Baile e Trevas



Capítulo 4


Harry estava no saguão junto com dezenas de estudantes que ainda esperavam seus pares, ele e Ron estavam indo com as gêmeas Patil, Parvati muito contente consigo mesma por estar com um dos campeões, Padma muito irritada por estar com Ron Weasley. Já tinham visto Hermione, belíssima, de braços dados com Victor Krum, e Ron parecia atordoado observando a amiga. Talvez por isso Padma estivesse tão irritada, pensou Harry. Era melhor o amigo fechar a boca antes que se formasse uma poça de baba a seus pés. A vida era mesmo muito engraçada, até uma hora atrás estava numa guerra de neve com os amigos, e a derrota, diga-se de passagem, foi muito feia. Agora estava todo enfatiolado e sendo cumprimentado como uma celebridade. “O que uma roupa não faz”. Viu os gêmeos Weasley desfilando com seus pares e pensou que os danados conseguiram moças muito bonitas. Ele fez sinal de ok indicando as moças quando eles passaram e recebeu em troca duas piscadas malandras idênticas. Harry balançou a cabeça e olhou de soslaio para Cho Chang pela vigésima vez, estava encantadora e muito bem acompanhada por Cedric, que cochichou algo em seu ouvido, fazendo-a corar. Deu as costas para o casal, incomodado, e ao olhar para a escadaria teve a impressão de que o saguão subitamente havia se iluminado. Celina descia as escadas devagar, segurando a barra das vestes de lado para não se desequilibrar. Usava um vestido longo, dourado claro e branco, os cabelos meio presos, meio soltos, os olhos brilhando como jóias. Era como se tivessem mil estrelas ao redor da amiga. Harry sempre achava que já tinha se acostumado com a beleza dela, então quando menos esperava sentia um puxão nas entranhas e se desconcertava esquecendo de tudo a seu redor. Naquele momento essa sensação foi ainda mais forte. Viu Mark Norton segurar seu braço ao pé da escada com um sorriso de orelha a orelha e achou aquilo surreal, eles não combinavam. Teve vontade de se aproximar e esperar ela dizer alguma coisa engraçada, qualquer coisa, teve vontade de ser seu par, as coisas eram sempre muito mais fáceis com a presença dela. Acordou de seu devaneio sentindo uma forte cotovelada na cintura e se virando para Parvati percebeu que estivera olhando fixamente para Celina. Segurou o braço da garota, que agora parecia enfurecida, e caminhou em direção ao salão. A julgar pelos colegas que estavam por perto ele não foi o único a ser acotovelado.
Depois da catastrófica dança de abertura do baile, Harry sentiu-se livre para conversar com os amigos. Parvati aparentemente havia encontrado outro par, muito ofendida com a indiferença de Harry, momentos depois a irmã a seguiu deixando para trás um aliviado Ron.
- Arre! Que baile estúpido! – Ron olhava carrancudo Hermione dançar com Krum.
Harry achou melhor não dizer nada, mas teve a impressão de que o amigo estava ardendo de ciúmes. Mione estava linda, de um jeito que eles nunca tinham visto. Talvez pela convivência eles tivessem deixado de reparar que a amiga não era mais uma menina desengonçada. Mas Krum percebera. Harry se pegou pensando na Hermione que carregava diariamente dúzias de livros, curvada sob seu peso, que era ofendida constantemente por garotas como Pansy Parkinson, que era criticada até pelas colegas de ano. Ele sorriu satisfeito vendo a alegria da amiga, Mione agora estava dando o troco em todos os que não tinham reparado na garota maravilhosa que ela era. O único problema era que Ron estava entre estes.
Hermione deixou Krum por um instante, se aproximou ofegante de dançar e sentou-se ao lado de Ron. Harry ainda tentou escapar de fininho, mas estava perto o suficiente para escutar um começo de discussão entre eles. Deu uma volta pelo salão sem encontrar nada que o alegrasse. Além de alguns casais que saíam sorrateiros em direção ao jardim, que o fizeram se lembrar imediatamente de Cho e Cedric, viu duas garotas consolando outra aos prantos, e ainda um rapaz da Slytherin levar uma sonora bofetada de seu par. A julgar pelas aparências ele e Ron não eram os únicos a não estarem se divertindo.
