O Herdeiro Luz





Capitulo 26 – O Herdeiro Luz


- Não! – Sarah congelou, os olhos fixos na floresta.


- O que foi? – Cassius circulou-a, atingindo os comensais.


- Eles foram atingidos... – os olhos dela estavam marejados – seriamente atingidos.


Cassius parou e seguiu o olhar da futura nora. Apurou os ouvidos e distinguiu o som de árvores sendo quebradas e derrubadas.


- Eles vão vencer, Sarah. – disse confiante, porém, com um medo oculto – Vamos fazer a nossa parte.


Ela apenas assentiu e voltou sua atenção para os comensais, abrindo espaço entre eles. Cassius seguiu-a por mais alguns metros, até ouvirem gritos raivosos e brutais.


- Saiam da minha frente! – gritava a voz feminina – Saiam da minha frente! Eu tenho que falar com o milorde!


- Quem é? – perguntou Sarah, curiosa, esticando o pescoço para tentar ver por cima da multidão.


- Não faço ideia. – Cassius derrubou outro comensal antes de continuar – Sei somente que não é o Lars.


- Certo. – Sarah entendeu o que Cassius queria dizer.


Eles estavam atrás do loiro e não podiam se distrair.


Seguiram lutando, aproximando-se cada vez mais dos portões. Quando cem metros os separavam dos ferros retorcidos, que outrora foram os majestosos portões de Hogwarts, a multidão perdeu o volume e grandes espaços separavam os duelistas. Através da nova possibilidade de visão, Sarah arfou, os olhos fixos no lado oposto, onde a multidão começava a ficar densa novamente.


- Lars. – sussurrou ela, a voz tremendo de raiva, como seu corpo.


- Concentração. – pediu Cassius, os olhos fixos no filho que duelava rápido e tranquilo contra um auror, a mão firme sobre o ombro dela.


- Se ele matou Owen... – Sarah engoliu em seco, revoltada consigo mesma só por pensar naquilo – Eu nunca o perdoarei e farei questão de vingar-me.


- Vingança não vale a pena, nunca. – suspirou Cassius, a varinha mais firme na mão – Vamos.


Eles correram. Os feitiços sendo jogados rápidos contra os comensais encapuzados pelo caminho.


- Lars! – berrou Sarah, quando poucos metros os separavam.


O loiro estuporou seu oponente e virou-se para ela, o rosto surpreso. Sarah não lhe deu tempo para cumprimentos, jogando-lhe um feitiço.


- Ora, Sarah querida. – disse Lars após desviar-se do feitiço – Que recepção mais calorosa. – sorriu animado.


- Cadê o Owen?! – bradou ela, a varinha erguida e pronta pra ser usada.


O sorriso de Lars desapareceu e sua expressão ficou sombria.


- Digamos que ele não vai tentar me impedir de falar com você, novamente. – respondeu ele simplesmente.


- Lars. – Cassius passou à frente da mulher, atraindo o olhar do filho pela primeira vez – Você lutará comigo.


- Somente depois de falar com minha querida Sarah, está bem? – desdenhou o loiro, a varinha erguida contra o pai – Saia.


- Avada... – Sarah tomou a frente de Cassius, o rosto lívido de fúria.


- Não! – Cassius segurou o braço dela com brutalidade, mirando a varinha dela no chão, os olhos escuros de indignação – Sabe das leis, Sarah. – sua voz era feroz – Use de maldições imperdoáveis e sua energia se corromperá e nunca mais utilizará de feitiços brancos.


- Cale-se! – Sarah desvencilhou-se – Ele matou Owen! – berrou, apontando a varinha para Lars, que estava atônito com a reação de Cassius.


- Eu cuido dele. – Cassius segurou-a novamente, o rosto coberto por uma máscara de fúria – Ajude os aurores.


- Você não me dá ordens! – berrou Sarah contra o rosto do mago.


- Sarah, querida, poderia prestar atenção no que eu te direi? – Lars atraiu os olhares dos dois – Serei breve e depois lutarei com qualquer um de vocês. – terminou com superioridade.


- Não quero ouvir uma palavra do que tem a dizer, Lars. – grunhiu Sarah, a varinha firme em sua mão trêmula de fúria.


- Creio que gostará do que vai ouvir. – admitiu Lars, a varinha abaixada em sinal de que não queria lutar, por hora.


- Erga a varinha e lute! – exigiu Sarah, o braço ainda seguro por Cassius, que mantinha os olhos fixos no filho.


- Lembra-se da minha promessa? – perguntou Lars, os olhos verdes-oliva fixos nos acinzentados da mulher.


- Você a quebrou há muito tempo. – a voz de Sarah foi mais fraca do que ela gostaria, espelhando a tristeza que sentia.


- Não, Sarah. – admirou-se Lars pela tristeza dela – Eu, agora, estou para cumprir a promessa.


- Promessa? – sussurrou Cassius no ouvido da mulher.


- Ele jurou que me ajudaria a matar Voldemort e vingar a morte de meu pai. – murmurou ela em resposta, elevando a voz para dirigir-se a Lars – É, mesmo?! – riu sarcástica – Nunca poderia imaginar.


- Gostaria de compartilhar uma informação com você, Sarah querida. – Lars divertiu-se com o sarcasmo dela, gostava cada vez mais daquela mulher.


- Isto... diga o que deve ser escrito no seu túmulo. – os olhos de Sarah brilharam assassinos.


- O que tenho a dizer é sobre o Tom... – começou Lars com um sorriso.


“Tom?! Desde quando Lars dirige-se ao Tom pelo nome?” – questionou-se Cassius, aturdido.


- ... Ele definitivamente fez algo que vai chocá-la. – o sorriso de Lars alargou-se – Ele...


- Avada Kedavra! – um urro felino cortou o ar.


Os três viraram-se na direção do grito. Lars jogou-se no chão, rolando pelo gramado encharcado e desviando-se da maldição.


- Owen! – gritaram Sarah e Cassius alegres.


Owen estava ereto, imponente como um tigre. A varinha erguida e firme. Em seu corpo restavam apenas as marcas do último duelo contra o irmão, cicatrizes dos ferimentos que quase o mataram.


“Não pode ser.” – exclamou Lars ao erguer-se.


- Eu vou acabar com você. – Owen começou a se aproximar, lívido de ódio.


- Owen. – Sarah correu até ele e se jogou em seus braços.


- Sarah?! – ele pareceu aturdido, não havia notado a presença da amada, mas correspondeu ao abraço.


- Tudo bem, filho? – perguntou Cassius ao moreno, os olhos agora fixos em Lars.


- Sim. – Owen desvencilhou-se de Sarah e ergueu a varinha novamente – Estamos em plena batalha, Sarah, vamos comemorar este encontro mais tarde, ok?


- Ok. – ela sorriu para ele e depositou um beijo rápido em seus lábios.


Sarah virou-se para Lars com o rosto sério e os olhos assassinos. Lars ficou ereto, a varinha segura mais firmemente, os olhos vagando entre os três.


- Sarah... – ele parou seu olhar sobre o dela – Eu realmente gostaria de lhe falar algo importante.


- Eu já sei o que escreverei no seu túmulo, comensal. – ela cuspiu a palavra como se fosse um palavrão – Não escreverei nada. Você morrerá no esquecimento das nossas lembranças.


- Vamos acabar logo com isto. – bradou Owen, disparando contra o irmão e sendo seguido de perto por Sarah.


Cassius estivera analisando toda a situação. Lars estava, definitivamente, estranho para seus próprios padrões. Ele realmente queria falar algo para Sarah e parecia de verdade ser algo importante. Era sobre Tom, ele dissera. O que poderia ser? O mago viu Owen disparar na direção do filho e não soube o que fazer por alguns segundos.


Antes que Owen aproximasse mais de Lars ou lhe lançasse um feitiço, antes que o loiro atacasse ou fugisse, um urro cortou o ar carregado de ódio e de um desejo assassino palpável.


=-=-=


Sirius e Tonks estavam próximos um do outro, lutando ávidos contra os comensais. Quando o novo contingente de inimigos surgiu, eles moveram seus comandados para mais próximo dos portões, a fim de impedir que eles tomassem os terrenos.


Lançaram seus patronos mais uma vez, afastando temporariamente alguns dementadores sedentos por suas almas. Tonks avistou a alcatéia de lycans lutando a mais de cem metros e sentiu-se impelida a aproximar-se, na esperança de avistar Remo. Deu um passo na direção da alcatéia, no entanto, Sirius segurou-a pelo braço com força.


- Não ouse. – sussurrou ele – Precisamos de você aqui.


- Mas... – começou ela.


- Remo ficará bem. – assentiu ele, convicto – Não se preocupe.


Ela suspirou e abriu a boca para responder.


- Saiam da minha frente! – gritou uma voz feminina próxima – Saiam da minha frente! Eu tenho que falar com o milorde!


Sirius e Tonks encararam-se, abismados. A voz foi facilmente reconhecida por ambos. Eles olharam em volta, procurando. Por entre os comensais que os circulavam, avistaram a bruxa que gritava.


- Ela é minha. – sussurrou Sirius.


- Não! – exclamou Tonks – Eu quero ter a oportunidade de vencê-la como não pude fazer no Ministério.


- Não posso deixar que você corra este risco. – a voz de Sirius foi carinhosa, mas seu olhar era fixo na mulher que se afastava ainda aos berros – Continue a lutar contra os comensais, eles cairão facilmente perante você. – ele virou-se para ela e beijou-lhe a testa, correndo em disparada logo depois.


- Sirius! – chamou Tonks, tentando segui-lo.


Um comensal parou à frente da bruxa e iniciou um combate ágil.


Sirius empurrou alguns aurores e membros da Ordem, abrindo passagem, e estuporou alguns comensais.


- Saia da minha frente seu idiota, preciso falar com o milorde! – berrou a mulher, poucos metros adiante.


- Bellatriz! – gritou ele, ainda correndo.


A mulher se virou, o olhar enfurecido dando lugar ao surpreso por vê-lo. Ela despertou da surpresa quando um feitiço foi disparado pela varinha de Sirius.


- Sirius?! – perguntou atônita, desviando e defendendo-se dos ataques sucessivos.


- Surpresa, priminha? – riu Sirius, o olhar lívido.


- Ah, sim! – desdenhou Bellatriz – Pensei que estava morto.


- Todos pensaram... erroneamente, devo acrescentar. – Sirius parecia exultante, duelando com habilidade.


- Desculpe, priminho querido, mas não posso gastar meu tempo brincando com você. – Bellatriz abandonou qualquer traço de emoção – Avada Kedavra!


- Mas que pressa! – riu Sirius, desviando-se da maldição que acertou um comensal que duelava contra um auror as suas costas – Que bicho te mordeu, Bella?


- Se não me deixar em paz você vai implorar para morrer antes que se passe um segundo. – ameaçou ela, lançando maldições da morte seguidas.


- Por Merlim, Bella! – desdenhou Sirius correndo em várias direções, desviando-se sorridente dos feitiços – Sua imaginação não está das melhores para ameaças. Fiquei realmente preocupado agora. O que aconteceu com você enquanto estive fora?


- Não te importa! – irritou-se ela – Crucio!


- Ora... – riu Sirius após bloquear o feitiço – Não foi você quem disse que não tinha tempo para brincar comigo?!


