do jogo lhe pareceu que ficara um certo clima no ar. Quer dizer, ele não tinha feito nenhum tipo de insinuação, mas estivera mais próximo que nunca, até a defendendo quando Zabini, todo nervosinho, quis pedir satisfações.
Era legal ter um amigo como Benjamin. Mais legal ainda quando a amizade evoluía para uma coisa assim, mais... colorida.
Sob a influência destes pensamentos, Luna tinha um largo sorriso quando chegou ao corredor da cozinha. Se soubesse o que iria encontrar, ela teria congelado o sorriso no rosto e voltado para a sala comunal, continuando a ser abençoadamente sonhadora e alheia à realidade.
Mas o mundo não gira conforme queremos, não se preocupa com os desejos de garotas esperançosas e não costuma ter piedade quando o assunto é coração. Naquele momento, ao virar a esquina para seu destino, a realidade de Luna a atingiu como um punhal frio dentro do peito.
Benjamin Travis envolto pelos braços delgados de Katie Bell. Sem pressa, entretidos num lento beijo ante a porta que levava à cozinha.
Luna se viu resfolegar. Será que seu coração batia tão forte que podia ser ouvido? Dava pra escutar ele se quebrar?
Ao escutar o ruído que ela fez os dois se afastaram bruscamente e ela não teve para onde correr.
- Por Merlin! – Ben pôs as mãos no peito rindo de lado para uma Katie ruborizada e igualmente aliviada. – Pensei que fosse o velho reumático. Graças a Deus é só você.
“...só você.”
Luna não conseguiu se mover, responder, correr, nada. Ficou parada, torcendo para que não lessem sua expressão machucada.
- Benjamin... - a voz tímida de Katie voltou a atenção do rapaz para a moça. - Ah... acho voltar pra Torre da Gryffindor. Poderia mesmo ter sido o Filch. – ela sorriu sem graça, apontando para Luna.
- Eu te acompanho. – Ben puxou a mochila pesada da mão da moça sem dar maior atenção. – Levo pra você até lá.
- É um longo caminho... – ela disse ruborizada.
- Sei disso. – o olhar de Ben não poderia ser mais claro.
- Tudo bem então. – Katie aceitou a ajuda corando ainda mais.
- Tchau, Luna. – o rapaz se despediu da loira descuidadamente. – Vê se não dá bobeira, heim menina? O Filch pode te pegar.
Luna deu graças ao vê-los se afastar, seus olhos estavam ardendo, prestes a chorar. Nunca sentiu dor tão esquisita... era pior do que ver Benjamin morto. Quando sua mãe morrera tinha sofrido o diabo, mas com o tempo a dor diminuíra e ela se conformara. Mas aquilo... Sua mãe não a deixara por livre vontade. A garota deslizou pela parede sentindo as lágrimas assomarem com a dor de ser desprezada.
Durante os últimos dias, em especial durante a locução do jogo, realmente pensara que havia uma chance. Ele tinha dito que a McGonagall provavelmente jamais os deixaria perto de um megafone outra vez, mas que tinha sido fantástico e que ela era incrível. Mas não no sentido que ela se convencera, agora enxergava. Quem era Luna para Ben? “Uma garota engraçada. Boa para conversar e dar risadas.” Não uma garota de verdade, alguém para se apertar e beijar... assim como Katie e outra dezena de moças que sabia.
Luna apertou as pernas de encontro ao peito, molhando os joelhos com suas lágrimas e se despedindo de suas fantasias de romance. De suas esperanças que ele a olhasse um dia como fizera com Celina. Provavelmente jamais aconteceria, e o mais triste é que continuaria esperando, idealizando o rapaz como o príncipe do qual Neville falara.
Pela primeira vez Luna se perguntou se Neville se sentia do mesmo modo quanto a ela. Se tinha chorado, sentido o coração partir. Se fosse assim, então a justiça divina realmente andava a galope.