Quando Harry voltou, Hermione conversava com Krum e não havia sinal de Ron por perto. Ele viu o búlgaro se afastar e se aproximou.
- Oi Harry, Victor foi pegar umas bebidas, por que você não se junta à nós?
Tinha alguma coisa nitidamente forçada no jeito dela falar, parecia que estava se esforçando para ficar contente. A briga não devia ter sido bonita, pensou o garoto.
- Onde está o Ron? – ele acabou perguntando.
- Não faço a menor idéia. – a amiga estremeceu – Talvez esteja procurando um par que não fuja dele em dez minutos. – ela deu um sorrisinho cruel vendo Padma dançar com outro rapaz.
- Hei, Hermione. – uma voz baixa falou atrás dos dois.
Eles se viraram ao mesmo tempo para Joshua Parker, já sem paletó e gravata.
- Oi. – ela disse lacônica.
- Desculpe, estou atrapalhando? – ele fez menção de se retirar.
- Claro que não, Mione está mal humorada porque o Krum pisou no pé dela. – Harry sorriu pensando que a amiga tinha arrumado mais um admirador naquela noite. – Você sabe, bom jogador, péssimo dançarino.
- É, Harry, você é prova viva disso. – Hermione alfinetou o amigo e voltou a ficar quieta
- Bom, neste caso... – o rapaz sorriu para a impassível garota. – talvez você possa me ajudar numa coisa. – ele mordeu o lábio e olhou em direção à pista de dança. – Como é que a gente faz quando está louco por uma garota?
- A gente não espera ela ser convidada por outro! A gente diz a ela! – Mione respondeu com veemência, obviamente pensando num certo ruivo que a tirava do sério.
- Bem que eu gostaria, mas quando eu conheci a Celina ela já tinha sido convidada por aquele babaca emproado.
Harry seguiu o olhar do rapaz e a ficha caiu, Mark puxava Celina para fora da pista em direção a uma das mesas. A garota olhou rapidamente para os amigos e revirou os olhos. Então era isso, Joshua estava interessado em Celina, o que fazia o maior sentido, os dois passaram muito tempo juntos organizando o baile, e ele mesmo tinha achado que eles formariam um casal interessante. Então por que a surpresa? Quando voltou seu olhar aturdido para Hermione notou que ela apertava os olhos para Joshua.
- Você sabe dançar? – ela perguntou.
- Muito bem, modéstia à parte. – ele respondeu com um sorriso intrigado.
- Em que ano você está? – o questionário continuava cada vez mais bizarro.
- Sexto. – ele começou a ficar apreensivo.
- Não é tão velho...
Joshua olhou para Harry querendo perguntar se Mione tinha algum problema.
- Sabe de uma coisa? – ela disse segura – Acho que pelo menos um casal deveria aproveitar esta noite como se deve. Celina adora dançar e eu tenho certeza de que ela vai gostar bem mais desta festa com você do lado. Me espere só um minuto.
Os dois rapazes viram Hermione se afastar, parar junto à mesa de Mark e dizer algo aparentemente urgente para este. Um minuto depois ele saía contrariado do salão e ela voltava triunfante.
- Pronto! Agora é com você.
- O que você disse a ele? – Joshua disse encantado.
- Que o Pirraça estava soltando o lustre da torre de Dumbledore. Monitores têm o dever de zelar pela ordem do castelo, portanto...
Os dois olharam para ela espantados.
- O que foi? Ah, por favor, eu não matei ninguém! – ela disse vendo Victor Krum se aproximar. – Eu disse à Celina que já estava voltando, acho melhor você se apressar. – ela deu uma leve piscadela para Joshua e se retirou indo ao encontro de Krum.
- Obrigado, Hermione! – ele gritou, bateu nas costas de Harry e correu parando quase derrapando na frente de Celina.
Logo Harry viu os dois sorridentes sumindo na pista em meio à música mais agitada que ele já tinha ouvido na vida. Achou melhor ir procurar Ron, o amigo devia ter ido para a torre da Gryffindor. Pensando bem, era o melhor lugar para ir, o saldo daquele baile estava cada vez pior.
