"Os Tempos Mudaram!"



Capítulo 20 – “Os Tempos Mudaram!”


O dia amanheceu mais gelado que o anterior. O sol estava mais pálido. O céu possuía poucas nuvens. O vento era inexistente, deixando claro que o dia seria abafado.


Em Londres, em um bairro afastado e de pouco movimento, a Ordem da Fênix possuía sua nova Sede. Pouca gente andava por aquele bairro, pois ele era dito como refúgio de criminosos e de pessoas maldosas. Os que se aventuravam por ali sempre estavam muito ocupados com seus próprios assuntos e não reparavam à sua volta.


A nova Sede da Ordem da Fênix era em uma casa pequena e prestes a cair. No entanto, não era assim em seu interior. A casa possuía vários aposentos, a maioria eram dormitórios para os membros que não tinham onde se refugiar. Havia uma cozinha e uma vasta sala de jantar com uma mesa muito comprida e cheia de cadeiras. Duas ou três salas eram usadas para recriação, apenas algumas conversas fiadas e descontrações rápidas. Porém, elas eram usadas poucas vezes durante as semanas ou até mesmo durante os meses.


As salas mais usadas eram as de reuniões. Eram três. Uma era pequena, com algumas escrivaninhas cheias de frascos vazios e cheios, caldeirões pequenos e grandes e duas cadeiras para cada escrivaninha. Outra era um pouco maior, com as paredes cheias de livros, cadeiras espalhadas e algumas mesas pequenas. A última era grande, só não era maior que a sala de jantar. Nela havia uma mesa comprida e várias cadeiras a circulando. Num canto havia duas lareiras com vasinhos cheios de Pó-de-Flú sobre elas. Na parede lateral, algumas escrivaninhas encostadas à parede lotadas de pergaminhos.


Era pouco mais de seis da manhã, do último dia de Novembro. Os dias já se tornavam frios e ligeiramente úmidos. Muitas das pessoas presentes na sede ainda dormiam. Entretanto, um jovem estava na menor das salas de reuniões. Assim que todos foram dormir, ele se dirigiu à sala e ali ficou. Seu dever era importante, mas era pessoal.


Ele já não era o mesmo garoto tolo da escola. Depois que seus amigos sumiram, ele conseguiu, com ajuda de alguém muito especial, uma autoconfiança inimaginável. Com isso, por incrível que pudesse parecer, terminou Hogwarts com as melhores notas. Além da sua aptidão por Herbologia, havia desenvolvido outra por Poções, surpreendendo muitos.


Havia completado dezoito anos há mais de três meses. Depois de muita insistência, conseguiu entrar na Ordem da Fênix logo após completar Hogwarts. Já havia ajeitado tudo para outras pessoas ingressarem na Ordem também. Ele já havia recebido muitos elogios pelos feitos em batalhas e outras relacionadas à Herbologia e à Poções.


Enquanto analisava o conteúdo de um caldeirão, viu seu próprio reflexo no líquido calmo. Sorriu para si próprio enquanto se lembrava da pessoa que o mudara tão rapidamente. Fechou os olhos e se lembrou da última vez que a vira. Os cabelos loiros dela esvoaçando pela janela da cabine enquanto sua mão acenava em despedida, seus lábios abertos em um largo sorriso e seus olhos cinza-prateados brilhando.


E ele, um apaixonado, acenando de volta. Sua altura o deixava perfeitamente visível entre a multidão de pais, os cabelos castanhos claros alinhados e os olhos brilhando com uma saudade que já lhe tomava.


Sorriu ainda mais. Levantou-se e adicionou mais alguns ingredientes no caldeirão. O líquido assumiu uma cor vermelho sangue e um brilho perolado. Atiçou o fogo e deixou ferver. Estava tudo indo como previra. A poção estava ficando do jeito que queria e ninguém da Ordem o descobrira.


Sua alegria se esvaiu quando a porta de entrada bateu com força. Ele se virou e, já sem o sorriso nos lábios, viu Alastor Moody.


- O que faz aqui Longbottom? – perguntou Moody, aproximando-se.


- Senhor... eu posso explicar! – falou ele, trêmulo.


- Acalme-se Longbottom. – Moody parou ao lado do caldeirão e inspirou com força – O que é isso?


- Senhor... eu...


- Neville Longbottom! Acalme-se garoto. – Moody bateu a bengala e se apoiou nela – Não estou te prendendo nem te torturando. Se quiser se explicar então se explique.


- Sim senhor. – Neville passou as costas da mão na testa que suava.


Moody bateu a bengala mais uma vez e uma das cadeiras flutuou até ele. Neville começou a ordenar os pensamentos enquanto o chefe da Ordem da Fênix se sentava.


- Quando estiver pronto. – falou Moody com seriedade.


- Senhor... eu estou tentando... – Neville parou e respirou fundo, lembrando-se de tudo o que passara e de sua autoconfiança – Eu estou tentando descobrir uma maneira de ajudar os meus pais. – falou ele firme.


- Vamos ver se eu entendi, você está tentando descobrir uma poção que tire seus pais da loucura? – perguntou Moody com frieza.


- Sim senhor. – Neville assumiu uma postura dura e sua expressão se contraiu.


- E acha mesmo que vai conseguir? – Moody se ergueu e caminhou até a escrivaninha onde estavam as anotações de Neville.


- Posso até não conseguir, mas irei tentar. – Neville ficou firme – Eu não vou desistir dos meus pais assim, principalmente quando sei que posso tentar ajudá-los.


- Tudo bem. – Moody analisou as anotações com cuidado.


Neville fitou o ex-auror com insegurança, que não deixou transparecer.


- Você fez um amplo estudo sobre os efeitos da Cruciatus. Muito bom, muito bom mesmo. – Moody falou para si, então se virou para Neville – Desde quando está trabalhando nisso?


- Desde que entrei para a Ordem. Pesquisei nos livros daqui e pedi que uma pessoa pesquisasse o que pudesse em Hogwarts.


- Porém, as informações sobre as Maldições Imperdoáveis estão na Seção Restrita. Quem pesquisou para o senhor e como?


- Alguém de muita confiança, pode confiar senhor.