XXXXXXX

Celina tinha mandado uma carta para casa, outra. A reação de Florência fora como o previsto e a do pai também. Mas interessantemente os dois pareciam já saber da notícia. Estavam bem informados até demais. Um espião? Totalmente possível, a ramificação complicada dos McGregor e os membros da Ordem dentro do castelo deviam ter ajudado.
Ela se perguntou se havia outra adolescente com pais que pareciam ver tudo. Era no mínimo desconfortável, mas no momento não era isso que a estava deixando tão ensimesmada. Vinha andando de volta do corujal, pensando que precisava ser mais cuidadosa. Não com os “espiões”, mas consigo mesma. Não podia mais se encontrar com Harry em tais circunstâncias em que suas roupas imploravam para ser tiradas. Não era justo com ele nem com ela. A não ser que terminassem logo com aquilo de se esfregarem sem maiores conseqüências, era melhor se manterem numa distância segura.
“Droga!” A quem queria enganar? Mal podia vê-lo passar, rindo displicente, os cabelos teimando em cair nos olhos, sem conter o impulso de puxá-lo para o primeiro canto escuro disponível. Era um caso perdido. Precisava ter Harry. Definitivamente.
Então, o que estava atrapalhando?
Certo, ela sabia que estava pateticamente apaixonada, com direito a suspiros e sorrisos babados, com direito a fazer um coração com o nome dele no livro de poções. “Ah, Deus”, ela fez uma careta, Celina Lux desenhando coraçõezinhos... e o pior, achando bonitinhos! Paixão afeta o cérebro, emburrece. Ela, que tinha pânico de garotas derretidas, tinha se tornado a número um.
Não tinha rapaz mais bonito, mais doce, com um abraço que encaixasse melhor. E os beijos... Ah, ela passaria horas sendo beijada lentamente. E era o que vinha fazendo, não é mesmo?
Ela deu o décimo suspiro do dia. Estava gostando mesmo do menino-que-a-emburreceu e achava que ele também devia gostar muito dela. Pelo menos parecia... Ele tinha dito que era louco por ela, não tinha?
Celina entrou no castelo com a testa franzida, uma dúvida martelando na cabeça. Fez um atalho virando um corredor próximo à masmorra e acenou com a cabeça para duas conhecidas da slytherin.
Louco por ela. O que aquilo significava de verdade? Que ele também estava apaixonado? Parecia que sim. O modo como a olhava, como era atencioso, carinhoso com as menores coisas, sem contar os momentos a sós em que tudo pegava fogo. Isto tinha sido o suficiente até então. Mas... não mais.
Agora, quando o momento de se entregar a ele estava chegando, Celina percebeu que não queria mais evasivas, palavras subentendidas. Queria tanto escutar da boca dele... Simplificaria tanto as coisas... Ela não precisava de flores, vinho ou luzes de velas. Precisava escutar. Saber que ele se entregava do mesmo modo que ela. Ah, os garotos eram tão estúpidos... Achavam que no jogo do amor o preço da iniciativa era o maior de todos. Será que não percebiam que o maior preço era o das mulheres? Elas não precisavam necessariamente aceitar, mas quando faziam pagavam o preço da entrega. Celina tinha entregado seu coração e entregaria seu corpo, pagaria de bom grado, apenas queria escutar que ele a amava. Era pedir demais?
Tinha recebido uma carta de Phillys na véspera. “Se está se sentindo desse jeito, diga a ele. Seja franca e pergunte se ele te ama.” Fácil falar, não era a prima que estava completamente apaixonada pelo cara mais complicado do mundo bruxo. Corrigindo, do mundo todo, se tinha alguém com mais problemas que Harry, Celina nem queria ficar sabendo.
Ela deu um alto suspiro, o décimo primeiro, enquanto passava alienada por outra turminha de garotas bem menos amigáveis.
- Não basta o Potter? Também precisa vir até a aqui pra arrumar mais um pra lamber seus sapatos?
Uma garota de cabelos curtos e negros barrou sua passagem, do contrário Celina teria passado sem perceber que falavam dela.
- O que está fazendo aqui? – Pansy Parkinson chiou irritada.
- Sendo importunada, parece. – Celina se esquivou. – Estou passando Parkinson, pode me dar licença?
- Veio atrás do Draco?
- ?
- Quanto mais melhor, não é seu lema?
- É Parkinson, como você quiser. – Celina se desviou da outra. Não estava com a menor disposição para brigas.
Mas Pansy pareceu se irritar mais ainda com o descaso e se colocou no caminho de Celina novamente. Não contente com isso, a empurrou para trás com ambas as mãos.
- Você sai na hora que eu decidir.
Celina abriu a boca estupefata. Se lembrava das aulas de DCAT com a slytherin. Na melhor das hipóteses a garota era medíocre.
- Você está louca? – encarou a outra contando até dez. As garotas que assistiam também pareciam surpresas, algumas de olhos arregalados, outras cochichando aflitas. – Eu poderia te fatiar em mil pedaços.
- Queria ver você tentar. – Pansy pôs as mãos na cintura arrogantemente. – Vamos! Só preciso de um motivo pra te dar o que vem pedindo.
Além de toda a cena surreal tinha algo estranho ali, slytherins não agiam pela frente. Eram conspiradores, tortuosos. Bater de frente com um adversário superior não fazia parte de suas táticas.
A gryffindor pensou em suas alternativas. Era o dia de sorte de Pansy.
- Vou fazer de conta que não escutei. Aliás, vou fazer de conta que você não existe. – Celina suspeitou do motivo da cena e resolver fazer sua boa ação do ano. - Você está com ciúmes e não está regulando bem. Não quero nada com Malfoy, Parkinson. No que me diz respeito pode levá-lo pra casa embrulhado em papel celofane.
Pansy se curvou numa risada exagerada.
- Ciúmes? É preciso mais que uma vagabunda como você pra me ameaçar.
Bem... aquilo não tinha deixado muitas opções.
