Espada Larga



Resumo: Confrontos.

Disclaimer: A única coisa minha é o shampoo. warty
Muito obrigado à minha Beta Sheri (em inglês), hoje fazendo o papel de Hecate e a Chartreuse por ser uma terceira bruxa soberba. warty
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Bring me my Broadsword and clear understanding [Traga-me minha espada larga e a compreensão clara das coisas] - Jethro Tull


Capítulo 7 – Espada Larga


Hermione e Severo encontraram um lugar quieto para passarem a tarde olhando o lago. A luz do sol brilhava na superfície da água. Ocasionalmente, um distante splash podia ser ouvido – um lembrete das criaturas que viviam nas profundezas.

Sentados um ao lado do outro na grama, o par olhava o lago à distância, sem encontrar as palavras para expressar os sentimentos da iminente separação. Severo tinha muitas perguntas a fazer. A mente dele havia processado tudo o que sabia sobre Hermione. Desde a chegada dela no trem, o jornal que ele achara no malão dela, até a imcompreensível (mas bem-vinda) atração por ele. Ela quebrou o silêncio primeiro.

”Severo, eu tenho que voltar.”

”Para o castelo?”

Ela balançou a cabeça. “Para casa. Eu não pertenço a esta época.”

”Eu sei,” ele disse finalmente, expressando uma profunda compreensão, mais até do que ela esperara. “Quando?”

”Hoje à noite. Vamos aproveitar o máximo da festa de Halloween hoje, ok?”

Ele concordou brevemente. “O lugar para onde você está voltando é o futuro, não é?”

”Severo, você sabe que é. Você descobriu isso quando achou o jornal.”

”Eu sempre soube que havia algo na sua história que era... incomum... algum subterfúgio. É por isso que simpatizei logo com você, eu estava curioso quanto a você. O jornal confirmou minhas suspeitas, mas eu já queria você de qualquer modo. 1996 é quase, bem, inconcebível. Merlin, eu vou estar com trinta e seis! Você me conhece no futuro? Como eu sou aos trinta e seis, Hermione? Sou rico? Bem-sucedido?”

”Sim, eu conheço você. Você é…” nesse ponto ela parou, tentando achar as palavras certas, “respeitado, alto, e você... ondula...” Ela omitiu; o que ele queria era uma resposta completa.

”Grito? Como assim? Eu grito com as pessoas?” [N/T: A pequena confusão dessa parte da tradução fica por conta de dois verbos em inglês: billow (ondular ou voltear algo) e bellow (gritar). Sabendo isso creio que fica mais fácil compreender a confusão de Snape, que não sabia que no futuro faria charme volteando a capa, hehehe. J.]

Hermione riu. “Bem, você é conhecido por… hum, ocasionalmente… gritar. Mas só quando provocado, tenho certeza. Mas eu disse ondula… - é que quando você anda, você meio que flutua, ondeando a capa...”

”Explique.”

”É o corte de suas vestes, é muito largo. Você anda elegante, também. Ah, e algumas vezes você vira-se bruscamente, volteando as vestes,” ela provocou.

”Certamente… que me recuso a acreditar que tenho algum maneirismo digno de nota,” ele disse, passando o dedo no nariz. “Como eu sou no futuro?”

”Você não é um homem calmo.”

Severo suspirou, ele não estava obtendo uma resposta direta. Ele tentou um jeito diferente. “No futuro, nós... estamos juntos?”

”Isso dependerá inteiramente de você,” ela disse, olhando significativamente para ele. “Nós não estávamos antes, mas agora… talvez. Eu não sei, certamente espero que sim.”

Severo pensou sobre o que ela estava dizendo e também sobre o que ela não estava. Ele subitamente entendeu o que ela queria dizer. “Você quer dizer que no futuro você está, estava... atraída por mim? É isso? Pela irmã de Cirde! Você tem dezessete no futuro ou você vai envelhecer enquanto viaja?”

”Não, eu não envelheço,” ela respondeu.

”Alto, respeitando, ondulando as vestes, de mau humor e com uma bruxa com a metade da minha idade ao meu lado! Excelente!” ele proclamou muito satisfeito consigo mesmo.

