'Você me chamou de Luna...'



14. “Você me chamou de Luna...”


Um raio de sol atingiu o rosto de Draco, irritando-o. Virou-se de lado, mas a luz continuou a incomodá-lo. Mas quem tinha sido o idiota que largara a cortina aberta? Ele iria afogá-lo no lago, fosse quem fosse. Abriu os olhos, irritado, e então percebeu que não estava no dormitório da Sonserina: estava deitado na grama, no meio do campo de Runas Antigas, e o sol já estava alto.

Ficou gelado. “Merlim, dormi do lado de fora”, pensou ele, constatando o óbvio. Luna Lovegood estava deitada perto dele, também adormecida. Os cabelos dela haviam se soltado durante a noite, e brilhavam incrivelmente à luz do sol. Os lábios da garota estavam entreabertos, e ela tinha uma expressão serena, incrivelmente serena, de quem dormia feliz, talvez com o melhor dos sonhos em mente.

Draco percebeu-se pensando em como ela estava linda, ali, deitada na grama, apesar do cabelo estar despenteado e com algumas folhinhas presas nele. Não, não que ela estivesse linda. Ela era linda, ainda que fosse mais complicado de percebê-lo quando ela se escondia debaixo de algum dos seus chapéus coloridos. Abriu um sorriso.

“Ah, o que estou fazendo?” pensou ele, contendo-se. Tocou-a no ombro e sacudiu-a devagar.

- Lovegood, acorda. Temos um problema.

Ela abriu os olhos, devagar.

- Draco...? – era a segunda vez que ela o via assim que acordava. – Tem um galho preso no seu cabelo – disse ela, rindo. – Aqui, deixa eu tirar...

- Lovegood, sua maluca, não percebeu que tem alguma coisa errada se você está me vendo assim que acordou? – perguntou ele, irritado.- A gente dormiu do lado de fora.

“Meu Deus, não quero nem pensar na cara do Potter quando souber que consegui me encrencar ainda mais” – pensou Draco, desolado. Como é que ele tinha deixado aquilo acontecer? Ele tentou se lembrar.

Vira o facho de luz... fora ver o que era.... encontrara a Lovegood desmaiada... daí, ele tinha consertado o telescópio... tinha até incrementado o aparelho... por que ele tinha feito aquilo? Talvez fosse o velho vício de exibir suas capacidades.... muito bem, pula, sei lá. Depois... depois? Ele tinha ficado lá, com ela, explicando o novo telescópio e falando sem parar sobre o Universo (quem diria que aquelas aulas maçantes que a mãe o obrigava a tomar um dia serviriam para alguma coisa?)... por quê? Para ter aquele olhar de admiração em cima dele? Porque alguém se interessava em ouvi-lo falar? Ou talvez porque ela gostaria? Não, não devia ser isso, tá, que seja, pula de novo. Mas e depois, Merlim? Ele tinha deitado na grama... estavam procurando constelações... ele devia ter ido embora, porque não tinha ido? Não sabia dizer. Ou talvez soubesse, mas fosse complicado admitir. Não tinha ido embora simplesmente porque... estava se divertindo. Ali, com Luna, sozinho, olhando o céu. Bizarro, mas real. Draco Malfoy olhando estrelas. E gostando daquilo. Merlim, devia ser um mundo paralelo, com certeza... e então, deitado, ele fechara os olhos. Só por um momento, e logo mais acordaria... e bem, pelo visto, o momento tinha se multiplicado. Oh, Deuses Nórdicos do Panteão. Estava encrencado. Se é que era possível que alguém em sua situação dissesse aquilo.

Luna piscou.

- É mesmo... dormimos na grama... sabe que isso parece mais confortável nos livros? – disse ela, rindo. – Olha, estou toda dolorida...

- LUNA! – berrou Draco, em tom quase de desespero. – Você não entende? Dormimos aqui. AQUI, que não é, nem de longe, o dormitório dos alunos. E o sol está alto! Quer dizer que já perdemos o café da manhã. Talvez estejamos perdendo até o almoço! Merlim, é CLARO que devem ter notado que não estávamos presentes. ALGUÉM deve ter notado. Ao menos algum professor. E, caso precise lembrá-la, isso não é uma coisa boa. Especialmente para mim.

- Draco, eu sei – disse ela, simplesmente, tentando ajeitar os cabelos. – Mas reclamarmos não irá fazer com que anoiteça. A menos, claro... que fiquemos fazendo isso até de noite – Luna riu do próprio comentário.