- Como quiser, Parkinson. – Celina falou devagar, como se não fosse uma ameaça. - Depois que eu te estuporar vou costurar essa sua boca nojenta ponto por ponto e prestar um grande favor à humanidade.
Pansy e Celina tiraram as varinhas das vestes ao mesmo tempo, mas o braço da gryffindor foi bruscamente apanhado ao fazer uma curva no ar.
- Chega! Abaixe a varinha. – Draco Malfoy apareceu do nada, segurando seu braço com força ao mesmo tempo em que se colocava na linha de tiro e ordenava friamente para a morena. – Você também, Parkinson.
- Não vou deixar essa vagab...
- Eu disse que chega! – Draco gritou para a colega ao mesmo tempo em que Zabini se colocava ao redor de Pansy.
- Vamos, guarda isso, Pansy. Você ouviu. – o rapaz falou conciliadoramente.
Mas a garota parecia alheia a tudo menos ao fato de Draco estar tão próximo à Celina.
- Vai defender a noivinha? A namoradinha do Potter? – ela disse venenosamente, esperando enfurecer o loiro. – O que você espera? Que ela te dê beijos em troca?
Draco sorriu com sarcasmo, apertando mais forte o braço que a gryffindor tentava soltar.
- Estou apenas tentando resolver entre nós. Como sempre. Do contrário eu precisaria te visitar na enfermaria ou no túmulo, Pansy.
Vários palavrões saíram da boca da garota, a maioria dirigidos à Celina, o que fez a mesma tentar avançar sobre Parkinson apenas com as mãos.
- Fica quieta. – Draco sibilou se colocando na frente e a contendo com os braços. Do outro lado Pansy era contida por Blaise. Crabbe e Goyle tinham idênticas expressões desnorteadas, sem saber como agir. – Não complica as coisas, Celina.
- Me solta, Malfoy! – Celina se debateu quando sentiu o rapaz passar os braços por sua cintura. – Me solta agora!
- Não seja estúpida. Você não quer se encrencar. – a voz dele estava cansada, como se realmente não quisesse que nada acontecesse.
Mas a raiva de Celina se acumulou com as coisas que ele tinha dito dias atrás e uma energia concentrada se libertou de seu corpo fazendo uma ferroada atingir e afastar definitivamente um espantado Malfoy.
Antes que ela pudesse lamentar a imprudência, antes que Draco assimilasse o que tinha acontecido, uma voz ciciante calou todos os estudantes.
- Posso saber o que está acontecendo aqui? – Snape vinha da direção do salão, acompanhado por McGonagall.
- Ela ia me estuporar, professor. – Pansy fez uma cara assustada e indefesa, nem parecendo que estava esperneando nos braços de Zabini, segundos antes.
- E você não ia fazer nada, não é? – Celina a encarou furiosa, arrependida de não ter aproveitado a chance de acabar com aquela vaca dissimulada.
- Não é verdade. – Pansy se voltou para Snape. - O senhor sabe como não sou boa em DCAT. Vive me dando deveres extras.
- Talvez McGregor esteja pensando que está acima das regras. Influências perniciosas, suponho. Uma detenção seria um bom corretivo. – o Professor falou com uma curva satisfeita no rosto. Desde que começou a namorar Harry, Celina percebeu que Snape a tratava com mais rigor e maldade, querendo atingir o rapaz através dela. – Uma atitude como esta? Não consigo imaginar de onde veio a inspiração...
- Senhorita McGregor, - Minerva ignorou Snape e avaliou a aluna. – estava mesmo pensando em azarar a senhorita Parkinson?
Celina respirou fundo, encarando a professora com uma cara fechada.
- Não estava pensando. Já tinha me decidido por um Petrificus Totalus, mas um Levicorpus também estaria de bom tamanho.
A Prof. McGonagall apertou os lábios severamente, Snape apenas sorriu.
- Então preciso concordar com o Prof. Snape, Celina. Detenção e dez pontos a menos para Gryffindor. Vamos até minha sala...
- E sobre ela? – Celina apontou para uma Pansy que ria silenciosamente atrás dos professores. – Eu não atacaria ninguém sem um bom motivo, a senhora sabe disso.
- Com licença, – Snape chamou a atenção falando com evidente prazer. – há algum tempo McGregor tem se mostrado diferente, tal como a maçã que se estraga na companhia de outras podres. Não acredito que sua palavra mereça tanto crédito como no passado, se é que merecia então. Mas temos como averiguar o ocorrido. Há um monitor presente. Poderia nos esclarecer o que houve, Malfoy?
- Ele? – Celina não se conteve com a injustiça. – Ele não vai entregar alguém da própria casa.
- Silêncio! – Severus atalhou sem dar importância. – Vamos, Draco. Diga o que aconteceu.
Todos se voltaram para o pálido rapaz que ainda focava Celina com os olhos curiosos.
- Claro, professor. – ele fitou os professores e por último as duas garotas. Pansy tinha um olhar vitorioso. Celina, uma expressão de fúria pouco resignada.
- McGregor tentou azarar Parkinson. – Draco esperou Snape fazer um gesto como que dizendo, “eu não avisei?”, então continuou. – Mas Parkinson provocou, chamou Celina de nomes não muito educados e ofendeu sua família até a quinta geração.
Pansy engasgou, Zabini o olhou estupidificado e Crabbe e Goyle pareceram mais aparvalhados que de costume.
- Se bem me lembro você também me ofendeu, - Draco olhou ironicamente para Pansy.- mas neste caso provavelmente é tudo verdade.
Draco viu a Prof Minerva o observar um pouco surpresa e Snape com muita desconfiança. Mas seus olhos buscavam captar a reação de Celina. Confusa, incrédula, lábios entreabertos de surpresa.
- Muito bem, - McGonagall desfez o momento de imobilidade. – tenho certeza que você achará uma punição adequada para sua aluna, Severus.
- Naturalmente. – ele sussurrou.
Minerva seguiu chamando Celina. Ao passar por Draco, ainda perplexa, ela teve certeza de ter visto algo nos olhos de fumaça.
“Viu? Sempre cuido de quem está a meu lado”.
Longe de ficar agradecida, aquilo só a deixou mais preocupada.