Agora estava deitado no quarto, mortalmente entediado e ouvindo Ron roncar. Mesmo com o cansaço e o adiantado da hora Harry não estava conseguindo dormir. Ron já tinha subido quando ele chegou, mas estava estranhamente mudo e após algumas tentativas infrutíferas de conversar o amigo acabou pegando no sono. Harry chutou as cobertas, àquela hora o baile já devia ter terminado.
“Será que Cho Chang ficou com Cedric?”
“É claro que sim, os dois não se desgrudaram um segundo.”
“E Hermione, já voltou ou está com Victor Krum?”
“É o casal mais improvável do mundo.”
“Celina e Joshua Parker também se entenderam?”
“É uma possibilidade.”
Harry se sentou na cama, aturdido pela quantidade de casais que teimavam em dançar na sua cabeça. Resolveu descer para a sala comunal, àquela hora devia estar vazia. Estava no último degrau quando estacou. Havia um casal na sala, francamente discutindo. Ele ajeitou os óculos e apreciou a visão de uma Celina enraivecida puxando o braço das mãos de Mark.
- Você perdeu o juízo? Um monitor arrumando briga bem debaixo do nariz da McGonagall?
- O que você queria? Que eu ficasse quieto enquanto aquele imbecil do Parker tentava te agarrar? – Mark aumentou ainda mais o tom de voz.
- Nós estávamos dançando, Norton. DANÇANDO! – ela pôs as mãos na cintura. – E que direito você tem de me cobrar alguma coisa e sair daquele jeito me arrastando? Desde quando eu sou sua propriedade?
- Não é minha propriedade, mas aceitou ir ao baile comigo! COMIGO! – ele bateu a mão no peito.
- Um grande erro. – a voz dela ficou mais baixa.
- Não Celina, o erro foi meu de ter convidado uma criança. – ele devolveu venenoso.
- Uma criança que impediu o seu comportamento irracional de levar uma detenção e perder uns cinqüenta pontos da Gryffindor.
- Droga, McGregor, essa noite... – ele chutou uma almofada que estava no chão. – Eu achei que a gente ia se entender.
- Nós estamos nos entendendo agora. Eu não sou sua namorada. Eu não vou ser sua namorada. Se isto ainda não está claro é bom ficar.
Eles se encararam longamente.
- Como você quiser. – ele balançou a cabeça – Espero que o sangue ruim do Parker não esteja achando que você gosta dele. Afinal seu coração pertence a um defunto.
Harry assistiu Mark cambalear para trás como se tivesse sido atingido por uma bofetada, mas Celina, pálida como um fantasma, não tinha dado um passo em sua direção. O monitor olhou aturdido para a garota, e esfregando a mão na face passou como um raio em direção ao dormitório sem nem mesmo ver que outra pessoa assistia aquela cena.
Harry se aproximou cauteloso da garota.
- Celina... você está bem?
Ela com dificuldade enxergou Harry na sua frente, e não protestou quando este a conduziu até o sofá.
- Harry, o quê...
- Me desculpe, não tive a intenção de me intrometer.
- Ah droga! Ele não devia ter dito aquilo. – os olhos dela brilharam muito e ele achou que fosse chorar, mas a garota sacudiu a cabeça dando uma risada nervosa. – Coração de um defunto. Essa foi... certeira.
- Ele não tinha o direito de falar uma coisa dessas. Foi bem merecido o que você fez. – ele a observou com um pouco de dúvida. – Foi você?
- Foi. – ela segurou o cordão em volta do pescoço – Não foi planejado, eu não devia.
Harry observou que ela tinha no rosto uma expressão frustrada, falando como se fosse consigo mesma:
- Pessoas como o Mark não são ruins, só não sabem aceitar quando as coisas não saem do jeito delas. Eu não devia ter me deixado provocar.
- Eu não acredito que você está defendendo ele.