- E está certo. – ela sorriu alucinada, pressionando a varinha contra a Marca Negra pulsante em seu braço.


- Precisa chamar aquele mestiço imundo para me vencer, priminha? – desdenhou Sirius, nenhum resquício de medo em sua voz ou expressão.


- Eu disse que você ia implorar pela morte antes que se passasse um segundo. – riu ela.


A sombra do Dragão Ancião das Trevas pairou sobre eles e o sorriso dela tornou-se ainda mais alucinado, os olhos brilhando com um prazer particular.


- O que faz aqui, Bellatriz? – a voz de Tom foi bruta e cheia de ódio.


- Milorde... – Bellatriz tremeu, o corpo encolhendo-se instintivamente.


- Eu lhe dei ordens diretas! – urrou Tom.


- Achei que o milorde devia saber... aquele maldito... McWell... ele tentou nos matar. – gaguejou ela.


Sirius sentiu-se excluído de uma maneira imperdoável. Estava duelando contra Bellatriz e, então, acabaria assim? Não, definitivamente, não!


- McWell?! – berrou Tom, lívido de fúria.


- Avada Kedavra!


O corpo de Bella escorregou alguns metros pelo gramado encharcado, derrubando alguns comensais que estavam próximos.


- Não! – gritou Tom, o rosto mais pálido.


O Dragão Ancião das Trevas abaixou a cabeça, em busca do assassino de Bellatriz. Contudo, Sirius já havia se distanciado. Sequer permanecera tempo o suficiente para ver a mulher ser atingida pela maldição. Correria alucinado através dos combatentes, tentando com todas as forças afastar-se.


Tom urrou. O corpo inerte de Bellatriz logo foi coberto pelos combatentes, pisoteado como uma folha seca.


“Maldito!” – exclamou Tom – “Maldito sejas, McWell...”


“Traidor...” – urrou o dragão, jogando mais chamas negras no céu.


“Quero vê-lo morto... agora!” – exigiu Tom.


O Dragão Ancião das Trevas planou pelos terrenos, os olhos fechados e a mente concentrada. Tom cruzou os braços e fechou os olhos. Buscaram a energia do alvo. Seja lá onde o traidor estivesse, eles encontrariam.


“Perto dos portões.” – exclamou o dragão com prazer.


“Envenene-o.” – riu Tom – “Quero vê-lo morrer sofrendo e muito... muito lentamente.”


O Dragão Ancião das Trevas brandiu as asas uma única vez e aproximou-se dos portões. Viu quatro pessoas, dentre elas o alvo. Lars McWell.


“Faça!” – ordenou Tom.


O dragão urrou.


Owen e Sarah pararam e, juntamente com Cassius e Lars, olharam para o céu.


- McWell! – berrou Tom.


“Ele sabe.” – exclamou Lars sem nenhum pingo de medo.


- Bom-dia, mestiço imundo. – desejou ele.


- Maldito! – gritou Tom, o dragão avançando alguns metros.


Cassius fitou o filho. Ele havia agido contra Tom. Tecnicamente, havia traído-o naquele instante. Com os olhos arregalando-se, Cassius percebeu que algo muito importante havia mudado. A crença de Lars.


- Você tentou matá-la... – urrou Tom.


- Tentei. – disse Lars displicente, a varinha firme – E irei atrás dela novamente assim que terminar um assunto importante. – ele apontou com o queixo para Owen e Sarah, que estavam chocados com a cena.


- Ah, sim! – um brilho maléfico passou pelos olhos vermelhos de Tom – Sua amada... acabei de me lembrar... Era o que você queria, não era?


- O que? – exclamou Sarah, irritada, os olhos fixos em Lars – O que você queria? Como se eu fosse um objeto a ser arrematado em um leilão?!


- Quieta. – sussurrou Owen, os olhos fixos no dragão, as mãos segurando Sarah pelos braços com força.


- Você, McWell traidor, tirou-me meu bem mais precioso... – a voz de Tom era ácida – Agora... tirarei o seu!


- Sarah! – Cassius e Lars berraram, juntos.


Com um movimento das mãos, Tom usou de sua aura negra para separar Owen de Sarah e puxá-la para cima, poucos metros acima do solo.


- Não! – berrou Owen, erguendo-se.


O grito de Sarah foi de pavor. O Dragão Ancião das Trevas planou até se aproximar dela, seus olhos eram perversos.


- Sarah! – os três McWells gritaram do solo.


- Bem lentamente... – pediu Tom.


O rabo do dragão flutuou até a boca dele, onde uma de suas presas arranhou um de seus espinhos. Owen e Lars ficaram confusos. Cassius, contudo, ficou pálido ao ver o sangue negro escorrer do arranhão.


“O veneno... é o sangue dele.” – concluiu apavorado.


- Ele vai envenená-la! – berrou ele.


Owen e Lars olharam-no apavorados.


Suas reações, contudo, foram opostas.


Owen ficou em choque, os olhos fixos na amada enquanto o rabo do dragão aproximava-se lentamente dela.


- Não! - gritou Lars, atraindo o olhar de Cassius, e disparou na direção de Sarah.


Após dar o segundo passo, o loiro transformou-se em tigre e passou a correr.


Tom ignorara a ação do loiro e sorria com malícia. Sarah berrava de pavor, vendo o espinho ferido do dragão aproximando-se cada vez mais.


“Acabe logo com isto.” – Tom pareceu levemente entediado.


O rabo, então, desceu veloz na direção do corpo de Sarah, que fechara os olhos.


Owen berrou e Cassius ficou em choque.


- Sa... Sarah. – uma voz fraca chamou-a.


Ela abriu os olhos, atônita. Lars estava sobre ela, o rosto calmo, os olhos carinhosos e um sorriso sincero iluminando sua face.


- Lars? – sussurrou ela.


- Perdoe-me. – pediu ele, o rosto contorcendo-se em uma máscara de dor.


Somente então ela reparou. O espinho ferido do dragão havia perfurado o corpo de Lars e o sangue negro misturava-se ao vermelho.


- Patético. – murmurou Tom com desdém.


Sarah caiu no chão, livre da aura negra. O Dragão Ancião das Trevas agitou o rabo, arremessando Lars contra o chão, a alguns metros de distancia, e alçou vôo.


“Está feito.” – pensou o dragão, afastando-se.


=-=-=


Na escuridão da Floresta Proibida, uma clareira fora produzida a partir dos destroços de incontáveis árvores. Ali, sob a tempestade e o granizo, quatro dragões e quatro guerreiros erguiam-se.


- Ária! – exclamou Hermione, quando a dragonesa voltou ao chão, sem forças.


- Vocês estão bem? – perguntou Harry, surgindo por entre as árvores, voltando de onde havia caído do dorso de Fuoco.


- Defina bem... – gemeu Rony, esticando as costas.


- Terra? Ária? – perguntou Gina, desviando seus olhares para os dragões.


O dragão gemeu, o rabo gravemente ferido e sangrando em abundância. A dragonesa tossiu, o sangue espalhando-se sobre os troncos caídos das árvores.


- O que vamos fazer? – perguntou Hermione, desesperada.


- Não podemos continuar assim. – afirmou Harry.


- Mas o que iremos fazer? – questionou Rony, o semblante preocupado.


“O que devíamos ter feito no começo...” – respondeu Fuoco.


“Pare de falar por enigmas...” – ordenou Acqua, enraivecida – “Diga de uma vez!”


“O único que pode vencer o Herdeiro Trevas é o Herdeiro Luz.” – disse Fuoco com naturalidade.


- Nós somos o Herdeiro Luz... nós podemos derrotá-lo. – afirmou Gina.


“Não... não podemos.” – para surpresa de todos, Ária afirmou – “Não no estado que eu e Terra nos encontramos.”


“Seja direto, Fuoco.” – a voz de Acqua ainda era raivosa.


“Estou sendo direto, Acqua.” – rugiu ele – “O Herdeiro deve derrotá-lo. Nós não somos o Herdeiro!”


- Não?! – exclamou Hermione.


- Não. – respondeu Harry.


Todos o fitaram, atônitos.


- Como assim?! – perguntou Rony.


- Você estava certo, Rony, afinal de contas. – Harry sorriu – Sobre a profecia.


- Você está sendo tão evasivo quando seu dragão. – resmungou Gina, cruzando os braços.


- Sejam diretos, pelo amor de Merlim! – suplicou Hermione – Ária está morrendo!


- Eu sou o Herdeiro Luz! – admitiu Harry, por fim.


- Como? – Hermione arqueou uma sobrancelha.


- A profecia se referia a cada um de nós... Mas, referia-se a mim como um todo. Eu sou o Herdeiro Luz. – explicou ele – Somente eu posso vencer o Tom.


- Então vai lá! – esbravejou Gina – Monta no Fuoco e vai enfrentar o Tom sozinho.


- Não é assim, Gina. – suspirou Harry – Eu... sozinho não conseguirei.


- Você não estará sozinho. – retorquiu Rony, os braços se cruzando – Fuoco estará com você.


“Vocês são realmente cabeças duras...” – irritou-se Fuoco“O que Anima quer dizer é que nós precisamos de vocês... mas não fisicamente.”


Ária ergueu um pouco a cabeça do chão, fitando o dragão.


“Entendi.” – a voz dela era muito fraca.


“Eu também.” – ergueu-se Terra, o ferimento do rabo cicatrizado.


“Você é um idiota, Fuoco.” – rugiu Acqua“Podia ter-nos contado antes.”


- Será que dá pra explicar aqui?! – pediu Rony, vendo os quatro dragões se erguerem sobre as patas traseiras.


“Vocês se lembram do que fizeram ao se encontrarem após o treinamento?” – perguntou Terra.


- Como poderíamos nos esquecer... – resmungou Gina – A união.


“Eis, então, a hora de realizar a verdadeira união. A União que criará o Herdeiro Luz e o Dragão Ancião da Luz.” – esbravejou Ária, com a voz levemente mais forte.


- Como? – questionou Hermione.


Acqua e Terra moveram-se, formando um circulo com Ária. Fuoco pôs-se no meio do circulo.


- Da mesma maneira. – sussurrou Gina, compreendendo tudo.


Harry assentiu e caminhou até a frente de Fuoco. Os outros se encaminharam para seus respectivos dragões e fitaram o rosto de Harry.


- O que acontecerá? – perguntou Rony, um quê de medo em sua voz.


- Nós perderemos nossos poderes. – respondeu Hermione – Ária, Terra e Acqua deixaram de existir para formarem, junto de Fuoco, o Dragão Ancião da Luz. Nossos poderes, nossas essências, serão transferidos para o Harry, para que ele, sozinho, seja o Herdeiro Luz.


- Exato. – confirmou Harry.


- Adeus. – disse Gina para Acqua.


- Ao menos você não vai morrer. – Hermione sorriu para Ária.


- Foi maneiro o que fez antes... pena que aquele maldito seja mais forte. – exclamou Rony para Terra.


Os três dragões inclinaram as cabeças.


“Foi um prazer conhecê-los.” – disseram juntos.


- Vamos. – pediu Harry.


Todos fecharam os olhos.


Concentraram-se ao máximo e sentiram suas essências de forma palpável. Estavam ali, comprimidas em seus corpos, aguardando para serem transferidas. Elas sempre estiveram a esperar. Notaram, então, que aquelas essências nunca foram suas. Pertenciam à outra pessoa.