- Só confiarei se souber quem é Longbottom e como conseguiu as informações. – Moody se apoiou na bengala e olhou firme para o outro.


- Luna Lovegood senhor. – Neville respondeu depois de um longo suspiro – Ela pediu permissão para a Prof. Trelawney alegando que queria pesquisar sobre um assunto da matéria que ela não havia encontrado em toda a biblioteca.


- Mentira eu suponho.


- Sim senhor. – Neville sentiu-se encurralado.


Um silêncio macabro pairou sobre eles. Moody voltou sua atenção para as anotações e para o caldeirão.


- Há quanto tempo está usando esta sala e seus mantimentos?


- Está foi a primeira vez senhor. Senti que minha pesquisa já terminara e que estava pronto para o primeiro teste.


Outro silêncio atingiu-os e esse foi muito mais longo que o outro. O líquido no caldeirão estava começando a ferver. Seu brilho tornava-se mais forte e sua coloração mudava pouco a pouco.


- Senhor. – Neville quebrou o silêncio – Se o que fiz foi considerado errado, diga. Por que assim eu recolherei minhas pesquisas e meu primeiro teste e vou para outro local.


- Não. – Moody olhou-o – Pode ficar.


Uma chama de esperança se acendeu no interior de Neville.


- Mas quero relatórios sobre seus avanços todas as semanas.


- Sim senhor.


- Esta sala ficará liberada para você as quartas, durante todo o dia. – Moody começou a se afastar.


- Obrigado senhor.


Moody parou à porta e o olhou.


- Se você conseguir - o tom da voz dele era calma e até carinhosa – ajudará não só seus pais, mas a todos os prejudicados por esta maldição.


E não disse mais nada, apenas saiu pela porta.


“Não acredito! Olho-Tonto me pegou e não me matou! Puxa, ele deu permissão. E quer relatórios! Isso é demais. Tenho que contar pra Luna! Ah tenho. Ela vai pirar.”


Ele pensou com alegria. Aquilo significava que não precisaria passar noites em claro analisando pesquisas e testes. Poderia fazer tudo isso durante o dia e sem se esconder. Aquilo já não era mais um dever pessoal, agora era um dever que a Ordem aguardava ser executado.


Ele voltou sua atenção para o líquido que já borbulhava com brutalidade. Com um aceno da varinha, o fogo se extinguiu. Outro aceno da varinha fez o liquido parar de borbulhar e resfriar. Ele retirou uma parte do líquido e o colocou em três fracos grandes de vidro. Sorriu ao ver a coloração dos líquidos. O brilho perolado ainda permanecia, mas sua cor era de um verde pálido.


- Tudo conforme o esperado. – ele suspirou – Agora é só fazer os testes neles.


Ele guardou os frascos numa caixa e fez desaparecer o que ainda havia no caldeirão. Terminou com um longo bocejo.


- Antes de qualquer coisa, preciso dormir. Mais tarde eu falo com a Luna.


Recolheu as pesquisas, a caixa e o resto de seus pertences. O sol já brilhava quando ele olhou pela janela. Dirigiu-se ao seu quarto e, assim que caiu sobre a cama, adormeceu.


=-=-=


A tarde estava divinamente agradável, como há muito não acontecia. Desde que a Guerra começara. Desde a morte de Alvo Dumbledore. Não se lembrava da dor da morte desde a morte de sua mãe, e já fazia muito tempo. Aquelas lembranças já eram menos dolorosas depois de tantos horrores.


Hogwarts já não era a mesma. O ar tranquilo se esvaíra no dia anterior à morte de Dumbledore. Os jardins não pareciam tão vivos e verdes, os corredores eram mais escuros e frios, o Salão Principal e os Salões Comunais já não eram tão acolhedores nem familiares. Até o Lago Negro e a Floresta Proibida pareciam mais sombrios e perigosos.


Hogwarts mudara, completamente, mas ainda era o seu segundo lar.


E era ali que ela agia. Não ligava mais para as regras, pois o outro lado não as seguia. Depois do desaparecimento de Harry, Rony, Gina e Hermione, ela tomara as rédeas da Armada de Dumbledore e, como diziam os trouxas, “botou pra quebrar”!


Com muita paciência, mudara o jeito de ser do seu melhor amigo, melhor dizendo, de seu, não oficialmente, namorado. Ele mudara tanto quanto ela. Ambos conduziram a AD com punhos de ferro. Todos os alunos podiam se candidatar, mas para entrar era preciso passar em inúmeros testes de habilidade e inquebrável lealdade à Dumbledore, à Ordem da Fênix e, principalmente, à Harry Potter.


Muitos se candidatavam e muitos também passavam. A maioria que reprovava eram os sonserinos. Eles bem que podiam ser leais, mas não o suficiente. É claro que alguns deles passavam, mas era minoria. A maioria da AD era da Grifinória, quase cinquenta por cento.


Estava muito feliz naquele momento, acabara de saber que seu namorado não oficial havia ganhado permissão para realizar seus experimentos para descobrir a cura para os efeitos da Maldição Cruciatus. Como estava orgulhosa dele. Afinal, ela ajudara com as pesquisas. Dias e dias na biblioteca de Hogwarts. Foi difícil. Porém, mais fácil do que imaginava foi conseguir permissão para entrar na Seção Restrita. Foi fácil demais enganar a Professora Trelawney.


Mas, graças à Merlim, seus esforços foram recompensados. A recompensa foi maior do que imaginara. Havia recebido uma carta de ninguém menos que Alastor Moody, o chefe da Ordem da Fênix. Havia lido e relido a carta por inúmeras vezes, não conseguindo acreditar no que ali estava escrito.


Segundo a carta, agora ela era membro oficial da Ordem da Fênix. Sendo líder da Armada de Dumbledore isso criava uma forte ligação entre a Ordem e a AD. Desde que seu namorado não oficial saíra de Hogwarts e entrara na Ordem ela desejava o mesmo. Estava treinando alguns alunos da AD para ficarem no comando quando ela concluísse Hogwarts. Aquela carta, contudo, podia causar mudanças em seus planos. Agora que era membro da Ordem ela poderia, como dizem os trouxas, “mover os pauzinhos” e permanecer em Hogwarts liderando a AD. Tinha certeza que McGonagall não faria nenhuma objeção.