XXXXXXX

Uma semana de detenção. Um castigo extremamente longo e injusto por um motivo tão insignificante. Celina terminou o trabalho extra de transfiguração no qual vinha trabalhando há cinco dias. Também estava copiando as matérias dadas durante as aulas para Theodore Not, doente na ala hospitalar. Suas mãos já estavam com câimbras.
Ela não tinha chegado a tocar num fio de cabelo besuntado daquela vaca, mas McGonagall não se importou com o fato, dizendo que a punição devia ser exemplar. Ainda ouvia a voz da professora:
- Pelo motivo que for, Celina, não há desculpa. Seus pais tem se esforçado muito dentro da Ordem, principalmente para te proteger e te manter afastada de qualquer problema. Seria bom que o empenho deles fosse valorizado.
Ok, Celina sabia que nunca fora boa em se manter apagada. Não resistia a uma boa confusão. Mas além de achar exagerado, o castigo estava lhe tirando preciosos momentos em que podia estar com Harry. Longe de professores e demais alunos.
Sério, parecia perseguição.
Ela estava enrolando o enorme pergaminho quando a figura pálida e doentia de Malfoy entrou pela sala de McGonagall, colocando rolos de papel sobre sua mesa.
- Está fora do prazo. – a professora disse secamente. – Seu trabalho não vai poder ser avaliado com a nota total e espero que não aconteça novamente. Do contrário ficará sem nota. Não costumo abrir exceções.
Minerva McGonagall recebendo um trabalho fora do prazo? Celina concluiu que a sinceridade de Malfoy, contando o que de fato acontecera, deixara a professora incomumente indulgente e razoável.
Draco apenas assentiu sem dar maior importância ao fato.
- Senhor, Malfoy. – Minerva o interpelou. – Está se sentindo bem?
O rapaz murmurou algo como “sim”.
- Tem certeza? Seria prudente visitar Madame Pomfrey. – a professora apertou os olhos preocupada. – O senhor está me parecendo doente.
- Estou bem. – ele falou com a voz sumida. – Um pouco cansado com as provas.
E antes que Minerva pudesse dizer mais alguma coisa ele se retirou sem esperar dispensa e sem nem mesmo olhar na direção de Celina.
A garota entendeu a apreensão de McGonagall, Malfoy estava verde, com olheiras fundas. Noutro tempo teria achado graça numa doença que fizesse Malfoy ignorá-la, mas sua intuição alertou-a de que algo muito ruim se passava com o slytherin. Ele vinha apresentando uma alteração de personalidade sui generis, de arrogante se tornara perigoso, depois fora gentil e agora indiferente. E de alguma forma ela não pôde se alegrar com a mudança. Não era bom presságio ter uma bomba relógio imprevisível andando pelo castelo, principalmente quando o principal alvo eram Harry e ela mesma.
Quando a detenção terminou, ela foi apressada para a torre, mas ao virar o primeiro corredor, percebeu Harry vindo na direção oposta. Agora ele dera para aquilo. Vinha lhe esperar todo dia na porta da sala, como se estivesse preocupado.
Eles pararam frente a frente mas ele não a tocou, ficou parado de um jeito estranho e Celina percebeu que ele tinha coisas a dizer mas parecia dividido por onde começar. Não se surpreendeu quando ele a olhou ressabiado e perguntou:
- Vi Malfoy vir da mesma direção. Ele... estava com você?
A garota girou os olhos para o teto.
- Eu estava em detenção... com a McGonagall, se lembra?
- E ele não passou por lá como quem não quer nada?
Celina suspirou antevendo o problema.
- É, ele fez isso. Mas não por minha causa, tinha um dever atrasado pra entregar.
Como previsto, Harry endureceu o semblante.
- Sei. E o que ele te disse?
- Nada. Entrou e saiu da sala sem me dirigir uma única palavra. Parecia tão estranho que acho que nem me viu.
- Não quis nenhum tipo de agradecimento?
- Agradecimento. Do que você está falando, Harry? – ela procurou se manter paciente com o interrogatório.
- Celina, Malfoy não falou a verdade contra alguém da própria casa pela bondade de seu puro coração. Ele queria algo em troca, uma recompensa. – Harry a olhou bem dentro dos olhos. – Eu não preciso dizer o quê.
- Espero que ele se contente com a alegria do dever cumprido. É a única recompensa que vai receber. – ela respondeu tentando não se irritar.
Os dois se encararam por alguns momentos e a bruxa foi recompensada por seus esforços quando Harry a puxou num abraço e falou dentro dos seus cabelos.
- Me desculpe. Não gosto dele perto de você.
- Você sabe que não precisa se preocupar com isso. – ela se enroscou no pescoço dele. – Apesar das fofocas invejosas sou bem certinha e fiel.
- Não falava disso. – ele não riu da brincadeira. Encostou a testa na dela procurando se certificar do que ia perguntar. – Ele nunca... sabe, te assediou? Nunca tentou nada?
- É claro que não. - Celina não titubeou. Já esperava por uma pergunta como aquela. – Esse lance dele é pra te implicar. Tira isso da cabeça, ok?
Apesar de nunca ter contado o que se passara no vestiário com Malfoy, Harry tinha essa conexão com ela, percebia coisas que os outros não viam.
- Desembucha. – ela sorriu. – Tem algo te agitando e não é o Malfoy.
Harry assentiu ficando mais grave e ao mesmo tempo empolgado.
- Lyn... – ele disse olhando para os lados. – Estou indo com Dumbledore. Ele achou uma Horcrux!
Celina balançou a cabeça assimilando a notícia sem o mesmo ânimo.
- Uau. – ela falou mecanicamente e sentiu Harry a apertar novamente.
Ele estava se despedindo?
- Harry, vocês vão atrás disso hoje? Vocês vão agora? – sua voz saiu alarmada.
- Sim, agora mesmo. Fui à sala comunal apenas pra pegar a capa da invisibilidade e dei uma corrida pra me despedir de você. Tenho que ser rápido, Dumbledore está esperando.
- Você... precisa mesmo ir?
- Você sabe que sim. – ele apertou os olhos sem entender a pergunta dela.
- Claro, - ela baixou a cabeça se contendo. – claro que sei.
Ela não soube como continuar com aquela conversa sem trair seu medo, então se colocou na ponta dos pés e eles se beijaram de um jeito simples e gostoso.
- Como você pode ter um gosto tão bom? – deu certo, a última coisa em que Harry estava pensando era em suas inseguranças.
- Paixão deixa a gente doce. – ela sorriu sem alegria abraçando-o bem apertado. - Promete ter cuidado?
- Prometo.
- Promete mesmo?
Ele percebeu o abraço ficando cada vez mais forte.
- Prometo. Você também, Godric. Fique segura e tome cuidado. – ele esfregou o nariz no da namorada. - Lembre-se que tem um Comensal dentro da escola.
- Eu nunca esqueço. – ela franziu a testa sob certas lembranças dúbias.
- Me deseje boa sorte. – ele lhe deu um último beijo e correu antes que ela pudesse impedi-lo ou dizer qualquer outra coisa.
- Boa sorte. – ela falou baixinho.
Celina ficou parada apenas escutando os passos dele se distanciarem. O coração miudinho dentro do peito.