”Não é tão fácil assim, Severo. No futuro você não gosta de mim. Eu até acho que você me acha uma chata, você me ridiculariza a cada oportunidade.”

Severo pareceu ofendido. Hermione percebeu que ela estava culpando o estudante inocente pelos pecados do professor de Poções. Sentindo-se culpada pelo que dissera, ela estendeu o braço e pegou uma mão dele nas dela, rodeando as juntas dele com os dedos. Repentinamente, ele se levantou, sacando a varinha. Hermione olhou ao redor para descobrir o que havia pertubado tanto ele, quando ouviu uma voz.

”Snivellus!” Tiago Potter sorriu desdenhosamente. Ele se aproximava vindo do castelo. O rosto, o cabelo e os óculos eram uma lembrança vívida de Harry, mas as maneiras dele eram diferentes. Sua auto-confiança exagerada não tinha nada a ver com a do filho dele. Seguindo-o de perto estava um jovem Sirius Black, quase irreconhecível ao comparar com o ex-preso de Azkaban que ela conhecera. Ela levantou-se num pulo e se escondeu atrás de Severo para que Sirius não a visse. Ela colocou a capa e puxou o cabelo para esconder o rosto. Ela rezou para que Remo não aparecesse ou ela teria que se jogar no lago. Ser reconhecida no futuro por seu professor de Defesa contra as Artes das Trevas NÃO era uma opção.

“Sni-vel-lus,” Tiago repetiu, pronunciando cada sílaba com malícia.

Sirius notara a varinha estendida de Snape e tirara a sua própria para cobrir o amigo.

”O que você quer, Potter?” Severo cuspiu a questão sem disfaçar o ódio. Ele apontou a varinha para Sirius ao falar, tomando-o como uma ameaça maior. Os olhos de Snape iam de seu nêmesis para o defensor armado de varinha, esperando o primeiro movimento ofensivo deles.

”Bem, bem, Snape,” advertiu Sirius. “Lembre-se de ser educado na frente do Monitor-Chefe. A não ser que você queira outra lição de etiqueta da minha varinha? Talvez você não tenha compreendido totalmente no trem...”

”Não preciso que você me ensine nada, Black,” replicou Severo, o veneno destilando em sua voz. Agora Hermione entendia porque ninguém se referia a Regulus pelo sobrenome.

”Tiago! Sirius!” ouviu-se uma voz esganiçada. Todas as cabeças se viraram para ver Pettigrew correndo para se reunir aos colegas. Vendo varinhas em riste, Pedro sacou a própria varinha insignificante. Ele parou ao lado de Tiago, tremendo e tentando segurar firmemente a varinha. Tiago agora havia sacado a própria varinha e sacudia-a preguiçosamente, as intenções disfaçadas pelo gesto.
Hermione já havia visto muito dessa covardia de três contra um. Severo deveria estar sentindo o mesmo, ao sussurrar para que ela fosse chamar os outros - Avery, Wilkes e Lestrange. Ela observou o gramado, mantendo o rosto fora das vistas de Black, cobrindo o rosto com a capa. Ao pensar que estava livre dos garotos, ela sentiu-se sendo agarrado por trás. Mãos ásperas agarraram-na na altura dos antebraços e giraram-na na direção de Snape.

”Onde você pensa que está indo, mocinha?” a voz de Sirius soou perto da orelha dela. Ele apertou-a mais forte, pressionando as costas dela contra o peito dele. Para o desgosto de Hermione, ele esfregou sugestivamente os quadris contra o traseiro dela e envolveu um dos seios dela com uma das mãos.

O rosto de Severo estava agitado como um tempestade. Ele avançou para Sirius e Hermione, com a varinha apontada ameaçadoramente. ‘Bastardo! Bastardo de merda!” ele gritou, a voz irada.

Hermione empurrou com força os quadris de Sirius. Ele ficou surpreso. Ela se mexeu nos braços dele, afrouxando o abraço, virando-se apenas o suficiente para dar um chute seguro na virilha dele. Ele exalou todo o ar de seus pulmões ao se dobrar em dois. Hermione foi solta, caindo no chão emlameado. Uma mão puxou a ponta da capa dela, trazendo-a para cima. Ela foi envolvida num forte abraço e protegida sendo colocada para trás. Com alívio, ela ouviu a voz de Severo reverberar do peito ao qual ela estava encostada.