Precisava reunir os alunos para informar as mudanças. Agora sim eles entrariam em combate. Todos ficariam muito felizes. Finalmente tanto tempo de treinamento renderia alguma coisa. Pois até aquele momento eles só ajudavam com a segurança do castelo. Faziam rondas junto com os monitores e vigiavam Hogsmeade e a orla da Floresta Proibida. Tudo isso, para todos eles, era muito pouco. Todos queriam mais.


Desde o ataque ao Expresso de Hogwarts a mentalidade dos alunos mudara completamente e todos desejavam atuar mais, ajudar mais ativamente. Queriam terminar com aquele tormento que era não saber se todos os que você ama vão viver mais um dia ou até mais uma hora.


Sorriu largamente, imaginando a reação dos alunos.


“Gritos alegres? Não, é pouco. Pulos e gritos alegres? Ainda é pouco.” – ela parou de andar e gargalhou. – “McGonagall vai enfartar com a reação da AD. Os alunos, com toda a certeza, vão soltar fogos de artifício por todo o castelo e região.”


Ela fez uma careta ao pensar que tal noticia seria muito mal vinda para certas pessoas. Principalmente aos refugiados do Ministério. Eles eram repulsivos. Tentando impedir que a AD continuasse a funcionar. Aquilo não iria durar por muito tempo. Ela tinha a autoridade que somente um membro da Ordem da Fênix tem. Ela poderia mandar o povo do Ministério calar a boca e não interferirem mais. Os atos deles podiam muito bem ser classificados como traição.


Finalmente, depois de tanta caminhada, ela chegou ao seu destino. A AD ainda usava a Sala Precisa, um pedido dos próprios alunos. Ali eles conseguiam formular qualquer ambiente para treino. Ela pensou no que queria e entrou pela porta que surgira. Olhou pelo escritório da AD. Caminhou até sua mesa e colocou a carta de Moody dentro da gaveta, lacrando-a depois de fechada. Olhou sobre a mesa e procurou um objeto.


Sorriu ao pegar uma moeda de bronze. A AD ainda usava as moedas mágicas para transmitir informações. Porém, as moedas haviam sido modificadas. Agora não eram apenas os números das bordas que modificavam, indicando o dia e o horário da próxima reunião. A moeda era totalmente lisa de um lado e era nesse lado onde se podia dizer qualquer coisa, com um pequeno limite de letras. Aquela moeda que ela segurava, contudo, tinha ligação somente com outra moeda.


la sorriu e mentalizou o que queria que fosse escrito.


“Oi.” – ela começou – “Pode conversar?”


Esperou alguns minutos. A moeda se esquentou e ela viu o que havia escrito se modificar. Leu a resposta.


“Claro que posso conversar. Como você está?”


“Estou ótima, e você?” - ela respondeu.


“Igualmente.”- a moeda permaneceu aquecida, informando que outra mensagem estava por vir - “Aconteceu alguma coisa? É incomum você querer falar comigo uma hora depois de já termos conversado.”


Ela riu, tentando imaginar a reação dele. Daria muitos galeões para contar pessoalmente a novidade.


“Pois é. Tenho uma notícia. Mas não sei se é muito boa.”


Ela gargalhou enquanto esperava a resposta.


“Como assim?! O que aconteceu?”


“Adivinha quem me mandou uma carta?” - seu sorriso se alargou.


“Eu sou bom em poções e em herbologia, adivinhação é um desastre em minhas mãos. Conta logo!”


Ela escolheu com muito cuidado as palavras, não queria que ele enfartasse.


“Alastor ‘Olho-Tonto’ Moody me enviou uma carta. Confesso que fiquei muito assustada com seu conteúdo.” - tentou ser o mais formal que conseguia, isso poderia deixar as coisas mais engraçadas e menos prejudiciais à saúde de ambos, ele poderia enfartar e ela ficar asfixiada de tanto rir.


“Não! Sério?! Ele brigou muito com você? Disse que ia falar com a McGonagall?” - as palavras da resposta vieram mais rápidas que o costume.


Ela não aguentou. Largou a moeda sobre a mesa e começou a gargalhar. Sua barriga doía de tanto rir. A moeda esquentou pouco depois. Ela leu o que estava escrito.


“Fala logo, não me deixa aflito!”


Ela respirou fundo, tentando se controlar. Por fim, mentalizou:


“Você está falando com a mais nova membro da Ordem da Fênix. Incorporada pessoalmente por ‘Olho-Tonto’ Moody.”


Ela esperou, já imaginando a resposta. Suas expectativas não foram contrariadas.


“SUA...” - a moeda permaneceu quente, ela segurou-a enquanto gargalhava novamente - “Como que você me faz sofrer assim?! Quase enfartei aqui!!!”


“Eu queria me divertir!”


“Eu sei. Mas que você me assustou, me assustou.” - ela sorriu com a resposta dele.


“Então, não vai falar nada?”


“Parabéns!” - foi a resposta.


- Muito criativo. – murmurou divertida.


“Quando vai contar para os alunos?” - foi a pergunta que ela recebeu.


“Agora. Vou convocá-los para uma reunião. Só queria que você fosse o primeiro a saber.”


“Nós temos que comemorar, sabia?!”


Um largo sorriso formou-se em seus lábios e seus olhos brilharam.


“Sábado tem visita à Hogsmeade. Podemos nos encontrar lá.” - ela sugeriu.


“É uma ótima idéia. Oito horas no Três Vassouras?”


“Claro! Estarei lá.”


“Conte-me depois como os alunos reagiram, tenho que ir para uma reunião agora.” - ela entristeceu com a notícia dele.


“Tudo bem. Até mais tarde. Beijos.”


“Até mais tarde, querida.” - ela corou com a despedida dele.


Colocou a moeda dentro da primeira gaveta e pegou outra prateada. Pensou que horário seria o mais adequado para tal notícia. Perdeu o tempo pensando. Despertou-se quando a porta se abriu.


- Posso entrar?