XXXXXXX

Como se conta o tempo? Como se contam as horas quando tudo o que se quer é poder voltar atrás? E mesmo assim... O que poderia ter feito de diferente?
Tudo.
E se ele tivesse sido mais rápido? E se Dumbledore não o tivesse paralisado? E se tivesse podido defendê-lo? Se tivesse impedido seu assassinato? E se, e se, e se...
A cabeça de Harry girava num círculo vicioso de pensamentos e lembranças que minavam suas forças. Outra noite de horror. Outra pra coleção.
Dumbledore estava morto, a Horcrux, uma imitação sem valor. Morto de modo covarde. Sem defesa. Avada Kedavra. O corpo frio atirado do alto da torre de astronomia. Sem compaixão. Sem volta.
Harry tinha se inclinado sobre o diretor, tocado suas mãos frias, seu rosto imóvel. Tão irremediavelmente morto, tão distante de qualquer sopro de vida, tão decididamente acabado. Será que havia morrido sem sofrimento e desespero?
“Ah, Deus, espero que tenha morrido sem dor e medo. Em paz, tão sereno quanto seu rosto.”
Que grande mentira. A vida de Dumbledore fora roubada, assim como a de Cedric, de Sirius, como a de seus pais. Mais uma fila gigantesca de fantasmas imaginários que desfilavam por seus olhos. Todos mortos, assassinados por Voldemort. Mortos que cobravam dele uma atitude. Mortos que lhe falavam sobre a profecia. O bruxo das trevas precisava ser destruído e seria ele quem deveria apostar a própria vida nesta empreitada.
A profecia era sobre ele, o dever era dele. Não tinha o direito de ferir mais ninguém. E ele não o faria.
Faziam três dias que tudo acontecera. Três dias em que ele se refugiara no quarto saindo apenas quando era restritamente necessário. Na manhã seguinte teriam os funerais de Dumbledore e depois... só Deus sabia sobre seu destino.
Seu ódio e ressentimento criaram uma máscara de frieza que não deixava ninguém se aproximar, todos os que tentavam foram totalmente repelidos. Mas sua aparente insensibilidade era mais profunda e cruel em se tratando de Celina.
Na noite em que Malfoy trouxera os Comensais para dentro da escola, a noite em que Severus Snape assassinara Albvs Dumbledore, ele havia ficado tão perdido que duvidava ter conseguido sobreviver às próximas horas sem Celina. Fora ela que o encontrara, que o trouxera até os membros da Ordem, que apertara sua mão quando ele contara o que houve. Ela o amparara e ajudara Madame Pomfrey a medicá-lo. Então o levara até o dormitório e depois de avisar a Ronald, fechara as cortinas de sua cama e passara a noite toda a seu lado, velando por seu sono inquieto. Ele tinha a vaga lembrança de sua presença morna deitada ao lado de seu corpo, de ter se agarrado a ela quando os pesadelos ameaçavam desabar. Dedos finos alisando seus cabelos e palavras em uma língua desconhecida murmurando encantos que o aquietavam e soavam como canção.
Quando acordou ao lado dela sentiu que sua dependência beirava o desespero. Teve raiva de sua vida, teve raiva de Celina. Ela não tinha que ter aparecido, não tinha que ser tão perfeita. Não tinha que ter mostrado a ele o que perderia neste mundo.
Ele se levantou e a deixou adormecida. A partir daí começou a destratá-la. Não ficava perto dela, mal respondia suas perguntas e sempre que o fazia era com tal rispidez que em outro tempo a faria responder à altura e lhe dar as costas. Mas algo mudara até mesmo com ela. Celina escutava suas ofensas e não revidava, somente se desdobrava para que ninguém o atormentasse. Mesmo à distância ela cuidava dele. Mesmo no quarto sozinho ele sabia que ela estaria ao pé da escada. Pensando nele, se preocupando com ele. Uma coisa que naquela hora o incomodava demais. Queria que ela fosse embora, que desistisse dele, o deixasse em paz.
Até suas refeições ela insistia em mandar, mesmo que por outras pessoas, e quando a porta se abriu ele não se surpreendeu ao ver Hermione entrando com uma bandeja.
- Seu almoço, Harry.
- Já falei que não precisa se preocupar.
- Sei disso, quem tem se preocupado é Celina. – ela falou o perscrutando.
- E por isso eu sou obrigado a comer? – ele disse com seus novos maus modos.
Hermione mordeu os lábios e um brilho de decisão tornou seu rosto mais duro.
- Pra mim chega! Eu não me importo se vai comer ou morrer de fome, Harry. Mas uma garota lá embaixo se importa. Você pode estar passando o diabo mas nada te dá o direito de agir como um boçal, principalmente com quem gosta de você. Dói sabia?
- Perdão por machucar seus sentimentos, Hermione. – ele falou sarcástico sem nem olhar para ela.
- Não é a mim que machuca, eu não tenho importância. Mas sua namorada, que tem passado noites em claro por sua causa, devia ter.
- Não quero falar sobre isso. Quer fazer o favor de me deixar sozinho?
Mas Mione o ignorou indo se sentar na beira da cama e se pondo a encará-lo sem pestanejar.
- Não está certo o que você está fazendo com ela. – ela falou severa. – Está de cortar o coração. Cada palavra doce, cada gesto de carinho e você só falta bater no rosto dela. E você precisa dela. Qualquer imbecil percebe o quanto está sentindo falta.
- Pra mim não importa o que pensam. – Harry a cortou agressivo. – Ela não tem nada que ficar por perto.
- Por que não? É da Celina que estamos falando, a garota que você quis por três anos.
- Mas que não quero mais.
Mione abriu a boca perplexa com o que escutou.
- Ela sabe disso? – ela perguntou sem obter resposta. – Sabe que deixou de ter importância? Ou você tem achincalhado com ela por que decidiu ficar longe e está com medo de não agüentar?
- Eu não tenho que ter essa conversa com você. – Harry cortou deixando de encará-la.
- Tem razão, a conversa tem que ser com ela. Nunca vi ninguém tão paciente, tão esquecida de si mesma. Ela está vivendo num estado suspenso. Não vai tomar nenhuma decisão até você dizer o que quer dela. – Mione apertou os dentes sentindo raiva do amigo naquela hora. - Apenas faça isso antes que ela se magoe mais.
A amiga estava saindo do quarto quando escutou Harry quase murmurar.
- Não sei se consigo...
- Tem que conseguir. O que você não pode mais é ficar assim. – Hermione disse sem se voltar. – Ela também não. Faça logo o que tem que fazer. Sou sua amiga pra sempre, mas está ficando muito difícil ver Celina assim sem querer te azarar.
- Hermione. – ele falou fazendo a colega se retesar. - Não precisa me trazer mais nada. Esta noite vou descer para o jantar.
Ela assentiu com a cabeça olhando para trás. Harry percebeu que já não havia raiva naquele olhar.
Ele tinha algumas horas para se preparar e fazer o que precisava ser feito. Tomara que sua força fosse suficiente.