”Isso vai ensiná-lo a não mexer comigo nem com os meus, Black!” Snape disse, a voz baixa e ameaçadora.

Saindo do abraço de Severo, Hermione sacou a própria varinha. Ela apontou-a para Sirius, que estava dobrado em dois no chão, apertando suas partes e gemendo, deixando Severo livre para dirigir a atenção para Tiago. Pedro deu um passo atrás, na direção de Sirius.

”Quer ser o próximo a ser castrado, menino-rato?” Hermione dirigiu o comentário a Pettigrew, mas seus olhos continuaram em Black. Severo fez um ruído aprovador.

O comentário dela foi o sufiente para baixar a guarda dos Marotos. Tiago parou, ficou na ofensiva e apontou a varinha para ela; Pedro imitou-o. Severo postou-se em frente de Hermione para desviar o alvo deles.

”Então ela sabe falar, a sua namoradinha?” disse Tiago, tentando estudar Hermione, que estava semi-escondida por Severo. “Diga-me, Snivellina, por que você está saindo com esse rei dos sebosos?”

Snape falou numa baixa advertência, “Deixe-a. Nem sequer dirija-lhe a palavra.”

Com o alvo atingido, Tiago continuou a encher Hermione. “O que há de errado com seu rosto, Sni-vel-lina? Você é tão feia que tem que andar com a capa abaixada?”

Hermione chegara a um impasse. Ela estava se coçando para devolver o insulto de Tiago Potter, mas sua lealdade a Harry estava impedindo-a. Ela fez a única coisa que poderia: atacou Pettigrew. Ela se jogou no chão, rolou por trás de Severo e apontou a varinha. Ela se concentrou na imagem de Pedro sendo estupefeito e pensou em sua mente “Estupefaça!”

Um jato de luz vermelha saiu da varinha dela e acertou Pettigrew no peito. Hermione levantou, virou-se e mudou o alvo, apontando a varinha para Sirius. Ele rolou, esticando o braço na direção dela. Fortemente concentrada, ela pensou, ‘Expelliarmus!’

Simultaneamente, uma luz verde saiu da varinha de Severo quando ele dirigiu um feitiço de desarmamento não-verbal para Tiago. A varinha de Sirius voou no ar, fora de alcance. Hermione correu para Sirius e apontou a varinha para ele.

”Senta, Almofadinhas,” ela mandou.

‘Locomotor Mortis!’ Tiago soltou um feitiço de impedimento em Snape, que tentou desviar.

Severo caiu num dos joelhos. Apontando a varinha na direção de Tiago, ele gritou, ‘Petrificus Totalus!’

Sirius ficou assistindo o duelo. Hermione o empurrou. Ele ficou com o rosto encostado no chão, pois ela estava pisando nas costas dele para impedi-lo de se levantar de novo. “Eu disse senta”! ela gritou, apontando a varinha para a nuca dele.

‘Impedimenta!’ ela ouviu Tiago gritar.

Ela instintivamente ergueu a varinha. ‘Protego!’ ela gritou, ajudando a refletir a azaração contra Severo.

Um jato de luz vermelha saiu da varinha de Snape e acertou Tiago, que caiu de joelhos e de cara na grama. Severo deu um passo na direção da forma prostrada de Tiago, apontando a varinha para ele e cutucando-o com a ponta da bota. Satisfeito que sua presa estava desmaiada, ele dirigiu-se a Hermione.

”Você está bem?” ele perguntou para ela, oferecendo a mão para tirá-la de perto de Sirius. Ela aceitou e pegou a mão estendida dele, ficando ao lado dele. Ele levantou a varinha para Sirius. Hermione enfeitiçou as três varinhas dos adversários e deu-as para Severo.

O ruído de passos veio na direção deles. Remo vinha na direção do lago e parou no momento que viu os três amigos nocauteados; Snape e Hermione pairavam vitoriosos perto de Black.