Ela se surpreendeu. McGonagall era a única dentre os adultos que sabia da existência do escritório da AD. Mas quem adentrava não era a Diretora.


- Pode sim.


Remo Lupin entrou e fechou a porta. Ele possuía um belo sorriso no rosto. Caminhou até ela e se sentou.


- Como está? – perguntou ele.


- Muito bem e o senhor?


- Ótimo. – houve uma pausa, até que ele continuou – Já fiquei sabendo da novidade.


- Já é?! – ela riu.


- Parabéns, senhorita Lovegood. – ele sorriu um pouco mais.


- Senhorita Lovegood não. Por favor, chame-me de Luna. – ela sorriu.


- Tudo bem, Luna. – eles riram.


- O senhor não veio até aqui só para me desejar os parabéns, não é? – Luna perguntou.


- Não. – Lupin perdeu um pouco do sorriso.


- Diga então.


- Eu vim pra te dizer duas coisas.


- Estou ouvindo. – Luna ficou curiosa.


- A primeira é uma recomendação. Você não deve contar a ninguém da escola que é membro da Ordem da Fênix. – ele ficou sério.


- O quê?! – exclamou ela mais alto que gostaria – Desculpe.


- Tudo bem. Mas é para sua própria segurança. – falou ele mais sério ainda.


- Entendi. – Luna fingiu compreender, mas ficou revoltada – Qual é a segunda coisa?


- Vim te intimar para sua primeira missão! – Lupin sorriu novamente.


- Sério?! – ela pulou da cadeira transbordando alegria.


- Sim. – ele sorriu com o entusiasmo dela.


- Onde vai ser? Quando? O que eu vou fazer? – ela perguntou tudo de uma vez.


- Calma! – Lupin ergueu as mãos – Acalme-se, temos tempo.


Ela se sentou, seus olhos brilhavam intensamente e seu sorriso não demonstrava intenções de diminuir.


- Você virá comigo para uma reunião.


- Reunião? – ela pareceu decepcionada.


- Mas não é uma simples reunião. – ele tentou anima-la – É uma reunião na Floresta Proibida. Vamos conversar com os centauros e uma outra raça.


- Que outra raça? – ela se entusiasmou.


- Lobisomens. – respondeu ele, inseguro da reação dela.


- Legal! – ela sorriu ainda mais.


- Legal? – os olhos dele se arregalaram – Não está assustada?


- São aqueles mesmos lobisomens que ajudaram no Ataque ao Expresso? – os olhos dela brilhavam cada vez mais.


- Sim. Como você sabe deles?


- Neville me contou. – respondeu ela – Eu fiquei super interessada neles. Tenho tentado encontrá-los na Floresta com a ajuda dos Testrálios.


- Você o que? – ele se assustou.


- Isso mesmo. – ela sorriu.


- Sorte sua que você não os encontrou. Eles poderiam ter te atacado.


- Fascinante!


- Você é maluca, sabia? – ele sorriu.


- Quando vamos? – ela ignorou o comentário dele.


- Hoje à noite. Quero que me encontre no Saguão de Entrada logo depois do jantar. – respondeu Lupin, um pouco mais sério.


- Perfeito. – ela ainda sorria.


- Então, à noite nos encontramos. – ele se levantou e começou a caminhar na direção da saída, mas parou à porta e a olhou – Descrição Luna, ninguém deve sequer imaginar que você, agora, faz parte da Ordem da Fênix.


- Pode deixar! – ela se levantou e colocou a mão na testa, batendo continência como os militares trouxas – Descrição é meu nome do meio!


- Bom dia Luna. – Lupin saiu da Sala Precisa.


Ao fechar a porta ele riu baixinho. Olhou em volta depois de alguns segundos, ficou sério novamente e saiu andando. Seria uma longa noite. Muito estava em jogo. Talvez até o rumo da guerra. E ele teria que fazer de tudo para que o bem-estar da maioria prevalece-se.


=-=-=


Na escuridão da Floresta Proibida algo inesperado acontecia. Inesperado não, inacreditável. Em uma enorme clareira, duas raças permaneciam escondidas por entre as árvores. Vindo cada uma de seu território, centauros e lycans esperavam calmamente seus líderes.


Cada líder estava no meio da clareira. Agouro, um centauro de cabelos e corpo negros, observava o céu salpicado de estrelas brilhantes. Um humano estava ao lado dele. Ele parecia um humano, mas não era. Ele era o Alfa, o líder dos lycans. Ele estava em sua forma humana, assim como os outros de sua raça. Os cabelos negros presos em uma grossa trança pendendo sobre as costas, o corpo moreno coberto apenas por uma calça negra toda rasgada a partir dos joelhos.


- A lua é nova. Logo será cheia e o momento chegará. – falou Agouro ainda olhando os céus.


- Os céus dizem o mesmo que Gaia, nobre centauro. É tempo de unir nossas forças para que nada se perca. – falou o Alfa, olhando pela Floresta.


- Nada ainda pode ser decidido enquanto não estivermos todos reunidos. – Agouro abaixou os olhos e focalizou a Floresta.


Por entre as árvores, um lycan e um centauro acompanhavam três seres. Estes entraram na clareira e fizerem uma leve reverência.


- Sejam bem-vindos. – clamou o Alfa.


Dois eram humanos. Um era homem, cabelos castanho claros, levemente grisalhos, e um olhar levemente selvagem. O outro era uma garota, cabelos loiros compridos e ondulados, e olhos penetrantes. O terceiro era um centauro. Ele era mais jovem que Agouro, seus cabelos eram loiros platinados e seus olhos incrivelmente azuis.


- É nesta hora, quando as estrelas não brilham como antes, que te chamamos, Firenze, e pedimos teu perdão. – Agouro se prostou à frente do recém-chegado.


- Por mais que as estrelas estejam fracas, elas brilharão forte novamente. – Firenze sorriu.


- Remo John Lupin! – exclamou o Alfa, caminhando até o humano.


- É uma honra revê-lo. – Lupin cumprimentou o lycan colocando a mão no peito esquerdo, recebendo o mesmo cumprimento de volta.


- Quem és tu? – o Alfa olhou a garota.


- Luna Lovegood. – a garota fez outra reverência.