XXXXXXX

Passaram todo o jantar em silêncio e Harry notou que durante todo o tempo, tal como ele, ela nem sequer tocou na comida. Ficou sentada com as mãos sobre o colo, o olhando calmamente, esperando. Como se soubesse.
- Precisamos conversar. - ele murmurou baixo para que os outros não ouvissem.
Ela assentiu sem uma palavra, tendo certeza de que aquele momento aconteceria. Os dois se levantaram ao mesmo tempo, e como se fosse tudo ensaiado ela o seguiu para fora do salão principal.
Na mesa de refeição Ron e Hermione, com expressões pesarosas, deram-se as mãos.
Harry andava sem saber exatamente para onde. Para um lugar longe de todos. Para um lugar que também fosse longe dela. Tinha ignorado a mão que ela lhe estendera, ignorado os olhos que o queimavam pelas costas. Seus pés subiram escadas, viraram corredores, sempre sendo seguidos por ela. Sem saber como, Harry se viu parando em frente à sala precisa e escolhendo a primeira coisa que lhe veio à cabeça. Ele girou com força a maçaneta e abriu a porta para a antiga sala da AD.

“O que você está fazendo?
Milhões de vasos sem nenhuma flor
O que você está fazendo?
Um relicário imenso desse amor”

Harry andou até perto da lareira mentalizando: “Incêndio”, e esta se acendeu. Ele permaneceu de costas.
Celina andou por entre os poucos móveis, desamparada.
- Se lembra daquele dia de chuva, dentro do carro? – a voz dela saiu incerta. - Nós tínhamos combinado de vir para cá no fim do ano letivo. Seria nesta sala, mas ela estaria diferente. – ela olhou para a mesa com livros de DCAT e para as almofadas espalhadas pelo tapete.
- Como eu poderia me esquecer? – ele respondeu amargurado. – Mas o destino tem planos diferentes pra mim. Sempre tem. A felicidade nunca foi minha prerrogativa. E agora a solidão é a única escolha que eu tenho.
- Não tenha tanta certeza. Eu estou aqui, não estou? Você tem me maltratado sistematicamente, mas não conseguiu me afastar. - ela falou com a voz límpida. – Você não entende, Harry? Não importa o que você faça, eu nunca vou te deixar.
- Acabou. – ele disse sem se voltar.
- Mentira.
Ele se irritou com aquela voz tranqüila, sem nenhuma emoção.
- Eu não quero mais ficar com você. – ele tinha os olhos apertados, vigiando o fogo devorar a madeira da lareira.
- Mentira.
- Eu não quero, não posso. Não faz diferença. Quero que você vá embora e me deixe em paz. – ele finalmente se voltou ficando chocado por ela estar tão perto.
- Você pode tentar me obrigar. – ela o fitava impassível, irredutível.
- Eu posso. – ele a viu dar mais um passo.
- Você tem o dobro da minha força, é só me afastar. – outro passo.
- Não me obrigue a te machucar. – ele se impacientou. - E se você se aproximar eu vou te machucar.
- Eu não me importo. – ela continuou indo em sua direção.
Era algum tipo de tortura medieval, tê-la tão próximo e tão longe de qualquer possibilidade.
Ele não queria que ela se aproximasse, mas não conseguia sair do lugar, não conseguia nem mesmo se mover. Toda a força da gravidade do mundo parecia se concentrar em seus pés, em seu coração.
- Você e eu não podemos ficar juntos, “ele” vai te achar, vai te matar. Hoje eu sou quase um proscrito. – ele não conseguiu impedí-la de tocar seu pescoço com as pontas dos dedos.
- Nós somos iguais. – ela sussurrou encostando o corpo no dele, tentando desesperadamente faze-lo entender. – Você não sabe disso? Corremos os mesmos riscos, juntos ou não. E eu quero você, quero ser proscrita com você.
- Mas eu não quero.
- Eu estou pronta, Harry. – ela estava com tanto medo de perdê-lo que decidiu arriscar todas as suas fichas. – Estou pronta pra ficar com você, pra ir até o fim.
Ele tentou se esquivar descobrindo que era impossível mover um só músculo.
- Não... Apenas não me tente. Desta vez se nós começarmos eu não vou conseguir parar, não vou querer parar.
- Eu não vou querer que pare. – ela se inclinou e beijou seu queixo, fazendo o corpo dele tremer com a força que fazia para manter as mãos longe dela.
Ela percorreu seu rosto com beijos lentos, delicados. Tirou seus óculos e beijou seus olhos fechados, sua cicatriz. Harry respirava com dificuldade, o perfume dela entrando por suas narinas, ela toda o invadindo por dentro.
- Então ponha as mãos em mim... – ela disse lendo sua vontade, a voz contendo tanta ansiedade que chegava a falhar.
Não existia mais certo e errado, só existia Celina. Ele afastou o rosto dela a puxando pelos cabelos, queria ver seus olhos antes, queria que ela visse os seus também, que ela lesse o que ele nunca poderia dizer. Quando os olhos dela disseram a mesma coisa que os seus ele abandonou todo o controle.