- Eu não estou, Harry. Mas eu preciso ser mais cuidadosa comigo mesma. – ela entreabriu a boca incredulamente. – Tudo o que eu prometi aos meus pais está indo por água abaixo. Todos parecem que me conhecem, sabem da minha vida. Eu arrumei uma detenção, fui responsável por uma quase briga e ataquei um colega. Tudo em menos da metade do ano escolar. Sabe quando tudo parece acontecer só com você?
- Sei, Celina. – ele respondeu triste e ela pareceu acordar de um devaneio.
- Ah, Harry, eu sinto muito. Eu aqui falando que comigo só acontecem bobagens enquanto que é com você...
- Não, Celina. Não quero que você me trate diferente. – ele a fitou intensamente – Se pelo menos meus amigos não puderem me tratar de um jeito normal a vida vai ficar insuportável.
Celina sorriu tristemente para ele assentindo com a cabeça.
- Nunca vou te tratar diferente, mesmo te acontecendo milhares de coisas loucas. Você pode não saber, mas minha vida também é muito insana. A gente só deu o azar de ser jogado à força na história de terror daquele maldito do Voldemort. – ela viu que Harry a olhava com mil perguntas pipocando em sua cabeça. - O amargo do mundo vai sempre alcançar a gente. Mas ainda não. Vamos deixar esse assunto para um outro dia. Hoje foi meu primeiro baile de verdade, com pessoas da minha idade, sem pais e parentes por todo lado. Pode não ter saído como eu imaginava, mas também não foi o fim do mundo. Me conte como foi pra você, mal te vi a noite toda.
- Leia meu rosto radiante de alegria. – ele respondeu relutante em deixar o outro assunto morrer.
- Tão ruim como o meu?
- Bem pior. Pelo que eu pude entender seu baile só foi ruim no final.
Ela riu baixinho, recuperando a cor do rosto.
- E põe ruim nisso. – ela tirou as sandálias de baile e começou a soltar algumas mechas de cabelo. – E a Cho? Conseguiu dançar alguma música com ela?
- Eu não danço, me arrasto. E a Cho e eu, não vai acontecer. – ele falou mecanicamente vendo o movimento da amiga de deslizar os dedos pelos cabelos compridos.
- Você tem pouca fé, Harry. Se essa garota tiver que ser seu destino nada vai mudar isso.
- E como é que a gente sabe que uma pessoa é nosso destino? – ele falou olhando nos olhos de Celina, sentindo como que um presságio.
- Isso é uma coisa que você vai ter que descobrir sozinho, sem receitas prontas, sem Celina falando bobagens na sua cabeça. – ela se levantou segurando as sandálias com uma das mãos. – Enquanto isso é melhor a gente ir descansar as idéias. Amanhã vai ser um longo dia de fofocas... Boa noite, Harry.
- Celina! Joshua e Mark realmente brigaram? – ele falou rápido, antes que ela alcançasse as escadas.
- Quase.
- Você está me saindo um belo pivô de atritos masculinos. – ele achou que depois da provocação ela lhe daria uma bela resposta, mas em vez disso ela sorriu de leve dando uma piscada marota e finalmente subindo para o dormitório.

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Celina tinha adivinhado sobre as fofocas, mas naturalmente ao invés de durarem um dia elas se estenderam por semanas. Harry já tinha realizado a segunda tarefa do torneio, mas o assunto do baile não esfriava. Parecia que todo mundo sabia da briga com Mark Norton, a parte sobre o modo como ele a havia arrastado no meio do salão e quase chegado às vias de fato com Joshua. A história já tinha sido tão repetida que cada vez que a garota a ouvia parecia mais fantástica e inverossímil.
- Parece que eu realmente consegui desviar toda a desagradável atenção que esses linguarudos te davam, Harry. – ela estava na biblioteca junto com Ron e Harry, pesquisando feitiços para a terceira tarefa do amigo.
Harry notou que na mesa logo atrás deles havia um grupinho de garotas discutindo abertamente sobre o triângulo Mark-Celina-Joshua, sem a menor preocupação de que a amiga escutasse.
- Vocês viram Hermione? – o garoto tentou desviar a atenção dos amigos.
- Hermione decidiu desfrutar as atenções do namoradinho famoso. – Ron respondeu sem encarar os dois.