- É apenas uma aluna, o que faz aqui? – Agouro olhou-a.


- Senhor, - Luna olhou o centauro – sou aluna do último ano em Hogwarts, mas comando toda a Armada de Dumbledore.


- E, recentemente, foi incorporada à Ordem da Fênix. – Lupin olhou Agouro – Ela está aqui em missão.


Todos olharam para a garota, analisando-a.


- Garota. – o Alfa se aproximou dela – Tu és forte, mais do que pensas. Tua força vêm daqui. – ele apontou para o próprio peito esquerdo – E não daqui. – e apontou para a própria cabeça.


Luna sorriu, mesmo sem entender completamente o que ele havia lhe dito. Aquilo despertou um grande respeito e admiração pelo lycan.


- Agora que estamos todos aqui. – falou Agorou alto – Podemos começar.


- Como estás a situação do mundo? – o Alfa olhou Lupin.


- O Dragão Negro, cujo verdadeiro nome é Tom Servolo Riddle, se manteve quieto nos últimos três meses. – respondeu Lupin – Isso nos leva a crer que ele atacará em breve e com força.


- O ataque será mais forte do que pensas Lupin. – interveio Agouro – Marte se alinhará com este planeta em uma semana e assim permanecerá por quase todo o mês.


- Marte simboliza a guerra. E como tal, está intimamente ligada à ela e ao nosso planeta. – Firenze tomou a palavra – Enquanto esse alinhamento durar, a guerra chegará ao ápice de fúria e violência, e assim permanecerá.


- Ao raiar do novo ano, uma nova era surgirá! – Agouro voltou a olhar os céus, assim como Firenze.


Todos permaneceram calados por um tempo, pensando no que os dois centauros haviam dito. Por fim, Luna quebrou o silêncio.


- Tom atacará Hogwarts e não vai demorar. – ela fez uma pausa – Ele sabe que deve tomar Hogwarts antes que Harry e os outros retornem.


- O mal não teme um simples garoto. – falou o Alfa, fitando-a.


- Harry Potter não é um simples garoto. – retrucou Luna com força, fitando-o de volta – Ele traz dentro de si a esperança e o amor. Ele traz a vitória!


- Tom não teme Harry. – Lupin pousou a mão no ombro dela, tentando acalma-la – Ele teme o Herdeiro.


- O que sabes sobre tal Herdeiro? – questionou o Alfa, olhando o homem.


- O Herdeiro traz consigo tudo o que é bom. Ele é quem libertará o mundo das trevas. Ele possui o Bem e o Mal em seu coração, mas sua alma é pura, sua força é inimaginável e sua sabedoria é divina. – Agouro e Firenze disseram juntos – Somente ele pode derrotar o Dragão Negro.


- Mas ele ainda não deu sinal de existir, muito menos de estar do nosso lado. – disse Luna – Devemos nos preparar para a guerra. Se ele vier para ajudar, estaremos eternamente agradecidos, senão, teremos que vencer sozinhos.


- É para isso que estamos aqui. – Lupin se surpreendeu com o jeito de se expressar dela – Viemos decidir como será a proteção desses terrenos.


- Eu e meu povo podemos defender as fronteiras da Floresta e das montanhas. – falou o Alfa e os outros lycans gritaram confirmando.


- Nós centauros juramos não ir contra as estrelas e os astros. – Agouro abaixou o olhar – Mas agora nossa raça está em perigo e não devemos ficar parados, não mais. Podemos proteger a Floresta e suas fronteiras.


- Será uma honra lugar ao seu lado, nobre centauro. – o Alfa fez uma leve reverência com a cabeça.


- A Floresta ficará muito bem protegida, mas tenho certeza que Tom não vai escolher a Floresta para entrar em Hogwarts. – expôs Luna.


- Concordo. A Floresta é muito grande e cheia de seres que Tom sequer conhece. Seu exército não virá por aqui. – Lupin olhou a Floresta.


- Hogsmeade será atacada. – Luna impressionou novamente com seu pensamento rápido – Devemos protegê-la.


- Se o vilarejo for atacado, os Beta estarão lá em poucos segundos. – o Alfa focalizou Lupin, lembrando-o do portal – Batedores ficarão vigiando.


- Os melhores arqueiros serão enviados. – disse Agouro e os outros centauros bateram os cascos – Há uma caverna perto do vilarejo, lá estaremos até a hora chegar.


- A Ordem da Fênix enviará membros para proteção do vilarejo e sentinelas chamarão outros membros caso a batalha se inicie. – Lupin sorriu, feliz ao cumprir sua missão.


- A Armada de Dumbledore estará pronta. – falou Luna firme – Os melhores combatentes de Hogwarts estarão lá. Foi para isso que treinamos.


Eles permaneceram em silêncio por algum tempo. Até que Firenze atraiu todas as atenções.


- Os tempos mudaram. – a voz do centauro era serena – Marte se fará presente e sangue tingirá a terra de vermelho. Almas serão levadas e corpos cairão inertes. Gritos serão ouvidos, sejam ordens ou simples expressões de ódio ou dor. O amor será esquecido, enterrado no fundo dos nossos corações e será usado como motivo da nossa luta. O amor será a desculpa para tantas mortes. Os tempos mudaram. As raças se unem em busca da vitória, mas que vitória é essa? Sangue e morte não é amor, não é vitória!


Todos escutaram as palavras sábias do centauro e sentiram profunda tristeza. Os centauros abaixaram as cabeças e se retiraram. Lupin e Luna fizeram leves reverências e tomaram o caminho para o castelo. Os lycans fizeram longas reverências ao sábio centauro e voltaram para seu território. O Alfa sorriu para Firenze e seguiu sua raça sem nenhuma palavra.


Firenze permaneceu ali. As estrela brilhavam tão fracamente que mão podiam ser vistas. Ele viu uma constelação que o atraía há quase seis meses.


- Poucos sabem, até entre os centauros, mas as estrelas serão a nossa salvação. – ele abaixou o olhar e, antes de sair da clareira, completou – Ou nossa perdição.


A constelação de Dragão brilhou forte por poucos segundos e, então, voltou à brilhar como as outras estrelas.