Harry apertou o corpo dela com violência contra o seu, buscando sôfrego sua boca. Não foi um beijo delicado, foi ansioso, profundo, desesperado. Um beijo que a devia estar machucando, mas que era retribuído. Ele ardia de saudades, de dor, de desejo, queria de novo o conforto de seu corpo, o contato com sua pele. Tinha se negado isso por tempo demais. Ele a forçou a andar para trás, a colocando sentada na mesa. Se encaixou entre as pernas dela e enquanto corria as mãos sem pudor por seu corpo sentiu dedos nervosos tirando sua gravata, abrindo sua camisa. Tentou desabotoar os botões da blusa dela, mas suas mãos tremiam, já não respondiam a seu comando. Com um puxão mais forte arrebentou os botões rasgando a blusa, cravando os dentes em seu pescoço, chupando sua pele acetinada.
- Coloque os braços em volta do meu pescoço. – ele disse enquanto a boca subia lambendo o lóbulo da orelha dela.
Quando ela obedeceu, arquejante, ele a carregou até o tapete de frente à lareira. Celina sentiu dor quando seu corpo foi rudemente colocado no chão e prensado com excessiva força pelo peso dele. Mas não disse nada, apenas chutou os sapatos enquanto ele apertava suas coxas, forçando-as a se afastar, se colocando no meio delas e arrancando suas meias brancas ¾.
- Harry... – ele a impediu de falar cobrindo sua boca com a dele.
Ela não se lembrava em que momento sua saia tinha sido tirada, mas viu que estavam os dois apenas com as roupas de baixo. Celina não sabia dizer se estava sendo bom ou ruim, talvez as duas coisas. Apenas sabia que precisava dele.
Ela queria falar, dizer tudo o que sentia por ele, tudo o que ele a estava fazendo sentir, mas Harry não permitia, ele abafava até seus gemidos com beijos violentos. Quando as mãos dele entraram por dentro de seu sutiã ela choramingou dentro da boca dele, afundando as mãos nos seus cabelos, puxando o corpo dele com as pernas. Ele estava sendo agressivo, mas ela o amava, nada mais era importante. Resmungou quando as mãos arrancaram a peça íntima, a acariciando mais devagar, sem nenhuma barreira, a boca descendo pela garganta, uma das mãos descendo pela barriga e entrando por dentro da calcinha.
Harry sentia seu corpo pegando fogo com as sensações que ela despertava nele. Movimentou a mão em movimentos circulares que foram se tornando mais e mais rápidos, fazendo o corpo dela retesar. Ela estava tensa mas ele só sabia que precisava tê-la de qualquer jeito, agora. Quando correu a boca para os seios dela se deparou com um obstáculo, algo frio que espetou seu queixo. Abriu os olhos e viu o amuleto de Ísis brilhando num fogo verde. “A pedra sempre brilha quando é tocada por alguém que me ama.”. Ele enrijeceu todo o corpo como se tivesse levado um choque de mil volts. Ela tentou abraçá-lo, mas ele se desvencilhou dos braços dela, chocado com o que estava fazendo.
- Harry...? – por que ele tinha parado?
- Não, Celina, – ele se sentou nervoso. – eu não posso. Não desse jeito, não com você.
- Eu não me importo. – ela se apoiou nos cotovelos lançando um olhar que suplicava.
Ele a puxou com força pelos braços, a deixando sentada como ele.
- Mas eu me importo. – ele tateou o chão procurando pela blusa dela, quando viu que estava rasgada pegou sua própria camisa e a cobriu o melhor que pôde.
- Não faz isso... – ela franziu os olhos como se sentisse dor. – Não me rejeite.
- Ah, Deus... – era insuportável ficar tão perto. – Eu nunca vou te rejeitar. Você tem idéia de como me faz sentir? De como dói não poder ter você agora, neste minuto? - ele tentou tocar seu rosto, mas ela se esquivou.
- Se doer a metade do que eu sinto já está de bom tamanho. – ela se levantou depressa, vestindo a camisa e procurando por suas roupas espalhadas pelo chão. Estava desalinhada, linda, e Harry se conteve para não puxá-la de volta para o tapete.
Ela só queria reunir um pouco de sua dignidade e sair o mais depressa que pudesse dali.
- Celina... – ela parou, ainda semi despida, a mão na maçaneta da porta, e olhou para ele por sobre o ombro. – Eu preciso te proteger da única maneira que eu posso.
Ela o olhou amargamente:
- Se afastando de mim. Não se preocupe, eu não vou mais insistir. – ela abriu a porta e falou de costas. – É melhor você também vir dormir, temos um enterro amanhã. – “E um nesse momento”, ela pensou enquanto fechava Harry atrás de si.

“Corre a lua, por que longe vai?
Sobe o dia tão vertical
O horizonte anuncia com o seu vitral
Que eu trocaria a eternidade por essa noite
Por que está amanhecendo?
Peço o contrário, ver o sol se pôr
Por que está amanhecendo?
Se não vou beijar seus lábios quando você se for?”