Ao Herdeiro Luz.


=-=-=


O Dragão Ancião das Trevas afastou-se de sua vítima, seu desejo de morte, por hora, saciado.


- Onde eles estão? – perguntou Tom, impaciente.


“Quer procurá-los?” – respondeu o dragão com outra pergunta.


- Claro... quero acabar logo com aqueles fedelhos para poder devastar o castelo sem nenhuma interrupção.


O dragão brandiu as asas, virando o corpo na direção da floresta.


Um urro paralisou-o.


- O que é isto? – perguntou Tom, inclinando o corpo para frente.


Os combatentes interromperam seus movimentos para olharem o céu.


O mesmo urro cortou o céu como um raio.


“Não pode ser!” – grunhiu Oscurità, brandindo as asas para se afastar um pouco da Floresta Proibida.


Do coração da floresta, uma gigantesca criatura surgiu. As asas enormes. O tronco fortemente definido. O rabo pesado e incrivelmente afiado. Escamas com uma textura indescritível e inclassificável. Fios de magma e de água circulando as escamas. Vermelho e azul brilhando em torno do branco como diamante.


Sob sua cabeça, um homem jazia, imponente e ereto. Uma bainha presa à cintura, o punho em ouro e prata cintilando com a chuva. As vestes impecavelmente brancas, o sobretudo esvoaçando ao vento. Os cabelos negros, compridos e presos em uma forte trança, a franja que caia sobre os olhos sendo arremessada para trás pelo vento. A face dura e suave, séria e gentil. Os olhos brancos, brilhando como diamantes.


A criatura rugiu, as presas cintilantes. As asas brandiram, mantendo-o parado e flutuante. O rabo moveu-se lentamente de encontro ao chão. Ao tocá-lo, as escamas moveram-se e abriram-se, revelando três pessoas. Estas pularam para o chão e viraram-se para fitar o homem sobre a criatura.


“Não se preocupem comigo.” – pediu o homem às três pessoas, a voz inclassificável – “Acabem com eles.” – completou risonho, embora sua expressão não se alterasse.


- Ouviram o Harry. - Rony sorriu, sacando a varinha e fitando os outros – Vamos acabar com eles.


“Boa sorte.” – desejou Hermione, sacando a varinha também.


“Volte logo.” – suplicou Gina, a varinha já em mãos.


Harry virou o rosto, desviando o olhar de Tom para fitar a amada. Um sorriso belo se desenhou em sua face. Mesmo estando longe, Gina pôde compreender quando seus lábios se moveram.


- Eu te amo.


Ela sorriu e imitou-o.


- Também te amo.


Desviaram o olhar juntos.


- Vamos. – disse ela aos outros, saindo em disparada contra a multidão de combatentes que se mantinham parados e com os olhos fixos na nova criatura que tomava os céus.


- Chegou à hora, Tom. – disse Harry, sério novamente.


“O que...” – começou Tom.


“Eis o Herdeiro Luz.” – esbravejou o Dragão Ancião das Trevas – “Eis meu inimigo... meu irmão... O Dragão Ancião da Luz.”


O Dragão Ancião da Luz rugiu, as asas brandindo fortes, lançando-o na direção do inimigo.


“Agora sim... vamos mostrar-lhes do que somos capazes.” – Harry pôde distinguir o humor que outrora pertencia à Terra.


“Juntos...” – começou ele.


“Até o fim.” – completou o dragão.


=-=-=


- Hey! – gritaram Hermione e Gina, atraindo os olhares dos comensais mais próximos.


- Venham! – chamou Rony, a varinha erguendo-se.


Com os ataques dos três, a luta reiniciou, tão violenta e voraz quanto antes.


Afastados do caos da batalha, perto dos portões, Cassius abaixou o olhar do majestoso Dragão Ancião da Luz para fitar o corpo de Lars, caído a alguns metros.


- Sarah! – Owen correu até a amada, que se erguia com os olhos fixos em Lars.


Cassius correu na direção do filho, ajoelhando-se ao lado de seu corpo.


- Lars? – chamou baixinho.


O loiro tossiu e abriu os olhos, encontrando o olhar preocupado de Cassius.


- Veio terminar o... serviço? – perguntou antes de tossir novamente.


- Não... – Cassius balançou a cabeça – Você é meu filho... sabe que nunca te mataria.


Lars riu sarcástico e fraco, o sangue escorrendo de seu ferimento na barriga e de sua boca.


- Sarah? – perguntou.


- Estou aqui. – ela se aproximou e se ajoelhou ao lado dele.


- Perdoe-me... – suplicou ele, tossindo sangue.


- Por que fez isto? Por que me salvou? – perguntou ela, aturdida.


- Eu te amo. – ele sorriu, os olhos fitando o céu chuvoso.


Owen deu uma risada sarcástica e sombria, logo atrás de Sarah, e atraiu o olhar dela e do pai.


- Qual é a graça? – perguntou ela.


- Bem típico, não? O vilão que se redime no final ao salvar a vida da amada. – disse ele com menosprezo.


- Eu ainda te odeio, Owen. – ouviu-se a voz sussurrante de Lars, que sorria.


O moreno não respondeu.


- Pai... – Cassius congelou por alguns segundos e voltou sua atenção para o loiro, que o encarava – Por quê?


- Por quê?! – repetiu Cassius, sem compreender por alguns instantes.


Depois, os olhos do mago se arregalaram para, então, marejarem. Suas mãos tremeram.


- Também devo pedir seu perdão, filho. – sussurrou por fim – Eu sei que é minha culpa... eu devia... devia ter sido um pai de verdade para você.


- Agora não importa, não é? – desdenhou Lars, desviando o olhar para fitar o céu – Eu vou... – tossiu sangue novamente e a expressão se contorceu de dor – morrer.


- Cassius... – pediu Sarah, suplicante.


- Não! – Owen fitou-a revoltado – Ele é um comensal e merece morrer.


- Ele salvou minha vida! – gritou Sarah – Isto não importa?!


- Ele é um comensal e salvar sua vida não paga as atrocidades que ele cometeu. – grunhiu ele em retorno.


- Minha vida não vale o perdão dele? – perguntou Sarah, escandalizada com a frieza do noivo.


- Não é o cas... – começou o moreno.


- Cale-se Owen. – ordenou Cassius, a voz fria.


Owen abriu a boca para retrucar. Um grito ensurdecedor de Lars o impediu. O loiro se contorceu de dor, as mãos pressionando as têmporas com força, os olhos pressionados.


- Lars... - gemeu Sarah.


- O veneno está agindo. – sussurrou Cassius, tentando conter o corpo do filho – Acalme-se Lars.


- Deixe-o! – gritou Owen, as mãos trêmulas.


- Sarah... – gemeu Lars, o corpo ainda se contorcendo, as mãos firmes na cabeça.


- Estou aqui. – murmurou ela.


- O Tom... eu tenho que dizer... – a voz dele tremeu - Tenho que dizer antes... antes de...


- Esqueça isto, Lars. – Sarah comprimiu os olhos, as lágrimas escorrendo – Cassius! – suplicou.


- Deixe-o morrer. – Owen segurou Sarah pelos braços e a afastou do irmão.


- Não! – Sarah esmurrou o peito de Owen, tentando se soltar.


- Lars... – chamou Cassius.


- Eu tenho que falar... antes que... – a voz de Lars morreu em sua garganta.


O berro que foi ouvido em seguida deixou Owen e Sarah paralisados.


O corpo de Lars paralisou, estirado no chão como se tivesse petrificado. Os olhos arregalados, vidrados no vazio, diferentes. A íris vermelha sangue e a parte outrora branca, agora negra como a escuridão.


- Não... – sussurrou ele com a voz trêmula e fraca – Não...


- Lars! – chamou Sarah, desvencilhando de Owen.


- A escuridão... – a voz do loiro tremeu de novo – Não...


- Faça algo! – gritou Sarah para Cassius.


Ele balançou a cabeça. A visão do filho morrendo o apunhalara tão forte como a visão de Sophia morrendo. Lars e Sophia. Tão iguais no físico e no jeito de ser. Ela morrera envenenada e Cassius não pudera salvá-la. Poderia agora salvar o filho do mesmo destino?


- Eu vou te salvar... – sussurrou para o loiro.


- Não... – sussurrou Lars ainda no mesmo delírio de antes, era como se não ouvisse o pai – Deixe minhas lembranças... – suplicou, lágrimas de sangue escorrendo pelos cantos dos olhos paralisados.


- O que? – Sarah ficou perdida.


- O veneno está atacando a mente dele. – afirmou Owen, aproximando-se cauteloso – Só então atacará seu corpo.


- Salvando o corpo, pode-se salvar a mente. – assentiu Cassius.


Urros no céu atraíram os olhares de Owen e de Sarah. No entanto, Cassius manteve-se concentrado no filho.


- Cabana... Lestrange... Choro. – delirou Lars, a cabeça tremendo, o olhar vidrado, o sangue escorrendo como lágrimas.


“Acalme-se, Cassius.” – disse o mago a si mesmo – “Você vai salvá-lo... vai, enfim, cumprir o que prometeu à Sophia.”


Ele estendeu as mãos sobre a barriga do filho e se concentrou nos feitiços. Um atrás do outro, foram tomando suas forças. Antes de pronunciar o último, sentiu-se vazio.


- Sarah, ajude-me! – chamou-a sem desviar os olhos do filho.


- Esconderijo... Tom... Missão. – a voz de Lars era mais fraca e mais cheia de agonia.


Sarah aproximou-se e se ajoelhou ao lado de Lars, oposta à Cassius.


- O que eu faço. – perguntou.


- Deixe que sua aura flua até mim. – ordenou Cassius.


Ela estendeu as mãos, concentrando-se previamente. Antes que ela toca-se as mãos de Cassius, seus punhos foram seguros por Owen, que se ajoelhava ao seu lado, o olhar fixo em Cassius, que o retribuiu.


- Está salvando-o... – sussurrou o moreno.


- Estamos. – confirmou Cassius – Ele é meu filho. Assim como você, eu o amo.


- Mansão Malfoy... Cruciatus. – todo o corpo de Lars tremeu, como se ele estivesse sob o efeito da maldição imperdoável.


Owen fitou o rosto do irmão. O olhar vidrado no vazio e carregado de angústia e dor. A expressão vazia, petrificada. O belo rosto, agora macabro pelas linhas de sangue caindo de seus olhos.


- As memórias recentes já foram consumidas. – afirmou o moreno, sem desviar o olhar de Lars – Se... se ele esquecer tudo... o que nós vamos fazer? – dirigiu o olhar para o pai.


- Eu vou criá-lo como deveria ter feito a princípio. – respondeu Cassius – Agora... – sua expressão mudou e sua voz foi profunda – Sua mãe vive nele, Owen. Não pode simplesmente culpar-me pelo que aconteceu a ele e deixar que a Sophia que existe nele possa viver?


Owen engoliu em seco, fitando o rosto do irmão mais uma vez.


- Hogwarts... ódio... Owen. – a expressão de Lars desfigurou-se por poucos segundos em uma máscara de ódio.