Malfoy olhou para ela, irritado. Odiava admitir que ela tinha razão. Mas, ao mesmo tempo, sentiu uma estranha vontade de rir pelo comentário. Típico dela – completamente deslocado na situação. Ao menos, na concepção de uma pessoa mais “comum”. Balançpu a cabeça.

- Vamos voltar logo, Lovegood. – disse ele. Não ia adiantar nada continuarem ali. Talvez.... talvez ninguém tivesse percebido, pensava Draco, embora amargamente consciente que aquilo seria impossível, mesmo com um feitiço potente.

Abriram a porta devagar. Iam entrar silenciosamente. Desapercebidos. Ou, ao menos, este era o plano. Porque, assim que entraram, deram de cara com a professora McGonagall.

- SENHOR MALFOY! SENHORITA LOVEGOOD! ESTAVA MESMO ME PERGUNTANDO AONDE EXATAMENTE OS SENHORES ESTAVAM...

“Meu Deus, estou perdido. Irremediavelmente perdido. Talvez eu possa ter um ataque do coração agora, e isso distraia McGonagall o bastante para esquecer desse assunto...” pensava Draco. O que ele poderia dizer?

- Eu posso explicar, professora.... – disse ele. Mas, na verdade, não podia. Merlim, por que foi que inventei de dizer isso? – é que... que...

- Foi por minha causa, professora – disse Luna, de repente.

“AH NÃO”, pensou Draco, ainda mais desolado que antes. Não sabia o que seria exatamente pior: Lovegood dizer a verdade ou inventar alguma coisa, com aquele toque pessoal que costumava dar à tudo. “ESTOU PERDIDO. PERDIDO.”

- Como, senhorita Lovegood? – perguntou Minerva.

- É, bem. Eu tinha ido estudar lá fora, e me senti meio fraca depois de um tempo... daí ele me encontrou caída no chão, e aí ficou lá comigo até agora.

- Malfoy não a levou até a enfermaria? – perguntou a professora, chocada.

- Bem, não. Mas ele queria. – disse Luna, depressa. - É que eu preferi ficar lá fora... a senhora sabe, pegando um sereno, um pouco de luar... dizem que é ótimo pra gente na minha condição. Ele resolveu que era péssimo me deixar sozinha e, bem, ficou lá comigo. Íamos voltar antes, mas acabamos dormindo. E perdemos o café, o que é uma pena.

- Sei – disse Minerva, olhando para Draco com cara de quem não acreditava nem um pouco naquele súbito arroubo de gentileza. – tem certeza, senhorita?

- Tenho, claro. Por que eu mentiria?

McGonagall ponderou. Não achava que Draco Malfoy fosse capaz de fazer aquilo... mas, por outro lado, acreditava perfeitamente que Luna realmente tivesse achado uma boa idéia ficar ali tomando sereno e luar depois de desmaiar. Oras, os dois estavam bem, afinal de contas. Não havia acontecido nada demais. Não valia a pena preocupar-se demais com aquela história. Tinha tanta coisa em que pensar... e o garoto Malfoy já estava encrencado até as orelhas.

- Muito bem, então. Trinta pontos a menos para a Corvinal, por desrespeito claro e óbvio às regras. Caso se repita, a punição não será tão branda, tenha isto em mente antes de ter novas idéias contra o regulamento. E vá ver Madame Pomfrey agora mesmo, senhorita Lovegood.

- Claro. – disse Luna, sorrindo.

- E o senhor, Malfoy... dê-se por feliz de eu não lhe dar uma detenção. Isso em nome de seu cavalheirismo para com uma dama. – disse ela, dando as costas aos dois.

“Puxa, estou ouvindo bastante essa frase ultimamente” pensou Draco, a respeito da ameaça de piorarem sua punição.

- Engraçado ela não ter me dado pontos pela gentileza – disse ele, virando-se para Luna. – já que tirou de você.

- A professora Minerva foi tão gentil, não é mesmo? – respondeu Luna, com uma expressão meiga. Draco fez uma careta, mas precisava admitir que tinha tido uma sorte descomunal. Nem queria imaginar o que teria acontecido se quem o tivesse encontrado fosse Snape, que continuava a tratá-lo como o pior dos desafetos. Ao menos, agora, a questão estava burocraticamente resolvida.