=-=-=


- Nossa...


- O que foi?


- Fiquei toda arrepiada.


- Firenze é sábio. Tem sorte de ter aula com ele, Luna.


- Eu sei. – Luna sorriu – Mas sinto falta mesmo é das suas aulas Professor Lupin!


- Não me chame de Professor, Luna. – pediu Lupin – Eu já não sou mais seu professor e você é um membro da Ordem, não precisa de tantas formalidades.


- Ok, Remo John Lupin. – Luna riu.


Eles caminharam em silêncio até que as luzes de Hogwarts foram vistas. Remo parou.


- Você acha mesmo que o Harry vai voltar?


- É claro! Ele nunca nos abandonaria. – Luna perdeu o sorriso.


- Já faz mais de um ano e meio que ele não dá notícias. – Lupin pareceu preocupado.


- Eu sei. Mas ele está bem! Se não estivesse, Tom já estaria no poder.


- E quem disse que não está? – a voz dele soou sombria.


- O que quer dizer com isso? – Luna fitou-o.


- Temos motivos para crer que Tom está infiltrado no Ministério. – falou Lupin com um sussurro.


- Sempre houve essa possibilidade. – disse Luna, abaixando a voz – É por isso que a Ordem só trabalha com os aurores e com o próprio Ministro.


- Luna... achamos que o Ministro está sendo controlado.


Luna se surpreendeu.


- Por quê?!


- Recentemente, Rufus tentou descobrir o local da Sede. – Lupin olhou em volta, ainda sussurrando – Ele tentou obter a informação de um dos aurores do ministério que nos ajuda.


- Obter como?


- Verirasserum.


- Filho da m...


- Felizmente, - Lupin cortou-a – o auror não sabia da localização e, antes que Rufus lhe fizesse outra pergunta, ele foi chamado com urgência.


- E como sabem que era Veritasserum?


- O auror recolheu uma amostra do chá que Rufus havia lhe oferecido. Ele foi muito esperto e hábil, tenho que admitir. Rufus não viu e sequer desconfia.


- Quem analisou o chá?


- Seu namorado, Neville Longbottom. – Lupin sorriu quando ela corou.


- Ele não é meu namorado. – ela sentiu a face queimar – Bem... não oficialmente.


Lupin riu.


- Agora devemos voltar, já é muito tarde.


- Por que me contou sobre o Ministro? – perguntou Luna enquanto caminhavam.


- Para que fique alerta. Há muitas pessoas ligadas ao ministério e ao próprio Ministro aqui em Hogwarts. – respondeu Lupin – Deve informar à AD que ninguém é confiável.


- Nós sabemos. – Luna sorriu marotamente – Você sabe que a Umbridge está aqui como refugiada, certo?


- Claro.


- Ela vive nos seguindo. – Luna riu.


- E? – Lupin parou e a olhou.


- Nós sempre a levamos para um local isolado e praticamos feitiços com ela. – Luna parou e gargalhou.


- Vocês o quê?! – Lupin quase gritou.


- É claro que alteramos a memória dela depois. – Luna riu.


- Você é louca. – Lupin sorriu levemente.


- Obrigada. – ela agradeceu e começou a caminhar.


Eles finalmente saíram da Floresta Proibida e cruzaram os jardins. Lupin acompanhou-a até a entrada da Torre da Corvinal.


- Lembre-se do que eu lhe disse, ninguém é confiável!


- Não vou esquecer. – Luna sorriu – Boa noite, Lupin.


Ele se afastou. Ela murmurou a senha e entrou.


=-=-=


Um baque surdo e um urro despertou a secretária ministerial de seus pensamentos. A porta do escritório do Ministro estava aberta e um homem estava no chão, se levantando rapidamente.


- Suma daqui Binbley! – o Ministro saiu da sala aos berros.


- Perdoe-me senhor! – o homem se virou e saiu correndo.


O Ministro voltou à sua sala e fechou a porta com um estrondo.


- Inútil! – berrou Rufus Scrimgeour.


Ele passou as mãos pela mesa entalhada e derrubou tudo o que ali estava.


- É tão difícil seguir o idiota do Stuart?


O Ministro praguejou por um longo tempo.


- Já se acalmou. – uma voz divertida soou.


- Cale a boca! – o Ministro olhou as cortinas e viu um homem de vestes negras sair de trás delas.


- Não adianta amaldiçoar o inútil. – o homem riu friamente.


- Você acha que é fácil controlar esse idiota, não é? – o Ministro apontou para si próprio – O seu trabalho é fácil, ficar vigiando.


- Não reclame da sua tarefa. – falou o outro por entre os dentes – Você tem o poder que o Lorde deseja. O poder sobre o Ministro Bruxo.


- Eu sei. Mas eu não posso simplesmente mandar matar todos os aurores e caçar o Potter! – o Ministro se jogou em uma poltrona – Nós controlamos apenas o Ministro. Ainda vai demorar um pouco para controlarmos o Ministério.


- Bem pouco, é verdade. – o homem sorriu maleficamente – O Lorde vai mandar mais gente para ajudar-nos com a Império.


- Finalmente! – o Ministro ergueu os braços em agradecimento.


- Vamos tentar tomar uma grande área do poder ministerial antes do ataque. – o homem continuou a sorrir.


- Então está tudo pronto? – o Ministro pulou em alegria.


- Sim.


- O mundo cairá perante o Lorde.


Ambos gargalharam.


Estava iniciado o fim da guerra e a vitória do Dragão Negro!


=-=-=


Cassius McWell estava sentado em seu escritório. Não tinha conseguido dormir. Uma sensação horrível o inundava. Durante toda a semana o sono fugia-lhe. As poucas vezes que conseguia fechar os olhos, acordava em seguida sentindo-se sufocado.


Ele olhou em volta. A casa estava mais sombria e fria. Fazia quase seis meses que brigara com seu filho, Owen. Sua família havia se destruído e era tudo por sua culpa.


Algo, porém, o aliviava, era sábado. Todos os sábados sua futura nora, Sarah, ia lhe visitar. Ainda era madrugada, ela só viria para o almoço.