- Ele está sofrendo. – a voz de Sarah atraiu o olhar de Owen, seu olhar era suplicante – Ele é seu irmão... eu não quero que você se atormente por não ter ajudado à salvá-lo.


- Hogwarts... amor... Sarah. – a voz de Lars foi calma e suava, como sua expressão.


- Se demorarmos mais... – começou Cassius – Não teremos tempo.


Owen soltou os punhos de Sarah e estendeu as mãos sobre as do pai.


- Começando agora... – Owen fitou o pai.


- Na velocidade que está... parará antes da morte de sua mãe. – estipulou o mago.


Owen não disse mais nada. Ele e Sarah fecharam os olhos, sentindo suas energias fluírem através de seus membros até as palmas de suas mãos e abandonando-os. Cassius fechou os olhos e se concentrou.


=-=-=


Segundos que demoraram uma eternidade. Olhos vermelhos sangue e brancos diamantes. Gigantescos dragões tomando os céus. Humanos eretos sobre seus dorsos.


- Então... voltou para morrer, em definitivo? – desdenhou Tom.


- Ah, não. – Harry sorriu divertido – Voltei para cumprir a profecia. Voltei para te matar!


- Que seja. – Tom abanou a mão com descaso – Já disse que está velho demais para sonhar, Potter.


Harry não respondeu. O Dragão Ancião da Luz rugiu. A superfície congelada do Lago Negro trincou e rachou completamente. Pequenas fissuras desenharam-se nos terrenos de Hogwarts. Chamas brancas emergiram delas, assustando os combatentes de ambos os lados. Rajadas de vento sucessivas lançaram os dementadores contra as chamas, que guincharam e dissolveram-se.


- Agora sim, podemos continuar de onde paramos. – o sorriso de Harry foi ainda maior quando a expressão de Tom tornou-se vorás.


- Acabaremos com você lentamente. – prometeu Tom – “Acabe com eles.”


“Não sonhe com a possibilidade de ser fácil como era antes.” – grunhiu Oscurità.


Os dois dragões moveram-se, descrevendo círculos no ar sem nunca romper o contato visual. Urraram e atiraram-se um contra o outro.


Ao contrario de antes, onde o Dragão Ancião das Trevas podia tocar o sangue dos dragões elementais sem se ferir ou se envenenar, agora o sangue do inimigo também era venenoso, contudo, o era somente para ele. Ninguém além de Oscurità seria envenenado pelo sangue do Dragão Ancião da Luz. Com esta nova ameaça, Oscurità sentiu-se privado em seus movimentos. O que lhe alegrava era o fato do inimigo possuir a mesma privação.


Os gigantescos dragões se encontraram. Garras, asas e caldas afiadas sendo usadas como ferramentas de dor. As mandíbulas mantinham-se contraídas ao máximo, nenhuma gota de sangue adentraria por suas bocas.


“Ataque-o.” – rugiu o Dragão Ancião da Luz.


“Com todo o prazer.” – Harry sorriu.


Após desencaixar os pés das escamas do dragão, Harry começou a correr, subindo pelo pescoço da criatura, completamente alheio aos movimentos secos e brutais que a luta fazia-o dar.


“Faça a sua parte.” – ordenou o Dragão Ancião das Trevas.


Tom parou de olhar o dragão inimigo, desviando-se para Harry, que pulava em sua direção com a espada erguida e pronta para acertá-lo. Com um movimento rápido, Tom jogou a capa para trás e desembaiou de suas costas uma espada de lâmina negra, utilizando-a para defender-se do golpe de Harry.


- Também possuo minhas armas, Potter. – desdenhou ele ao fitar a expressão surpresa de Harry.


- Já era de se esperar. – sorriu o garoto, retomando sua expressão à seriedade anterior.


Apesar dos movimentos descoordenados dos dragões, os dois guerreiros conseguiram manter-se eretos e firmes sobre o dorso de Oscurità, travando um duelo rápido e perigoso de espadas.


“Ele está aqui.” – informou Tom.


“Perfeito.” – grunhiu o Dragão Ancião das Trevas.


Com um movimento abrupto, o dragão abriu as asas e, brandindo-as, afastou-se do inimigo. Tom afastou-se de Harry, interrompendo o duelo das armas e iniciando um duelo de feitiços não-verbais, caminhando até a cabeça do dragão e mantendo Harry sobre o dorso do mesmo.


O Dragão Ancião da Luz tentou retomar o contato físico com o inimigo, mas este somente desviava e se afastava.


Quando Tom estava distante de Harry, Oscurità esticou o rabo e desferiu-o contra o próprio corpo, a fim de acertar o garoto. Um urro desprendeu-se da mandíbula contraída do dragão quando seus espinhos perfuraram suas escamas e feriram-no.


- Acha mesmo que seria fácil assim? – riu Harry, ereto sobre a cabeça do Dragão Ancião da Luz, que rugiu como se gargalhasse.


“Maldito... ele previu nossos movimentos.” – bradou Tom.


“Ele é sábio... possui a sabedoria de séculos de ensinamentos em estratégia, feitiços e luta física.” – afirmou Oscurità, após retirar o próprio rabo de seu corpo.


- Meu dragão é irmão do seu, Tom. Eu sou seu irmão. – Harry ficou sério – Sabemos tudo sobre vocês. Cada movimento, cada atitude, cada crença.


- Meu irmão?! – exclamou Tom enraivecido – Como ousa?


- Você entenderá... no final. – completou Harry, um sorriso ousado tomando o rosto.


”Vamos acabar com isto...” – pediu o Dragão Ancião da Luz.


“Já que você quer assim.” – o sorriso ousado se desfez.


Brandindo as asas e a espada, dragão e guerreiro lançaram-se contra o inimigo.


“Que venham.” – rosnou Tom, a espada negra firme na mão.


O Dragão Ancião das Trevas comprimiu o tórax e escancarou a boca. Movimentos foram repetidos. Harry lembrou-se de Ária ao ver seu dragão começar a girar, dispersando as chamas negras e constantes. Houve, contudo, uma diferença, que fez Harry sorrir deliciado.


“Patético... ele prevê nossos movimentos e, mesmo assim, não sabe ser criativo. Olhe só, está imitando aquela dragonesa.” – desdenhou Tom, enquanto seu dragão ria, pronto para cravar as presas no pescoço do inimigo assim que ele fosse se preparar para fazer o mesmo.


“Estamos um passo à frente.” – completou o dragão.


Quando as chamas cessaram, Oscurità escancarou a boca, as presas cintilando. O que se aproximou, entretanto, não foi a cabeça do inimigo, mas seu rabo pesado e afiado, que se enrolou forte no pescoço do dragão e arremessou-o para baixo. Antes que ele pudesse retomar o vôo, as garras e presas do Dragão Ancião da Luz penetraram suas escamas, fazendo-o urrar.


Harry inclinou-se sobre o pescoço do dragão e disparou feitiços contra Tom, que se desviou e cancelou-os com a espada.


“Como que o desgraçado ficou tão forte?!” – sibilou Tom.


Ele revidou os feitiços, Harry apenas voltou para a cabeça do dragão, saindo da visão de Tom.


“Liberte-se.” – exclamou Tom, quando a mandíbula do dragão inimigo passou perto demais.


“Ajude-me, então.” – urrou Oscurità, a voz dilacerada pela dor.


Dragão e guerreiro, então, concentraram-se um no outro, nas suas energias, nas suas essências.


“Afaste-se.” – exigiu Harry, sentindo a mudança nas atitudes de Tom.


O Dragão Ancião da Luz brandiu as asas e se afastou veloz. Uma explosão negra aconteceu milésimos de segundos depois. A aura negra preencheu um grande espaço antes de retrair e voltar ao corpo de seu dono. O tempo que se passou foi o suficiente para que Tom e seu dragão se recuperassem dos últimos ataques.


“Diga-me que está brincando...” – a voz de Tom tremeu quando o olhar firme de Harry pousou sobre ele – “Diga-me que, se quiser, pode acabar com eles.”


O dragão não respondeu.


“Pode sentir, Harry, o medo que exala do humano?” – Harry pôde perceber a ferocidade de Fuoco.


“Ah... sim.” – sorriu ele – “É impressionante ver como Tom pode ser tão pateticamente humano quando não está se controlando.”


“Sim...” – o dragão urrou, era como se gargalhasse, lembrava Acqua e seu bom humor.


“Está rindo de nós.” – grunhiu Oscurità.


“Vamos fazê-los pagar!” – exigiu Tom.


O Dragão Ancião das Trevas brandiu as asas curadas, lançando-se contra o inimigo.


“Desespero...” – riu Harry, erguendo a espada.


Ele flexionou os joelhos quando seu dragão avançou contra o outro, por sobre este, e virou-se de cabeça para baixo. Harry passou ao lado de Tom. As espadas brandiram e faíscas brilharam.


A tempestade seguiu a intensidade da batalha, ficando mais intensa e brutal, o granizo sendo arremessado a esmo com força.


No solo a luta seguia. Lycans liquidavam parte dos lobisomens e, alguns, dirigiam-se aos comensais, estraçalhando seus corpos sem qualquer resquício de piedade. Os centauros partiam para cima dos inimigos, fazendo-os cair ao chão e pisoteando-os. Os bruxos, sem a influência dos dementadores, sentiram-se revigorados e lutavam com garra renovada. Cada vez mais, as vítimas eram os comensais. Cada vez mais, a balança pendia para os defensores de Hogwarts.


Com a perda do medo e da falta de esperança dos combatentes, o Dragão Ancião das Trevas enfraqueceu e o seu irmão fortaleceu.


- Vamos, Tom. – desdenhou Harry – Venha pra cima e sentencie-se à morte.


- Quem vai morrer aqui é você, Potter. – ralhou Tom.


Os movimentos dos dragões eram parecidos e sincronizados. Quando um atacava o outro desviava e revidava, atacando o vazio. Os dois guerreiros disparavam feitiços poderosos um contra o outro e, quando os dragões aproximavam-se demais, brandiam as espadas e as faíscas refletiam-se em seus olhos. Vermelho sangue e branco diamante.


- Como é, Tom, sentir-se mortal novamente? À beira da morte? – questionou Harry, a voz carregada de sincera curiosidade.


- Cale-se! – urrou Tom, as maldições disparando de seus dedos vazios.


O Dragão Ancião da Luz metamorfoseou seu rabo, transformando-o em água e restaurando-o à aparência natural. Contudo, havia longos e afiados espinhos em torno dele. Em um vôo rasante sobre o inimigo, arremessou o rabo espinhoso contra o dorso dele e, fixando os espinhos em suas escamas, puxou-os, rasgando toda a extensão do corpo do inimigo.


- Isso! – exclamou Harry quando o urro de dor do inimigo chegou aos seus ouvidos.


“Reaja!” – exigiu Tom, o dragão caindo sem forças.


“Não há como...” – sibilou Oscurità“Não há como vencê-lo... hoje.”


“Não diga isto! É o Potter... é somente um garoto!” – os olhos de Tom faiscaram raivosos sobre Harry.


“Não é somente um garoto... ele é o Herdeiro Luz.” – o dragão brandiu as asas e urrou para o inimigo, despejando um jorro de chamas negras.


O Dragão Ancião da Luz escancarou a boca e lançou chamas brancas contra as negras que subiam em sua direção. A explosão deste encontro soou alto como um raio e clareou o céu. Quando a luz cessou e o dragão e Harry puderam ver, Tom e o Dragão Ancião das Trevas haviam sumido. Fugido.