- Acho difícil, ela provavelmente está em alguma aula extra ou com a cabeça enfiada em algum livro. – Harry respondeu.
- É mesmo? Então por que ela não está com a cabeça enfiada aqui? A biblioteca é o lugar mais indicado para quem quer estudar. – Ron levantou a cabeça – E você deveria saber que neste horário ela está livre, sem aulas extras. – ele fez uma cara falsamente pensativa. – Huumm, então onde estará Hermione neste momento?
Harry permaneceu calado, o momento não pedia sinceridade. Eles voltaram a ficar em silêncio fazendo as vozes das garotas por perto se tornarem mais audíveis:
- Então quer dizer que ela estava se agarrando com o vocalista das Esquisitonas?
- Bem que eu vi ela se esgueirando para trás do palco.
Harry viu Celina com os olhos arregalados de perplexidade em sua direção.
- É isso aí, chega! – ela se levantou fechando o grosso volume de “Feitiços Desesperantes para Bruxos Desesperados” e se aproximou da mesa das garotas.
- Ah, McGregor! Você estava aí? – disse Pansy Parkinson com a voz aguda, enquanto a conversa parava instantaneamente.
Celina sorriu fazendo uma cara de incompreensão.
- Meu Deus! Estão mesmo dizendo que eu me agarrei com o vocalista das Esquisitonas no backstage?
Algumas meninas se entreolharam apreensivas.
- Quanta má informação! – Celina disse sacudindo a cabeça. Então logo se abaixou para a mesa e mudou para um tom confidencial. – Me agarrei com o baterista das Esquisitonas. – ela fechou os olhos se abanando e molhando a boca com a língua. – In-crí-vel. Vocês deviam experimentar qualquer hora, eu recomendo.
As garotas abriram as bocas estupefatas enquanto Celina se retirava com um tchauzinho. Harry e Ron também tinham a mesma expressão aparvalhada quando ela voltou para a mesa.
- Você não fez isso! – Ron exclamou incrédulo.
- Eu poderia. – ela sacudiu os ombros pegando o livro fechado.
- Maluca... Você é demente McGregor. – Harry a fitava segurando a pena no ar. - Alguém já te disse isso?
Ela fez uma cara enigmática juntando alguns livros numa pilha:
- Você não faz idéia, Potter. Anda, vamos devolver estes livros para as prateleiras, essa mesa está parecendo uma trincheira.
Os três se separaram entre as estantes, cada um com uma pilha de livros nos braços. Quando estava terminando, Celina caminhou até a parte mais distante da biblioteca, querendo achar um livro sobre DCAT. Ao virar o último corredor a visão que teve a fez tampar a boca com a mão e recuar o mais rápido possível. Hermione estava pendurada em Victor Krum, aos beijos. Hermione. Beijando. Agarrando. Na biblioteca. No santuário máximo de sua religião. O mundo tinha deixado de fazer sentido. Celina quase voltou para ter certeza de ter visto direito. Quase. Abriu um sorriso pensando na ironia do destino, do jeito que as coisas iam se alguém soubesse que tinha um casal se atracando na biblioteca com certeza diriam que era ela. Seu sorriso congelou quando viu Ron vindo em sua direção.
- Harry está com você? – ele olhou para os lados. – Nunca tinha vindo nessa seção. Tem livros legais?
- Péssimos! Os piores que eu já vi. – ela segurou o braço do ruivo indo na direção contrária.
Para complicar a sua situação, ou a de Hermione, Harry, virando um corredor, os alcançou antes que dessem cinco passos.
- Ah, aí estão vocês. Essa seção tem livros ótimos... – mas parou a frase no meio vendo Celina apertar os olhos e sacudir de leve a cabeça. - ...para nada. Livros ótimos para dar sono. – ele continuou, vendo a amiga assentir.
- É, foi o que a Celina aqui disse. – Ron se soltou do braço dela e caminhou na frente dos dois.
Foi a vez de Harry apertar os olhos desconfiado.
- O que foi agora? – ele disse num sussurro tão baixo que ela teve que ler seus lábios.