- Pensei que fosse inventar algo, Lovegood. Ainda bem que não. – disse Draco.

- As pessoas não deveriam ter medo da verdade. Ela... continua ali, de toda forma. – respondeu Luna.

- É, bela frase para quem convenientemente se esqueceu que estava olhando o céu através de um telescópio trouxa enfeitiçado. Ah, e que nem era a primeira vez. – observou o garoto, sarcástico.

Luna fez um muxoxo.

- Eu não menti. Apenas... apenas omiti uma parte da história. Eu realmente estava estudando lá fora, de tarde. Oras, isso não faria diferença mesmo, faria? O essencial foi mantido: você me achou caída e ficou lá comigo, debaixo da lua. E eu realmente acredito que isso tenha sido bom para mim. – disse ela, apressadamente, com as bochechas avermelhadas. Parecia querer se justificar. Draco achou aquilo levemente engraçado.

- Está bem, Lovegood. – disse ele, rindo. – em todo caso... ahn.... (como ele poderia dizer?) ... bom.... bom trabalho com a McGonagall. Eu realmente estaria encrencado se ela tivesse me dado mais algum tipo de punição.

Luna olhou para ele de uma maneira estranha.

- Por nada, Draco.

- O que houve, Lovegood? Está se sentindo mal? – perguntou ele, notando que a expressão da menina mudara. – Vai cair no chão de novo? Isso mostra que o banho de lua é totalmente inútil.

- Não, Draco. Eu estou bem. É só que... ah, sabe, deixa pra lá. Não é nada. – valeria a pena contar a ele?

- Lovegood. – disse Draco, em seu tom especial de “diga o que quero saber, mortal”.

- Oh, está bem. É só que... que... acho que não gosto muito quando você fala assim. – acabou dizendo.

- Claro, você prefere ser chamada de Di-Lua e ser apedrejada. Havia me esquecido. Existe todo tipo de fetiche neste mundo....

- Não é isso, Draco. É que... sabe, eu me sinto estranha quando você faz essas coisas. Como quando você me chamou de Luna...

Ele tinha feito aquilo? Ele tinha chamado a Di-Lua pelo nome? Não. Não era verdade. Ele chamava todos pelo sobrenome. Ou quase todos. Ele não podia ter deixado de chamá-la de Lovegood... mas ele havia. Ele se lembrava. Quando a encontrara desmaiada. E quando se irritara com ela. Não fora “Lovegood”. Fora “Luna”. Merlim. Morgana. Alguma coisa estava muito, muito errada. Luna continuou falando, e Draco não a interrompeu.

- Não é que eu não tenha gostado – ela dizia. – na verdade, foi bonitinho. Quase não escuto meu nome sendo dito por outras pessoas. Mas é que... que... você faz essas coisas e, de repente, vai lá e me machuca. Que nem no Hospital, e na biblioteca. Não acho que eu mereça, eu... eu não acho que quero mais isso. Eu desculpei da primeira, mas... você parece que vai fazer isso sempre! Desculpe, mas... acho que não quero mais. – Luna olhou para o chão. – Acho... acho que não quero que você me chame de Luna de novo. Mas obrigada pela noite, foi muito, muito divertida! – disse ela, sorrindo e acenando para ele. Precisava ir até a enfermaria. Não que estivesse realmente feliz com aquilo; com aquela história de abrir mão de praticamente qualquer contato com Draco Malfoy. Ela realmente se divertia na companhia dele. Mas não havia mais nada que pudesse fazer naquela situação, havia? Era melhor magoar de uma vez só, do que a prestações. Ao menos, era o que ela pensava. Ele não ia mudar. Não adiantava esperar. Ela já tinha tentado.

Draco ficou ali, no corredor, olhando Luna desaparecer atrás de uma estátua. Não era capaz de se mover.

Era uma personificação perfeita de como se sentia: parado, imóvel, vendo Luna se afastar mais e mais enquanto não fazia nada. Absolutamente nada para evitar. “Merlim, desde quando eu me incomodo com isso?”, pensava Draco, indignado consigo mesmo. Era Di-Lua Lovegood. Era uma Corvinal completamente pirada. Ele não tinha motivos para se importar com ela. Não tinha mesmo. O que todos iriam dizer? O que ele mesmo iria dizer? Não, ele não se importava com o que quer que acontecesse com ela! Não mesmo!