”Ah, Lupin,” disse Snape, “Vejo que a cavalaria chegou.”

”Ele não deve me reconhecer,” sussurrou Hermione, cobrindo mais ainda sua cabeça. Severo moveu-se de modo a ficar na frente dela, cobrindo a visão de Remo.

”Acabou, Snape,” disse Lupin de uma certa distância. “Você ganhou esta batalha, não há mais nada a provar. Dê-me as varinhas deles.”

Severo respondeu, “Isso nunca terminará, Lobo, mas eu declararei um cessar-fogo por hoje, desde que você possam controlar-se para não retaliar.”

“Sirius?” Lupin perguntou para o amigo, sem tirar os olhos de Snape.

Sirius sentou-se, esfregando onde a cabeça havia sido azarada. “Cessar-fogo,” ele falou.

”Ótimo,” finalizou Snape. “Herm…”, ele foi interrompido com uma cotovelada no lado. “Minha namorada e eu retornaremos ao castelo. Cuide de seus amigos, Lupin.” Ele jogou as varinhas capturadas no lago. Guardando a própria varinha, ele pegou o braço de Hermione, ficando entre ela e Lupin.

Severo e Hermione mantiveram as cabeças eretas ao andar na direção do castelo, ainda que o risco de receberem uma azaração pelas costas naquele momento fosse muito real.

Uma vez de volta ao patio da frente da escola, Severo colocou o braço ao redor de Hermione, trazendo-a mais para perto. “Estou feliz que esteja ao meu lado,” ele disse suavemente. “Onde você aprendeu a lutar daquele jeito?”

Hermione pensou um momento antes de responder honestamente. “Lutando contra os Comensais da Morte no Ministério.”

Severo riu. Ele pensou que ela estava brincando.


***************

“De que horas você vai?” Severo perguntou, engolindo de modo difícil.

“À meia-noite.”

Eles haviam retornado ao quarto dela depois do desentendimento com os Marotos. Severo sentou na cama dela. Ele sentia-se doente. Uma de suas previsíveis dores de cabeça havia começado a martelar suas têmporas. Sentir-se sem controle da situação fez sua cabeça já dolorida latejar de dor. Perder Hermione fazia-o sentir algo que nunca havia experimentado. Ele ficou olhando para a parede e tentando se controlar, se conter e ser racional.

”Tiago e seus comparsas já devem ter ido a McGonagall nesse momento. Creio que temos cerca de dez minutos antes que Slughorn venha nos buscar. Você deve ir agora. Assumirei a culpa pelo que aconteceu no lago. Valeu só por ter visto você chutar Black nas bolas.” Severo sorriu; doces memórias.

Hermione pegou a pasta de couro na mesa e cruzou o quarto para sentar ao lado dele na cama. “Se você tem certeza que é melhor que eu vá, irei, mas não antes de explicar algumas coisas importantes para você.”

Severo olhou para ela na expectativa, tocando a mão dela. “E eu para você.”

Ela abriu a pasta e tirou todos os documentos referentes à Vanity e Netuno. “Siga exatamente as instruções destes pergaminhos; mas agora não, por agora eu quero apenas que você fique responsável pela correspondência.”

Hermione parou, se levantou, foi até o malão, o abriu e começou a jogar suas coisas dentro. “Sei que cuidar da fabricação de shampoos não é muito excitante. Não é como curar varíola de dragão ou libertar os elfos domésticos, mas isso nos proverá com um negócio lucrativo. Um que, eu espero, beneficiará a nós dois financeiramente.”

Snape pegou os papéis e guardou os documentos. “Prometo fazer o que você desejar. Um juramento com varinhas talvez satisfizesse você?” ele ofereceu.

Ela relaxou, parando de guardar as coisas por um momento para olhá-lo. “Isso não é necessário, Severo. Juramentos com varinhas e Votos Perpétuos podem colocar-nos em muitos problemas. Eu aceito sua palavra.”

Severo pegou o pergaminho de noivado e tirou-o do bolso. “Agora, quanto aos meus negócios,” ele disse, desdobrando-o.

’Ele quer anulá-lo.’

”Você sabe por que eu pedi para você assinar isso?” ele perguntou.