- Não! – grunhiu Harry.


“Eles não podem fugir.” – urrou o dragão, uma gargalhada divertida – “Esta é a batalha final. Eles não podem fugir. Segure-se firme, Harry. Vamos à caçada.”


Harry gargalhou, girando a espada na mão, animado. O dragão brandiu as asas, alçando vôo na direção das nuvens. Os olhos de Harry brilharam mais intensamente. Todo o seu corpo brilhou, assim como o do dragão. Ao transpassarem a primeira nuvem, todas elas, lentamente, começaram a se dissolver, e eles desapareceram.


=-=-=


- Não posso acreditar. – lamentou.


“Acredite, guerreiro...” – esbravejou o dragão – “Eu disse que não seria fácil. Disse que tínhamos que atacar antes que ele voltasse. Esperamos tempo demais. Você esperou tempo demais.”


- Não venha me criticar. – irritou-se Tom.


A resposta foi um rosnado ameaçador. O dragão planou sobre a gigantesca floresta sombria, rumando para sua caverna negra. Quando alguns metros os separavam de seu abrigo acalentador, um rugido estremeceu toda a floresta e os obrigou a virar-se, atônitos.


- Achou mesmo que poderia fugir? – a risada de Harry ecoou pelos céus.


“Malditos.” – sibilaram Oscurità e seu guerreiro.


O Dragão Ancião da Luz parou, flutuante sobre as árvores, aguardando algum movimento do inimigo.


Ali, ao contrario de Hogwarts, não chovia. O céu estava completamente limpo de nuvens. Com isto, tiveram noção de quantas horas haviam se passado na batalha. O sol estava para sumir no oeste. Seus últimos raios tingiam o céu de laranja e vermelho. O leste já era tomado pela escuridão da noite. A lua cheia, brilhando bela, estava a pico, iluminando o que o sol já abandonara.


Os minutos de silêncio e análise foram irritantes e opressores. O desespero e o medo irromperam com força as barreiras criadas para impedi-los e forçaram seus possuídos a agir pelo instinto. O Dragão Ancião das Trevas rugiu e disparou contra o inimigo e irmão.


“Aqui, ele leva vantagem pelo ambiente.” – ponderou Harry, preparando-se para o impacto do ataque.


“Mas nós levamos a vantagem de não haver inocentes abaixo de nós.” – ostentou o Dragão Ancião da Luz.


Abrindo as asas ao máximo, o dragão brandiu-as com força, arremessando contra o inimigo que se aproximava rajadas de vento tortuosas. Utilizando o elemento, Harry e o dragão manipularam-no, fazendo as rajadas constantes circularem instáveis em torno do inimigo, dificultando seu vôo.


Oscurità, porém, superou o ataque do elemento e retomou seu vôo rápido na direção do inimigo. Um jorro de chamas negras foi disparado pela sua boca e maldições partiram de Tom. O Dragão Ancião da Luz cancelou o ataque do inimigo com uma rajada de vento e Harry fez o mesmo com as maldições usando de feitiços defensivos.


Quando Oscurità aproximou-se com a mandíbula escancarada, o Dragão Ancião da Luz girou em torno de si na vertical, arremessando seu rabo pesado e espinhoso contra a cabeça do inimigo, acertando-o com força e arremessando-o contra a floresta logo abaixo. Devido à força do impacto, o Dragão Ancião das Trevas ficou tonto e desnorteado, incapaz de impedir a própria queda.


“Bata essas malditas asas!”­ – exigiu Tom, desesperado ao ver as copas das árvores aproximando-se velozes.


O dragão, no entanto, não reagiu. As árvores quebraram como gravetos sob o peso do gigantesco dragão. A poeira subiu quando o corpo do dele caiu no chão seco e morto da floresta. Com um rugido, o Dragão Ancião da Luz sobrevoou o inimigo caído e, erguendo a cabeça, manipulou o solo, com a ajuda de Harry. Uma cúpula de terra envolveu Tom e seu dragão e solidificou-se, tornando-se uma estrutura lisa e forte.


“Ele vai ter que gastar muita energia para sair dali.” – afirmou o Dragão Ancião da Luz.


“Estamos enfraquecendo-o... logo ele estará fraco o suficiente para morrer com um único golpe.” – Harry sorriu, o dragão aumentando a distancia do solo.


Aguardaram. O solo tremeu levemente, contudo, a cúpula manteve-se intacta. Longos minutos se passaram.


“O que ele está fazendo?!” – Harry inclinou-se sobre o pescoço do dragão para olhar melhor o solo.


De repente, o rugido do Dragão Ancião das Trevas soou atrás deles, perto demais. Eles viraram-se e depararam-se com um jorro de chamas negras. Brandindo as gigantescas asas, o Dragão Ancião da Luz dissipou as chamas e desviou-se de um ataque da mandíbula e do rabo do inimigo.


“Inteligente, admito.” – suspirou Harry, voltando a ficar ereto sobre o pescoço do dragão – “Fez um buraco e rastejou por ele, a escuridão o fortaleceu.”


“Habilidoso acima da tudo.” – sibilou o dragão.


- Vamos, Potter. – Tom tentou ser sarcástico, embora sua voz espelhasse surpresa e cansaço.


- Cansado, Tom? – riu Harry, girando a espada na mão, fazendo-a brilhar com o luar.


- Ah, não. – Tom cortou o ar na diagonal com sua espada em um movimento rápido – Estou em forma, Potter.


“Odeio esses teus joguinhos... isto nos arruína.” – esbravejou Oscurità.


“Isto os distrai.” – contrapôs Tom.


O sol se pôs completamente e a escuridão somente não se instalou devido à claridade calma da lua. Mesmo com essa fonte firme de luz, o Dragão Ancião das Trevas chacoalhou o corpo e soltou uma baforada de fumaça pelo nariz.


“Ah... sim!” – exclamou prazeroso – “A noite!”


“Não podemos esperar mais tempo, Harry.” – advertiu o Dragão Ancião da Luz – “A cada minuto que se passar, de agora em diante, ele ficará mais forte e eu mais fraco.”


”Vamos por o plano em ação.” – Harry inclinou-se sobre as escamas e sumiu sob elas.


Com um rugido, o Dragão Ancião da Luz brandiu as asas e voou rasante contra o inimigo. Este grunhiu e voou de encontro ao outro. Quando estavam muito próximos, o Dragão Ancião da Luz mudou de direção, alçando vôo na vertical. Ele arremessou seu rabo na direção do inimigo, contudo, sem nenhuma intenção de atingi-lo. Pelo contrario, suas escamas se abriram e Harry surgiu, sendo atirado contra Tom, que sequer teve tempo de desviar.


Harry acertou Tom em cheio no peito com as mãos em punho e, ambos, caíram do dorso do Dragão Ancião das Trevas.


“Guerreiro!” – exclamou o dragão, virando-se para pegá-lo.


Porém, o Dragão Ancião da Luz mergulhou e pressionou suas presas e garras no dorso do inimigo, iniciando entre eles uma luta feroz. Sem ter seus guerreiros sobre seus dorsos e livres da preocupação para com estes, os dois dragões embrenharam-se um no outro, mordendo e arranhando, ferindo e rasgando, com muita brutalidade.


Harry e Tom caíram sobre a cúpula lisa e se soltaram, rolando pela terra. Harry desembaiou a espada e fincou-a na terra, parando de escorregar. Tom fez o mesmo. Com um pensamento de Harry, a terra se soltou e caiu sobre o chão, levando Tom com ela. Harry permaneceu de pé, sobre uma pequena torre de terra, que se abaixou lentamente.


Tom ergueu-se e fitou o céu, em busca de seu dragão.


- Ele não poderá ajudá-lo agora. – informou Harry.


- Você é quem necessitará de ajuda, Potter. – Tom moveu a espada para trás e disparou contra Harry.


O moreno correu de encontro, a arma também para trás. As espadas se chocaram, faíscas soltaram-se. Com um único pensamento, Tom fez sua aura explodir contra Harry, porém, ele já havia desaparecido por um buraco no solo e apareceu a alguns metros, a mão vazia girando, disparando feitiços sobre feitiços.


Uma barreira negra protegeu Tom. Harry atacou a barreira com um forte golpe da espada. Ela tremeu e quebrou-se em milhares de pedaços. Tom brandiu sua arma contra o pescoço de Harry, que se abaixou e girou a espada contra a cintura dele. Tom esquivou e moveu a sua na diagonal sobre o ombro de Harry, onde encontrou a espada do moreno, aparando-a.


- Lento demais, Tom. – Harry riu, desaparecendo com um rodopio de chamas brancas.


As chamas tão próximas assustaram Tom a ponto de fazê-lo esquecer do moreno, que surgiu ao seu lado e girou a espada, decepando a mão de Tom que segurava a dele. Antes que a arma caísse no chão, Harry girou novamente a sua e partiu-a no meio.


- Ah! – berrou Tom, a mão esquerda segurando a direita, afastando-se de Harry.


Dos céus, o Dragão Ancião das Trevas rugiu doloroso. A dor do guerreiro era a dor do dragão. Harry já sabia disto.


Tom cambaleou alguns passos para longe de Harry, o braço direito pressionado contra o peito. Seus olhos vermelhos eram manchados de dor e escurecidos por uma ira crescente.


- O Fim se aproxima, Tom. – sibilou Harry, rude.


- Você vai pro inferno, Potter. – cuspiu Tom – Junto com a sangue-ruim da sua mãe e o inútil do seu pai.


Harry pressionou os lábios e disparou contra o homem. A espada girou e moveu-se em várias direções. Com um movimento seco da mão esquerda, Tom disparou um lampejo negro, brilhante e quente, que queimou o solo enquanto voava na direção de Harry. Este não parou de correr, o rosto lívido. A mão que empunhava a espada girou, colocando a lâmina prata entre o feitiço e seu corpo, esperando que o feitiço fosse cancelado. Um erro que lhe custou caro.


O feitiço explodiu na lâmina. O impacto jogou Harry vários metros para trás, arremessando-o contra as árvores que circundavam a clareira. Um gemido escapou por seus lábios quando as costas atingiram um grosso tronco, que apenas tremeu. A espada escapou pelos seus dedos e caiu no chão. Ele escorregou pelo tronco e caiu sentado no solo, a cabeça pendendo.


“Harry?!” – chamou o Dragão Ancião da Luz, a voz preocupada.


“O que aconteceu?” – perguntou Harry, aturdido.


Ele piscou várias vezes e moveu o olhar pelo chão, em busca da espada. Suas sobrancelhas ergueram-se em espanto.


“Não pode ser.” – ele esticou a mão e tocou o punho da espada.


A gargalhada de Tom soou prazerosa, alguns metros de distância e se aproximando lentamente. Harry ergueu o punho e fitou-o. Era só o que restava. A lâmina havia sido consumida, derretida, o liquido quente brilhava no chão. O punho estava quente, fervendo. O moreno não se incomodou, era agradável até. O prata misturou-se ao ouro enquanto o punho se dissolvia por entre os dedos dele.


- Surpreso? – desdenhou Tom, parado a poucos passos.