Mas Draco sabia que era mentira. Podia não ser certo, ele podia não admitir, podia ignorar e não fazer nada... mas era certo que ele se importava com ela. Que se importava com o fato de que ela se despedira dele. Que nunca mais a veria de novo.

“Que me importa isso? Eu não queria ver aquela maluca. O problema todo foi ter sido ELA a tomar a decisão. Aposto que foi porque sabia que eu estava prestes a dizer-lhe o mesmo”, pensava Draco. Mas era mentira. Ele sabia. Ele não conseguia sustentar os próprios pensamentos. Não que estivesse encontrando com Luna repetidamente depois da biblioteca. Mas a verdade é que, antes do ponto final, sempre se poderia reverter a situação... mas agora, não mais.

E ele se importava. Por algum motivo, estava incomodado. Tentava encontrar qualquer explicação plausível dentro de sua mente, mas as descartava mal conseguia traduzi-las em frases. Tudo que conseguia imaginar era Luna Lovegood. Seu sorriso. Sua expressão dormindo na grama. O jeito que o olhara na peça de teatro. O momento em que não conseguira evitar de beijá-la. A idéia de que tudo aquilo fazia parte de um passado que ele não alcançava mais.

Draco começou a rir alto. Ajoelhou-se no corredor, sozinho, e continuou rindo. Rindo, rindo o mais alto que podia, sem se importar com nada. Por que havia demorado tanto, afinal? Ridículo, mas óbvio. Apaixonado! Estava apaixonado por Luna Lovegood. Simples assim.

Com todas as estranhezas. Com todas as teorias. Com sua lista de metas que envolviam panquecas e balaços. Ele não sabia explicar por quê, não sabia dizer como aquilo havia acontecido... mas ele estava ali, apaixonado por ela. Por Luna Lovegood. Merlim amado.

Quando havia sido? Naquela passagem estranha? Quando ela o ajudara nas punições? No Hospital, junto da fonte? Na peça de teatro? Agora há pouco, quando ela acenara? Ele não sabia. E, na verdade, aquilo também não importava.

Naquele momento, Draco percebeu que não podia escolher por quem se apaixonar. A bem da verdade, a coisa simplesmente acontecia, sem qualquer controle possível. Ele sempre pensara que as pessoas se apaixonavam por um motivo, mas agora percebia que era exatamente o contrário. Você primeiro gostava da pessoa, e então acabava buscando alguma justificativa para aquilo ter acontecido. Algum motivo. Qualquer um. E nem precisava ser um motivo muito bom. De repente, o fato da pessoa gostar de procurar constelações no céu era exatamente tudo o que ele sempre tinha procurado em alguém.






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CLARO que a Minerva pode deixar o castigo meio barato. Ela não fez isso quando Harry, Rony e Mione bateram num trasgo?


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Nota da autora: Demorou, mas chegooo-ooou! *confetes*

Draco cabeçudo! Tava na hora já, né?

Aaaaaaaaah, que bonitinhooooo!!!!!!!!! Sei lá, eu gosto TANTO de escrever cena onde os dois interagem...

Vou adorar escrever os próximos capítulos! Acho que vão ser os mais “cuti-cuti” de toda a fic!!!!!! ^^ (espero que gostem de ler também, ahyehuyehae... em todo caso, eu aviso na sinopse o que vai ter, se não estiverem a fim, podem simplesmente pular pro desenrolar do enredo... mas poxa! Essas partes são as que mais gosto em fics de romance!! ^^)

Isso, Draco! Mas agora a Luna tá chateada... vai ter que correr atrás! Loiro! Loiríssimo!!!

Ahahahahahahaha!

Mas ah, sabe que eu gostei? Demorou... mas, pelo menos, acho que chegou do jeito certo: devagarinho... de uma maneira inevitável! Que ele simplesmente não conseguiu escapar!

E o que ele vai fazer agora? Como ele vai fazer? Ele continua sendo um Malfoy, não é? (mesmo assim, eu acho que todo mundo vai se apaixonar por ele... sei lá, eu já sou, então... ignorem minha opinião!)

Ah, todo mundo tava esperando quando isso ia acontecer... taí! Espero que tenham gostado ^^ ...

(e poxa! A Luna não é boneca de trapo! Ela é boazinha e fofa, mas... ela também não agüenta tudo assim! Desde a passagem! O jeito que ela reage é que é peculiar... mas, ela toda é peculiar, não é?^^)

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