Ele olhou pela janela e se assustou. Um brilho perolado emanada pelo vidro. Ele se levantou, caminhou até a vidraça e olhou lá fora.


- Neve na primeira semana de Dezembro? Inacreditável!


=-=-=


Frio. Foi isso que o fez acordar. Sentou-se na cama. O suor gélido grudava a roupa em sua pele e o cabelo em seu rosto. Sentou-se na lateral da cama e colocou as mãos frias no cabelo molhado. Seu sono tinha sido conturbado. Olhou para a janela mais próxima, estava aberta e o vento balançava as cortinas.


Caminhou até ela e olhou lá fora. Sua surpresa foi imensa. A neve caía com força. Uma grossa camada de neve já tomava o chão, deixando claro que o primeiro floco havia caído há várias horas.


- Neve?! – sua voz saiu fraca.


Fechou a janela e a cortina. O sol ainda não havia surgido e não demoraria muito. Olhou para a cama e viu sua noiva dormindo calmamente, coberta com um fino edredom.


Caminhou até o guarda-roupa e pegou uma coberta grossa, colocando-a sobre ela. Sorriu e entrou pela porta que levava ao banheiro. Olhou-se no espelho, estava pálido. Os olhos azuis não possuíam brilho algum. Ele suspirou.


Durante toda a semana havia se sentido estranho. Ele conseguia dormir, mas acordava cansado devido aos sonhos que lhe afligiam.


Neve. Seu sonho possuía neve. Não era em sua casa que ele estava, no sonho. Estava em Hogsmeade. Uma grossa camada de neve branca cobria o vilarejo. Todos estavam felizes. Ele estava andando pela rua quando um floco de neve caiu em seu rosto. Retirou o floco com o dedo e o olhou. Não era branco, era negro. Seu olhar dirigiu-se ao céu, o pavor inundou-o.


Dezenas de vultos negros voavam na direção do vilarejo. Gritos horrorizados dos alunos soaram e, em poucos segundos, um grande tumulto havia se formado.


Seu sonho acabava quando a neve já estava tingida de vermelho e ele era um dos poucos sobreviventes.


- O que diabos é isso? – questionou para seu próprio reflexo.


Jogou água no rosto e, após secar-se, voltou para o quarto. Caminhou novamente até a janela e abriu a cortina. O amanhecer se formava. Os primeiros raios de sol tomavam o céu escuro, coberto pelas nuvens brancas de neve. Ele ficou ali, sem saber dizer quanto tempo. Ficou apenas olhando o sol se erguer e ser oculto pelas nuvens.


Ele caminhou até a cadeira e vestiu seu sobretudo. Saiu do quarto e da casa, dirigindo-se ao pequeno jardim tomado pela brancura da neve. Seus pés afundaram na neve fofa. O frio não lhe incomodava, pois já havia treinado fortemente sob temperaturas muito mais baixas.


Curvou-se e tateou a neve com as mãos nuas. Imaculavelmente branca e incrivelmente fria. Suspirou novamente, aliviado, e ergueu-se. Olhou por todo o solo, como se procurasse algum vestígio negro, mas não achou nenhum.


Seus cabelos já estavam carregados de neve. Ele balançou a cabeça e, com a mão, remexeu o cabelo, retirando os flocos que teimavam grudar nos fios negros. Virou-se e começou a caminhar de volta para a casa. Foi quando sentiu um toque extremamente frio sob o olho direito. Assustou-se e parou. Relutante, ergueu a mão e tocou o ponto gélido com a ponta do dedo.


- Não! – gritou após afastar a mão e ver sobre o dedo um floco de neve negro.


Olhou para o céu. As nuvens haviam se tornado negras e a neve parecia carvão, caindo em inimagináveis quantidades. Nenhum vulto voava.


- Então não era um sonho. – murmurou ele.


Não pensou duas vezes, correu para dentro da casa e entrou no quarto sem se importar com o barulho que fazia.


- Sarah! Acorda! – gritou ele para a noiva, agitando-a.


- Que foi Owen? Deixe-me dormir! – ela se soltou e deitou do outro lado.


- Acorda Sarah! – gritou ele – Hogsmeade está sendo atacada!


Aquilo foi como um balde de água fria. Sarah ergueu-se num pulo e o olhou.


- Como assim?


- Assim mesmo. Apronte-se vamos para lá! – falou ele e correu até o guarda-roupa, retirando suas vestes.


- Como sabe que o vilarejo está sob ataque, quem informou? – ela se levantou.


- Ninguém informou. – ele retirou o pijama, quase rasgando-o – Eu tive sonhos e pressentimentos a semana inteira, e uma parte do meu sonho acabou de acontecer.


- O que aconteceu? – Sarah caminhou até o guarda-roupa e retirou as vestes que usaria.


- Não importa! – retrucou ele, correndo até a escrivaninha – Vai logo! Precisamos ir!


- OK. – ela retirou o pijama e vestiu-se.


Ele pegou a varinha de ambos e a esperou. Entregou-lhe a varinha dela e a abraçou.


- Não duvide Sarah, está tendo um ataque.


- Não duvido. – ela o abraçou com força – Tome cuidado.


- Você também. – ele afrouxou o abraçou e a beijou com amor.


Ela o olhou nos olhos e sorriu.


- Tudo vai acabar bem.


- Vamos. – ele sorriu, não sabendo se acreditava no que ela lhe falara.


Com as varinhas em mãos, eles aparataram.


=.=.=


A neve caía com força, deixando o mago admirado.


- É incomum neve nessa época. – murmurou ele – Os jornais trouxas disseram que a neve atrasaria este ano.


Ele ficou admirando os flocos de neve. Perdeu a noção do tempo. Quando se deu por si, o sol já havia nascido e, se não houvesse as nuvens, o astro iluminaria tudo com seus raios. Ele desviou o olhar para a parede oposta, havia um enorme e belo relógio. Marcava exatamente oito horas.


Um vento forte e incrivelmente gelado entrou pela fresta da janela. Ele olhou pelo vidro instantaneamente. Tentou prestar atenção nos flocos novamente.


- Merlim! – exclamou pouco depois.