Ela abriu e fechou a boca como um peixe, sem saber que desculpa dar. Harry lançou um olhar para trás e outro para a amiga e subitamente uma luzinha se acendeu, fazendo com que ele franzisse a testa e apressasse Ron para saírem da biblioteca o quanto antes. Se aquilo que estava pensando fosse verdade, e pela cara de Celina parecia ser, era bom que o ruivo nem sonhasse.
- Você não está sendo boa influência para Hermione. – ele disse a ela algum tempo mais tarde, quando Ron não estava presente.
- Ao contrário, acho que estou sendo uma influência ótima pra ela. E até o próximo ano pretendo ser ótima influência pra você também.
- ?
- Nem faz essa cara de desentendido. Quando você puder se preocupar com outra coisa que não seja o Tribruxo a gente pode começar a pensar num jeito de você conquistar a Cho, ou outra garota qualquer. Um garoto como você não pode ficar sem namorada.
- Você agora está tentando dar uma de cupido, é? – ele disse ruborizado – Acho melhor você se preocupar primeiro com a sua vida afetiva, que por acaso vem vindo na sua direção.
Celina se virou intrigada no momento em que Joshua parava a seu lado.
- Será que a gente pode conversar? – foi a deixa para Harry se retirar, deixando os dois sozinhos.
Ela fez que sim com a cabeça e eles começaram a caminhar para fora do castelo. Andaram por um tempo, rodeando o lago, estava fazendo um clima ameno de primavera, algumas estrelas já começavam a aparecer anunciando que a noite logo iria cair.
- Achei melhor conversar longe de olhares curiosos. – ele disse.
- E de bocas fofoqueiras. – ela parou na beira do lago.
- Exatamente. – ele colocou as mãos no bolso e ficou quieto por um tempo apreciando a superfície lisa da água. – Você tem me evitado desde o baile. – observou num tom baixo.
- Tenho. – não tinha por que negar.
- Tem alguma coisa a ver com o Norton? – disse sem olhar para ela.
- Você sabe que não. Não conversei mais com ele desde o baile. – ela percebeu que ele se virou em sua direção. – E também não é com você.
- Difícil acreditar, sou eu quem tem tentado se aproximar por semanas a fio, sendo totalmente ignorado. – ele se aproximou mais. – É por que eu nasci trouxa ou você só não gosta de mim? – deu um sorrisinho.
- Eu gosto de você. Trouxa ou não. – ela finalmente o encarou. – Talvez só não seja do jeito certo pra se ter alguma coisa mais séria.
- Você não vai poder ter certeza se não me der uma chance. – ele tocou numa mexa de cabelo dela e a viu se retesar. Retirou a mão depressa. – Se você disser pra eu parar de te perturbar, eu paro. Se você pedir para eu esperar, eu espero. Só preciso de um sinal.
- Não vale a pena, Josh. Tem uma porção de meninas legais que não pedem nenhum esforço, nenhuma complicação.
- Mas eu só quero uma delas. A mais incrível que eu já conheci. A que está na minha frente. – os olhos castanhos se afundaram nos violeta dela. – Vale a pena lutar por você. Muito. Não tem nenhuma complicação nisso. Não vou te pressionar, só vou estar sempre por aqui, até que você se decida. Posso?
Uma brisa fria começou a soprar ondulando a superfície do lago. Ela sentiu a pele se arrepiar enquanto sua mente permanecia vazia, pensamentos agora não eram bem vindos.
- Deve. – ela se ouviu dizer com uma sensação dúbia de desejo e culpa. Viu o rapaz oscilar em sua direção. – Mas não agora. – ele voltou a recuar, um sorriso complacente nos lábios. - Por agora a melhor coisa que a gente faz é voltar para o castelo. – era melhor se afastarem para que a primeira sensação não vencesse. Ainda era cedo demais.
Os dias se escoaram rápido nas semanas finais de aula e o dia da terceira tarefa do torneio finalmente chegara. Em meio a vivas e total empolgação os campeões deram início à competição final: passar por um labirinto cheio de armadilhas, chegando até a taça da vitória.