”Porque sou uma princesinha sexy e você não consegue resistir a mim?”

”Sim, claro,” ele disse virando os olhos, “e pelo fato de que eu não vou deixar uma bruxinha inteligente e bonita como você escapar se eu puder impedir. Eu não sou bonito, Hermione. Tenho um espelho que me lembra isso todos os dias. A maioria das pessoas não consegue distiguir a inteligência do sarcasmo que me caracterizam como... impopular. Desde o momento que nos encontramos no trem, você tem me mostrado o que é ter a atenção total de alguém. Ter uma pessoa para chamar de sua. Compartilhamos riso... amor... coisas que eu nunca experimentaria. Prazeres como os que você me mostrou são normalmente reservados para os outros bruxos. Eles é que...”

Uma forte batida na porta o interrompeu.

“Gregorovitch! O Diretor que ver você!” gritou uma voz do outro lado da porta.

”Você tem que ir!” ele a apressou.

”Preciso que você me Aparate para King’s Cross.”

”Você realmente precisa ler ‘Hogwarts: Uma História’, Hermione. Se você tivesse, saberia que teríamos que chegar com o seu malão até os portões da escola antes de Aparatar. Só que não é possível, não com o Diretor atrás de nós. Você terá que arriscar. Você pode viajar no tempo daqui?”

”Sim...mas...”

“Gregorovitch! Você está aí?” veio uma voz do lado de fora.

”Sem mas!” disse Snape. Ele jogou o resto das roupas dela no malão.

Uma batida forte soou de novo à porta. “Slughorn está a caminho!”

”Agora, Hermione!” Severo a apressou.

Abrindo a caixa que continha o Vira-Tempo, Hermione pegou o instrumento. Snape fechou o malão, fechando a tranca. Colocando a corrente no pescoço, ela envolveu o malão e pôs a mão na ferramenta dentária que segurava o Vira-Tempo.

”Severo, se alguém perguntar, minha viagem no tempo foi um acidente. Eu a fiz por você - lembre-se.” A voz dela soou urgente.

Olhando para ele, ela viu Snape dar um passo para trás, olhando curioso para ela.

“Senhorita Gregorovitch? É o Professor Slughorn.” Uma batida gentil e uma voz abafada soou. “Você poderia sair, por favor?”

“Vá!” pediu Snape.

Hermione deu um ultimo olhar para ele. E então, soltou o pino.

Severo viu Hermione desaparecer. Rapidamente, pegou a pasta de couro e colocou-a sob o colchão da cama dela para escondê-la. Ele mudou a expressão do rosto para uma máscara de inocência antes de andar até a porta. Ele levou um momento para se recompor, destrancou a porta e caminhou para seu destino.

****************

No meio da noite, uma figura silenciosa entrou no quarto de Hermione. Sussurrando ‘Lumos’, ele usou a luz da varinha para procurar pelo quarto vazio. Ele levantou o colchão e tirou a pasta de couro. Severo olhou ao redor, procurando por qualquer coisa que pudesse ter sido deixada por sua ocupante fugitiva.

Sentado na cama, ele abraçou o travesseiro contra o peito e inalou a fragrância. “Hermione...” ele sussurrou tristemente solitário.

Uma camiseta grande de flanela cinza que havia ficado embaixo do travesseiro chamou a atenção dele. Uma profunda respiração pôde ser ouvida quando ele pegou a peça e balançou a cabeça sem crer que a bruxinha dele pudesse dormir com tal roupa; isso foi antes de colocá-la debaixo de suas vestes.

***************

Hermione foi jogada para a frente no chão frio de pedra. O malão caiu por cima dela, machucando-a um pouco. O Vira-Tempo fez um som de que estava quebrando sob o peso dela e da bagagem. Por um momento ela não reconheceu onde estava. Não havia mais uma cama e uma escrivaninha em seu quarto, ao invés disso haviam muitas caixas empilhadas contra a parede. O ar estava úmido e abafado. Ela se levantou, limpando-se enquanto ia até a porta. A fechadura estava emperrada e ela não conseguiu abrir nem com as duas mãos. Ela sacou a varinha, murmurou um 'Alohomora', mas ainda assim a porta não abriu.