Flocos de neve negros uniam-se e tomavam o lugar dos originalmente brancos. As nuvens estavam negras e o dia escurecido. Uma mudança extrema em poucos segundos.


Aquela sensação ruim que o atingira por toda a semana voltou com força total. Algo estava errado, imensamente errado.


- Benny! – ele chamou.


O elfo doméstico surgiu no meio do escritório e fez uma leve reverencia.


- O que deseja mestre? – perguntou Benny.


- Você sabe onde é a Sede da Ordem da Fênix, não? – o mago se aproximou do elfo.


- Sim mestre. – Benny estranhou a pergunta.


- Quero que vá até lá. – o mago flexionou os joelhos para ficar numa altura mais próxima da do elfo – Quero que pergunte para quem quer que esteja lá se está havendo alguma batalha ou algo parecido, entendeu?


- Sim mestre. – o elfo fez uma leve reverência e aparatou.


O mago ergueu-se e caminhou até a mesa. Sobre ela estava sua varinha. Ele pegou-a e manteve-a em mãos. Alguns minutos angustiantes se passaram. Aquela sensação ruim o inundava cada vez mais. Ele andava de um lado para o outro. Levou um enorme susto quando ouviu seu nome.


- Cassius!


Ele olhou em volta, Benny ainda não tinha voltado.


- Cassius!


Ele olhou a parede detrás da sua mesa. Olhou o quadro que normalmente ficava vazio, mas que agora possuía a pintura de um homem velho.


- Dumbledore! – ele caminhou para perto do quadro.


- Não se demore Cassius. Vá para Hogsmeade! – a voz do ex-diretor de Hogwarts saiu trêmula.


- O que aconteceu?


- Um ataque. Se você não for para lá o vilarejo será destruído. – falou Dumbledore com apenas um fôlego – Tom está atacando com quase toda a força que possui. Será uma carnificina. – a voz dele quase sumiu – Os alunos estão no vilarejo.


- Estou indo Dumbledore, não se preocupe. – Cassius se preparou para aparatar.


- Mestre! – Benny acabara de aparatar e estava apavorado.


- Diga logo Benny! – Cassius virou-se para o elfo.


- Ataque em Hogsmeade. Chamaram pelo senhor. – o elfo falou de uma vez.


- Já estou indo Benny. Obrigado. – e sem mais nenhuma palavra, Cassius McWell aparatou para a batalha.


=.=.=


A semana tinha sido muito agitada. A Ordem da Fênix tivera muito trabalho. Porém, tudo estava pronto, finalmente. Hogsmeade estava sob guarda. Dez sentinelas da Ordem vigiavam o vilarejo e sua região. Qualquer sinal de ataque levaria um dos sentinelas para a Sede.


Os líderes da Ordem se encontravam lá. Quem tinha casa, deixou-a para ficar pronto para a batalha. Para Remo Lupin e Ninfadora Tonks não foi diferente. Eles acordaram com o sol e se espantaram com a neve que caía com força. Porém, não deram importância.


Naquele momento, todos os líderes estavam acordados e tomavam o café da manhã. Apenas Lupin já estava alimentado e permanecia sentado numa poltrona da sala de entrada. Ele viu quando Neville desceu as escadas sorridente.


- Bom dia Lupin. – o garoto desejou quando se aproximou.


- Vai ser um ótimo dia para você, não é? – Lupin sorriu.


- Com certeza. – Neville terminou de colocar as luvas e virou-se para o relógio.


- Está atrasado? – Lupin divertiu-se.


- Não. – Neville riu – Quinze minutos adiantado.


- Então vai logo. Acho que a Luna não gosta mesmo de atrasos.


Neville gargalhou, se despediu e saiu.


Lupin sorriu pelo amor dos jovens. Ele permaneceu ali por algum tempo sem pensar em nada, ou em tudo.


O relógio badalou. Oito horas.


Ele suspirou e se levantou.


- Acho que é melhor eu arrumar algo para fazer. – murmurou para si enquanto dirigia-se às escadas.


Porém, a porta de entrada bateu com violência, atraindo a atenção dele. Um homem coberto de neve entrou correndo. A neve que o cobria parecia carvão, pois era negra como o carvão.


- Lupin! – o homem gritou ao vê-lo.


- O que foi homem? – Lupin se aproximou dele.


- Hogsmeade! – falou o homem mais alto do que gostaria – Está sob ataque!


- Ataque? - Lupin empalideceu.


- Sim. – o homem respirou fundo – Tom veio com força total. Aquelas criaturas horrendas e alguns comensais são seu exército. Mas ele não apareceu, ainda. Temos que levar todos os aurores e membros da Ordem da Fênix para lá ou...


- Ou Hogwarts será o próximo alvo e a Taça da Vitória do Tom! – Lupin cortou-o e correu até a cozinha, ao entrar gritou – Hogsmeade sob ataque!


Os líderes se ergueram e enviaram patronos para chamar os membros da Ordem. Depois, todos correram para fora da Sede e aparataram.


Lupin e Tonks permaneceram. Antes que eles pudessem dizer qualquer coisa um para o outro, um estalo soou à frente deles. Benny acabara de aparatar.


- Bom dia senhor. – Benny fez uma leve reverencia com a cabeça.


- Quem é você? – Lupin olhou o elfo.


- Sou Benny senhor, humilde criado do mestre Cassius McWell. – as palavras do elfo fizeram os olhos de Lupin brilhar.


- McWell? – Lupin até sorriu.


- Sim. – Benny estranhou a reação do bruxo – Meu mestre me enviou para saber se algum lugar está sob ataque.


- Está sim. – respondeu Tonks – Hogsmeade está sob ataque. Diga ao seu mestre que nós precisamos da ajuda dele.


- Sim senhora. – o elfo ficou alarmado com a notícia e aparatou.


Lupin e Tonks olharam-se ligeiramente aliviados. Se Cassius McWell fosse ajudá-los a batalha poderia ser mais fácil. Eles se olharam por alguns segundos e se abraçaram com força.


- Tome cuidado. – murmurou ele com a voz trêmula.


- Tomarei.


Depois de um rápido beijo e mais uma olhada no fundo dos olhos do outro, eles aparataram para a batalha.

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