Harry levantou-se devagar. Apenas um movimento da mão foi o suficiente para limpá-la. Ele ergueu a cabeça e fitou Tom.


- Uma espada por uma mão? Estou satisfeito. – um sorriso arrogante surgiu em seus lábios e seus olhos brilharam de excitação.


Os dentes de Tom trincaram.


“Garoto petulante.” – rugiu o Dragão Ancião das Trevas.


“Concentre-se em sua própria luta.” – grunhiu Tom.


- Agora que não temos mais armas... – Harry estralou as pontas dos dedos – Teremos que fazer isto do modo tradicional.


- Vai se curvar, Potter? – ironizou Tom – Dumbledore ficaria orgulhoso.


Uma gargalhada irrompeu da garganta de Harry e ele não pôde controlar. Tom cerrou a mão esquerda em um punho, irritado.


- Chega de brincadeiras, Potter. – ralhou ele – Vamos acabar logo com isto, ainda tenho um castelo para tomar.


- Sim... claro. – Harry conteve o riso e ficou sério – Vamos acabar com isto.


Dezenas de feitiços iluminaram o que os raios da lua não alcançavam, tornando a escuridão da floresta em uma discoteca de luzes e sons. Os dois inimigos desviavam-se e protegiam-se velozes e sutis. Logo, chamas brancas, jorros de águas cristalinas, terremotos e lufadas de vento surgiam em meio aos feitiços.


Os dragões rugiam e grunhiam. Garras e presas trabalhando ferozes e fortes. Asas e caldas brandindo-se ágeis e vorazes.


- Chega... – sussurrou Tom, após defender-se de um feitiço.


A respiração do homem era descompassada e rápida. Harry ofegava também, sentindo-se cansado.


“Tenho que acabar logo com isto.” – refletiu.


“Juntos.” – assimilou o Dragão Ancião da Luz.


- Você provou-se digno de morrer sob todo o meu poder, Potter. – testemunhou Tom, sincero – Dar-te-ei uma morte digna do Herdeiro Luz.


Um sorriso torto se desenhou nos lábios de Harry.


- Digo o mesmo, Tom. – disse ele.


Os dois ficaram imóveis, concentrando-se.


Os dragões lançaram-se um contra o outro, formando um bolo de espinhos e escamas.


Tom desenhou no ar um pentagrama negro, um sorriso presunçoso tomando-lhe os lábios finos. Sua aura tomou forma, escurecendo o céu com seu poder sombrio.


Harry moveu as mãos com tranquilidade, linhas brancas desenharam-se no ar, formando um belíssimo pentagrama branco. Uma aquarela formou-se em torno dele, em alguns momentos branca, em outros com quatro cores opostas.


As cinco pontas do pentagrama negro brilharam fortes. O brilho espalhou-se por todas as linhas e retraiu para seu centro, brilhando sombrio.


Prata, vermelho, azul, verde e amarelo. As cinco pontas do pentagrama branco ascenderam vivas. Os cinco elementos, cada qual com suas próprias características.


- Acabou. – exclamaram ambos.


O brilho negro disparou, sugando toda a energia que Tom possuía.


Prata, vermelho, azul, verde e amarelo. Cinco lampejos voaram e rodaram uns nos outros, unindo-se com uma bela dança em um forte e brilhante raio branco. Harry sentiu-se vazio.


Um urro cortou o céu. Dolorido. Surpreso. Morto. Tom ergueu o olhar e fitou o céu estrelado. Uma sombra de pavor cobriu sua expressão. O Dragão Ancião das Trevas cruzou o céu sem controle, a terra tremeu quando seu corpo inerte caiu perdido na floresta.


- Não. – os lábios de Tom moveram-se, contudo, sua voz foi privada pelo pavor.


Seus olhos vermelhos abaixaram-se e escureceram imediatamente.


O brilho negro sumiu antes que fosse tocado pelo branco, que continuou seu caminho. O tempo pareceu passar lentamente. Cada segundo pareceu uma eternidade. Cada metro que o raio avançava era menor que um centímetro.


Os olhos de Tom encontraram-se com os brancos diamantes de Harry. O branco. A luz. Eles deviam trazer paz ao coração de qualquer um. Paz. Isto era tudo o que Tom nunca sentira e, agora, era-lhe ainda mais repudiável. Pois era pela mão do Herdeiro Luz, do portador da paz, que ele morreria.


O raio atingiu Tom no centro do peito. Imediatamente várias coisas aconteceram. O homem se contraiu freneticamente, berros dolorosos e ensurdecedores escapando pela boca. Suas mãos prensaram seu próprio pescoço, uma ação involuntária na tentativa de libertar a garganta e deixar o ar passar. Ele sufocava. Seu corpo adquiriu um estranho tom azulado. Pela sua boca escancarada era possível ver o interior congelando. Uma luz vermelha brilhou por toda a extensão de seu corpo, lambendo suas roupas e sua pele, queimando-o por inteiro. A terra moveu-se, rolando por cima de seus pés e subindo através de seu corpo, por sobre as chamas. A camada fina da terra moldou-se ao seu corpo, cobrindo-o com inteiro, os berros sendo abafados. Porém, os mesmos berros se intensificaram quando a camada de terra passou a pressionar seu corpo, quebrando seus ossos e rasgando sua carne. Uma fumaça negra ultrapassou a camada de terra, que ficou imóvel. A fumaça oscilou até ganhar forma: Voldemort. Ali estavam presentes sua mente e sua alma, corrompidas da pior maneira que qualquer ser vivo poderia imaginar. Um grito se seguiu, estridente e agonizante. A fumaça explodiu, lançando ondas de vento para todos os lados, e desaparecendo. E, então, o silêncio.


A forma indistinta de terra tombou para trás. A terra foi soprada pelo vento e revelou nada além de pó, que também foi carregado pela brisa.


Um sorriso fraco espalhou-se pelos lábios de Harry. Acabara. Ambas as profecias haviam se cumprido. Um morrera pelas mãos do outro. O Herdeiro Luz voltara para impedir o Herdeiro Trevas de dominar. Este era o fim.


Um novo urro cortou o céu e era tão dolorido quanto o anterior. Harry olhou o alto, assustado. As linhas vermelhas e azuis brilhavam ainda mais à luz do luar e elas permitiram-lhe que visse o Dragão Ancião da Luz plantando até o interior da floresta com dificuldades. Com um rodopio de chamas brancas, Harry desapareceu.


- Como você está? – perguntou ele após aparecer ao lado do dragão caído.


O dragão gemeu e esticou o pescoço. O moreno aproximou-se e suspirou pesaroso. Por toda a extensão do pescoço escamoso havia cortes e perfurações. Sangue vermelho e negro escorriam.


- Veneno. – a palavra mal saiu pela boca de Harry.


O dragão gemeu novamente e Harry tomou isto como um “sim”. Ele caminhou até ficar frente a frente com os olhos do dragão.


“Não fique abatido, Herdeiro.” – a voz do dragão era sofrida – “Tu cumpristes tua missão. Eu cumpri a minha.”


“Não... não precisava ser assim.” – Harry preferiu pensar, tinha certeza que a voz falharia.


“Não sejas tolo!” – bradou o dragão – “Tu sabes que era assim que devia ser.”


Harry cerrou os punhos e trincou os dentes.


“Não se desespere, meu jovem.” – Harry pôde sentir o sorriso através do tom do dragão – “Tudo será como deve ser. Como deveria ter sido desde o começo.”


“Eu não quero te perder.” – confessou Harry – “Sem você... ficarei sozinho novamente.”


“Não...” – o dragão tossiu e uma bola de sangue foi despejada no chão – “Tu nunca mais estará sozinho.”


Todo o corpo do dragão tremeu violentamente. Um rugido escapou pelas presas quando o corpo perdeu as forças e paralisou.


“Viva...” – pediu o dragão – “Seja feliz, Herdeiro Luz.”


Uma baforada de ar fresco saiu pelas suas narinas e atingiu Harry no rosto, agitando seus cabelos. O moreno preparou-se para dar ao companheiro um último sorriso. Entretanto, uma dor aguda varou-lhe o peito.


Sincronizados pela última vez, o Herdeiro Luz e o Dragão Ancião da Luz urraram. O corpo do dragão soltou-se sobre a terra, mole e sem vida. Harry caiu sobre os joelhos e fitou os olhos brancos e opacos do companheiro.


- Adeus... – sussurrou com um fio de voz, a visão ficando turva – Luce*.


Ele tombou para o lado. A última coisa que viu foram os olhos vermelho-flamejantes de Fuoco antes que sua consciência caísse na escuridão total.


=-=-=


Estava quente. Insanamente quente. No teto rochoso ondulavam sombras indistintas, formadas pelo brilho vermelho flamejante do magma fundido.


“Tua mente está um caos.”


Não ouve resposta.


O Dragão Elemental do Fogo deitou-se sobre o magma e aproximou a cabeça de Harry Potter.


“Tu estás analisando os acontecimentos pelo âmbito negativo. A verdade que lhe foi revelada não é esse pesadelo que tu idealizaste.”


“Pesadelo.” – repetiu Harry ironicamente.


Uma baforada de ar quente caiu sobre ele e o magma oscilou. Todo o corpo do dragão tremeu enquanto ele meio gargalhava meio urrava. Harry sentou-se sobre o magma, que se moveu violento enquanto o dragão mudava de posição, deixando a cabeça na frente de Harry e o resto do corpo circulando-o, permitindo que o moreno se encosta-se em suas escamas quentes.


“Não gostei do que tu pensas-te minutos atrás.”


“Perdoe-me.” – pediu Harry – “Como você disse, minha mente está um caos.”


Um longo suspiro preencheu o silêncio.


“Não sei o que fazer.” – confessou o moreno.


“É claro que sabes.” – informou o dragão, sério.


A resposta foi um bufo.


O dragão riu novamente.


“Pare de rir, por favor.” – pediu Harry, os olhos fitando as mãos – “Eu estou perdido. Não consigo pensar em nada. A verdade... é terrível.”


Uma baforada de ar recaiu sobre o moreno e o silêncio preencheu suas mentes.


“A verdade, Anima, é simples.” – começou Fuoco, pouco depois – “Tu deves matá-lo.”


“Não é tão simples assim.” – retorquiu Harry sem erguer o olhar – “Ele vive em mim, parte dele. Eu... eu sou ele.”


Todo o corpo do dragão tremeu e isto atraiu o olhar de Harry à face dele. As presas estavam à mostra, uma violência insana incendiava seus olhos e ele estava perigosamente perto.


Harry não compreendeu a reação do dragão. Fora tão rápida que ele não captara nenhum pensamento do companheiro.


“Nunca mais diga isto.” – ordenou Fuoco pausadamente, sua voz era dura e voraz.


Harry engoliu em seco, a visão ficando molhada. Seu olhar recaiu sobre as mãos novamente.


“É a verdade.” – disse por fim.


“Não!” – grunhiu Fuoco, as presas aproximando-se ainda mais.


O moreno aproximou os joelhos do peito e pousou os cotovelos neles, as mãos embrenhando-se pelos cabelos rebeldes. Ele pressionou os olhos e mordeu o lábio. Lágrimas começavam a se formar no canto de seus olhos, porém, elas evaporavam instantaneamente.