XXXXXXX

O funeral de Dumbledore estava terminado. Centenas de pessoas, de todos os tipos, todos os lugares, estavam reunidas no jardim num lamento universal. Hermione, abraçada por Ron, deixava o pranto correr livremente pelo rosto. Harry desviou a atenção dos amigos e se focou no outro lado do jardim. Lilith Lux estava entre o Prof. Slughorn e um bruxo moreno de aspecto familiar, sendo consolada por ambos. Com um olhar mais atento percebeu a semelhança entre o homem e Benjamin Travis. Mas ele não se demorou no exame, procurava outra pessoa. Celina não estava muito longe, tinha o rosto escondido no peito do pai. Gabriel e Florência abraçavam a filha em conjunto. Uma família unida. A visão era mais eloqüente que mil palavras. Uma família como ele nunca teve e jamais teria.
Se afastou em direção ao lago com um aperto horrível na garganta. Fechou os olhos quando ouviu aquela voz:
- Um dia você me escreveu um bilhete de natal. Ele dizia para eu não me esquecer de ser feliz. - a voz tremeu ligeiramente. – Eu sempre me perguntei por que eu persigo a felicidade se ela sempre foge de mim. Não tem jeito de se forçar a vida a te querer bem.
Ele já sabia quem era antes mesmo que falasse alguma coisa. Tinha se afastado esperando secretamente que ela viesse.
- Não tem jeito de você não ser feliz. – ele se virou para Celina, os raios de sol faziam mechas douradas dançarem no mel dos cabelos dela. - Olha só pra você... parece que foi feita por feitiçaria.
- Você está indo atrás dele, não está? – ela estava pálida, como uma luz que tivesse se apagado. – Sozinho.
- Você sabe que sim. – ele a olhou assentir.
Celina chegou mais perto, perto demais. No último minuto ela desviou o rosto para o alto, para o céu ensolarado e quando o encarou, lágrimas caíram dos seus olhos claros. Lágrimas escorrendo sem parar em seu rosto plácido e ela sorrindo o sorriso mais triste do mundo.
- Não é uma ironia? – ela pôs a mão sobre o peito. – O dia mais bonito por fora e o mais escuro aqui dentro? A noite devia ter durado pra sempre.
Ele tocou seu rosto, deixando os dedos absorverem a umidade salgada. Os olhos de Celina continuaram vertendo lágrimas, mas ela ainda sorria.
- Eu estou livre. – ela via as mãos dele se encherem de gotas d’água. – Você está vendo? Eu posso chorar como qualquer pessoa. Você me libertou.
- Nunca quis te fazer sofrer. – ele sentiu os olhos arderem.
- É um preço muito pequeno se eu puder sentir o que eu sinto por você. – ela colocou as mãos no rosto dele se aproximando delicadamente.
Harry fechou os olhos quando sentiu os lábios dela nos seus, e se esquecendo de tudo a beijou devagar.
- Eu te amo. – ela disse o soltando cedo demais.
- Celina...
- Amo. - ela colocou toda a alma naquela confissão, fazendo-o derramar duas lágrimas solitárias.
- Você é realmente uma princesa. – um mar de infelicidade cresceu no peito dele. - Mas não pode ser mais a minha princesa.
- Eu não sou uma princesa, mas sempre vou ser sua. – ela começou a dar passos lentos para trás. - Continue lutando. – então se virou e partiu sem olhar para trás.
Ela estava indo embora e ele não tinha dito o que seu corpo inteiro precisava, ordenava fazer. Uma parte dele estava morrendo vendo ela se afastar, e um gigantesco grito de frustração e dor se formou em sua alma, ameaçando engolir todo o mundo.


XXXXXXX

N/A: Fim de capítulo meio deprê, né? Fazer o quê... nem tudo são flores.
Mas... ainda tem muuuuita coisa pra rolar. Quê será?(olha para o teto com cara de santa)
Eba! Agora os capítulos tem título!
Eba! Amuleto e Espada também está na Floreios e Borrões!
Êeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee...
Queridos! Mal posso expressar minha alegria com os comentários. O que uma ameaçazinha não faz... hehehe. Todo mundo se espantou com a rapidez da att, o segredo é que pra não demorar demais dividi um cap em dois. O atual já estava praticamente pronto, mas não resisto a uma melhoradinha aqui e ali, por isso a demora. Se a inspiração-transpiração não falhar o próximo tbém não demora muito. Acho que vai ser o mais difícil de escrever até agora, por muitos motivos. Ai, ai, ai.
A música é Relicário, do Nando Reis e Cássia Eller. Marrev...

HELP!: Deprimi. Meus e-mails de atualização para o 3V estão todos voltando e a nulidade em internet aqui não está entendendo nada. O endereço está certo mas os danados sempre voltam. Perseguição!!! Alguém tem a menor idéia do que fazer pra me acudir? Já perdi três atualizações e no pé que vai vou acabar desistindo de postar lá. O que é pena, tem uma galerinha que está gostando da estória e ia me amaldiçoar até a terceira geração.

Lívia: Foi só implicância, minha flor. Entendi o recado, mas e a maldade?(Just playing). Já tinha lido a Sally Owens elogiando seus coments, e preciso concordar. Você tem uma mente analítica, vai fundo e lá na frente. Adorei o que escreveu sobre o Malfoy. Sobre o que vai acontecer... não posso contar que perde a graça, mas como falei no último cap vai haver uma transformação na estória, e não está longe. Outra coisa, se empolga sempre, viu? A-do-ro reviews gigantes.
Macah: Brigado pelo review delícia. O cap saiu rápido mesmo (segredinho: as partes principais do próximo tbém já estão prontas). Que te sirva de inspiração pra postar logo, viu? (Mostra o punho e ameaça).
Ticha: Valeu, estou ficando insuportável com os elogios. Cadê o Harry da tia Jô? Boa pergunta. Tia Georgea o seqüestrou e corrompeu mesmo o pobrezinho... Mas vocês bem que gostam, né? Brincadeiras à parte, quem garante que ele é assim tão inocente entre quatro paredes? Tia Jô sempre pula essas partes. Vai saber...
Mary: É sua a short-fic Corações Ligados, do 3V? Delicada e toda fofa. Adorei a frase central, deu vontade até de plagiar. Você andava meio sumidinha mesmo, mas agora sei que é por um bom motivo. Boa sorte com os estudos e que tudo dê certo no Vestiba. E muito obrigada pelo crédito e incentivo. Bjos
Inna Puchkin Ievitich: Menina, que nick complicado! Quase que não sai o Puchkin (o Ievitich então...). Estou escrevendo para agradecer a Inna, que nem sei se está lendo a fic. Anyway... mesmo tendo uma vida pra lá de corrida ela fez a gentileza de traduzir uma música do Maná pra colocar na Amuleto. Vai ser postada em cerca de dois ou três capítulos. Se você estiver lendo, brigada minha linda. Bessos.
Luana: Yupiii!!! Meu primeiro recadinho no Floreios! Fiquei ultra contente de ler. É engraçado, mas às vezes a gente acha que só quem manda reviews é que está lendo a fic. E aí chega a D. Lu e faz o favor de lembrar a gente que não. Existem montes de bichos preguiça por aí (e você não é mais um deles!!! Êeeeee). Muito obrigada pelo incentivo, viu? Beijãozão.

Até a próxima folks!

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