Ela se virou e olhou ao redor da sala. Seus passos até a porta haviam deixado marcas de pegadas na poeira. A probabilidade era de que esse cômodo não tivesse sido aberto por cinco anos ou mais. Hermione passou por um momento terrível quando pensou que iria morrer trancada em seu velho quarto.

Jogando o malão no chão, ela sentou nele e pensou num plano. Ela poderia esperar até que os estudantes Sonserinos entrassem no Salão Comunal e então começar a fazer tanto barulho que chamasse a atenção de alguém. A pessoa poderia ser Malfoy, o que não era uma boa opção.

Ela também poderia mandar um Patrono corpóreo para algum funcionário. Era uma possibilidade; ela só teria que pensar em coisas suficientemente felizes para conjurá-lo.

Ela poderia voltar cinco anos no tempo e deixar um pedaço de pergaminho pregado do lado de fora da porta com os dizeres: ‘FAVOR NÃO TRANCAR – ACESSO LIVRE’. Ela começou a rir com a idéia. Além da idéia ser idiota, o Vira-Tempo estava definitivamente quebrado.

Rindo do absurdo da situação, Hermione começou a pensar em coisas felizes para conjurar seu Patrono.

“Expecto…” ela foi interropida pelo barulho da porta destrancando.

Cuidadosamente, ela foi para a porta; o corredor do lado de fora estava silencioso. Virando a maçaneta, ela abriu a porta lentamente, centímetro por centímetro. Ela suspirou. Não havia ninguém lá. Hermione tinha que se lembrar que estava dentro do Castelo de Hogwarts, um ambiente seguro. Ela abriu a porta toda e conjurou ‘Locomotor malão’.

O Salão Comunal estava vazio e silencioso. A única fonte de luz eram as janelas, com uma luz azulada filtrada pelo lago, criando arco-íris através do vidro das janelas.

Parecia ser tarde da noite. Os estudantes estavam no Expresso de Hogwarts e chegariam em duas ou três horas. Ela parou para olhar o salão que havia sido seu lar nos últimos dois meses. O sofá em frente ao fogo no qual ela e Severo haviam sentado juntos. A mesa onde ela lia alegremente. Quando ela viu as cadeiras sob a janela de Sir Meleagant, ela teve um súbito sentimento de perda. Seu malão caiu ao chão.

Quatro cadeiras estavam posicionadas num semi-círculo onde os rapazes costumavam sentar. Isso parecia errado, como se eles tivessem sido esquecidos, deixados de lado. Hermione arrastou mais duas cadeiras e completou o círculo. Ela ficou no centro do círculo, olhando cada um dos assentos vazios por vez.

Muitos alunos haviam passado por esse Salão Comunal em dezenove anos, mas poucos haviam deixado suas marcas no mundo mágico como aqueles seis haviam deixado. Esse grupo do Lorde Negro em particular não trazia mais nenhum medo a Hermione. Ela os havia conhecido como meros estudantes. Adolescentes, começando a vida, fazendo suas escolhas. Agora era o momento de Hermione e os amigos dela estarem frente a frente com decisões difíceis e ameaçadoras. Não era uma situação realmente diferente.

“Wilkes,’ ela disse para a cadeira vazia dele. “Você foi morto três anos depois de se formar.”

Ela virou para a próxima cadeira. “Rodolfo. Você casou com uma mulher mais velha e foi engolfado pela insanidade dela. Você passou quinze anos da sua juventude apodrecendo em Azkaban. Você é um homem livre agora? Você realmente tem autonomia sobre sua própria vida?”

“Avery” ela disse, direcionando-se para falar para a cadeira oposta à janela. “Você salvou seu pescoço alegando estar sob a Maldição Imperio. Agora você se arrasta aos pés de um homem louco. Quando sua tortura acabará? Será que a morte seria preferível à sua existência atual?”