O dragão aproximou-se mais dele, as presas escondidas. Sua cabeça pousou-se ao lado do moreno, tocando-lhe a lateral do corpo. Imediatamente, Harry jogou os braços sobre o companheiro, abraçando-o.


A temperatura diminuiu drasticamente. O magma solidificou-se e tudo ficou escuro. As linhas de magma fundido entre as escamas do dragão iluminavam fracamente o moreno, permitindo-lhe ver o dragão, se quisesse. Com a queda de temperatura, as lágrimas de Harry pararam de evaporar e passaram a escorrer pelo canto dos olhos.


“O que eu devo fazer?” – perguntou Harry, ainda abraçado ao dragão, longos minutos depois.


“Tu deves fazer a tua parte. Deves cumprir tua missão. Apenas isto.” – respondeu o dragão, calmo.


“Apenas matar o corpo do Tom não o liquidará para sempre.” – advertiu Harry, as lágrimas parando de escorrer – “O que fazer com a parte dele que vive em mim?”


“Lembra-te da profecia do Herdeiro Luz? A parte que refere-se somente à ti?”


“Como poderia me esquecer?!” – ironizou Harry.


“O ‘Fogo’ será aquele que enfrentará suas próprias trevas e sempre vencerá, será aquele que sofrerá pela vida mas que nunca deixará de ser bondoso e misericordioso, será aquele que o Herdeiro Trevas escolherá e marcará como irmão e como igual.” – citaram os dois em sincronia.


“Note que é devido à escolha do Herdeiro Trevas que tu és o Herdeiro Luz.” – ponderou Fuoco.


“Eu não sou o Herdeiro Luz.” – Harry soltou-o e se encostou novamente nas escamas de seu corpo – “Sou apenas o ‘Fogo’.”


O dragão ergueu a cabeça e balançou-a lenta e negativamente.


“Tu és o Herdeiro Luz.” – informou.


“Por que diz isto?” – Harry sentiu-se aturdido.


“Porque é a verdade. Tu, e somente tu, és o Herdeiro Luz.” – afirmou Fuoco, convicto.


Harry olhou as próprias mãos. Aquele dia realmente estava confuso. Descobrira que Snape era, e sempre fora, fiel à Dumbledore; que ele, Harry, era, segundo a magia branca, irmão de Tom, ou seja, que ele era uma horcruxe de seu maior inimigo. Agora, a maior das revelações lhe surgia: ele era o Herdeiro Luz. Somente ele.


”Por que?” – perguntou ele, erguendo o olhar para fitar o dragão.


“Mesmo que não houvesse uma profecia que te ligasse a ele, depois de tudo o que ele fez, tu iria querer matá-lo pelas próprias mãos. A vingança é um sentimento comum entre os humanos, comum demais.” – completou Fuoco com certa amargura.


Harry lembrou-se de Dumbledore. O ex-diretor havia dito-lhe a mesma coisa durante seu sexto ano.


“Então, no fim, tudo acabará?” – Harry se abraçou, incontrolavelmente sentindo-se sozinho.


“Não.” – o dragão aproximou todo o corpo de Harry, acalentando-o – “No fim, apenas eu e o que te liga ao Herdeiro Trevas acabarão.”


“Não gostaria que isto acontecesse.”


“Mesmo que tu não fosse ligado ao Herdeiro Trevas e que, assim, eu não tivesse de morrer para quebrar esta ligação; algo mais forte que qualquer um de nós, seres vivos, rege meu futuro.” – explicou Fuoco.


“O que?” – Harry fitou-o.


“O equilíbrio.” – respondeu o dragão, simples – “Se meu irmão morrer, eu terei de partir também. O equilíbrio deve ser mantido. A luz não pode superar as trevas, deve apenas manter-se em equilíbrio com ela.”


“Entendo.” – suspirou Harry.


“Não fiqueis triste, Herdeiro Luz.” – uma baforada de ar quente caiu sobre Harry – “Este é o fim que sempre soube que teria; o fim que Acqua temia; o mesmo fim!”


Harry assentiu.


Pouco a pouco, a mente do moreno reorganizava-se. As ideias ficavam claras e lógicas como antes. O futuro era como uma tela de tinta à óleo pintado no fundo de sua mente, fundo o suficiente para guardá-lo somente para si mesmo.


“Vá, Herdeiro Luz.” – pediu Fuoco“Teus companheiros necessitam de ti. Eles se preocupam contigo.”


Harry balançou a cabeça, incapaz de dizer algo, por hora. Ele se ergueu e sentiu o local esquentar novamente e o magma se fundir. Ele encarou o dragão a sua frente. Pelos olhos do companheiro era visível o mesmo quadro pintado no fundo de sua mente.


“Obrigado.” – um sorriso fraco tomou seus lábios e um brilho de esperança iluminou seus olhos.


O Dragão Elementar do Fogo inclinou a cabeça e arreganhou a boca, como um sorriso, os olhos brilhando determinados e sem medo do fim.


Era isto. O fim já estava escrito e nada podia ser feito.


Harry inclinou-se em uma reverencia e, a última coisa que viu antes de aparatar, foram os olhos vermelho-flamejantes de seu companheiro eterno.


=-=-=


Quando o majestoso Dragão Ancião da Luz desapareceu por entre as nuvens, a tempestade imediatamente acalmou-se. Raios e trovões deixaram de compor a sinfonia catastrófica que regia o ritmo e a intensidade da batalha. Um silêncio perturbador e sufocante desceu dos céus.


As nuvens desapareceram em poucos segundos, deixando o céu azul machado de vermelho e laranja em suas várias tonalidades. O sol estava se pondo, um pôr-do-sol triste, que parecia ser de despedida, como se o astro rei estivesse desaparecendo para sempre, mergulhando a todos na escuridão.


Enquanto isto, assim que o Dragão Ancião das Trevas sumiu, os lobisomens que restavam uivaram e retornaram às suas formas humanas. O feitiço que os mantinha transformados e conscientes de seus atos desapareceu junto com seu executor. Muitos morreram logo em seguida, pois os lycans, contra quem lutavam, não puderam interromper seus ataques previamente desferidos.


Todos estavam em silêncio. Comensais e aurores; membros da Ordem e da AD; professores e alunos; centauros e lycans; parados, olhando para a última nuvem que desaparecia.


A lua cheia brilhou forte, a pico, onde a nuvem estivera. Uivos transpassaram os terrenos e lobisomens descontrolados pularam em todas as direções. Os que outrora permaneciam parados moveram-se apressados, retomando a luta feroz.


A noite surgiu. A escuridão tomou tudo e todos. Ao longe, através das paredes do castelo, viam-se luzes acesas, que oscilavam pelas sombras de estudantes jovens demais para lutar.


Atacantes e defensores de Hogwarts viram-se necessitados a mudar o rumo de seus feitiços. Os lobisomens atacavam a todos, sem distinção de aliado e inimigo. Lycans abatiam tantos quanto podiam, contudo, os lobisomens eram mais movidos pelos extintos animais, cujo principal era o de sobrevivência. Unindo suas raças, centauros e lycans avançaram sobre os lobisomens descontrolados, despedaçando-os com ferocidade e agilidade.


Longos minutos passaram-se, onde o caos e a fúria conviviam em uma harmonia demoníaca.


O único lobisomem que permanecia são era Fenrir Greyback, que travava uma luta feroz contra Remo Lupin. Ninguém se aproximava deles. Alguns lobisomens descontrolados ultrapassaram o perímetro da luta e foram rapidamente abatidos por qualquer um dos dois, tanto Greyback quanto Lupin.


Logo após o ultimo lobisomem descontrolado perder a vida, um urro dolorido fez com que as sombras nas janelas distantes desaparecessem, impelidas a se afastar por medo. O corpo humano de Greyback caiu de joelhos, um profundo corte em seu tórax, os olhos arregalados e fixos no adversário.


- Isto é por você ter nascido! – grunhiu Lupin.


Rápidos movimentos seguidos despedaçaram o corpo do lobisomem, o reduzindo à um mero pesadelo.


Antes que algo mais próximo do silêncio se instalasse, centenas de gritos cortaram os terrenos como uma espada. Os comensais foram ao chão, as varinhas caindo de suas mãos, que apertavam febrilmente as Marcas Negras. A tatuagem em seus braços ardia feito ferro derretido. Defensores de Hogwarts ficaram paralisados de choque por alguns minutos, onde a insanidade transbordou de alguns atacantes.


Comensais que não suportaram a forte dor na tatuagem enlouqueceram a ponto de deceparem os próprios braços em busca do fim da dor, desmaiando logo depois. Alguns, que não caíram na loucura, desmaiaram pelo sofrimento e, outros, clamaram, já caídos de joelhos, para que seus oponentes os livrassem da dor insuportável.


Quando os gritos acabaram, um novo silêncio sufocante desceu sobre todos. Os defensores de Hogwarts permaneceram parados e mudos, olhando para os inimigos desmaiados no chão e para os incontáveis corpos de companheiros e rivais por todos os lados.


Os lycans voltaram à forma humana e se agruparam, assim como os centauros, ainda silenciosos. Grupos de bruxos se formaram. Aurores. Membros da Ordem. Membros da AD. Professores. Alunos.


Não houve comemoração. Os amigos apenas se abraçaram, ainda quietos. Nenhuma palavra foi dita para comemorar, apenas para lamentar. Logo, lágrimas começaram a rolar. Os defensores passaram a percorrer os terrenos, procurando por amigos, vivos ou mortos. Entre eles, um grupo de cabelos ruivos se agitava em torno de uma Molly Weasley aos prantos.


- Meu filho! – berrava ela, abraçando um corpo inerte – Meu querido filho!


- Molly, querida. – Arthur ajoelhou-se ao lado da esposa, consolando-a, também chorando.


- Não posso acreditar. – sussurrou Jorge ao irmão gêmeo.


- O maluco entrou na frente. – Fred deixou-se cair sentado no chão, apoiando a cabeça nas mãos.


- Nunca poderíamos imaginar isto. – Carlinhos pousou uma mão sobre o ombro de Jorge e passou a outra pela testa suada.


- Meu pequeno Percy! – o berro de Molly fez os garotos se arrepiarem.


- Se não fosse ele. – lamentou-se Fred, um frio percorrendo a espinha – Mamãe...


- Sim. – Carlinhos assentiu – Percy deu a vida para proteger nossa mãe. Se não fosse por ele... Dolohov a teria matado.


- Molly, querida. – Arthur conseguiu desvencilhar os braços da esposa do corpo inerte de Percy – Ele fez por escolha própria. Este era o nosso filho verdadeiro, o Percy que sempre amamos.


- A culpa é minha. – Molly abraçou o esposo, exasperada.


- Mãe? – outro ruivo se aproximou, seguida de uma ruiva e de uma castanha.


- Rony! Gina! Hermione! – Fred, Jorge e Carlinhos forçaram um sorriso.


- Mãe?! Pai?! – Gina aproximou-se e se ajoelhou ao lado dos pais.


- Percy. – gemeu Rony assim que viu o irmão.


Hermione tampou a boca com as mãos, horrorizada. Gina envolveu os pais com seus braços e murmurou coisas boas sobre o irmão falecido. Rony abraçou Hermione, que escondeu o rosto em seu tórax, e questionou aos irmãos o que acontecera.