Hermione, Ron e Celina assistiram da arquibancada quando Harry e Cedric se aproximaram juntos da taça. As garotas apertaram com força as mãos uma da outra, os gritos de alegria ainda presos na garganta. Foi quando alguma coisa pareceu dar terrivelmente errado. Eles haviam sumido ao tocar o troféu. A princípio os alunos apenas se entreolharam confusos, depois um burburinho crescente se formou e Celina se viu, inconscientemente, procurando por Dumbledore com os olhos. Ele saberia o que aconteceu, ele explicaria. Quando seus olhos se encontraram brevemente com os do diretor teve a certeza de que as coisas eram ainda piores do que imaginava, tão piores que o melhor a ser feito era arrebanhar os amigos e procurar o lugar mais seguro para ficar. E este lugar era aonde estivesse o próprio Dumbledore. Eles seguiram o diretor aos tropeços, os minutos parecendo horas. Algumas pessoas, sem motivo aparente, começaram a gritar e Celina disse a si mesma para não entrar em pânico, seguir Dumbledore. A segurança e a resposta estavam em Dumbledore.
Hermione foi brutalmente empurrada, ficando para trás. Ron e Celina acotovelavam a multidão tentando encontrá-la, os gritos e o pânico pareciam ter aumentado dez vezes. Celina pensou num momento delirante em como o pânico era contagioso. Ela empurrava e era empurrada pelos colegas, tropeçou e caiu ao lado de alguém. Quando tentou se levantar sentiu-se congelar, estava ao lado de Cedric Diggory, o rapaz estava com a cabeça virada para seu lado, os olhos enevoados pela morte. Não era a primeira vez que via a morte tão de perto. Poderia ter ficado para sempre daquele jeito se não sentisse um par de braços fortes a levantarem. Enquanto era puxada para longe vislumbrou os cabelos vermelhos de Ron a seu lado e acordou ouvindo a voz de Hermione gritar por Harry. Onde estava Harry?
O que se passou a seguir foi um dos episódios mais confusos da vida de Celina, onde ninguém parecia se entender, onde as horas pareciam ter parado e ao mesmo tempo corrido demais. Lembrava-se de ter corrido para o castelo com os amigos, era para lá que Dumbledore fora. Eles agora sabiam que Harry estava com o diretor em sua torre, a Profª McGonagall dissera momentos antes. E estavam a ponto de arrombar a entrada quando Harry surgiu, machucado, atordoado, parecendo prestes a cair de cansaço, mas vivo. Dumbledore o levou até a enfermaria e foi lá que ficaram sabendo que Voldemort havia voltado. Com breves palavras o diretor explicou o que havia acontecido, sobre como um comensal da morte se passara por Alastor Moody, sobre como o momento era perigoso para todos. Dumbledore finalmente pediu para que a Ordem da Fênix se reagrupasse, fazendo com que o susto sacudisse o corpo de Celina ao ver que ele se dirigia à Sirius Black, que havia surgido do nada e permanecia parado a um canto.
No meio de todo seu cansaço e dor Harry viu Dumbledore falar com Celina. A garota estava num canto, encostada à parede como se pudesse sumir por ela.
- Celina, acho que você sabe o que deve fazer. – o diretor disse num tom grave. – A Profª McGonagall preparou uma chave de portal em seu escritório. Seja rápida, preciso entrar em contato com Lilith o quanto antes.
Harry viu a garota se virar e olhar para ele com desesperança.
- Harry vai ficar bem. – disse o diretor acompanhando seu olhar.
Ela se apressou a alcançar a porta quando Dumbledore ainda disse:
- Celina! Eu prometo fazer tudo para que você volte a Hogwarts.
Ela assentiu levemente com o rosto sem cor e saiu. E de repente, para Harry, o quarto ficou ainda mais escuro.


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N/A: A estória da fic nasceu na época do terceiro livro, por isso ela vai se desenvolver em vários períodos, mostrando o crescimento dos personagens e seus relacionamentos.

TichHa: Amei seu recado, o problema é que eu nunca acesso o msn, total falta de tempo. Mas pode deixar que qualquer dia eu arrumo um tempinho. Beijão.

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