Ela girou para a cadeira em frente à lareira. “Régulus. Nos divertíamos em classe, não é? Sua risada era contagiante. Você aceitou a Marca Negra como seus amigos, mas você se envolveu muito, excessivamente. Assassinado quando tentava fugir de sua sina. Você era tão jovem, tão engraçado, como o Simas.” As lágrimas de Hermione ameaçavam inundá-la e ela piscou para contê-las ao continuar a se dirigir ao próximo assento vazio.

“Rosier. Sempre procurando problemas. Morto por Aurores quando tinha apenas vinte anos. Moody ainda fala de você, sabia? Ele diz que você era osso duro de roer. Arrancou um pedaço do nariz dele. Acho que você gostaria de saber disso.”

“E Snape.” Ela parou em frente à última cadeira. “Você joga o mais perigoso dos jogos. Um movimento errado, uma palavra descuidada e sua vida está perdida. Oh, Severo, você viu seus amigos morrerem ou serem capturados. Será que você desejava ter podido mudar o que aconteceu? Convocar uma última reunião dos ‘Cavaleiros’ e poder dizer algo que mudasse seus futuros, afastá-los do caminho da Escuridão?”

Hermione voltou ao centro do círculo. Ela fechou os olhos e dobrou a cabeça para trás. Inspirando profunda e calmamente, ela concentrou a mente para visualizar os seis adolescentes como ela os haviam conhecido, vibrantes e vivos. Fosse pela honra, pela memória deles ou apenas para que pudesse chorar a perda deles, Hermione começou a declamar:

“Por três vezes o gato malhado miou. Por três vezes e de novo o porco espinho gemeu. E as harpias gritaram ‘Tá na hora, tá na hora!’”

Ela abaixou a cabeça, deixando o cabelo cair ao redor da face. Continuou a declamar; primeiro numa voz quieta, calma, que aumentava e fortalecia a cada linha dita:

“Voltas fluem no caldeirão; e entranhas envenenadas são acrescentadas. Sapo, que sob fria pedra passou trinta e um dias e noites. Veneno expelido durante o sono, fervam primeiro no pote encantado!”

Os movimentos dela começaram a imitar sua voz, que estava subindo de tom febrilmente. Os braços dela cortavam o ar dentro do círculo de cadeiras.

“Dobre, dobre, trabalhe e se preocupe; Fogo queima e caldeirão borbulha. Carne branda de cobra, cozinha e ferve no caldeirão; Olho de salamandra e dedo de sapo, asa de morcego e língua de cachorro, rabo de víbora e anel de cobra-cega, perna de lagartixa e asa de filhote de coruja, Para um feitiço de grande poder, COMO UMA SOPA INFERNAL BORBULHE E COMECE A FERVER!”

Ela gritou a última linha, jogando os braços para cima e jogando a cabeça para trás até ficar olhando o teto. Lentamente, ela exalou e retomou a postura. Ela havia feito sua última performance de Macbeth num tributo aos Cavaleiros de Walpurgis e ao desperdícios insanos e desnecessários de suas vidas.

Hermione levantou a varinha e levitou seu malão para a porta do Salão Comunal. Quando ela segurou a maçaneta e seu portal final de volta à Hogwarts de 1996, ela parou e deu uma última olhada no Salão Comunal Sonserino. Dando adeus a sua vida no passado, ela fez um paralelo entre os amigos de Snape e os seus próprios.

“Pela sensação em minhas mãos, algo doentio está a caminho.”

Quietamente, ela deixou o Salão Comunal, fechando a porta atrás dela.

***************

Depois de um minuto de silêncio, o Diretor da Sonserina, todo vestido em preto, saiu das sombras. Ele aplaudiu vagarosamente num aplauso claramente depreciativo da performance de Hermione. Dando um passo em direção à porta do quarto dela, ele apontou a varinha e com um movimento trancou-a de novo. As duas cadeiras que ela havia movido foram levitadas de volta aos seus lugares. Ele se virou para olhar a porta pela qual ela havia saído, e falou lentamente numa voz profunda de barítono:

“Afaste-se, e ridicularizes do tempo com esta demonstração: a expressão falsa deve esconder o que não sabe o falso coração.”


N/T: Peço perdão pela tradução sem rima dos versos, mas creio que dá para entender o sentido deles, não é mesmo? Espero que estejam gostando! Júbis.

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