- Dolohov estava duelando contra a mamãe. Percy entrou na frente de uma Maldição da Morte que, com toda a certeza, a acertaria. – explicou Carlinhos, nenhum sorriso em seu rosto.


- Quantos teremos de lamentar? – suspirou Fred.


- Enquanto vínhamos para cá, - Hermione mostrou seu rosto marcado de lágrimas – vimos um pequeno grupo de professores.


- McGonagall? – perguntou Carlinhos receoso.


- Snape? – Fred pareceu esperançoso.


- Slughorn. – informou Rony.


- Como? – questionou Jorge, como se perguntasse sobre o tempo.


- A professora Sprout disse que ele estava duelando contra um comensal. Ela disse que ele era bem habilidoso, estava para ganhar o duelo. – começou Rony, soltando Hermione e se ajoelhando ao lado dos pais e da irmã.


- Então, simplesmente, ele caiu. – terminou Hermione, abraçando a si mesma.


- Caiu? – os gêmeos ergueram as cabeças, atônitos.


- Isso... caiu. – repetiu Hermione – Ninguém viu nenhum feitiço atingindo-o. Ele, simplesmente, caiu morto.


- Estranho**. – suspirou Jorge.


- Tão estranho quanto o próprio Slug. – assentiu Fred.


O silêncio tomou o grupo. As cabeças ruivas se uniram uns aos outros para lamentar. Hermione olhou para a lua e suspirou.


“Harry... cadê você?” – questionou ela.


=-=-=


Por toda a extensão dos terrenos, grupos lamentavam os mortos.


A adrenalina ainda corria pelo sangue dos defensores de Hogwarts, mantendo a todos despertos. Apesar da noite cada vez mais densa, ninguém sentia-se cansado.


Logo, todos estavam andando pelos terrenos, recolhendo os corpos inertes e os inconscientes, aqueles para levá-los aos seus parentes e estes para levá-los ou ao hospital ou para a prisão.


Perto dos portões, uma família lutava contra o tempo para salvar um dos seus. Um brilho perolado tomou o corpo do caído.


- Casa... mamãe... dor. – foi a última coisa que ele sussurrou antes do brilho lhe tomar e todo o seu corpo paralisar.


Alguns segundos se passaram. Os olhos dele se fecharam e uma paz tranquilizou sua face.


- Então? – perguntou Owen, retirando as mãos de sobre as do pai.


Cassius debruçou-se sobre o filho caído, Lars, e analisou-o.


- Responda, Cassius! – pediu Sarah, exasperada.


O mago puxou a manga da blusa do filho, onde deveria estar a Marca Negra. O braço estava limpo, ligeiramente pálido como todo o resto do corpo. O tórax, onde outrora estivera a marca do Dragão Ancião das Trevas, estava liso e intacto.


Um suspiro aliviado escapou pelos lábios de Cassius. Ele passou a mão pela testa, retirando o suor.


- Limpo. – um sorriso iluminou a face cansada do mago.


A respiração do loiro era regular e calma.


Sarah abraçou o noivo e o beijou com carinho.


- Conseguimos. – exclamou ela.


- Sarah, querida, - Owen olhou por cima do ombro dela e vislumbrou o resto dos terrenos – não é hora para comemoração.


A mulher e o mago viraram-se para olhar. A alegria sumiu de seus rostos. Não era hora de comemorar e, talvez, nunca seria.


- Vou levar o Lars para casa. – Cassius tomou o filho nos braços e ergueu-se – Ele acordará somente amanhã. Ajudem aos outros. – pediu.


O casal assentiu, acompanhando com o olhar o mago dirigir-se aos portões destruídos.


- Vamos. – Owen se levantou e estendeu a mão para a noiva.


Eles caminharam pelos terrenos, auxiliando quem necessitava e tomando conhecimento dos mortos.


- Pobre Umbridge. – murmurou um homem da comitiva refugiada do Ministério.


- Isto é culpa daqueles mestiços dos centauros. – sussurrou um colega em resposta – Ela tinha pavor deles e acabou ficando perdida na batalha, tentando fugir deles e dos comensais.


- Ela somente se esqueceu de fugir dos lobisomens descontrolados. – ironizou o outro, abafando um riso.


Owen e Sarah se olharam. Até mesmo os mais próximos daquela mulher não lhe eram fiéis.


Muitas pessoas haviam partido. Amigos e colegas, companheiros. Além de sangue, lágrimas tomavam cada vez mais os terrenos.


=-=-=


Horas de tristeza e de sofrimento.


Centenas de corpos recolhidos, enviados aos seus familiares e amigos. Os feridos foram rapidamente encaminhados ao hospital. Os comensais foram enviados à prisão.


Apesar da madrugada ainda avançar, ninguém sentia sono ou necessidade de dormir. Todos permaneceram nos terrenos, auxiliando os que ainda removiam corpos ou apenas abraçando os companheiros em silêncio.


A mancha de cabelos ruivos ainda mantinha-se unida. Agora que o corpo de Percy havia sido encaminhado para os cuidados funerários, Molly depositava toda a sua atenção aos outros filhos, abraçando-os e dando-lhes beijos estalados.


- Ah, Gina! – ela apertou a ruiva com força.


- Esta tudo bem, mamãe. – Gina acariciou os cabelos da mãe – Agora tudo acabou.


Molly soltou-a e forçou um sorriso fraco. Com os olhos, a matriarca olhou em volta, procurando por alguém de cabelos negros.


- Onde está o Harry? – perguntou exasperada.


Os outros Weasleys olharam em volta, a procura do moreno.


- Ele foi atrás do Tom. – respondeu Hermione, um pouco afastada.


- Hermione, querida. – exclamou Molly, abrindo o s braços para envolvê-la em um abraço maternal.


- Ele ainda não voltou? – Gina olhou através dos terrenos, procurando pelo namorado.


- Não. – respondeu Hermione, já livre dos braços da matriarca Weasley.


- Por que vocês não foram com ele? – perguntou Arthur.


- Porque cabia a ele a tarefa de derrotar Tom. – respondeu Hermione, abraçando-se a si mesma – Nós nunca poderíamos fazê-lo. – ela apontou para Rony e Gina com o queixo.


- Vocês são malucos! – gritou Jorge.


- Deixaram ele ir sozinho! – Fred imitou o gêmeo.


- Potter não estava sozinho. – uma voz séria aproximou-se – O Dragão Ancião da Luz estava com ele e, apenas isto, bastava.


- Cassius! – exclamaram Gina e Hermione, correndo até o mago para abraçá-lo.


- Fico feliz que estejam bem, meninas. – Cassius correspondeu ao abraço duplo com carinho.        


- Owen e Sarah, como estão? – perguntou Rony, aproximando-se.


- Sãos e salvos. – assentiu o mago, desvencilhando-se dos braços das garotas, a expressão séria novamente.


- O que foi? – perguntou Hermione.


- Lars. – respondeu o mago vagamente.


- Ele veio pra cá? Lutou contra vocês? – questionou Gina.


- Não. – Cassius agitou a cabeça – Tom não o permitiu fazer nada.


- Tom? – todos exclamaram.


- Lars é um traidor. Traiu Tom e foi punido por isto. – explicou Cassius.


- Morto? – perguntou Rony.


- Quase. – suspirou o mago – Eu, Owen e Sarah o salvamos. – ele fez uma pausa – Para dizer a verdade, salvamos o seu corpo. Sua memória foi destruída até os seus seis anos de idade. Ele não se lembra de nada que aconteceu a partir desta idade e seu corpo não possui mais as marcas do Tom.


- O que você vai fazer? – Hermione ficou preocupada.


- Vou criá-lo como um filho, ensiná-lo Magia Branca, pois ele já possuiu o nível de um mago. – informou Cassius.


Os outros assentiram.


- Então... – recomeçou Cassius, ainda mais sério – Harry ainda não voltou.


- Não. – concordaram todos em uníssono.


- Não posso mais sentir sua energia pura. – confessou o mago – Vocês podem?


Rony, Gina e Hermione negaram.


- Algo de muito ruim aconteceu com ele. – estipulou Cassius.


- Você pode encontrá-lo? – perguntou Gina, um vislumbre de desespero em seus olhos.


- Tenho uma ideia de para onde Tom o levou. – Cassius afastou-se alguns passos – Vou até lá e volto em breve.


Todos assentiram. O mago se distanciou, o sobretudo farfalhando com sua corrida.


- Vai ficar tudo bem. – disse Hermione, abraçada à Gina.


- Eu confio nos dois. – informou Gina, os olhos fixos no mago que se distanciava depressa – Harry... Cassius... eu confio em vocês. – completou aos sussurros.


=-=-=


Sempre seria assim? Após uma batalha a única coisa que restaria seria a tristeza e o sofrimento? Ambos os sentimentos sufocavam os sobreviventes.


No leste, o céu recomeçava a ganhar tons vermelhos e alaranjados.


Todos os defensores de Hogwarts e, agora, alunos que não puderam lutar, estavam nos terrenos, ainda procurando pelos amigos vivos. Nenhum deles parecia notar o avanço da madrugada, que estava para terminar.


O sol nasceu, iluminando os terrenos banhados de sangue e lágrimas. Os combatentes pararam em seus lugares e dirigiram os olhos para admirar o astro rei que trazia de volta a luz.


A comemoração que não fora feita ao término da batalha explodiu forte em gritos, pulos, gargalhadas e feitiços lançados aos céus. Não comemoravam a vitória. Certa vez, um sábio mago dissera que uma vitória sobre corpos não era vitória. Estavam comemorando por suas vidas. O sol que nascia representava suas próprias almas e sentimentos, suas vidas, que renasciam naquele instante.


Os que possuíam amigos ou familiares mortos passaram a chorar de outra maneira. Não era tristeza. Era orgulho. Orgulho por ter um amigo ou familiar que fez a escolha certa, que não apenas protegeu Hogwarts e seus alunos, mas sim, todo o mundo mágico e não-mágico.


Apenas três pessoas permaneciam quietas, imóveis. Seus olhares permaneciam fixos em um único ponto, pouco além dos ferros retorcidos que outrora eram os portões do castelo.


O sol, finalmente, iluminou a todos, forte e quente, cegando-os e aquecendo-os. Uma brisa fresca veio de longe, limpa de qualquer cheiro de sangue ou morte.


Quando todos puderam ver novamente, um homem de cabelos grisalhos caindo-lhe aos ombros atravessava os ferros queimados e retorcidos com outro homem, de cabelos negros e cumpridos, inerte em seus braços.


Todos, sem nenhuma exceção, tiveram reações à base da surpresa. A comemoração parou para dar lugar aos gritos, suspiros e lamentações. Ninguém conseguiu impedir que o pior se desenhasse em suas mentes. Para eles, pior do que Voldemort vencer, era aquela visão que tinham.


O corpo de Harry Potter nos braços de outro.


Inerte.


Frio.


Morto.


 


 


 


* Lê-se Luche, italiano.


** Eu tinha que comentar meu verdadeiro sentimento sobre isto. Quando disse estranho eu gostaria de ter dito patético. xD Eis o Slug para mim... um homem patético que devia morrer como morreu. Para quem não entendeu, ele teve um ataque cardíaco. Uma morte de um trouxa. Patético como somente ele merece. Para quem não gostou, desculpem-me, mas o Slug é alguém que não merecia morrer descentemente, ao menos para mim.

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