A peça de Natal



3. A peça de Natal


Draco foi pego completamente desprevenido. Pretendia escapar dali antes de ser visto por qualquer um, mas obviamente havia falhado com maestria.

Não achava estranho a professora saber quem ele era. Qualquer um deveria estar sabendo do acidente e de sua punição. Até mesmo Rosmerta do Três Vassouras deveria estar sabendo. Até mesmo Mundungo Fletcher. Talvez até mesmo o pessoal de Beauxbatons soubesse, pensava Draco, em seu delírio vertiginoso.

Tentou articular uma resposta e ignorar os olhares que se voltavam para ele naquele momento.

- Eu, bem, vim dar uma olhada. Mas já estou indo embora, então tchau. - disse ele, dirigindo-se para a porta.

- Mas sem fazer os testes? Não seja tímido... - disse a professora. - adoraríamos ver seu desempenho, e estamos certos de que você seria ótimo na apresentação.

- Sim, eu sei que seria - disse ele, em um tom que oscilava da falsa modéstia à raiva - mas a questão é que eu não quero me envolver com vocês.

- Bastante orgulhoso para quem foi atingido na cabeça por um candelabro arremessado por Pirraça, na semana passada - disse Neville, talvez para si mesmo mas alto o bastante para ter sido ouvido.

Malfoy ficou furioso. Não sabia se era melhor ele responder, azarar ou simplesmente ir embora. O que tornaria o sofrimento menos pior? Os alunos riam para dentro. Aparentemente, nenhum deles tinha muita coragem de rir na cara dele. Bem, um pouco de respeito, ao menos, pensou ele.

E então ouviu uma voz.

- Sabe, acho que deve ter doído bastante quando ele foi atingido. Não deveríamos rir. Poderia ter acontecido algo muito sério, vocês sabem que os Poltergeists lançam involuntariamente auras estranhas nas coisas que tocam...

Era Luna Lovegood. Draco estava sendo defendido pela maluca de chapéu berrante. Queria sumir na terra. Estava decidido a ir embora dali, o mais depressa possível. Todos estavam rindo agora, e o fato de não ser apenas dele não o consolava em absolutamente nada.

A professora estava apenas olhando para ele. De repente, ela resolveu botar ordem na turma: dispersou-os, mandando todos irem fazer qualquer coisa bem longe da porta e puxou Draco para o corredor.

- Sabe, Draco, eu sou nova aqui. Fui admitida como estagiária e, no meu tempo livre, estou coordenando a turma de teatro. Ela nunca teve muita atenção...

- Nem posso imaginar o motivo - interveio ele, com um sorriso cínico. A professora ignorou.

- ... mas este ano, quero que façam algo esplendoroso. Algo para ficar na memória das pessoas. Algo inesquecível. Vamos apresentar uma peça linda, chamada "O espírito do Vento"...

- ... da qual nunca ouvi falar, deve ser realmente um clássico - disse Malfoy, novamente.

- É uma peça inédita. Mas garanto que é ótima, e especialíssima para ser apresentada. O problema é que, bem... estamos com alguma dificuldade para preencher o papel principal. Ele deve ser Aram, um trouxa que...

- ESTÁ BRINCANDO! E DIZ QUE A PEÇA É ÓTIMA? - gritou Draco, tentando rir ao mesmo tempo.

- Ora, cale-se! - disse a professora, com olhar severo. - A questão toda é que ele deve ser um trouxa um bocado sarcástico e amargurado, e bem... com uma certa idade. Como você deve ter reparado... a maioria dos interessados são garotas, ou não tem muito mais que treze anos, ou as duas coisas. Não servem para o papel.

- Transfigure-os. Nem parece bruxa...

- ISSO NÃO É TEATRO! E, de toda forma, é bastante... complexo para mim. Sou especializada em outra coisa, enfim. O único que se encaixa no perfil de Aram, e mais ou menos, é o Neville. Mas ele é um pouco... influenciável e nervoso, e gaguejou sem parar quando soube que era o principal. Luna estava tentando acalmá-lo... (ah, então era isso que acontecia quando ele tinha chegado, pensou Malfoy) ... mas sem muito sucesso. Eu preciso que a peça dê certo... e, sem Aram, não dá. É muito importante para mim.

- Lamento - disse Draco, mas sua voz dizia que não lamentava nem um pouco.

- Ouça, eu o conheço pessoalmente faz dez minutos e já o detesto. Mas você foi o único que veio até aqui, além deles. Havia um mínimo de interesse de sua parte, não diga que não. E sei sobre seus castigos. Essa peça, ela é... é muito importante. Se você concordar em participar, bem... somos um clube, mas creio que a situação faça parecer um serviço voluntário quem nos ajude. E além das dispensas para os ensaios, claro, posso tentar pedir a Dumbledore que o deixe voltar para casa para os festejos de final de ano. Sabe, dar uma amenizada. Até apresentarmos a peça, pelo menos.

Draco ponderou. Era óbvio que se meteria com a ralé da magia, se não de sangue-ruim ao menos daqueles mais tapados e estranhos da escola. Contudo... bem, ele se livraria de Filch por algum tempo. E poderia sair da escola no Natal. Ver o sol. Não ser obrigado a auxiliar em tarefas imundas sem auxílio de magia. Mesmo que a família brigasse com ele, poderia ser bom não ter Potter rindo da sua cara, pra variar.

E era teatro, por Merlim. Quem assistiria àquela porcaria? Dumbledore e meia dúzia de alunos? Draco duvidava que os integrantes tivessem muitos amigos para irem assistir à peça por eles. Na verdade, desconfiava que eles estavam ali justamente porque não tinham amigos, e precisavam de algum contato social. E ainda ganharia uns sapos de chocolate.

Péssimo por ruim, ao menos ganhara uma folguinha nas festas. Olhou para a professora.

- Bem, talvez eu possa quebrar o galho de vocês... e protagonizar a peça... se puder me garantir passar o Natal fora daqui. E parar de ajudar Filch, e Hagrid, e todo mundo que acha que sou imprescindível para tudo, não que eu não seja...

- Durante os ensaios, Malfoy. Durante os ensaios. E dê-se por satisfeito se eu conseguir. Talvez você tenha que compensar algumas horas.

Draco amarrou a cara. Não era bem o que ele queria ouvir. Mas ele não podia deixar a oportunidade escapar... não quando haviam tantos meses de detenções com a Sprout e de tarefas a realizar.

Estendeu a mão.

- Acho que temos um acordo... ahn... - disse ele. Não sabia o nome dela, embora ela soubesse o seu.

- Guinevere. Professora Guinevere Lovegood D'Yarma. - disse ela, apertando a mão do menino.


O sobrenome não dizia nada a Draco, naquele momento. Haviam selado um acordo. E ele mal podia esperar para ver a cara de insatisfação de Filch. Valeria a pena decorar uma meia dúzia de frases imbecis do tal Aram por aquilo. E ficar sem tocar em panos e cloro... ele mal se lembrava de como era.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.